Deus proibiu a fabricação de imagens?

Por: Fabiano Carvalho



Muitos são que ao ler os mandamentos na bíblia, ficam perplexos, ao ver nela uma suposta proibição de se fazer imagens. Vejamos os textos em questão:



Ex 20, 4. Não farás para ti ídolo, nem escultura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra.

5. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto. Eu sou o Senhor, teu Deus, um Deus zeloso que vingo a iniquidade dos pais nos filhos, nos netos e nos bisnetos daqueles que me odeiam,

6. mas uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.

Deut 5, 8. Não farás para ti imagem de escultura representando o que quer que seja do que está em cima no céu, ou embaixo na terra, ou nas águas debaixo da terra.

9. Não te prostrarás diante delas para render-lhes culto, porque eu, o Senhor, teu Deus, sou um Deus zeloso, que castigo a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e a quarta geração daqueles que me odeiam,

10. mas uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.


Qualquer um que entenda um pouco de História antiga sabe que naquela época todos os povos eram politeístas, ou seja, tinham vários deuses e eram idolatras, pois cultuavam um deus que julgavam habitar os ídolos ou ainda que fossem os próprios ídolos.

Somente os hebreus eram estranhos a sua época, cultuando um só Deus, mas ao contrário do muitos imaginam os hebreus apesar de não serem politeístas, usavam imagens ao contrário de seus contemporâneos que usavam ídolos.

Ao ler isso, muitos questionaram: “Mas ídolos não são imagens?”.

Donde vem a resposta: “todo ídolo é uma imagem, mas nem toda imagem é ídolo.”

Parece um pouco confuso, mas examinemos a questão.


Vejamos o que é um Ídolo: ídolo é uma imagem na qual se tem conta que seja um deus, ou que seja habitat de um deus.

Assim nos explica o profeta Habacuque: 2, 19. “Ai daquele que diz à madeira: Desperta! E à pedra: Levanta-te! Não se ouvirá mais que silêncio. Ei-lo coberto de ouro e de prata, mas não há nele sopro algum de vida.”

Como se vê os ídolos são aquelas imagens a quem se atribui alguma força ou poder e até vida como já foi dito.

Vejamos o que é uma imagem: imagem é apenas uma representação gráfica, seja um ícone ou uma escultura.


Vejamos então exemplos clássicos de imagens na bíblia:

Gen 28, 22. Esta pedra da qual fiz uma estela será uma casa de Deus, e pagarei o dízimo de tudo o que me derdes.”

Jacó fez um monumento e disse que seria a casa de Deus. Idolatria?

Não, este monumento serviu apenas para sinalizar que Deus estava ali o protegendo.

Num 21, 8. e o Senhor disse a Moisés: “Faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo o que for mordido, olhando para ela, será salvo.”

9. Moisés fez, pois, uma serpente de bronze, e fixou-a sobre um poste. Se alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, conservava a vida.

Se Deus proibiu fabricar imagens, porque então Ele mandou fazer?

É de se estranhar que Deus mande fazer um “ídolo” e ainda por cima, ordene que o povo olhe para ele para ser curado.

Então o que dizer a respeito?

Aqui se vê claramente que imagem não é ídolo. Mas então de onde vem o “poder” de cura da serpente de bronze? É simples a se julgar que Deus queria o arrependimento do povo, então quem olhasse para a serpente é porque estava arrependido de murmurar contra Deus.

Alguém então replicará: “mas Deus é onipotente, porque então precisava da imagem para ver quem estava arrependido?”

A imagem nesse caso foi usada como sinal de conversão para os demais, pois quando viam que quem olhava arrependido ficava curado, então começavam também a se converter. Este povo se salvou pela intercessão de Moisés e pela misericórdia de Deus.Também essa serpente é uma alusão do que viria a ser Jesus crucificado, ou seja, o Salvador, mas ao contrário da serpente que só salva o corpo, Jesus salva também a alma.


Outro caso típico é o da arca da aliança:

Ex 25, 18. Farás dois querubins de ouro; e os farás de ouro batido, nas duas extremidades da tampa, um de um lado e outro de outro,

19. fixando-os de modo a formar uma só peça com as extremidades da tampa.

20. Terão esses querubins suas asas estendidas para o alto, e protegerão com elas a tampa, sobre a qual terão a face inclinada.

21. Colocarás a tampa sobre a arca e porás dentro da arca o testemunho que eu te der.

22. Ali virei ter contigo, e é de cima da tampa, do meio dos querubins que estão sobre a arca da aliança, que te darei todas as minhas ordens para os israelitas.”


Mais uma vez Deus manda Moisés fazer imagens ou será ídolos?

Josué 7, 6. Josué rasgou suas vestes e prostrou-se com a face por terra até a tarde diante da arca do Senhor, tanto ele como os anciãos de Israel, e cobriram de pó as suas cabeças.

Josué e os anciãos judeus se prostaram diante dos querubins de ouro da arca, parece um típico caso de idolatria não é mesmo?

Errado, a idolatria consistiria em achar que a divindade está na estatua. Ou seja, teriam que colocar alimentos para as imagens, como faziam os romanos, os egípcios e os demais povos idólatras.


Outro texto significante seria:

1 Reis 6, 11. A palavra do Senhor foi então dirigida a Salomão nestes termos:

12. Esta casa que tu edificas... se obedeceres às minhas leis, praticares os meus mandamentos e observares todos os meus preceitos, seguindo-os cuidadosamente, eu cumprirei em ti as promessas que fiz ao teu pai Davi:

13. permanecerei no meio dos israelitas e não abandonarei Israel, meu povo...

21. Revestiu de ouro fino o interior do edifício e fechou com cadeias de ouro a frente do santuário, que era também revestido de ouro.

22. A casa ficou assim inteiramente coberta de ouro, como também toda a superfície do altar que estava diante do santuário.

23. Fez no santuário dois querubins de pau de oliveira, que tinham dez côvados de altura.

24. Cada uma das asas dos querubins tinha cinco côvados, o que fazia dez côvados da extremidade de uma asa à extremidade da outra.

25. O segundo querubim tinha também dez côvados; os dois tinham a mesma forma e as mesmas dimensões.

26. Um e outro tinham dez côvados de altura.

27. Salomão pô-los no fundo do templo, no santuário. Tinham as asas estendidas, de sorte que uma asa do primeiro tocava uma das paredes e uma asa do segundo tocava a outra parede, enquanto as outras duas asas se encontravam no meio do santuário.

28. Revestiu também de ouro os querubins.

29. Mandou esculpir em relevo em todas as paredes da casa, ao redor, no santuário como no templo, querubins, palmas e flores abertas.

30. Cobriu de ouro o pavimento do edifício, tanto o do santuário como o do templo...

33. Para a porta do templo...

35. Mandou esculpir nelas querubins, palmas e flores desabrochadas, e cobriu tudo de ouro, ajustado às esculturas...

1 Reis 7, 23. Hirão fez também o mar de bronze, que tinha dez côvados de uma borda à outra, perfeitamente redondo, e com altura de cinco côvados; sua circunferência media-se com um fio de trinta côvados...

25. Este apoiava-se sobre doze bois, dos quais três olhavam para o norte, três para o ocidente, três para o sul e três para o oriente. O mar repousava sobre eles, e suas ancas estavam para o lado de dentro...

29. Nos painéis enquadrados de molduras, havia leões, bois e querubins, assim como nas travessas igualmente. Por cima e por baixo dos leões e dos bois pendiam grinaldas em forma de festões...

1 Reis 9, 3. O Senhor disse-lhe: Ouvi a tua oração e a súplica que me dirigiste; consagrei esta casa que me construíste, a fim de nela fixar o meu nome para sempre; meus olhos e meu coração aí estarão perpetuamente.


Como Deus tendo proibido as imagens mandaria fazer um templo com tantas imagens? Leões, bois, querubins, seria idolatria de Salomão?

Claro que não, pois foi o próprio Deus quem ordenou que assim fizesse.


Mas então de onde vem a proibição de se fabricar imagens?

Na verdade nunca houve proibição de se fabricar uma imagem. O que acontece é que esta “proibição” surgiu com o protestantismo.

No original hebraico a palavra que é traduzida como imagem é “pesel”

que na verdade significa ídolo.

Ora, se Deus manda fazer imagens em várias passagens das Sagradas Escrituras e proíbe que se façam imagens em outra, de duas uma, ou Deus é totalmente contraditório e não sabe o quer ou fazer imagens nunca foi idolatria!

Agora reflitam quem está errado nisso tudo Deus ou os que dizem que é proibido fazer imagens?

Fica mais do que claro a distinção entre imagens e ídolos.


A proibição de se fazer ídolos

Esta sim é real, como os povos vizinhos de Israel eram todos idolatras,

Deus fez este mandamento para que fossem fiéis a Ele e não se misturassem com crenças estrangeiras.

Mas o mais importante na proibição é que como ninguém nunca viu a Deus, como poderiam fazer uma imagem dEle?

Segundo a tradição judaica quem visse a face de Javé, este morreria.

Moisés viu Deus, mas somente pelas costas segundo relata Êxodo 33, 23, Elias ao escutar a voz de Deus cobriu o rosto em 1 Reis 19,13.

A imagem é uma representação e como nunca viram a Deus como poderiam representá-lo? Além do que Deus sendo puro Espírito, não pode ser representado graficamente.

Segundo a crença da época, quem possuía um ídolo tinha o poder de dominá-lo e manipulá-lo segundo seus desejos.

Outros criam que fazendo oferendas abrandariam o furor de seus ídolos.

Assim o povo queria agradar seus ídolos para então induzi-los segundo a sua crença a realizar seus desejos.

Portanto há uma impossibilidade de se descrever a quem nunca se viu.

Tem muitos relatos na bíblia que mostram seres que se apresentam como Deus, mas nesses casos são mensageiros ou anjos que se apresentam como se fossem homens como no relato de gêneses onde Deus luta com Jacó.

Os Judeus, tendo saído da dominação dos egípcios, um povo idólatra, teriam muita tendência à idolatria. Basta ver o que aconteceu quando Moisés descia do Monte Sinai com as Tábuas da Lei e encontrou o povo adorando o "Bezerro de Ouro" como se ele fosse uma divindade, um amuleto. É lógico que não tinha como permitir que um povo acostumado com as práticas idolatras de seus vizinhos fizessem imagens de ídolos.

Portanto a proibição cai sobre a idolatria e nunca sobre as imagens.


Católicos, idolatria e imagens

Fica claro que o erro não está nas imagens, mas no tipo de uso que se faz delas.

Jesus bem sabia que existiam monumentos aos justos e nunca os proibiu.

"Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Edificais sepulcros aos profetas, adornais os monumentos dos justos" (Mt 23,29)

Vemos que Deus ordenou a fabricação de imagens para que servisse de sinal visível para que o povo lembrasse-se dEle.

O que então acontece no catolicismo é perfeitamente condizente com a fé cristã.

A veneração que prestamos aos santos nada tem de idolatria, uma vez que é comum na bíblia lembrar com admiração dos justos que já morreram como os judeus faziam com os profetas. A própria bíblia relata que ao se referirem a Deus, falavam o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó, o Deus de Israel (Israel é nome dado a Jacó por Deus).

Na carta aos hebreus lemos uma importante referencia a esta veneração.

"Lembrai-vos de vossos guias que vos pregaram a palavra de Deus. Considerai como souberam encerrar a carreira. E imitai-lhes a fé". (Hb 13,7)

É nobre imitar a fé de quem foi justo, nesta vida.

Alguns dizem que os católicos adoram imagens, mas enganam-se os que assim pensam, pois não é uma atitude externa que caracteriza adoração, esta antes vem de dentro, direto da alma.

Portanto o ter imagem, o se ajoelhar, não é nada se da alma não procede uma adoração.

Quem julga através de atitudes, talvez seja que adorem a Deus apenas externamente e não com sua alma.

Somente Deus sabe as atitudes de cada coração, então somente ele pode nos julgar.

Todos católicos sabem que uma imagem não tem vida, que uma imagem não é Deus, que uma imagem não é fonte de Graças.

Todo católico sabe que imagem nada mais é do que uma representação, uma lembrança de um exemplo de fé a ser seguido.

Pelo santo ministério da Encarnação de nosso Senhor Jesus, sabemos que Deus quis dirigir-se nos homens por meio da figura humana de Jesus. E Jesus Cristo por sua vez, quis ilustrar as realidades invisíveis do Reino de Deus através de imagens, inspiradas pelas coisas visíveis: assim, utilizou parábolas e alegorias que se referiam aos lírios do campo, à figueira, aos pássaros do céu, ao bom pastor, à mulher que perdeu sua moeda, ao filho pródigo e muitas outras. Isso fez com que os cristãos compreendessem que a proibição de fazer era ídolos e não imagens. Portanto meditação das fases da vida de Jesus e a sua representação tornaram-se recursos através dos quais, o povo procurou se aproximar de Deus. Por isso desde o inicio da cristandade os cemitérios ou catacumbas foram decorados com diversas pinturas com temas bíblicos como: Noé e o dilúvio, Sidrac, Misaque e Abdênago na fornalha, Daniel na cova dos leões, a multiplicação dos pães, o Peixe - Iktys -, que é símbolo de Cristo, etc. Como no passado desde a época de Cristo até tempos bem recentes, só estudava quem era rico ou queria virar padre, as imagens e ícones, viram a bíblia dos analfabetos, das crianças e tornou-se então muito pedagógica já quem todos podiam estudar, além do que até bem pouco tem eram poucos os que tinham condições financeiras de ter uma bíblia para poder ler, se soubessem é claro.


Portanto, finalizo dizendo: o que é proibido não é o fazer imagens e sim adorá-las.