/ Cristianismo: Perguntas e respostas: CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA - Primeira parte

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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA - Primeira parte

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
PRIMEIRA PARTE
PRÓLOGO
"PAI, ... a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o Deus único verdadeiro, e aquele
que enviaste, Jesus Cristo" (Jo 17,3). "Deus, nosso Salvador ... quer que todos os homens sejam
salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" (1 Tm 2,3-4). "Não há, debaixo do céu, outro
nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos" (At 4,12), afora o nome de JESUS.
I - A VIDA DO HOMEM CONHECER E AMAR A DEUS
1) Deus, infinitamente Perfeito e Bem-aventurado em si mesmo, em um desígnio de pura
bondade, criou livremente o homem para fazê-lo participar de sua vida bem-aventurada. Eis por
que, desde sempre e em todo lugar, está perto do homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-lo, a
conhecê-lo e a amá-lo com todas as suas forças. Convoca todos os homens, dispersos pelo
pecado, para a unidade de sua família, a Igreja. Faz isto por meio do Filho, que enviou como
Redentor e Salvador quando os tempos se cumpriram. Nele e por Ele, chama os homens a se
tornarem, no Espírito Santo, seus filhos adotivos, e portanto os herdeiros de sua vida bemaventurada.
2) A fim de que este chamado ressoe pela terra inteira, Cristo enviou os apóstolos que
escolhera, dando-lhes o mandato de anunciar o Evangelho: "Ide, fazei que todas as nações se
tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a
observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação
dos séculos" (Mt 28,19-20). Fortalecidos com esta missão, os apóstolos “saíram a pregar por toda
parte, agindo com eles o Senhor, e confirmando a Palavra por meio dos sinais que a
acompanhavam" (Mc 16,20).
3) Os que com a ajuda de Deus acolheram o chamado de Cristo e lhe responderam
livremente foram por sua vez impulsionados pelo amor de Cristo a anunciar por todas as partes
do mundo a Boa Notícia. Este tesouro recebido dos apóstolos foi guardado fielmente por seus
sucessores. Todos os fiéis de Cristo são chamados a transmiti-lo de geração em geração,
anunciando a fé, vivendo-a na partilha fraterna e celebrando-a na liturgia e na oração .
II. Transmitir a fé - a catequese
4) Bem cedo passou-se a chamar de catequese o conjunto de esforços empreendidos na
Igreja para fazer discípulos, para ajudar os homens a crerem que Jesus é o Filho de Deus, a fim de
que, por meio da fé, tenham a vida em nome dele, para educá-los e instruí-los nesta vida, e
assim construir o Corpo de Cristo. .
5) "A catequese é uma educação da fé das crianças, dos jovens e dos adultos, a qual
compreende especialmente um ensino da doutrina cristã, dado em geral de maneira orgânica e
sistemática, com o fim de os iniciar na plenitude da vida cristã."
6) Sem confundir-se com eles, a catequese se articula em torno de determinado número
de elementos da missão pastoral da Igreja que têm um aspecto catequético e que preparam a
catequese ou dela derivam: primeiro anúncio do Evangelho ou pregação missionária para
suscitar a fé; busca das razões de crer; experiência de vida cristã; celebração dos sacramentos;
integração na comunidade eclesial; testemunho apostólico e missionário.
7) "A catequese anda intimamente ligada com toda a vida da Igreja. Não é somente a
extensão geográfica e o aumento numérico, mas também e mais ainda o crescimento interior
da Igreja, sua correspondência ao desígnio de Deus que dependem da catequese mesma."
8) Os períodos de renovação da Igreja são também tempos fortes da catequese. Eis por
que, na grande época dos Padres da Igreja, vemos Santos Bispos dedicarem uma parte
importante de seu ministério à catequese. É a época de São Cirilo de Jerusalém e de São João
Crisóstomo, de Santo Ambrósio e de Santo Agostinho, e de muitos outros Padres cujas obras
catequéticas permanecem como modelos.
9) O ministério da catequese haure energias sempre novas nos Concílios. O Concílio de
Trento constitui neste ponto um exemplo a ser sublinhado: deu à catequese prioridade em suas
constituições e em seus decretos; está ele na origem do Catecismo Romano, que também leva
seu nome e constitui uma obra de primeira grandeza como resumo da doutrina cristã. Este
concílio suscitou na Igreja uma organização notável da catequese. Graças a santos bispos e
teólogos, tais como São Pedro Canísio, São Carlos Borromeu, São Turíbio de Mogrovejo, São
Roberto Belarmino, levou à publicação de numerosos catecismos.
10) Diante disto, não estranha que, no dinamismo que seguiu o Concílio Vaticano II (que o
papa Paulo VI considerava como grande catecismo dos tempos modernos), a catequese da
Igreja tenha novamente despertado a atenção. Dão testemunho deste fato o Diretório geral da
Catequese, de 1971, as sessões do Sínodo dos Bispos dedicadas à evangelização (1974) e à
catequese (1977), as exortações apostólicas correspondentes, Evangelii nuntiandi (1975) e
Catechesi tradendae (1979). A sessão extraordinária do Sínodo dos Bispos de 1985 pediu: "Seja
redigido um catecismo ou compêndio de toda a doutrina católica seja sobre a fé seja sobre a
moral". O Santo Padre João Paulo II endossou este desideratum expresso pelo Sínodo dos Bispos,
reconhecendo que "este desejo responde plenamente a uma verdadeira necessidade da Igreja
universal e das Igrejas particulares". Ele envidou todos os esforços em prol da realização deste
desideratum dos Padres do Sínodo.
III. O OBJETIVO E OS DESTINATÁRIOS DESTE CATECISMO
11) O presente Catecismo tem por objetivo apresentar uma exposição orgânica e
sintética dos conteúdos essenciais e fundamentais da doutrina católica tanto sobre a fé como
sobre a moral, à luz do Concílio Vaticano II e do conjunto da Tradição da Igreja. Suas fontes
principais são a Sagrada Escritura, os Santos Padres, a Liturgia e o Magistério da Igreja. Destina-se
ele a servir "como um ponto de referência para os catecismos ou compêndios que são
elaborados nos diversos países".
12) O presente Catecismo é destinado principalmente aos responsáveis pela catequese:
em primeiro lugar aos Bispos, como doutores da fé e pastores da Igreja. É oferecido a eles como
instrumento no cumprimento de seu ofício de ensinar o Povo de Deus. Por meio dos Bispos, ele se
destina aos redatores de catecismos, aos presbíteros e aos catequistas. Será também útil para a
leitura de todos os demais fiéis cristãos.
IV. A ESTRUTURA DESTE CATECISMO
13) O projeto deste Catecismo inspira-se na grande tradição dos catecismos que
articulam a catequese em tomo de quatro "pilares": a profissão da fé batismal (o Símbolo), os
sacramentos da fé, a vida de fé (os Mandamentos), a oração do crente (o "Pai-Nosso").
PARTE 1: A PROFISSÃO DA FÉ
14) Os que pela fé e pelo Batismo pertencem a Cristo devem confessar sua fé batismal
diante dos homens. Por isso, o Catecismo começa por expor em que consiste a Revelação, pela
qual Deus se dirige e se doa ao homem, bem como a fé, pela qual o homem responde a Deus
(Seção 1). O Símbolo da fé resume os dons que Deus outorga ao homem como Autor de todo
bem, como Redentor, como Santificador, e os articula em tomo dos "três capítulos" de nosso
Batismo a fé em um só Deus: o Pai Todo-Poderoso, o Criador, Jesus Cristo, seu Filho, nosso Senhor
e Salvador, e o Espírito Santo, na Santa Igreja (Seção II).
PARTE II: OS SACRAMENTOS DE FÉ
15) A segunda parte do Catecismo expõe como a salvação de Deus, realizada uma vez
por todas por Cristo Jesus e pelo Espírito Santo, se toma presente nas ações sagradas da liturgia
da Igreja (Seção 1), particularmente nos sete sacramentos (Seção II).
PARTE III: A VIDA DA FÉ
16) A terceira parte do Catecismo apresenta o fim último do homem, criado à imagem de
Deus: a bem-aventurança e os caminhos para chegar a ela: mediante um agir reto e livre, com
a ajuda da fé e da graça de Deus (Seção I), por meio de um agir que realiza o duplo
mandamento da caridade, desdobrado nos dez Mandamentos de Deus (Seção II).
PARTE IV: A ORAÇÃO NA VIDA DA FÉ
17) A última parte do Catecismo trata do sentido e da importância da oração na vida
dos crentes (Seção 1). Ela termina com um breve comentário sobre os setes pedidos da oração
(Seção II), Com efeito, nesses sete pedidos encontramos o conjunto dos bens que devemos
esperar e que nosso Pai celeste quer conceder-nos.
V. INDICAÇÕES PRÁTICAS PARA O USO DESTE CATECISMO
18) Este Catecismo foi pensado como uma exposição orgânica de toda a fé católica. Por
isso é preciso lê-lo como uma unidade. Numerosas referências dentro do próprio texto, bem
como o índice analítico no fim do volume permitem ver a ligação de cada tema com o conjunto
da fé.
19) Muitas vezes os textos da Sagrada Escritura não são citados literalmente, mas são
feitas apenas referências (mediante a indicação "cf."). Para uma compreensão mais
aprofundada de tais passagens, é preciso consultar os próprios textos. Essas referências bíblicas
constituem um instrumento de trabalho para a catequese.
20) Quando em certas passagens se usa corpo menor, graficamente isto indica que se
trata de observações de tipo histórico, apologético, ou de exposições doutrinais
complementares.
21) As citações, em corpo menor, de fontes patrísticas, litúrgicas, magisteriais ou
hagiográficas são destinadas a enriquecer a exposição doutrinal. Com freqüência esses textos
foram escolhidos para uso diretamente catequético.
22) No final de cada unidade temática, uma série de textos sucintos resumem em
fórmulas condensadas o essencial do ensinam do ensinamento. Esses "resumindo" têm por
objetivo oferecer sugestões a catequese local para fórmulas sintéticas e memorizáveis.
VI. AS ADAPTAÇÕES NECESSÁRIAS
23) Neste Catecismo a ênfase é posta na exposição doutrinal. Quer ele ajudar a
aprofundar o conhecimento da fé. Por isso mesmo está orientado para o amadurecimento desta
fé, para seu enraizamento na vida e sua irradiação no testemunho.
24) Por sua própria finalidade, este Catecismo não se propõe realizar as adaptações da
exposição e dos métodos catequéticos exigidas pelas diferenças de culturas, de idades, de
maturidade espiritual, de situações sociais e eclesiais daqueles a quem a catequese é dirigida.
Tais adaptações indispensáveis cabem aos catecismos apropriados e mais ainda aos que
ministram instrução aos fiéis:
Aquele que ensina deve "fazer-se tudo para todos" (1 Cor 9,22), a fim de conquistar todos
para Jesus Cristo... Particularmente, não imagine ele que lhe é confiado um único tipo de almas,
e que conseqüentemente lhe é permitido ensinar e formar de modo igual todos os fiéis à
verdadeira piedade, com um só e mesmo método, sempre igual! Saiba ele bem que uns são em
Jesus Cristo como que criancinhas recém-nascidas, outros, como que adolescentes, e finalmente
alguns estão como que na posse de todas as suas forças... Os que são chamados ao ministério
da pregação devem, na transmissão dos mistérios da fé e das regras dos costumes, adaptar suas
palavras ao espírito e à inteligência de seus ouvintes.
ACIMA DE TUDO A CARIDADE
25) Para concluir este Prólogo, é oportuno lembrar este princípio pastoral enunciado pelo
Catecismo Romano:
Toda a finalidade da doutrina e do ensinamento deve ser posta no amor que não acaba.
Com efeito, pode-se facilmente expor o que é preciso crer, esperar ou fazer; mas sobretudo é
preciso fazer sempre com que apareça o Amor de Nosso Senhor, para que cada um
compreenda que cada ato de virtude perfeitamente cristão não tem outra origem senão o
Amor, e outro fim senão o Amor.
PRIMEIRA PARTE - A PROFISSÃO DE FÉ
PRIMEIRA SEÇÃO
"EU CREIO" - "NÓS CREMOS"
26 Quando professamos nossa fé, começamos dizendo: "Eu creio" ou "Nós cremos". Por isso,
antes de expor a fé da Igreja tal como é confessada no Credo, celebrada na Liturgia, vivida na
prática dos Mandamentos e na oração, perguntamo-nos o que significa "crer". A fé é a resposta
do homem a Deus que se revela e a ele se doa, trazendo ao mesmo tempo uma luz
superabundante ao homem em busca do sentido último de sua vida. Por isso vamos considerar
primeiro esta busca do homem (capitulo 1), em seguida a Revelação divina, pela qual Deus se
apresenta ao homem (capítulo II), e finalmente a resposta da fé (capítulo III).
CAPÍTULO I
O HOMEM É "CAPAZ” DE DEUS
I - O DESEJO DE DEUS
27 O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por
Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de
encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar:
O aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à
comunhão com Deus. Este convite que Deus dirige ao homem, de dialogar com ele, começa
com a existência humana. Pois se o homem existe, é porque Deus o criou por amor e, por amor,
não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer
livremente este amor e se entregar ao seu Criador.
28 Em sua história, e até os dias de hoje, os homens têm expressado de múltiplas maneiras
sua busca de Deus por meio de suas crenças e de seus comportamentos religiosos (orações,
sacrifícios, cultos, meditações etc.). Apesar das ambigüidades que podem comportar, estas
formas de expressão são tão universais que o homem pode ser chamado de um ser religioso:
De um só (homem), Deus fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da
terra, fixando os tempos anteriormente determinados e os limites de seu hábitat. Tudo isto para
que procurassem a divindade e, mesmo se às apalpadelas, se esforçassem por encontrá-la,
embora Ele não esteja longe de cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos (At
17,23-28).
29 Mas esta "união íntima e vital com Deus" pode ser esquecida, ignorada e até rejeitada
explicitamente pelo homem. Tais atitudes podem ter origens muito diversas: a revolta contra o
mal no mundo, a ignorância ou a indiferença religiosas, as preocupações com as coisas do
mundo e com as riquezas, o mau exemplo dos crentes, as correntes de pensamento hostis à
religião, e finalmente essa atitude do homem pecador que, por medo, se esconde diante de
Deus e foge diante de seu chamado.
30 "Alegre-se o coração dos que buscam o Senhor!" (Sl 105,3). Se o homem pode
esquecer ou rejeitar a Deus, este, de sua parte, não cessa de chamar todo homem a procurá-lo,
para que viva e encontre a felicidade. Mas esta busca exige do homem todo o esforço de sua
inteligência, a retidão de sua vontade, "um coração reto", e também o testemunho dos outros,
que o ensinam a procurar a Deus.
Vós sois grande, Senhor, e altamente digno de louvor: grande é o vosso poder, e a vossa
sabedoria não tem medida. E o homem, pequena parcela de vossa criação, pretende louvarvos,
precisamente o homem que, revestido de sua condição mortal, traz em si o testemunho de
seu pecado e de que resistis aos soberbos. A despeito de tudo, o homem, pequena parcela de
vossa criação, quer louvar-vos. Vós mesmo o incitais a isto, fazendo com que ele encontre suas
delícias no vosso louvor, porque nos fizestes para vós e o nosso coração não descansa enquanto
não repousar em vós.
II. AS VIAS DE ACESSO AO CONHECIMENTO DE DEUS
31 Criado à imagem de Deus, chamado a conhecer e a amar a Deus, o homem que
procura a Deus descobre certas "vias" para aceder ao conhecimento de Deus. Chamamo-las
também de "provas da existência de Deus", não no sentido das provas que as ciências naturais
buscam, mas no sentido de "argumentos convergentes e convincentes" que permitem chegar a
verdadeiras certezas.
Estas "vias" para chegar a Deus têm como ponto de partida a criação: o mundo material e
a pessoa humana.
32 O mundo: a partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem e da beleza
do mundo, pode-se conhecer a Deus como origem e fim do universo.
São Paulo afirma a respeito dos pagãos: "O que se pode conhecer de Deus é manifesto
entre eles, pois Deus lho revelou. Sua realidade invisível - seu eterno poder e sua divindade -
tornou-se inteligível desde a criação do mundo através das criaturas" (Rm 1,19-20).
E Santo Agostinho: "Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar, interroga a
beleza do ar que se dilata e se difunde, interroga a beleza do céu... interroga todas estas
realidades. Todas elas te respondem: olha-nos, somos belas. Sua beleza é um hino de louvor
(confessio). Essas belezas sujeitas à mudança, quem as fez senão o Belo (Pulcher, pronuncie
"púlquer"), não sujeito à mudança?"
33 O homem: Com sua abertura à verdade e à beleza, com seu senso do bem moral, com
sua liberdade e a voz de sua consciência, com sua aspiração ao infinito e à felicidade, o homem
se interroga sobre a existência de Deus. Mediante tudo isso percebe sinais de sua alma espiritual.
Como "semente de eternidade que leva dentro de si, irredutível à só matéria" sua alma não pode
ter origem senão em Deus.
34 O mundo e o homem atestam que não têm em si mesmo nem seu princípio primeiro
nem seu fim último, mas que participam do Ser em si, que é sem origem e sem fim. Assim por estas
diversas "vias", o homem pode aceder ao conhecimento da existência de uma realidade que é
a causa primeira e o fim último de tudo, "e que todos chamam Deus"
35 As faculdades do homem o tomam capaz de conhecer a existência de um Deus
pessoal. Mas, para que o homem possa entrar em sua intimidade, Deus quis revelar-se ao homem
e dar-lhe a graça de poder acolher esta revelação na fé. Contudo, as provas da existência de
Deus podem dispor à fé e ajudar a ver que a fé não se opõe à razão humana.
III. O CONHECIMENTO DE DEUS SEGUNDO A IGREJA
36 "A santa Igreja, nossa mãe, sustenta e ensina que Deus, princípio e fim de todas as
coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana a partir das coisas
criadas”. Sem esta capacidade, o homem não poderia acolher a revelação de Deus. O homem
tem esta capacidade por ser criado "à imagem de Deus[fca20] ”.
37 Todavia, nas condições históricas em que se encontra, o homem enfrenta muitas
dificuldades para conhecer a Deus apenas com a luz de sua razão:
"Pois, embora a razão humana, absolutamente falando, possa chegar com suas forças e
lume naturais ao conhecimento verdadeiro e certo de um Deus pessoal, que governa e protege
o mundo com sua Providência, bem como chegar ao conhecimento da lei natural impressa pelo
Criador em nossas almas, de fato, muitos são os obstáculos que impedem a mesma razão de
usar eficazmente e com resultado desta sua capacidade natural.
As verdades que se referem a Deus e às relações entre os homens e Deus são verdades
que transcendem completamente a ordem das coisas sensíveis e quando estas verdades
atingem a vida prática e a regem, requerem sacrifício e abnegação. A inteligência humana, na
aquisição destas verdades, encontra dificuldades tanto por parte dos sentidos e da imaginação
como por parte das más inclinações, provenientes do pecado original. Donde vemos que os
homens em tais questões, facilmente procuram persuadir-se de que seja falso ou ao menos
duvidoso aquilo que não desejam que seja verdadeiro"
38 Por isso, O homem tem necessidade de ser iluminado pela revelação de Deus, não
somente sobre o que ultrapassa seu entendimento, mas também sobre "as verdades religiosas e
morais que, de per si, não são inacessíveis à razão, a fim de que estas no estado atual do gênero
humano possam ser conhecidas por todos sem dificuldade, com uma certeza firme e sem mistura
de erro”
IV. COMO FALAR DE DEUS?
39 Ao defender a capacidade da razão humana de conhecer a Deus, a Igreja exprime
sua confiança na possibilidade de falar de Deus a todos os homens e com todos os homens. Esta
convicção esta na base de seu diálogo com as outras religiões, com a filosofia e com as
ciências, como também com Os não-crentes e os ateus.
40 Uma vez que nosso conhecimento de Deus é limitado, também limitada é nossa
linguagem sobre Deus. Só podemos falar de Deus a partir das criaturas e segundo nosso modo
humano limitado de conhecer e de pensar.
41 As criaturas, todas elas, trazem em si certa semelhança com Deus, muito
particularmente o homem criado à imagem e a semelhança de Deus. Por isso as múltiplas
perfeições das criaturas (sua verdade, bondade e beleza) refletem a perfeição infinita de Deus.
Em razão disso podemos falar de Deus a partir das perfeições de suas criaturas, "pois a grandeza
e a beleza das criaturas fazem, por analogia, contemplar seu Autor" (Sb 13,5).
42 Deus transcende a toda criatura. Por isso, é preciso incessantemente purificar nossa
linguagem daquilo que possui de limitado, de proveniente de pura imaginação, de imperfeito,
para não confundirmos o Deus "inefável, incompreensível, invisível, inatingível” com as nossas
representações humanas. Nossas palavras humanas permanecem sempre aquém do Mistério de
Deus.
43 Assim falando de Deus, nossa linguagem se exprime, sem dúvida, de maneira humana,
mas ela atinge realmente O próprio Deus, ainda que sem poder exprimi-lo em sua infinita
simplicidade. Com efeito, é preciso lembrar que "entre o Criador e a criatura não se pode notar
uma semelhança, sem que se deva notar entre eles uma ainda maior dessemelhança”, e que
"não podemos apreender de Deus o que ele é, mas apenas O que ele não é e de que maneira
os outros seres se situam em relação a ele.
RESUMINDO
44 O homem é, por natureza e por vocação, um ser religioso. Porque provém de Deus e
para Ele caminha, o homem só vive uma vida plenamente humana se viver livremente sua
relação com Deus.
45 O homem é feito para viver em comunhão com Deus, no qual encontra sua felicidade:
"Quando eu estiver inteiramente em Vós, nunca mais haverá dor e provação; repleta de Vós por
inteiro, minha vida será verdadeira"
46 Quando escuta a mensagem das criaturas e a voz de sua consciência, o homem pode
atingir a certeza da existência de Deus, causa e fim de tudo.
47 A Igreja ensina que o Deus único e verdadeiro, nosso Criador e Senhor, pode ser
conhecido com certeza por meio de suas obras graças à luz natural da razão humana.
48 Podemos realmente falar de Deus partindo das múltiplas perfeições das criaturas,
semelhanças do Deus infinitamente perfeito, ainda que nossa linguagem limitada não esgote seu
mistério.
49 "Sem o Criador, a criatura se esvai”. Eis por que os crentes sabem que são impelidos
pelo amor de Cristo a levar a luz do Deus vivo àqueles que o desconhecem ou o recusam.
CAPÍTULO II
DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM
50 Mediante a razão natural, o homem pode conhecer a Deus com certeza a partir de
suas obras. as existe outra ordem de conhecimento que O homem de modo algum pode atingir
por suas próprias forças, a da Revelação divina. Por uma decisão totalmente livre, Deus se revela
e se doa ao homem. Fá-lo revelando seu mistério, seu projeto benevolente, que concebeu
desde toda a eternidade em Cristo em prol de todos os homens. Revela plenamente seu projeto
enviando seu Filho bem-amado, nosso Senhor Jesus Cristo, e o Espírito Santo
ARTIGO 1 - A REVELAÇÃO DE DEUS
I. DEUS REVELA SEU "PROJETO BENEVOLENTE"
51 "Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo e tomar
conhecido o mistério de sua vontade, pelo qual os homens, por intermédio de Cristo, Verbo feito
carne, no Espírito Santo, têm acesso ao Pai e se tomam participantes da natureza divina[fca4] ".
52 Deus, que "habita uma luz inacessível" (1 Tm 6,16), quer comunicar sua própria vida
divina aos homens, criados livremente por ele, para fazer deles, no seu Filho único, filhos adotivos.
Ao revelar-se, Deus quer tornar os homens capazes de responder-lhe, de conhecê-lo e de amá-lo
bem além do que seriam capazes por si mesmos.
53 O projeto divino da Revelação realiza-se ao mesmo tempo "por ações e por palavras,
intimamente ligadas entre si e que se iluminam mutuamente". Este projeto comporta uma
"pedagogia divina" peculiar: Deus comunica-se gradualmente com o homem, prepara-o por
etapas a acolher a Revelação sobrenatural que faz de si mesmo e que vai culminar na Pessoa e
na missão do Verbo encarnado, Jesus Cristo.
São Irineu de Lião fala repetidas vezes desta pedagogia divina sob a imagem da
familiaridade mútua entre Deus e o homem: "O Verbo de Deus habitou no homem e fez-se Filho
do homem para acostumar o homem a apreender a Deus e acostumar Deus a habitar no
homem, segundo o beneplácito do Pai"
II. AS ETAPAS DA REVELAÇÃO
DESDE A ORIGEM, DEUS SE DÁ A CONHECER
54 "Criando pelo Verbo o universo e conservando-o, Deus proporciona aos homens, nas
coisas criadas, um permanente testemunho de si e, além disso, no intuito de abrir o caminho de
uma salvação superior, manifestou-se a si mesmo, desde os primórdios, a nossos primeiros pais."
Convidou-os a uma comunhão íntima consigo mesmo, revestindo-os de uma graça e de uma
justiça resplandecentes.
55 Esta Revelação não foi interrompida pelo pecado de nossos primeiros pais. Deus, com
efeito, "após a queda destes, com a prometida redenção, alentou-os a esperar uma salvação e
velou permanentemente pelo gênero humano, a fim de dar a vida eterna a todos aqueles que,
pela perseverança na prática do bem, procuram a salvação[fca12] ”
E quando pela desobediência perderam vossa amizade, não os abandonastes ao poder
da morte. (...) Oferecestes muitas vezes aliança aos homens e às mulheres.
A ALIANÇA COM NOÉ
56 Desfeita a unidade do gênero humano pelo pecado, Deus procura antes de tudo
salvar a humanidade passando por cada uma de suas partes. A Aliança com Noé depois do
dilúvio exprime o princípio da Economia divina para com as "nações", isto é, para com os homens
agrupados "segundo seus países, cada um segundo sua língua, e segundo seus clãs" (Gn 10.5)
57 Esta ordem ao mesmo tempo cósmica, social e religiosa da pluralidade das nações
destina-se a limitar o orgulho de uma humanidade decaída que unânime em sua perversidade,
gostaria de construir por si mesma sua unidade à maneira de Babel[fca17] . Contudo, devido ao
pecado, o politeísmo, assim como a idolatria da nação e de seu chefe, constitui uma contínua
ameaça de perversão pagã para essa Economia provisória.
58 A Aliança com Noé permanece em vigor durante todo o tempo das nações, até a
proclamação universal do Evangelho. A Bíblia venera algumas grandes figuras das "nações", tais
como "Abel, o justo", o rei-sacerdote Melquisedeque, figura de Cristo, ou os justos "Noé, Daniel e
Jó". Assim, a Escritura exprime que grau elevado de santidade podem atingir os que vivem
segundo a Aliança de Noé, na expectativa de que Cristo "congregue na unidade todos os filhos
de Deus dispersos" (Jo 11,52).
DEUS ELEGE ABRAÃO
59 Para congregar a humanidade dispersa, Deus elegeu Abrão, chamando-o "para fora
de seu país, de sua parentela e de sua casa" (Gn 12,1), para fazer dele "Abraão", isto é, "o pai de
uma multidão de nações" (Gn 17,5): "Em ti serão abençoadas todas as nações da terra" (Gn
12,3).
60 O povo originado de Abraão será o depositário da promessa feita aos patriarcas, o
povo da eleição, chamado a preparar o congraçamento, um dia, de todos os filhos de Deus na
unidade da Igreja; será a raiz sobre a qual serão enxertados os pagãos tornados crentes.
61 Os patriarcas e os profetas, bem como outras personalidades do Antigo Testamento,
foram e serão sempre venerados como santos em todas as tradições litúrgicas da Igreja.
DEUS FORMA SEU POVO ISRAEL
62 Depois dos patriarcas, Deus formou Israel como seu povo, salvando-o da escravidão
do Egito. Fez com ele a Aliança do Sinal e deu-lhe, por intermédio de Moisés, a sua Lei, para que
o reconhecesse e o servisse como o único Deus vivo e verdadeiro, Pai providente e juiz justo, e
para que esperasse o Salvador prometido.
63 Israel é o Povo sacerdotal de Deus, aquele que "traz o Nome do Senhor" (Dt 28,10). É o
povo daqueles "aos quais Deus falou em primeiro lugar", o povo dos "irmãos mais velhos" da fé de
Abraão.
64 Por meio dos profetas, Deus forma seu povo na esperança da salvação, na
expectativa de uma Aliança nova e eterna destinada a todos os homens, e que será impressa
nos corações. Os profetas anunciam uma redenção radical do Povo de Deus, a purificação de
todas as suas infidelidades, uma salvação que incluirá todas as nações. Serão sobretudo os
pobres e os humildes do Senhor os portadores desta esperança. As mulheres santas como Sara,
Rebeca, Raquel, Míriam, Débora, Ana, Judite e Ester mantiveram viva a esperança da salvação
de Israel. Delas todas, a figura mais pura é a de Maria.
III. CRISTO JESUS "MEDIADOR E PLENITUDE DE TODA A REVELAÇÃO"
DEUS TUDO DISSE NO SEU VERBO
65 "Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora, aos pais pelos profetas; agora,
nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio do Filho" (Hb 1,1-2). Cristo, o Filho de Deus feito
homem, é a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai. Nele o Pai disse tudo, e não há outra
palavra senão esta. São João da Cruz, depois de tantos outros, exprime isto de maneira luminosa,
comentando Hb 1,1-2:
Porque em dar-nos, como nos deu, seu Filho, que é sua Palavra única (e outra não há),
tudo nos falou de uma só vez nessa única Palavra, e nada mais tem a falar, (...) pois o que antes
falava por partes aos profetas agora nos revelou inteiramente, dando-nos o Tudo que é seu Filho.
Se atualmente, portanto, alguém quisesse interrogar a Deus, pedindo-lhe alguma visão ou
revelação, não só cairia numa insensatez, mas ofenderia muito a Deus por não dirigir os olhares
unicamente para Cristo sem querer outra coisa ou novidade alguma.
NÃO HAVERÁ OUTRA REVELAÇÃO
66 "A Economia cristã, portanto, como aliança nova e definitiva, jamais passará, e já não
há que esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso
Senhor Jesus Cristo". Todavia, embora a Revelação esteja terminada, não está explicitada por
completo; caberá à fé cristã captar gradualmente todo o seu alcance ao longo dos séculos.
67 No decurso dos séculos houve revelações denominadas "privadas", e algumas delas
têm sido reconhecidas pela autoridade da Igreja. Elas não pertencem, contudo, ao depósito da
fé. A função delas não é "melhorar" ou "completar" a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a
viver dela com mais plenitude em determinada época da história. Guiado pelo Magistério da
Igreja, o senso dos fiéis sabe discernir e acolher o que nessas revelações constitui um apelo
autêntico de Cristo ou de seus santos à Igreja.
A fé cristã não pode aceitar "revelações" que pretendam ultrapassar ou corrigir a
Revelação da qual Cristo é a perfeição. Este é o caso de certas religiões não-cristãs e também
de certas seitas recentes que se fundamentam em tais "revelações”.
RESUMINDO
68 Por amor, Deus revelou-se e doou-se ao homem. Traz assim uma resposta definitiva e
superabundante às questões que o homem se faz acerca do sentido e do objetivo de sua vida.
69 Deus revelou-se ao homem, comunicando-lhe gradualmente seu próprio Mistério por
meio de ações e de palavras.
70 Para além do testemunho que Deus dá de si mesmo nas coisas criadas, ele manifestouse
pessoalmente aos nossos primeiros pais. Falou-lhes e, depois da queda, prometeu-lhes a
salvação e ofereceu-lhes sua aliança.
71 Deus fez com Noé uma aliança eterna entre Ele e todos os seres vivos[fca51] . Esta há
de durar enquanto durar o mundo.
72 Deus escolheu Abraão e fez uma aliança com ele e sua descendência. Daí formou seu
povo, ao qual revelou sua lei por intermédio de Moisés. Pelos profetas preparou este povo a
acolher a salvação destinada à humanidade inteira.
73 Deus revelou-se plenamente enviando seu próprio Filho, no qual estabeleceu sua
Aliança para sempre. O Filho é a Palavra definitiva do Pai, de sorte que depois dele não haverá
outra Revelação.
ARTIGO 2
A TRANSMISSÃO DA REVELAÇÃO DIVINA
74 Deus "quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da
verdade" (1Tm 2,4), isto é, de Jesus Cristo. É preciso, pois, que Cristo seja anunciado a todos os
povos e a todos os homens, e que desta forma a Revelação chegue até as extremidades do
mundo:
Deus dispôs com suma benignidade que aquelas coisas que revelara para a salvação de
todos os povos permanecessem sempre íntegras e fossem transmitidas a todas as gerações.
1. A TRADIÇÃO APOSTÓLICA
75 "Cristo Senhor, em quem se consuma a revelação do Sumo Deus, ordenou aos
Apóstolos que o Evangelho, prometido antes pelos profetas, completado por ele e por sua
própria boca promulgado, fosse por eles pregado a todos os homens como fonte de toda a
verdade salvífica e de toda a disciplina de costumes, comunicando-lhes os dons divinos."
A PREGAÇÃO APOSTÓLICA...
76 A transmissão do Evangelho, segundo a ordem do Senhor, fez-se de duas maneiras:
ü oralmente - "pelos apóstolos, que na pregação oral, por exemplos e instituições,
transmitiram aquelas coisas que ou receberam das palavras, da convivência e das obras de
Cristo ou aprenderam das sugestões do Espírito Santo";
ü por escrito - "como também por aqueles apóstolos e varões apostólicos que, sob
inspiração do mesmo Espírito Santo, puseram por escrito a mensagem da salvação[fca6] "
...CONTINUADA NA SUCESSÃO APOSTÓLICA
77 "Para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os apóstolos
deixaram como sucessores os bispos, a eles 'transmitindo seu próprio encargo de Magistério."
Com efeito, "a pregação apostólica, que é expressa de modo especial nos livros inspirados,
devia conservar-se por uma sucessão contínua até a consumação dos tempos".
78 Esta transmissão viva, realizada no Espírito Santo, é chamada de Tradição enquanto
distinta da Sagrada Escritura, embora intimamente ligada a ela. Por meio da Tradição, "a Igreja,
em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o
que crê". "O ensinamento dos Santos Padres testemunha a presença vivificante desta Tradição,
cujas riquezas se transfundem na praxe e na vida da Igreja crente e orante."
79 Assim, a comunicação que o Pai fez de si mesmo por seu Verbo no Espírito Santo
permanece presente e atuante na Igreja: "O Deus que outrora falou mantém um permanente
diálogo com a esposa de seu dileto Filho, e o Espírito Santo, pelo qual a voz viva do Evangelho
ressoa na Igreja e através dela no mundo, leva os crentes à verdade toda e faz habitar neles
abundantemente a palavra de Cristo"
II. A RELAÇÃO ENTRE A TRADIÇÃO E A SAGRADA ESCRITURA
UMA FONTE COMUM...
80 "Elas estão entre si estreitamente unidas e comunicantes. Pois, promanando ambas da
mesma fonte divina, formam de certo modo um só todo e tendem para o mesmo fim." Tanto
uma como outra tornam presente e fecundo na Igreja o mistério de Cristo, que prometeu
permanecer com os seus "todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mt 28,20).
DUAS MODALIDADES DISTINTAS DE TRANSMISSÃO
81 "A SAGRADA ESCRITURA É A PALAVRA DE DEUS ENQUANTO REDIGIDA SOB A MOÇÃO DO
ESPÍRITO SANTO".
Quanto à Sagrada Tradição, ela "transmite integralmente aos sucessores dos apóstolos a
Palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos apóstolos para que, sob a
luz do Espírito de verdade, eles, por sua pregação, fielmente a conservem, exponham e
difundam".
82 Dai resulta que a Igreja, à qual estão confiadas a transmissão e a interpretação da
Revelação, "não deriva a sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada
Escritura. Por isso, ambas devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e
reverência"
TRADIÇÃO APOSTÓLICA E TRADIÇÕES ECLESIAIS
83 A Tradição da qual aqui falamos é a que vem dos apóstolos e transmite o que estes
receberam do ensinamento e do exemplo de Jesus e o que receberam por meio do Espírito
Santo Com efeito, a primeira geração de cristãos ainda não dispunha de um Novo Testamento
escrito, e o próprio Novo Testamento atesta o processo da Tradição viva.
Dela é preciso distinguir as "tradições" teológicas, disciplinares, litúrgicas ou devocionais
surgidas ao longo do tempo nas Igrejas locais. Constituem elas formas particulares sob as quais a
grande Tradição recebe expressões adaptadas aos diversos lugares e às diversas épocas. É à luz
da grande Tradição que estas podem ser mantidas, modificadas ou mesmo abandonadas, sob a
guia do Magistério da Igreja.
III. A INTERPRETAÇÃO DO DEPÓSITO DA FÉ
O DEPÓSITO DA FÉ CONFIADO À TOTALIDADE DA IGREJA
84 "O patrimônio sagrado" da fé ("depositum fidei"), contido na Sagrada Tradição e na
Sagrada Escritura, foi confiado pelos apóstolos à totalidade da Igreja. "Apegando-se firmemente
ao mesmo, o povo santo todo, unido a seus Pastores, persevera continuamente na doutrina dos
apóstolos e na comunhão, na fração do pão e nas orações, de sorte que na conservação, no
exercício e na profissão da fé transmitida se crie uma singular unidade de espírito entre os bispos
e os fiéis."
O MAGISTÉRIO DA IGREJA
85 "O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi
confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus
Cristo", isto é, foi confiado aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma.
86"Todavia, tal Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a serviço dela, não
ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino, com a assistência
do Espírito Santo, piamente ausculta aquela palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe,
e deste único depósito de fé tira o que nos propõe para ser crido como divinamente revelado."
87 Os fiéis, lembrando-se da palavra de Cristo a seus apóstolos: "Quem vos ouve a mim
ouve" (Lc 10,16), recebem com docilidade os ensinamentos e as diretrizes que seus Pastores lhes
dão sob diferentes formas.
OS DOGMAS DA FÉ
88 O Magistério da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo
quando define dogmas, isto é, quando, utilizando uma forma que obriga o povo cristão a uma
adesão irrevogável de fé, propõe verdades contidas na Revelação divina ou verdades que com
estas têm uma conexão necessária.
89 Há uma conexão orgânica entre nossa vida espiritual e os dogmas. Os dogmas são
luzes no caminho de nossa fé que o iluminam e tornam seguro. Na verdade, se nossa vida for
reta, nossa inteligência e nosso coração estarão abertos para acolher a luz dos dogmas da fé.
90 Os laços mútuos e a coerência dos dogmas podem ser encontrados no conjunto da
Revelação do Mistério de Cristo. "Existe uma ordem ou 'hierarquia' das verdades da doutrina
católica, já que o nexo delas com o fundamento da fé cristã é diferente."
SENSO SOBRENATURAL DA FÉ
91 Todos os fiéis participam da compreensão e da transmissão da verdade revelada.
Receberam a unção do Espírito Santo, que os instrui e os conduz à verdade em sua totalidade.
92 "O conjunto dos fiéis... não pode enganar-se no ato de fé. E manifesta esta sua peculiar
piedade mediante o senso sobrenatural da fé de todo o povo, quando, 'desde os bispos até o
último dos fiéis leigos', apresenta um consenso universal sobre questões de fé e costumes."
93 "Por este senso da fé, excitado e sustentado pelo Espírito da verdade, o Povo de Deus,
sob a direção do sagrado Magistério, (...) adere indefectivelmente à fé 'uma vez para sempre
transmitida aos santos'; e, com reto juízo, penetra-a mais profundamente e na sua vida a coloca
mais perfeitamente em obra."
O CRESCIMENTO NA COMPREENSÃO DA FÉ
94 Graças à assistência do Espírito Santo, a compreensão tanto das realidades como das
palavras do depósito da fé pode crescer na vida da Igreja:
"Pela contemplação e estudo dos que crêem, os quais as meditam em seu coração", é
em especial "a pesquisa teológica que aprofunda o conhecimento da verdade revelada".
"Pela íntima compreensão que os fiéis desfrutam das coisas espirituais"; "Divina eloquia cum
legente crescunt as palavras divinas crescem com o leitor".
"Pela pregação daqueles que, com a sucessão episcopal, receberam o carisma seguro
da verdade."
95 "Fica, portanto, claro que segundo o sapientíssimo plano divino, a Sagrada Tradição, a
Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal modo entrelaçados e unidos que um não
tem consistência sem os outros, e que juntos, cada qual a seu modo, sob a ação do mesmo
Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas."
RESUMINDO
96 O que Cristo confiou aos apóstolos, estes o transmitiram por sua pregação e por escrito,
sob a inspiração do Espírito Santo, a todas as gerações, até a volta gloriosa de Cristo.
97 "A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só sagrado depósito da
Palavra de Deus”, no qual, como em um espelho, a Igreja peregrinante contempla a Deus, fonte
de todas as suas riquezas.
98 "Em sua doutrina, vida e culto, a Igreja perpetua e transmite a todas as gerações tudo
o que ela é, tudo o que crê.
99 Graças a seu senso sobrenatural da fé, o Povo de Deus inteiro não cessa de acolher o
dom da Revelação divina, de penetrá-lo mais profundamente e viver dele com mais plenitude.
100 O encargo de interpretar autenticamente a Palavra de Deus foi confiado
exclusivamente ao Magistério da Igreja, ao Papa e aos bispos em comunhão com ele.
ARTIGO 3 - A SAGRADA ESCRITURA
I. CRISTO - PALAVRA ÚNICA DA SAGRADA ESCRITURA
101 Na condescendência de sua bondade, Deus, para revelar-se aos homens, fala-lhes
em palavras humanas: Com efeito, as palavras de Deus, expressas por línguas humanas, fizeramse
semelhantes à linguagem humana, tal como outrora o Verbo do Pai Eterno, havendo
assumido a carne da fraqueza humana, se fez semelhante aos homens".
102 Por meio de todas as palavras da Sagrada Escritura, Deus pronuncia uma só Palavra,
seu Verbo único, no qual se expressa por inteiro:
"Lembrai-vos que é uma mesma a Palavra de Deus que está presente em todas as
Escrituras, que é um mesmo Verbo que ressoa na boca de todos os escritores sagrados; ele que,
sendo no início Deus junto de Deus, não tem necessidade de sílabas, por não estar submetido ao
tempo.”
103 Por este motivo, a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, como venera também o
Corpo do Senhor. Ela não cessa de apresentar aos fiéis o Pão da vida tomado da Mesa da
Palavra de Deus e do Corpo de Cristo.
104 Na Sagrada Escritura, a Igreja encontra incessantemente seu alimento e sua força,
pois nela não acolhe somente uma palavra humana, mas o que ela é realmente: a Palavra de
Deus “Com efeito, nos Livros Sagrados o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao encontro
de seus filhos e com eles fala”.
II. INSPIRAÇÃO E VERDADE DA SAGRADA ESCRITURA
105 Deus é o autor da Sagrada Escritura. "As coisas divinamente reveladas, que se
encerram por escrito e se manifestam na Sagrada Escritura, foram consignadas sob inspiração do
Espírito Santo"
"A santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, tem como sagrados e canônicos os livros
completos tanto do Antigo como do Novo Testamento, com todas as suas partes, porque,
escritos sob a inspiração do Espírito Santo, eles têm Deus como autor e nesta sua qualidade
foram confiados à própria Igreja."
106 Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados.. "Na redação dos livros sagrados,
Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas próprias faculdades e
capacidades, a fim de que, agindo ele próprio neles e por meio deles, escrevessem, como
verdadeiros autores, tudo e só aquilo que ele próprio queria."
107 Os livros inspirados ensinam a verdade. "Portanto, já que tudo o que os autores
inspirados (ou hagiógrafos) afirmam deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, deve-se
professar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que
Deus em vista de nossa salvação quis fosse consignada nas Sagradas Escrituras."
108 Todavia, a fé cristã não é uma "religião do Livro". O Cristianismo é a religião da
"Palavra" de Deus, "não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo". Para
que as Escrituras não permaneçam letra morta, é preciso que Cristo, Palavra eterna de Deus vivo,
pelo Espírito Santo nos "abra o espírito à compreensão das Escrituras".
III. O ESPÍRITO SANTO, INTÉRPRETE DA ESCRITURA
109 Na Sagrada Escritura, Deus fala ao homem à maneira dos homens. Para bem
interpretar a Escritura é preciso, portanto, estar atento àquilo que os autores humanos quiseram
realmente afirmar e àquilo que Deus quis manifestar-nos pelas palavras deles.
110 Para descobrir a intenção dos autores sagrados, há que levar em conta as condições
da época e da cultura deles, os "gêneros literários" em uso naquele tempo, os modos, então
correntes, de sentir, falar e narrar. “Pois a verdade é apresentada e expressa de maneiras
diferentes nos textos que são de vários modos históricos ou proféticos ou poéticos, ou nos demais
gêneros de expressão."
111 Mas, já que a Sagrada Escritura é inspirada, há outro princípio da interpretação
correta, não menos importante que o anterior, e sem o qual a Escritura permaneceria letra
morta: "A Sagrada Escritura deve também ser lida e interpretada com a ajuda daquele mesmo
Espírito em que foi escrita". O Concílio Vaticano II indica três critérios para uma interpretação da
Escritura conforme o Espírito que a inspirou
112 1. Prestar muita atenção "ao conteúdo e à unidade da Escritura inteira". Pois, por mais
diferentes que sejam os livros que a compõem, a Escritura é una em razão da unidade do projeto
de Deus, do qual Cristo Jesus é o centro e o coração, aberto depois de sua Páscoa.
O coração de Cristo designa a Sagrada Escritura, que dá a conhecer o coração de Cristo.
O coração estava fechado antes da Paixão, pois a Escritura era obscura. Mas a Escritura foi
aberta após a Paixão, pois os que a partir daí têm a compreensão dela consideram e discernem
de que maneira as profecias devem ser interpretadas.
113 2. Ler a Escritura dentro "da Tradição viva da Igreja inteira". Consoante um adágio dos
Padres, "Sacra Scriptura principalius est in corde Ecclesiae quam in materialibus instrumentis
scripta a sagrada Escritura está escrita mais no coração da Igreja do que nos instrumentos
materiais. Com efeito, a Igreja leva em sua Tradição a memória viva da Palavra de Deus, e é o
Espírito Santo que lhe dá a interpretação espiritual da Escritura ("...segundo o sentido espiritual
que o Espírito dá à Igreja.
114 3. Estar atento "a anagogia da fé " Por "anagogia da fé" entendemos a coesão das
verdades da fé entre si e no projeto total da Revelação.
Os SENTIDOS DA ESCRITURA
115 Segundo uma antiga tradição, podemos distinguir dois sentidos da Escritura: o sentido
literal e o sentido espiritual, sendo este último subdividido em sentido alegórico, moral e
analógico. A concordância profunda entre os quatro sentidos garante toda a sua riqueza à
leitura viva da Escritura na Igreja.
116 O sentido literal. É o sentido significado pelas palavras da Escritura e descoberto pela
exegese que segue as regras da correta interpretação. "Omnes sensus fundantur super litteralem
- Todos os sentidos (da Sagrada Escritura) devem estar fundados no literal”.
117 O sentido espiritual. Graças à unidade do projeto de Deus, não somente o texto da
Escritura, mas também as realidades e os acontecimentos de que ele fala, podem ser sinais.
1. O sentido alegórico. Podemos adquirir uma compreensão mais profunda dos
acontecimentos reconhecendo a significação deles em Cristo; assim, a travessia do Mar
Vermelho é um sinal da vitória de Cristo, e também do Batismo.
2. O sentido moral. Os acontecimentos relatados na Escritura devem conduzir-nos a um
justo agir. Eles foram escritos "para nossa instrução" (1Cor 10,11)
3. O sentido anagógico. Podemos ver realidades e acontecimentos em sua significação
eterna, conduzindo-nos (em grego: "anagogé"; pronuncie "anagogué") à nossa Pátria. Assim, a
Igreja na terra é sinal da Jerusalém celeste.
118 Um dístico medieval resume a significação dos quatro sentidos:
Littera gesta docei, quid credas allegoria, moralis quid agas, quo tendas anagogia.
A letra ensina o que aconteceu; a alegoria, o que deves crer; a moral, o que deves fazer;
a anagogia, para onde deves caminhar.
119 "É dever dos exegetas esforçar-se, dentro dessas diretrizes, por entender e expor com
maior aprofundamento o sentido da Sagrada Escritura, a fim de que, por seu trabalho como que
preparatório, amadureça o julgamento da Igreja. Pois todas estas coisas que concernem à
maneira de interpretar a Escritura estão sujeitas, em última instância, ao juízo da Igreja, que
exerce o divino ministério e mandato do guardar e interpretar a Palavra de Deus"
Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae Ecclesiae commoveret auctoritas.
Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja católica"
IV O CÂNON DAS ESCRITURAS
120 Foi a Tradição apostólica que fez a Igreja discernir que escritos deviam ser
enumerados lista dos Livros Sagrados". Esta lista completa é denominada "Cânon" das Escrituras.
Ela comporta 46 (45, se contarmos Jr e Lm juntos) escritos para o Antigo Testamento e 27 para o
Novo Testamento.
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juizes, Rute, os dois livros de
Samuel, os dois livros dos Reis, os dois livros das Crônicas, Esdras e Neemias, Tobias, Judite, Ester, os
dois livros dos Macabeus, Jó, os Salmos, os Provérbios, o Eclesiastes (ou Coélet), o Cântico dos
Cânticos, a Sabedoria, o Eclesiástico (ou Sirácida), Isaías, Jeremias, as Lamentações, Baruc,
Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu,
Zacarias, Malaquias, para o Antigo Testamento; os Evangelhos de Mateus, de Marcos, de Lucas e
de João, os Atos dos Apóstolos, as Epístolas de São Paulo aos Romanos, a primeira e a segunda
aos Corintios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, a primeira e a segunda aos
Tessalonicenses, a primeira e a segunda a Timóteo, a Tito, a Filêmon, a Epístola aos Hebreus, a
Epístola de Tiago, a primeira e a segunda de Pedro, as três Epístolas de João, a Epístola de Judas
e o Apocalipse, para o Novo Testamento.
O ANTIGO TESTAMENTO
121 Antigo Testamento é uma parte indispensável da Sagrada Escritura. Seus livros são
divinamente inspirados e conservam um valor permanente, pois a Antiga Aliança nunca foi
revogada.
122 Com efeito, "a Economia do Antigo Testamento estava ordenada principalmente para
preparar a vinda de Cristo, redentor de todos". "Embora contenham também coisas imperfeitas e
transitórias", os livros do Antigo Testamento dão testemunho de toda a divina pedagogia do
amor salvífico de Deus: "Neles encontram-se sublimes ensinamentos acerca de Deus e uma
salutar sabedoria concernente à vida do homem, bem como admiráveis tesouros de preces;
nestes livros, enfim está latente o mistério de nossa salvação"
123 Os cristãos veneram o Antigo Testamento como verdadeira Palavra de Deus. A Igreja
sempre rechaçou vigorosamente a idéia de rejeitar o Antigo Testamento sob o pretexto de que o
Novo o teria feito caducar (marcionismo).
O NOVO TESTAMENTO
124 "A Palavra de Deus, que é força de Deus para a salvação de todo crente, é
apresentada e manifesta seu vigor de modo eminente nos escritos do Novo Testamento." Estes
escritos fornecem-nos a verdade definitiva da Revelação divina. Seu objeto central é Jesus Cristo,
o Filho de Deus encarnado, seus atos, ensinamentos, paixão e glorificação, assim como os inícios
de sua Igreja sob a ação do Espírito Santo.
125 Os Evangelhos são o coração de todas as Escrituras, "uma vez que constituem o
principal testemunho da vida e da doutrina do Verbo encarnado, nosso Salvador".
126 Na formação dos Evangelhos podemos distinguir três etapas:
1. A vida e o ensinamento de Jesus. A Igreja defende firmemente que os quatro
Evangelhos, "cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem fielmente aquilo que Jesus, Filho
de Deus, ao viver entre os homens, realmente fez e ensinou para a eterna salvação deles, até o
dia em que foi elevado".
2. A tradição oral. "O que o Senhor dissera e fizera, os apóstolos, após a ascensão do
Senhor, transmitiram aos ouvintes, com aquela compreensão mais plena de que gozavam,
instruídos que foram pelos gloriosos acontecimentos de Cristo e esclarecidos pela luz do Espírito
de verdade."
3. Os Evangelhos escritos. "Os autores sagrados escreveram os quatro Evangelhos,
escolhendo certas coisas das muitas transmitidas ou oralmente ou já por escrito, fazendo síntese
de outras ou explanando-as com vistas à situação das igrejas, conservando, enfim, a forma de
pregação, sempre de maneira a transmitir-nos, a respeito de Jesus, coisas verdadeiras e sincera. "
127 O Evangelho quadriforme ocupa a Igreja um lugar único, como atestam a veneração
que lhe tributa a liturgia e o atrativo incomparável que desde sempre tem exercido sobre os
santos: Não existe nenhuma doutrina que seja melhor, mais preciosa e mais esplêndida que o
texto do Evangelho. Vede e retende o que nosso Senhor e Mestre, Cristo, ensinou com suas
palavras e realizou com seus atos. É acima de tudo o Evangelho que me ocupa durante as
minhas orações; nele encontro tudo o que é necessário para minha pobre alma. Descubro nele
sempre novas luzes, sentidos escondidos e misteriosos.
A UNIDADE ENTRE O ANTIGO E O NOVO TESTAMENTO
128 A Igreja, já nos tempos apostólicos, e depois constantemente em sua Tradição,
iluminou a unidade do plano divino nos dois Testamentos graças à tipologia. Esta discerne, nas
obras de Deus contidas na Antiga Aliança, prefigurações daquilo que Deus realizou na plenitude
dos tempos, na pessoa de seu Filho encarnado.
129 Por isso os cristãos lêem o Antigo Testamento à luz de Cristo morto e ressuscitado. Esta
leitura tipológica manifesta o conteúdo inesgotável do Antigo Testamento. Ela não deve levar a
esquecer que este conserva seu valor próprio de Revelação, que o próprio Nosso Senhor
reafirmou. De resto também o Novo Testamento exige ser lido à luz do Antigo. A catequese cristã
primitiva recorre constantemente a ele. Segundo um adágio antigo, o Novo Testamento está
escondido no Antigo, ao passo que o Antigo é desvendado no Novo "Novum in Vetere latet et in
Novo Vetus patet".
130 A tipologia exprime o dinamismo em direção ao cumprimento do plano divino,
quando "Deus será tudo em todos" (1 Cor 15,28), Também a vocação dos patriarcas e o Êxodo
do Egito, por exemplo, não perdem seu valor próprio no plano de Deus, pelo fato de serem ao
mesmo tempo etapas intermediárias deste plano.
V. A SAGRADA ESCRITURA NA VIDA DA IGREJA
131 "É tão grande o poder e a eficácia encerrados na Palavra de Deus, que ela constitui
sustentáculo e vigor para a Igreja, e, para seus filhos, firmeza da fé, alimento da alma, pura e
perene fonte da vida espiritual." "É preciso que o acesso à Sagrada Escritura seja amplamente
aberto aos fiéis."
132 "Que o estudo das Sagradas Páginas seja, portanto, como que a alma da Sagrada
Teologia. Da mesma palavra da Sagrada Escritura também se nutre salutarmente e santamente
floresce o ministério da palavra, a saber, a pregação pastoral, a catequese e toda a instrução
cristã, na qual deve ocupar lugar de destaque a homilia litúrgica."
133 A Igreja "exorta com veemência e de modo peculiar todos os fiéis cristãos... a que,
pela freqüente leitura das divinas Escrituras, aprendam 'a eminente ciência de Jesus Cristo”(Fl
3,8). “Com efeito, ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”.
RESUMINDO
134 Omnis Scriptura divina unus liber est, et hic unus liber est Christus, "quia omnis Scriptura
divina de Christo loquitur, et omn is Scriptura divina in Christo impletur" - Toda a Escritura divina é
um único livro, e este livro único é Cristo, já que toda Escritura divina fala de Cristo, e toda
Escritura divina se cumpre em Cristo.
135 "As Sagradas Escrituras contêm a Palavra de Deus e, por serem inspiradas, são
verdadeiramente Palavra de Deus. "
136 Deus e o autor da Sagrada Escritura inspirar seus autores humanos; age neles e por
meio dele. Fornece assim a garantia de que seus escritos ensinem sem erro a verdade salvífica.
137 A interpretação das Escrituras inspiradas deve antes de tudo estar atenta àquilo que
Deus quer revelar por intermédio dos autores sagrados para nossa salvação. O que vem do
Espírito só é plenamente entendido pela ação do Espírito.
138 A Igreja recebe e venera como inspirados os 46 livros do Antigo e os 27 livros do Novo
Testamento.
139 Os quatro Evangelhos ocupam um lugar central, já que Cristo Jesus é o centro deles.
140 A unidade dos dois Testamentos decorre da unidade do projeto de Deus e de sua
Revelação. O Antigo Testamento prepara o Novo, ao passo que este último cumpre o Antigo; os
dois se iluminam reciprocamente; os dois são verdadeira Palavra de Deus.
141 "A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras da mesma forma como o próprio Corpo
do Senhor": ambos alimentam e dirigem toda a vida cristã. "Tua Palavra é a lâmpada para meus
pés, e luz para meu caminho" (Sl 119,105[fca70] ).
CAPÍTULO III - A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS
142 Por sua Revelação, "o Deus invisível, levado por seu grande amor, fala aos homens
como a amigos, e com eles se entretém para os convidar à comunhão consigo e nela os
receber". A resposta adequada a este convite é a fé.
143 Pela fé, o homem submete completamente sua inteligência e sua vontade a Deus.
Com todo o seu ser, o homem dá seu assentimento a Deus revelador. A Sagrada Escritura
denomina "obediência da fé" esta resposta do homem ao Deus que revela.
ARTIGO 1 - EU CREIO [a6]
144 i. A OBEDIÊNCIA DA FÉ
Obedecer ("ob-audire") na fé significa submeter-se livremente à palavra ouvida, visto que
sua verdade é garantida por Deus, a própria Verdade. Desta obediência, Abraão é o modelo
que a Sagrada Escritura nos propõe, e a Virgem Maria, sua mais perfeita realização.
ABRAÃO "O PAI DE TODOS OS CRENTES"
145 A Epístola aos Hebreus, no grande elogio à fé dos antepassados, insiste
particularmente na fé de Abraão: "Foi pela fé que Abraão, respondendo ao chamado,
obedeceu e partiu para uma terra que devia receber como herança, e partiu sem saber para
onde ia" (Hb 11,8). Pela fé, viveu como estrangeiro e como peregrino na Terra Prometida[fca8] .
Pela fé, Sara recebeu a graça de conceber o filho da promessa. Pela fé, finalmente, Abraão
ofereceu seu filho único em sacrifício.
146 Abraão realiza, assim, a definição da fé dada pela Epístola aos Hebreus: "A fé é uma
posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se vêem"
(Hb 11,1). "Abraão creu em Deus, e isto lhe foi levado em conta de justiça" (Rm 4,3). Graças a
esta "fé poderosa" (Rm 4,20), Abraão tornou-se "o pai de todos os que haveriam de crer" (Rm 4,1
1.18)
147 O Antigo Testamento é rico em testemunhos desta fé. A Epístola aos Hebreus proclama
o elogio da fé exemplar dos antigos, "que deram o seu testemunho" (Hb 11,2.39). No entanto,
"Deus previa para nós algo melhor": a graça de crer em seu Filho Jesus, "o autor e realizador da
fé, que a leva à perfeição" (Hb11,40; 12,2).
MARIA "BEM-AVENTURADA A QUE ACREDITOU"
148 A Virgem Maria realiza da maneira mais perfeita a obediência da fé. Na fé, Maria
acolheu o anúncio e a promessa trazida pelo anjo Gabriel, acreditando que "nada é impossível a
Deus" (Lc 1,37[fca15] ) e dando seu assentimento: "Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim
segundo a tua palavra" (Lc 1,38). Isabel a saudou: "Bem-aventurada a que acreditou, pois o que
lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido" (Lc 1,45). É em virtude desta fé que todas as
gerações a proclamarão bem-aventurada.
149 Durante toda a sua vida e até sua última provação, quando Jesus, seu filho, morreu
na cruz, sua fé não vacilou. Maria não deixou de crer "no cumprimento" da Palavra de Deus. Por
isso a Igreja venera em Maria a realização mais pura da fé.
II. "SEI EM QUEM PUS MINHA FÉ" (2TM 1,12)
CRER SOMENTE EM DEUS
150 A fé é primeiramente uma adesão pessoal do homem a Deus; é, ao mesmo tempo e
inseparavelmente, o assentimento livre a toda a verdade que Deus revelou. Como adesão
pessoal a Deus e assentimento à verdade que ele revelou, a fé cristã é diferente da fé em uma
pessoa humana. E justo e bom entregar-se totalmente a Deus e crer absolutamente no que ele
diz. Seria vão e falso pôr tal fé em uma criatura.
CRER EM JESUS CRISTO, O FILHO DE DEUS
151 Para o cristão, crer em Deus é, inseparavelmente, crer naquele que Ele enviou, "seu
Filho bem-amado", no qual Ele pôs toda à sua complacência; Deus mandou que O
escutássemos. O próprio Senhor disse a seus discípulos: "Crede em Deus, crede também em mim"
(Jo 14,1). Podemos crer em Jesus Cristo por que ele mesmo é Deus, o Verbo feito carne:
"Ninguém jamais viu a Deus: o Filho unigênito, que está voltado para o seio do Pai; este o deu a
conhecer" (Jo 1,18). Por ter ele "visto o Pai" (Jo 6,46), ele é o único que o conhece e pode revelálo.
CRER NO ESPÍRITO SANTO
152 Não se pode crer em Jesus Cristo sem participar de seu Espírito. E o Espírito Santo que
revela aos homens quem é Jesus. Pois "ninguém pode dizer 'Jesus é Senhor' a não ser no Espírito
Santo" (1 Cor 12,3). "O Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as profundidades de Deus... O
que está em Deus, ninguém o conhece a não ser o Espírito de Deus" (1 Cor 2,10-11). Só Deus
conhece a Deus por inteiro. Cremos no Espírito Santo porque Ele é Deus.
A Igreja não cessa de confessar sua fé em um só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.
III. AS CARACTERÍSTICAS DA FÉ
A FÉ É UMA GRAÇA
153 Quando São Pedro confessa que Jesus é o Cristo, Filho do Deus vivo, Jesus lhe declara
que esta revelação não lhe veio "da carne e do sangue, mas de meu Pai que está nos céus". A
fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele. "Para que se preste esta fé,
exigem-se a graça prévia e adjuvante de Deus e os auxílios internos do Espírito Santo, que move
o coração e o converte a Deus, abre os olhos da mente e dá a todos suavidade no consentir e
crer na verdade."
A FÉ É UM ATO HUMANO
154 Crer só é possível pela graça e pelos auxílios interiores do Espírito Santo Mas não é
menos verdade que crer é um ato autenticamente humano. Não contraria nem a liberdade nem
a inteligência do homem confiar em Deus e aderir às verdades por Ele reveladas. Já no campo
das relações humanas, não é contrário à nossa própria dignidade crer no que outras pessoas nos
dizem sobre si mesmas e sobre suas intenções e confiar nas promessas delas (como, por exemplo,
quando um homem e uma mulher se casam), para entrar assim em comunhão recíproca. Por
isso, é ainda menos contrário à nossa dignidade "prestar, pela fé, à revelação de Deus plena
adesão do intelecto e da vontade" e entrar, assim, em comunhão íntima com ele.
155 Na fé, a inteligência e a vontade humanas cooperam com a graça divina:
"Credere est actus intellectus assentientis veritati divinae ex imperio voluntatis a Deo motae per
gratiam - Crer é um ato da inteligência que assente à verdade divina a mando da vontade
movida por Deus através da graça".
A FÉ E A INTELIGÊNCIA
156 O motivo de crer não é o fato de as verdades reveladas aparecerem como
verdadeiras e inteligíveis à luz de nossa razão natural. Cremos "por causa da autoridade de Deus
que revela e que não pode nem enganar-se nem enganar-nos". "Todavia, para que o obséquio
de nossa fé fosse conforme à razão, Deus quis que os auxílios interiores do Espírito Santo fossem
acompanhados das provas exteriores de sua Revelação. Por isso, os milagres de Cristo e dos
santos, as profecias, a propagação e a santidade da Igreja, sua fecundidade e estabilidade
"constituem sinais certíssimos da Revelação, adaptados à inteligência de todos", "motivos de
credibilidade" que mostram que o assentimento da fé não é "de modo algum um movimento
cego do espírito".
157 A fé é certa, mais certa que qualquer conhecimento humano, porque se funda na
própria Palavra de Deus, que não pode mentir. Sem dúvida, as verdades reveladas podem
parecer obscuras à razão e à experiência humanas, mas "a certeza dada pela luz divina é maior
que a que é dada pela luz da razão natural. "Dez mil dificuldades não fazem uma única dúvida.
158 "A fé procura compreender": E característico da fé o crente desejar conhecer
melhor Aquele em quem pôs sua fé e compreender melhor o que Ele revelou; um conhecimento
mais penetrante despertará por sua vez uma fé maior, cada vez mais ardente de amor. A graça
da fé abre "os olhos do coração" (Ef. 1,18) para uma compreensão viva dos conteúdos da
Revelação, isto é, do conjunto do projeto de Deus e dos mistérios da fé, do nexo deles entre si e
com Cristo, centro do Mistério revelado. Ora, para "tomar cada vez mais profunda a
compreensão da Revelação, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa continuamente a fé por meio
de seus dons. Assim, segundo o adágio de Santo Agostinho, "eu creio para compreender, e
compreendo para melhor crer".
159 Fé e ciência. "Porém, ainda que a fé esteja acima da razão, não poderá jamais
haver verdadeira desarmonia entre uma e outra, porquanto o mesmo Deus que revela os
mistérios e infunde a fé dotou o espírito humano da luz da razão; e Deus não poderia negar-se a
si mesmo, nem a verdade jamais contradizer a verdade." "Portanto, se a pesquisa metódica, em
todas as ciências, proceder de maneira verdadeiramente científica, segundo as leis morais, na
realidade nunca será oposta à fé: tanto as realidades profanas quanto as da fé originam-se do
mesmo Deus. Mais ainda: quem tenta perscrutar com humildade e Perseverança, os segredos
das coisas, ainda que disso não tome consciência, e como que conduzido pela mão de Deus,
que sustenta todas as coisas, fazendo com que elas sejam o que são."
A LIBERDADE DA FÉ
160 Para que o ato de fé seja humano, "o homem deve responder a Deus, crendo por livre
vontade. Por conseguinte, ninguém deve ser forçado contra sua vontade a abraçar a fé. Pois o
ato de fé é por sua natureza voluntário". "Deus de fato chama os homens para servi-lo em espírito
e verdade. Com isso os homens são obrigados em consciência, mas não são forçados... Foi o
que se patenteou em grau máximo em Jesus Cristo." Com efeito, Cristo convidou à fé e à
conversão, mas de modo algum coagiu. "Deu testemunho da verdade, mas não quis impô-la
pela força aos que a ela resistiam. Seu reino... se estende graças ao amor com que Cristo,
exaltado na cruz, atrai a si os homens."
A NECESSIDADE DA FÉ
161 E necessário, para obter esta salvação, crer em Jesus Cristo e naquele que o enviou
para nossa salvação "Como, porém, "sem fé é impossível agradar a Deus' (Hb 11,6) e chegar ao
consórcio dos seus filhos, ninguém jamais pode ser justificado sem ela, nem conseguir a vida
eterna, se nela não permanecer até o fim" (Mt 10,22; 24,13".
A PERSEVERANÇA NA FÉ
162 A fé é um dom gratuito que Deus concede ao homem. Podemos perder este dom
inestimável; São Paulo alerta Timóteo sobre isso: 'Combate... o bom combate, com fé e boa
consciência; pois alguns, rejeitando a boa consciência, vieram a naufragar na fé" (1Tm 1,18-19).
Para viver, crescer e perseverar até o fim na fé, devemos alimentá-la com a Palavra de Deus;
devemos implorar ao Senhor que a aumente; ela deve "agir pela caridade" (Gl 5,6), ser
carregada pela esperança e estar enraizada na fé da Igreja.
A FÉ - COMEÇO DA VIDA ETERNA
163 A fé nos faz degustar como por antecipação a alegria e a luz da visão beatífica, meta
de nossa caminhada na terra. Veremos então a Deus "face a face" (1Cor 13,12), "tal como Ele é"
(1Jo 3,2). A fé já é, portanto, o começo da vida eterna:Enquanto desde já contemplamos as
bênçãos da fé, como um reflexo no espelho, é como se já possuíssemos as coisas maravilhas que
um dia desfrutaremos, conforme nos garante nossa fé.
164 Por ora, todavia, "caminhamos pela fé, não pela visão" (2Cor 5,7), e conhecemos a
Deus "como que em um espelho, de uma forma confusa..., imperfeita" (1Cor 13,12). Luminosa em
virtude daquele em que ela crê, a fé é muitas vezes vivida na obscuridade. A fé pode ser posta à
prova. O mundo em que vivemos muitas vezes parece estar bem longe daquilo que a fé nos
assegura; as experiências do mal e do sofrimento, das injustiças e da morte parecem contradizer
a Boa Nova; podem abalar a fé e tornar-se para ela uma tentação.
165 É então que devemos nos voltar para as testemunhas da fé: Abraão, que creu,
"esperando contra toda esperança" (Rm 4,18); a Virgem Maria, que na "peregrinação a fé[fca63]
" foi até a "noite da fé", comungando com o sofrimento de seu Filho e com a noite de seu túmulo
e tantas outras testemunhas da fé: "Com tal nuvem de testemunhas ao nosso redor, rejeitando
todo fardo e o pecado que nos envolve, corramos com perseverança para o certame que nos é
proposto, com os olhos fixos naquele que é autor e realizador da fé, Jesus" (Hb 12,1-2[a66] ).
ARTIGO 2 - NÓS CREMOS
166 A fé é um ato pessoal: a resposta livre do homem à iniciativa de Deus que se revela.
Ela não é, porém, um ato isolado. Ninguém pode crer sozinho, assim como ninguém pode viver
sozinho. Ninguém deu a fé a si mesmo, assim como ninguém deu a vida a si mesmo. O crente
recebeu a fé de outros, deve transmiti-la a outros. Nosso amor por Jesus e pelos homens nos
impulsiona a falar a outros de nossa fé. Cada crente é como um elo na grande corrente dos
crentes. Não posso crer sem ser carregado pela fé dos outros, e pela minha fé contribuo para
carregar a fé dos outros.
167 "Eu creio": esta é a fé da Igreja, professada pessoalmente por todo crente,
principalmente pelo batismo. "Nós cremos": esta é a fé da Igreja confessada pelos bispos
reunidos em Concílio ou, mais comumente, pela assembléia litúrgica dos crentes. "Eu creio" é
também a Igreja, nossa Mãe, que responde a Deus com sua fé e que nos ensina a dizer: "eu
creio", "nós cremos".
I. "OLHAI, SENHOR, PARA A FÉ DA VOSSA IGREJA"
168 É antes de tudo a Igreja que crê e que desta forma carrega, alimenta e sustenta
minha fé. E antes de tudo a Igreja que, em toda parte, confessa o Senhor ("Te per orbem terrarum
sancta confitetur Ecclesia A vós por toda a terra proclama a Santa Igreja", assim cantamos no Te
Deum), e com ela e nela também nós somos impulsionados e levados a confessar: "Eu creio", "nos
cremos". É por intermédio da Igreja que recebemos a fé e a vida nova no Cristo pelo batismo. No
"Ritual Romano", o ministro do batismo pergunta ao catecúmeno: "Que pedes à Igreja de Deus?"
E a resposta: "A fé." "E que te dá a fé?" "A vida eterna."
169 A salvação vem exclusivamente de Deus, mas, por recebermos a vida de fé por meio
da Igreja, esta última é nossa mãe: "Nós cremos na Igreja como a mãe de nosso novo
nascimento, e não como se ela fosse a autora de nossa salvação". Por ser nossa mãe, a Igreja é
também a educadora de nossa fé.
II. A LINGUAGEM DA FÉ
170 Não cremos em fórmulas, mas nas realidades que elas expressam e que a fé nos
permite "tocar". "O ato (de fé) do crente não pára no enunciado, mas chega até a realidade
(enunciada). Todavia, temos acesso a essas realidades com o auxílio das formulações da fé.
Estas permitem expressar e transmitir a fé, celebrá-la em comunidade, assimilá-la e vivê-la cada
vez mais.
171 A Igreja, que é "a coluna e o sustentáculo da verdade" (1 Tm 3,15), guarda fielmente a
fé uma vez por todas confiada aos santos. E ela que conserva a memória das Palavras de Cristo,
é ela. que transmite de geração em geração a confissão de fé dos apóstolos. Como uma mãe
que ensina seus filhos a falar e, com isto, a, compreender e a comunicar, a Igreja, nossa Mãe, nos
ensina a linguagem da fé para introduzir-nos na compreensão e na vida da fé.
III. UMA ÚNICA FÉ
172 Há séculos, mediante tantas línguas, culturas, povos e nações, a Igreja não cessa de
confessar sua única fé, recebida de só Senhor, transmitida por um único batismo, enraizada na
convicção de que todos os homens têm um só Deus e Pai, São Irineu de Lião, testemunha desta
fé, declara:
173 "Com efeito, a Igreja, embora espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra,
tendo recebido dos apóstolos e dos discípulos deles a fé... guarda [esta pregação e esta fé] com
cuidado, como se habitasse em uma só casa; nelas crê de forma idêntica, como se tivesse uma
só alma; e prega as verdades de fé, as ensina e transmite com voz unânime, como se possuísse
uma só boca".
174 "Pois, se no mundo as línguas diferem, o conteúdo da Tradição é uno e idêntico. E nem
as Igrejas estabelecidas na Germânia têm outra fé ou outra Tradição, nem as que estão entre os
iberos, nem as que estão entre os celtas, nem as do Oriente, do Egito, da Líbia, nem as que estão
estabelecidas no centro do mundo..." "A mensagem da Igreja é, portanto, verídica e sólida, pois
é nela que um único caminho de salvação aparece no mundo inteiro."
175 "Esta fé que recebemos da Igreja, nós a guardamos com cuidado, pois sem cessar,
sob a ação do Espírito de Deus, à guisa de um depósito de grande preço encerrado em um vaso
precioso, ela rejuvenesce e faz rejuvenescer o próprio vaso que a contém."
RESUMINDO
176 A fé é uma adesão pessoal do homem inteiro a Deus que se revela. Ela inclui uma
adesão da inteligência e da vontade à Revelação que Deus fez de si mesmo por suas ações e
palavras.
177 Por conseguinte, "crer" tem uma dupla referência: à pessoa e à verdade; à verdade,
por confiança na pessoa que a atesta.
178 Não devemos crer em ninguém a não ser em Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo
179 A fé é um dom sobrenatural de Deus. Para crer, o homem tem necessidade dos
auxílios interiores do Espírito Santo
180 "Crer" e um ato humano, consciente e livre, que corresponde à dignidade da pessoa
humana.
181 "Crer" e um ato eclesial. A fé da Igreja precede, gera, tenta e alimenta nossa fé. A
Igreja é a mãe de todos os crentes. "Ninguém pode ter a Deus por Pai, que não tenha Igreja por
mãe. "
182 "Nós cremos em tudo o que está contido na Palavra de Deus escrita ou transmitida, e
que a Igreja propõe a crer c divinamente revelado. "
183 A fé é necessária à salvação. O próprio Senhor afirma: “Aquele que crer e for batizado
será salvo; aquele que não crer será condenado” (Mc 16, 16).
184 "A fé é um antegozo do conhecimento que nos tornará bem-aventurados na vida
futura".
SEGUNDA SEÇÃO
A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
OS SÍMBOLOS DA FÉ
185 Quem diz creio diz "dou minha adesão àquilo que não cremos". A comunhão na fé
precisa de uma linguagem comum da fé, normativa para todos e que una na mesma confissão
de fé.
186 Desde a origem, a Igreja apostólica exprimiu e transmitiu sua própria fé em fórmulas
breves e normativas para todos. Mas já muito cedo a Igreja quis também recolher o essencial de
sua fé em resumos orgânicos e articulados, destinados sobretudo aos candidatos ao Batismo:
Esta síntese da fé não foi elaborada segundo as opiniões humanas mas da Escritura inteira
recolheu-se o que existe de mais importante, para dar, na sua totalidade, a única doutrina da fé.
E assim com a semente de mostarda contém em um pequeníssimo grão um grande número de
ramos, da mesma forma este resumo da fé encerra em algumas palavras todo o conhecimento
da verdadeira piedade contida no Antigo e no Novo Testamento.
187 Estas sínteses da fé chamam-se "profissões de fé", pois resumem a fé que os cristãos
professam. Chamam-se "Credo” em razão da primeira palavra com que normalmente
começam: "Creio". Denominam-se também "Símbolos da fé".
188 A palavra grega "symbolon" significava a metade de um objeto quebrado (por
exemplo, um sinete) que era apresentada como sinal de reconhecimento. As partes quebradas
eram juntadas para se verificar a identidade do portador. O "símbolo da fé" é, pois, um sinal de
reconhecimento e de comunhão entre os crentes. "Symbolon" passa em seguida a significar
coletânea, coleção ou sumário. O "símbolo da fé" é a coletânea das principais verdades da fé.
Daí o fato de ele servir como ponto de referência primeiro e fundamental da catequese.
189 A primeira "profissão de fé" é feita por ocasião do Batismo. O "símbolo da fé" é
inicialmente o símbolo batismal. Uma vez que o Batismo é dado "em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo" (Mt 28,19), as verdades de fé professadas por ocasião do Batismo estão articuladas
segundo sua referência às três pessoas da Santíssima Trindade.
190 O símbolo está, pois, dividido em três partes: "Primeiro, fala-se da primeira Pessoa divina
e da obra admirável da criação; em seguida, da segunda Pessoa divina e do Mistério da
Redenção dos homens; finalmente, da terceira Pessoa divina, fonte e princípio de nossa
santificação[fca6] ". Esses são "os três capítulos de nosso selo (batismal[fca7] )".
191 "Estas três partes são distintas, embora interligadas. Segundo uma comparação usada
com freqüência pelos Padres, chamamo-las de artigos. Pois da mesma forma que em nossos
membros existem certas articulações que os distinguem e os separam, assim também nesta
profissão de fé, com acerto e razão, se deu o nome de artigos às verdades em que devemos
crer especificamente e de forma distinta" . Segundo uma antiga tradição, já atestada por Santo
Ambrósio, também se costuma contar doze artigos do Credo, simbolizando com o número dos
apóstolos o conjunto da fé apostólica.
192 As profissões ou símbolos da fé têm sido numerosos ao longo dos séculos e em resposta
às necessidades das diversas épocas: os símbolos das diferentes Igrejas apostólicas e antigas, o
Símbolo "Quicumque", dito de Santo Atanásio[fca11] , as profissões de fé de certos Concílios
(Toledo; Latrão; Lião[fca14] ; Trento[fca15] ) ou de certos papas, como a "Fides Damasi[fca16] "
(Profissão de Fé de São Dâmaso) ou o "Credo do Povo de Deus" [SPF], de Paulo VI (1968[fca17] ) .
193 Nenhum dos símbolos das diferentes etapas da vida da Igreja pode ser considerado
ultrapassado e inútil. Eles nos ajudam a viver e a aprofundar hoje a fé de sempre por meio dos
diversos resumos que dela têm sido feitos.
Entre todos os símbolos da fé, dois ocupam um lugar particularíssimo na vida da Igreja.
194 O Símbolo dos Apóstolos, assim chamado por ser, com razão considerado o resumo
fiel da fé dos apóstolos. É o antigo símbolo batismal da Igreja de Roma. Sua grande autoridade
vem do seguinte ato: "Ele é o símbolo guardado pela Igreja Romana, aquela onde Pedro, o
primeiro apóstolo, teve sua Sé e para onde ele trouxe comum expressão de fé (sententia
communis = opinião comum”.
195 O Símbolo denominado niceno-constantinopolitano tem sua grande autoridade no
fato de ter resultado dos dois primeiros Concílios ecumênicos (325 e 381). Ainda hoje ele é
comum a todas as grandes Igrejas do Oriente e do Ocidente.”
196 Nossa exposição da fé seguirá o Símbolo dos Apóstolos que constitui, por assim dizer, "o
mais antigo catecismo romano. Contudo, a exposição será completada por constantes
referências ao Símbolo niceno-constantinopolitano, muitas vezes mais explícito e mais detalhado.
197 Como no dia de nosso batismo, quando toda a nossa vida foi confiada "a regra de
doutrina" (Rm 6,17), acolhamos Símbolo de nossa fé que da vida. Recitar com fé o Credo entrar
em comunhão com Deus Pai, Filho e Espírito Santo É também entrar em comunhão com a Igreja
inteira, que nos transmite a fé e no seio da qual cremos:
Este Símbolo é o selo espiritual, a meditação do nosso coração e o guardião sempre
presente; ele é, seguramente, o tesouro da nossa alma.
CAPÍTULO I - CREIO EM DEUS PAI
198 Nossa profissão de fé começa com Deus, pois Deus é ô o Primeiro e o ultimo" (Is 44,6),
o Começo e o Fim de tudo. O Credo começa com Deus Pai, pois o Pai é a Primeira Pessoa Divina
da Santíssima Trindade; nosso Símbolo começa pela criação do céu e da terra, porque a criação
é o começo e o fundamento de todas as obras de Deus.
ARTIGO 1
"CREIO EM DEUS PAI TODO-PODEROSO, CRIADOR DO CÉU E DA TERRA"
PARÁGRAFO 1 - CREIO EM DEUS
199 "Creio em Deus": esta primeira afirmação da profissão de fé é também a mais
fundamental. O Símbolo inteiro fala de Deus, e, se fala também do homem e do mundo, fá-lo
pela relação que eles têm com Deus. Os artigos do Credo dependem todos do primeiro, da
mesma forma que os mandamentos explicitam o primeiro deles. Os demais artigos nos fazem
conhecer melhor a Deus tal como se revelou progressivamente aos homens. "Os fiéis fazem
primeiro profissão de crer em Deus".
I. "CREIO EM UM SÓ DEUS"
200 É com estas palavras que começa o Símbolo niceno-constantinopolitano. A confissão
da Unicidade de Deus, que tem sua raiz na Revelação Divina da Antiga Aliança, é inseparável
da confissão da existência de Deus, e igualmente fundamental. Deus é único, só existe um Deus.
"A fé cristã confessa que há Um só Deus, por natureza, por substância e por essência."
201 A Israel, seu eleito, Deus revelou-se como o Único: "Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus
é o único Senhor! Portanto, amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua
alma e com toda a tua força" (Dt 6,4-5). Por meio dos profetas, Deus chama Israel e todas as
nações a se voltarem para Ele, Único: "Voltai-vos para mim e sereis salvos, todos os confins da
terra, porque eu sou Deus e não há nenhum outro!... Com efeito diante de mim se dobrar todo
joelho, toda língua há de jurar por mim, dizendo: Só no Senhor há justiça e força".
202 Jesus mesmo confirma que Deus é "o único Senhor" e que é preciso amá-lo de todo o
coração, com toda a alma, com todo o espírito e com todas as forças. Ao mesmo tempo, dá a
entender que ele mesmo é "o Senhor". Confessar que "Jesus é Senhor" é o específico da fé cristã.
Isso não contraria a fé em Deus único. Crer no Espírito Santo "que é Senhor e dá a Vida" não
introduz nenhuma divisão no Deus único:
Cremos firmemente e afirmamos simplesmente que há um só verdadeiro Deus eterno,
imenso e imutável, incompreensível, Todo-Poderoso e inefável, Pai, Filho e Espírito Santo: Três
Pessoas, mas uma Essência, uma Substância ou Natureza absolutamente simples.
II. DEUS REVELA SEU NOME
203 A seu povo, Israel, Deus revelou-se, dando-lhe a conhecer o seu nome. O nome
exprime a essência, a identidade da pessoa e o sentido de sua vida. Deus tem um nome. Ele não
é uma força anônima. Desvendar o próprio nome é dar-se conhecer aos outros; é, de certo
modo, entregar-se a si mesmo, tomando-se acessível, capaz de ser conhecido mais intimamente
e de ser chamado pessoalmente.
204 Deus revelou-se progressivamente a seu povo e com diversos nomes, mas é a
revelação do nome divino feita a Moisés na teofania da sarça ardente, pouco antes do Êxodo e
da Aliança do Sinai, que se tomou a revelação fundamental para a Antiga e a Nova Aliança.
O DEUS VIVO
205 Deus chama Moisés do meio de uma sarça que queima sem consumir-se. Ele diz a
Moisés: "Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abra o, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó" (Ex 3,6).
Deus é o Deus dos pais, Aquele que havia guiado os patriarcas em suas peregrinações. Ele é o
Deus fiel e compassivo que se lembra deles e de suas próprias promessas; vem para libertar seus
descendentes da escravidão. Ele é o Deus que, para além do espaço e do tempo, pode e quer
fazê-lo, e que colocará sua onipotência em ação a serviço desse projeto.
"Eu sou AQUELE QUE É”
Moisés disse a Deus: "Quando eu for aos filhos de Israel e disser: O Deus de vossos pais me
enviou até vós”, e me perguntarem: “Qual é o seu nome?”, que direi?" Disse Deus a Moisés: "Eu
sou AQUELE QUE É". Disse mais: "Assim dirás aos filhos de Israel: “EU SOU me enviou até vós”... Este
é o meu nome para sempre, e esta ser a minha lembrança de geração em geração (Ex 3,13-15).
206 Ao revelar seu nome misterioso de Iahweh, "Eu sou AQUELE QUE É" ou "Eu Sou Aquele
que SOU" ou também "Eu sou Quem sou", Deus declara quem Ele é e com que nome se deve
chamá-lo. Este nome divino é misterioso como Deus é mistério. Ele é ao mesmo tempo um nome
revelado e como que a recusa de um nome, e é por isso mesmo que exprime da melhor forma a
realidade de Deus como ele é, infinitamente acima de tudo o que podemos compreender ou
dizer: ele é o "Deus escondido" (Is 45,15), seu nome é inefável, e ele é o Deus que se faz próximo
dos homens.
207 Ao revelar seu nome, Deus, revela ao mesmo tempo sua fidelidade, que é de sempre
e para sempre, válida tanto para o passado ("Eu sou o Deus de teus pais", Ex 3,6) como para o
futuro ("Eu estarei contigo", Ex 3,12). Deus, que revela seu nome como "Eu sou", revela-se como o
Deus que está sempre presente junto a seu povo para salvá-lo.
208 Diante da presença atraente e misteriosa de Deus, o homem descobre sua pequenez.
Diante da sarça ardente, Moisés tira a sandálias e cobre o rosto [fca37] em face da Santidade
Divina. Diante da glória de Deus três vezes santo, Isaias exclama: "Ai de mim estou perdido! Com
efeito, sou um homem de lábios impuros” (Is 6,5). Diante dos sinais divinos que Jesus faz, Pedro
exclama "Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador" (Lc 5,8). Mas porque Deus é santo,
pode perdoar o homem que se descobre pecador diante dele: "Não executarei o ardor da
minha ira... porque sou Deus e não homem, eu sou santo no meio de ti” (Os 11,9). O apóstolo
João dirá: "Diante dele tranqüilizaremos nosso coração, se nosso coração nos acusa, porque
Deus é maior do que nosso coração e conhece todas as coisas" (1Jo 3,19-20[a38] ).
209 Por respeito à santidade de Deus, o povo de Israel não pronuncia seu nome. Na leitura
da Sagrada Escritura, o nome revelado é substituído pelo título divino "Senhor" ("Adonai", em
grego "Kýrios"). É com este título que ser aclamada a divindade de Jesus: "Jesus é Senhor".
"DEUS DE TERNURA E DE COMPAIXÃO"
210 Depois do pecado de Israel, que se desviou de Deus para adorar o bezerro de ouro,
Deus ouve a intercessão de Moisés e aceita caminhar no meio de um povo infiel, manifestando,
assim o seu amor. A Moisés, que pede para ver sua glória, Deus responde: "Farei passar diante de
ti toda a minha beleza e diante de ti pronunciarei o nome de Iahweh" (Ex 33,18-19). E o Senhor
passa diante de Moisés e proclama: "Iahweh, Iahweh, Deus de ternura e de compaixão, lento
para a cólera e rico em amor e fidelidade" (Ex 34,6). Moisés confessa então que o Senhor é um
Deus que perdoa.
211 O Nome divino "Eu sou" ou "Ele é" exprime a fidelidade de Deus, que, apesar da
infidelidade do pecado dos homens e do castigo que ele merece, "guarda seu amor a milhares"
(Ex 34,7). Deus revela que é "rico em misericórdia" (Ef 2,4), indo até o ponto de dar seu próprio
Filho. Ao dar sua vida para libertar-nos do pecado, Jesus revelará que ele mesmo traz o Nome
divino: "Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que “EU SOU" (Jo 8,28[a44] ).
SÓ DEUS É
212 Ao longo dos séculos, a fé de Israel pôde desenvolver e aprofundar as riquezas
contidas na revelação do nome divino. Deus é único, fora dele não há deuses[fca45] .
Transcende o mundo e a história. Foi Ele quem fez o céu e a terra: "Eles perecem, mas tu
permaneces; todos ficam gastos como a roupa... mas tu existes, e teus anos jamais findarão!"
(S1102,27-28). Nele "não h mudança, nem sombra de variação" (Tg 1,17). Ele é "AQUELE QUE É",
desde sempre e para sempre, e é assim que permanece sempre fiel a si mesmo e às suas
promessas[a46] .
213 A revelação do nome inefável "EU SOU AQUELE QUE SOU" contém, pois, a verdade de
que só Deus é. E neste sentido que a tradução dos Setenta e, na esteira deles, a Tradição da
Igreja compreenderam o nome divino: Deus é a plenitude do Ser e de toda perfeição, sem
origem e sem fim. Ao passo que o das as criaturas receberam dele todo o seu ser e o seu ter, só
ele é seu próprio ser, e é por si mesmo tudo o que é[a47] .
III. DEUS, "AQUELE QUE É", É VERDADE E AMOR
214 Deus, "Aquele que é", revelou-se a Israel como Aquele que e rico em amor e em
fidelidade" (Ex 34,6). Esses dois termos exprimem de forma condensada as riquezas do nome
divino. Em todas as suas obras Deus mostra sua benevolência, bondade, graça, amor, mas
também sua confiabilidade, constância, fidelidade, verdade. "Celebro teu nome por teu amor e
verdade" (Sl 138,2[fca48] ). Ele é a Verdade, pois "Deus é Luz, nele não há trevas" (1Jo 1,5), e
“Amor", como ensina o apóstolo João (1Jo 4,8[a49] ).
DEUS É A VERDADE
215 "O princípio de tua palavra é a verdade, tuas normas são justiça para sempre" (Sl
119,160). "Sim, Senhor Deus, és tu que és Deus, tuas palavras são verdade" (2Sm 7,28); é por isso
que as promessas de Deus sempre se realizam. Deus é a própria Verdade, suas palavras não
podem enganar. É por isso que podemos entregar-nos com toda a confiança à verdade e à
fidelidade de sua palavra em todas as coisas. O começo do pecado e da queda do homem foi
uma mentira do tentador que induziu duvidar da palavra de Deus, de sua benevolência e
fidelidade.
216 A verdade de Deus é sua sabedoria que comanda toda ordem da criação e do
governo do mundo[fca52] . Deus, que sozinho criou o céu e a terra , e o único que pode dar o
conhecimento verdadeiro de toda coisa criada em sua relação com ele.
217 Deus é verdadeiro também quando se revela: o ensinamento que vem de Deus é
"uma doutrina de verdade" (Ml 2,6). Quando enviar seu Filho ao mundo, ser "para dar testemunho
da Verdade" (Jo 18,37): "Nós sabemos que veio o Filho de Deus e nos deu a inteligência para
conhecermos o Verdadeiro".
DEUS É AMOR
218 Ao longo de sua história, Israel pôde descobrir que Deus tinha uma única razão para
revelar-se a ele e para tê-lo escolhido dentre todos os povos para ser dele: seu amor gratuito. E
Israel entendeu, graças a seus profetas, que foi também por amor que Deus não cessou de
salvá-1o e de perdoar-lhe sua infidelidade e seus pecados.
219 O amor de Deus por Israel é comparado ao amor de um pai por seu filho. Este amor é
mais forte que o amor de uma mãe por seus filhos. Deus ama seu Povo mais do que um esposo
ama sua bem-amada; este amor se sobrepor até às piores infidelidades; ir até a mais preciosa
doação: "Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho único" (Jo 3,16
220 O amor de Deus é "eterno" (Is 54,8): "Os montes podem mudar de lugar e as colinas
podem abalar-se, mas o meu amor não mudará" (Is 54,10). "Eu te amei com um amor eterno, por
conservei por ti o amor" (Jr 31,3).
221 Mas São João ir ainda mais longe ao afirmar: "Deus é Amor" (1Jo 4,8.16); o próprio Ser
de Deus é Amor. Ao enviar, na plenitude dos tempos, seu Filho único e o Espírito de Amor, Deus
revela seu segredo mais íntimo: Ele mesmo é eternamente intercâmbio de amor: Pai, Filho e
Espírito Santo, e destinou-nos a participar deste intercâmbio.
IV. O ALCANCE DA FÉ NO DEUS ÚNICO
222 Crer em Deus, o Único, e amá-lo com todo o próprio ser em conseqüências imensas
para toda a nossa vida.
223 Significa conhecer a grandeza e a majestade de Deus. "Deu, é grande demais para
que o possamos conhecer" (Jó 36,26). E por isso que Deus deve ser o "primeiro a ser
servido".(Santa Joana d’Arc, dictum).
224 Significa viver em ação de graças. Se Deus é o Único, tudo o que somos e tudo o que
possuímos vem dele: "Que é que possuis, que não tenhas recebido?" (1Cor 4,7). "Como retribuirei
ao Senhor todo o bem que me fez?" (Sl 116,12[a71] ).
225 Significa conhecer a unidade e a verdadeira dignidade de todos os homens. Todos
eles são feitos "à imagem e à semelhança de Deus" (Gn 1,27[a72] ).
226 Significa usar corretamente das coisas criadas. A fé no Deus único nos leva a usar de
tudo o que não é Ele, na medida em que isso nos aproxima dele, e a desapegar-nos das coisas,
na medida em que nos desviam dele:
Meu Senhor e meu Deus, tirai-me tudo o que me afasta de vós.
Meu Senhor e meu Deus, dai-me tudo o que me aproxima de vós.
Meu Senhor e meu Deus, desprendei-me de mim mesmo pai doar-me por inteiro a vós.
227 Significa confiar em Deus em qualquer circunstancia, mesmo na adversidade. Uma
oração de Sta. Teresa de Jesus (Poes. 9) exprime-o de maneira admirável:
Nada te perturbe
Nada te assuste
Tudo passa
Deus não muda
A paciência tudo alcança
Quem a Deus tem
Nada lhe falta.
Só Deus basta
RESUMINDO
228 "Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o Único Senhor...”. (Dt 6,4; Mc 12,29). "É preciso
necessariamente que o supremo seja único, isto é, sem igual... Se Deus não for único não é Deus"
229 A fé em Deus leva-nos a nos voltar só para Ele como nossa primeira origem e nosso fim
último, e a nada preferir nem substitui-lo por nada.
230 Ao revelar-se, Deus permanece Mistério inefável: "Se o compreendesses, ele não seria
Deus".
231O Deus de nossa fé revelou-se como Aquele que é; deu-se a conhecer como "cheio de
amor e fidelidade" (Ex 34,6). Seu próprio ser é Verdade e Amor.
A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
OS SÍMBOLOS DA FÉ - PARÁGRAFO 2 - O PAI
I. "EM NOME DO PAI, DO FILHO E DO ESPÍRITO SANTO"
232) Os cristãos são batizados "em nome do Pai, do Filho e dó Espírito Santo" (Mt 28,19).
Antes disso, eles respondem "Creio" à tríplice pergunta que os manda confessar sua fé no Pai, no
Filho e no Espírito: "Fides omnium christianorum in Trinitate consistit - A fé de todos os cristãos
consiste na Trindade.
233) Os cristãos são batizados "em nome" do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e não "nos
nomes" destes três, pois só existe um Deus, o Pai Todo-Poderoso, seu Filho Único e o Espírito Santo:
a Santíssima Trindade.
234) O mistério da Santíssima É, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé, é a luz
que os ilumina. É o ensinamento mais fundamental e essencial na "hierarquia das verdades de
fé". "Toda a história da salvação não é senão a história da via e dos meios pelos quais o Deus
verdadeiro e Único, Pai, Filho e Espírito Santo, se revela, reconcilia consigo e une a si os homens
que se afastam do pecado.
235) Neste parágrafo se exporá brevemente de que modo é revelado o mistério da
Santíssima Trindade (I), de que maneira a Igreja formulou a doutrina da fé sobre este mistério (II),
e, finalmente, de que modo, mediante as missões divinas do Filho e do Espírito Santo, Deus Pai
realiza seu "desígnio benevolente" de criação, de redenção e de santificação (III).
236) Os Padres da Igreja distinguem entre a "Theologia" e a "Oikonomia", designando com
o primeiro termo o mistério da vida íntima do Deus-Trindade e com o segundo todas as obras de
Deus por meio das quais ele se revela e comunica sua vida. E mediante a "Oikonomia" que nos é
revelada a "Theologia"; mas, inversamente, é a "Theologia" que ilumina toda a "Oikonomia". As
obras de Deus revelam quem Ele é em si mesmo e, inversamente, o mistério de seu Ser íntimo
ilumina a compreensão de todas as suas obras. Acontece O mesmo, analogicamente, entre as
pessoas humanas. A pessoa mostra-se em seu agir e, quanto melhor conhecermos uma pessoa,
tanto melhor compreenderemos seu agir.
237) A Trindade é um mistério de fé no sentido estrito, um do “mistérios escondidos em
Deus que não podem ser conhecidos se não forem revelados do alto[fca8] ". Sem dúvida, Deus
deixou vestígios de seu ser trinitário em sua obra de Criação e em sua Revelação ao longo do
Antigo Testamento. Mas a intimidade de seu Ser como Santíssima Trindade constitui um mistério
inacessível à pura razão e até mesmo à fé de Israel antes da Encarnação do Filho de Deus e da
missão do Espírito Santo.
II. A REVELAÇÃO DE DEUS COMO TRINDADE
O PAI REVELADO PELO FILHO
238) A invocação de Deus como "Pai" é conhecida em muitas religiões. A divindade é
muitas vezes considerada "pai dos deuses e dos homens". Em Israel, Deus é chamado de Pai
enquanto Criador do mundo[fca10] . Deus é Pai, mais ainda, em razão da Aliança, e do dom da
Lei a Israel, seu "filho primogênito" (Ex 4,22). E também chamado de Pai do rei de Israel. Muito
particularmente Ele é "o Pai dos pobres", do órfão e da viúva que estão sob sua proteção de
amor.
239) Ao designar a Deus com o nome de "Pai", a linguagem da fé indica principalmente
dois aspectos: que Deus é origem primeira de tudo autoridade transcendente, e que ao mesmo
tempo é bondade e solicitude de amor para todos os seus filhos. Esta ternura paterna de Deus
pode também ser expressa pela imagem da maternidade, que indica mais imanência de Deus,
a intimidade entre Deus e sua criatura. A linguagem da fé inspira-se, assim, na experiência
humana dos pais (genitores), que são de certo modo os primeiros representantes de Deus para o
homem. Mas esta experiência humana ensina também que os pais humanos são falíveis e que
podem desfigurar o rosto da paternidade e da maternidade. Convém então lembrar que Deus
transcende a distinção humana dos sexos. Ele não é nem homem nem mulher, é Deus.
Transcende também a paternidade e a maternidade humanas embora seja a sua origem e a
medida: ninguém é pai como Deus o é.
240) Jesus revelou que Deus é "Pai" num sentido inaudito: não o é somente enquanto
Criador, mas é eternamente Pai em relação a seu Filho único, que só é eternamente Filho em
relação a seu Pai: "Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece O Pai senão o
Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar" (Mt 11,27.
241) E por isso que Os apóstolos confessam Jesus como "o Verbo" que "no início estava
junto de Deus" e que "é Deus" (Jo 1,1), como "a imagem do Deus invisível" (Cl 1,15), como "o
resplendor de sua glória e a expressão do seu ser" (Hb 1,3).
242) Na esteira deles, seguindo a Tradição apostólica, a Igreja, no ano de 325, no primeiro
Concílio Ecumênico de Nicéia, confessou que o Filho é "consubstancial" ao Pai, isto é, um só Deus
com Ele. O segundo Concílio Ecumênico, reunido em Constantinopla em 381, conservou esta
expressão em sua formulação do Credo de Nicéia e confessou "o Filho Único de Deus, gerado do
Pai antes de todos os séculos, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não
criado, consubstancial ao Pai”
O PAI E O FILHO REVELADOS PELO ESPÍRITO
243) Antes de sua Páscoa, Jesus anuncia o envio de "outro Paráclito" (Defensor), o Espírito
Santo Em ação desde a criação, depois de ter outrora "falado pelos profetas [fca23] ele estar
agora junto dos discípulos e neles, a fim de ensiná-1os e conduzi-los "a verdade inteira" (Jo 16,13).
O Espírito Santo é assim revelado como outra pessoa divina em relação a Jesus e ao Pai.
244) A origem eterna do Espírito revela-se em sua missão tem temporal. O Espírito Santo é
enviado aos apóstolos e à Igreja tanto pelo Pai, em nome do Filho, como pelo Filho em pessoa,
depois que este tiver voltado para junto do Pai. O envio da pessoa do Espírito após a glorificação
de Jesus revela em plenitude o mistério da Santíssima Trindade.
245) A fé apostólica no tocante ao Espírito foi confessada pelo segundo Concílio
Ecumênico, em 381, em Constantinopla: "Cremos no Espírito Santo, que é Senhor e que dá a
vida; ele procede do Pai". Com isso a Igreja reconhece o Pai como "a fonte e a origem de toda
a divindade". Mas a origem eterna do Espírito Santo não deixa de estar vinculada à do Filho: "O
Espírito Santo que é a Terceira Pessoa da Trindade, é Deus, uno e igual ao Pai e ao Filho, da
mesma substância e também da mesma natureza....Contudo, não se diz que Ele é somente o
Espírito do Pai, mas ao mesmo tempo o Espírito do Pai e do Filho[fca32] ". O Credo da Igreja do
Concilio de Constantinopla, confessa: "Com o Pai e o Filho ele recebe a mesma adoração e a
mesma glória "
246) A tradição latina do Credo confessa que o Espírito "procede do Pai e do Filho (Filio
que)". O Concílio de Florença, em 1438, explicita: "O Espírito Santo tem sua essência e seu ser
subsistente ao mesmo tempo do Pai e do Filho e procede eternamente de Ambos como de um
só Princípio e por uma única expiração...E uma vez que tudo O que é do Pai o Pai mesmo o deu
ao seu Filho Único ao gerá-lo, excetuado seu ser de Pai, esta própria processão do Espírito Santo
a partir do Filho, ele a tem eternamente de Seu Pai que o gerou eternamente".
247) A afirmação do filioque não figurava no símbolo professado em 381 em
Constantinopla. Mas, com base em uma antiga tradição latina e alexandrina, o papa São Leão
o havia já confessado dogmaticamente e em 447, antes que Roma conhecesse e recebesse, em
451, no Concílio de Calcedônia, o símbolo de 381. O uso desta fórmula no Credo foi sendo
admitido pouco a pouco na liturgia latina (entre os séculos VIII e XI). Todavia, a introdução do
filioque no Símbolo niceno-constantinopolitano pela liturgia latina constitui, ainda hoje, um ponto
de discórdia em relação ás Igrejas ortodoxas.
248) A tradição oriental põe primeiramente em relevo o caráter de origem primeira do Pai
em relação ao Espírito. Ao confessar o Espírito como "procedente do Pai" (Jo 15,26), ela afirma
que o Espírito procede do Pai pelo Filho. A tradição ocidental põe primeiramente em relevo a
comunhão consubstancial entre o Pai e o Filho, afirmando que o Espírito procede do Pai e do
Filho (Filioque). Ela o afirma "de forma legítima e racional", pois a ordem eterna das pessoas
divinas em sua comunhão consubstancial implica não só que o Pai seja a origem primeira do
Espírito enquanto "princípio sem princípio, mas também, enquanto Pai do Filho Único, que seja
com ele "o único princípio do qual procede o Espírito Santo". Esta legítima complementaridade,
se não for radicalizada, não afeta a identidade da fé na realidade do mesmo mistério
confessado.
III. A SANTÍSSIMA TRINDADE NA DOUTRINA DA FÉ
A FORMAÇÃO DO DOGMA TRINITÁRIO
249) A verdade revelada da Santíssima Trindade esteve desde as origens na raiz da fé viva
da Igreja, principalmente por meio do Batismo. Ela encontra sua expressão na regra da fé
batismal, formulada na pregação, na catequese e na oração da Igreja. Tais formulações
encontram-se já nos escritos apostólicos, como na seguinte saudação, retomada na liturgia
eucarística: "A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo
estejam com todos vós" (2Cor 13,13).
250) No decurso dos primeiros séculos, a Igreja procurou formular mais explicitamente sua
fé trinitária, tanto para aprofundar sua própria compreensão da fé como para defendê-la de
erros que a estavam deformando. Isso foi obra dos Concílios antigos, ajudados pelo trabalho
teológico dos Padres da Igreja e apoiados pelo senso da fé do povo cristão.
251) Para a formulação do dogma da Trindade, a Igreja teve de desenvolver uma
terminologia própria, recorrendo a noções de origem filosófica: "substância", "pessoa" ou
"hipóstase", "relação" etc. Ao fazer isso, não submeteu a fé a uma sabedoria humana, mas
imprimiu um sentido novo, inaudito, a esses termos, chamados a significar a partir daí também
um Mistério inefável, que "supera infinitamente tudo o que nó podemos compreender dentro do
limite humano".
252) A Igreja utiliza o termo "substância" (traduzido também, às vezes, por "essência" ou por
"natureza") para designar ser divino em sua unidade, o termo "pessoa" ou "hipóstase” para
designar o Pai, o Filho e o Espírito Santo em sua distinção real entre si, e o termo "relação" para
designar o fato de a distinção entre eles residir na referência de uns aos outros.
DOGMA DA SANTÍSSIMA TRINDADE
253) A Trindade é Una. Não professamos três deuses, mas só Deus em três pessoas: "a
Trindade consubstancial". As pessoas divinas não dividem entre si a única divindade, mas cada
uma delas é Deus por inteiro: "O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o Pai, O Espírito
Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um só Deus por natureza". "Cada uma das três
pessoas é esta realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina".
254) As pessoas divinas são realmente distintas entre si. "Deus é único, mas não solitário".
"Pai", "Filho", "Espírito Santo” não são simplesmente nomes que designam modalidades do ser
divino, pois são realmente distintos entre si: "Aquele que é o Pai não é o Filho, e aquele que é o
Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo é aquele que é o Pai ou o Filho". São distintos entre si por
suas relações de origem: "E o Pai que gera, o Filho que é gerado, o Espírito Santo que procede".
A UNIDADE DIVINA É TRINA.
255) As pessoas divinas são relativas umas às outras. Por não dividir a unidade divina, a
distinção real das pessoas entre si reside unicamente nas relações que as referem umas às outras:
"Nos nomes relativos das pessoas, o Pai é referido ao Filho, o filho ao Pai, o Espírito Santo aos dois;
quando se fala destas três pessoas considerando as relações, crê-se todavia em uma só natureza
ou substância'. Pois "tudo é uno [neles] l onde não se encontra a oposição de relação. "Por causa
desta unidade, o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo
inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo, todo inteiro no Pai, todo inteiro no
Filho”.
256) Aos Catecúmenos de Constantinopla, São Gregório Nazianzeno, denominado
também "o Teólogo", confia o seguinte resumo da fé trinitária :
Antes de todas as coisas, conservai-me este bom depósito, pelo qual vivo e combato,
com o qual quero morrer, que me faz suportar todos os males e desprezar todos os prazeres:
refiro-me à profissão de fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo Eu vo-la confio hoje. É por ela que
daqui a pouco vou mergulhar-vos na água e vos tirar dela. Eu vo-la dou como companheira e
dona de toda a vossa vida. Dou-vos uma só Divindade e Poder, que existe Una nos Três, e que
contém os Três de maneira distinta. Divindade sem diferença de substância ou de natureza, sem
grau superior que eleve ou grau inferior que rebaixe... A infinita conaturalidade é de três infinitos.
Cada um considerado em si mesmo é Deus todo inteiro... Deus os Três considerados juntos. Nem
comecei a pensar na Unidade, e a Trindade me banha em seu esplendor. Nem comecei a
pensar na Trindade, e a unidade toma conta de mim.
IV. AS OBRAS DIVINAS E AS MISSÕES TRINITÁRIAS
257) "O lux beata Trinitas etprincipalis Unitas - à luz, Trindade bendita. O primordial
Unidade”! Deus é beatitude eterna, vida imortal, luz sem ocaso. Deus é amor: Pai, Filho e Espírito
Santo Livremente, Deus quer comunicar a glória de sua vida bem-aventurada. Este é o "desígnio"
de benevolência (Ef 1,9) que ele concebeu desde antes da criação do mundo no seu Filho bemamado
predestinando-nos à adoção filial neste" Ef 1,5), isto é, "a reproduzir a imagem do seu
Filho" (Rm 8,29) graças ao "Espírito de adoção filial" (Rm 8,5). Esta decisão prévia é uma "graça
concedida antes de todos os séculos" (2Tm 1,9), proveniente diretamente do amor trinitário. Ele se
desdobra na obra da criação, em toda história da salvação após a queda, nas missões do Filho
e do Espírito, prolongadas pela missão da Igreja.
258) Toda a economia divina é obra comum das três pessoas divinas. Pois da mesma
forma que a Trindade não tem senão uma única e mesma natureza, assim também não tem
senão uma única e mesma operação. "O Pai, o Filho e o Espírito Santo não são três princípios das
criaturas, mas um só princípio". Contudo cada pessoa divina cumpre a obra comum segundo sua
propriedade pessoal. Assim a Igreja confessa, na linha do Novo Testamento: "Um Deus e Pai do
qual são todas as coisas, um Senhor Jesus Cristo mediante o qual são todas as coisas, um Espírito
Santo em quem são todas as coisas”. São sobretudo as missões divinas da Encarnação do Filho e
do dom do Espírito Santo que manifestam as propriedades das pessoas divinas.
259) Obra ao mesmo tempo comum e pessoal, toda a Economia divina dá a conhecer
tanto a propriedade das pessoas divinas como sua única natureza. Outrossim, toda a vida cristã
é comunhão com cada uma das pessoas divinas, sem de modo algum separá-las. Quem rende
glória ao Pai o faz pelo Filho no Espírito Santo; quem segue a Cristo, o faz porque o Pai atrai e o
Espírito o impulsiona.
260) O fim último de toda a Economia divina é a entrada das criaturas na unidade
perfeita da Santíssima Trindade. Mas desde já somos chamados a ser habitados pela Santíssima
Trindade: "Se alguém me ama - diz o Senhor -, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará e
viremos a ele, e faremos nele a nossa morada" (Jo 14,23):
Ó meu Deus, Trindade que adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente para firmar-me
em Vós, imóvel e pacifica, como se a minha alma já estivesse na eternidade: que nada consiga
perturbar a minha paz nem fazer-me sair de Vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me leve
mais longe na profundidade do vosso Mistério! Pacificai a minha alma! Fazei dela o vosso céu,
vossa amada morada e o lugar do vosso repouso. Que nela eu nunca vos deixe só, mas que eu
esteja aí, toda inteira, completamente vigilante na minha fé, toda adorante, toda entregue à
vossa ação criadora.
RESUMINDO
261) O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. Só Deus
no-lo pode dar a conhecer, revelado-se como Pai, Filho e Espírito Santo
262) A Encarnação do Filho de Deus revela que Deus é o Pai eterno, e que o Filho é
consubstancial ao Pai, isto é, que ele é no Pai e com o Pai o mesmo Deus único.
263) A missão do Espírito Santo, enviado pelo Pai em nome do Filho e pelo Filho "de junto
do Pai" (Jo 15,26), revela que o Espírito é com eles o mesmo Deus único. "Com o Pai e o Filho é
adorado e glorificado."
264) "O Espírito Santo procede do Pai enquanto fonte primeira e, pela doação eterna
deste último ao Filho, do Pai e do Filho em comunhão”.
265) Pela graça do Batismo "em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28,19)
somos chamados a compartilhar da vida da Santíssima Trindade, aqui na terra, na obscuridade
da fé, e para além da morte, na luz eterna.
266) "Fides autem catholica haec est, ut unum Deum in Trinitate, et Trinitatem in unitate
veneremur, neque confundentes personas, neque substantiam separantes: alia enim est persona
Patris, alia Filii, alia Spiritus Sancti; sed Patris et Fuji et Spiritus Sancti est una divinitas, aequalis gloria,
coaeterna majestas – A fé católica é esta: que veneremos o único Deus na Trindade, e a
Trindade na unidade, não confundindo as pessoas, nem separando a substância: pois uma é a
pessoa do Pai, outra, a do Filho, outra, a do Espírito Santo; mas uma só é a divindade do Pai, do
Filho e do Espírito Santo, igual a glória, co-eterna a majestade”
267) Inseparáveis naquilo que são, da mesma forma o são naquilo que fazem. Mas na
única operação divina cada uma delas manifesta o que lhe é próprio na Trindade, sobretudo
nas missões divinas da Encarnação do Filho e do dom do Espírito Santo.
PARÁGRAFO 3 - O TODO-PODEROSO
268) De todos os atributos divinos, só a onipotência de Deus é mencionada no Símbolo:
confessá-la é de grande importância para nossa vida. Nós cremos que ela é universal, pois Deus
que criou tudo, governa tudo e pode tudo, é também de amor, pois Deus é nosso Pai; e é
misteriosa, pois somente a fé pode discerni-la, quando (a onipotência divina) "se manifesta na
fraqueza" (2Cor 12,9).
"ELE FAZ TUDO O QUE QUER" (Sl 115,3)
269) As Sagradas Escrituras professam reiteradas vezes o poder universal de Deus. Ele é
chamado "o Poderoso de Jacó" (Gn 49,24; Is 1,24 e.o.), "o Senhor dos exércitos", "o Forte, o
Valente” (Sl 24,8-10). Se Deus é Todo-Poderoso "no céu e na terra" (Sl 135,6), é porque os fez. Por
isso, nada lhe é impossível, e Ele dispõe à vontade de sua obra; Ele é o Senhor do universo, cuja
ordem estabeleceu, ordem esta que lhe permanece inteiramente submissa e disponível; Ele é o
Senhor da história: governa os corações e os acontecimentos à vontade. "Teu grande poder está
sempre a teu serviço, e quem pode resistir à força de teu braço?" (Sb 11,21).
"TU TE COMPADECES DE TODOS, PORQUE TUDO PODES" (SB 11,23)
270) Deus é o Pai Todo-Poderoso. Sua paternidade e seu poder iluminam-se mutuamente.
Com efeito, ele mostra sua onipotência paternal pela maneira como cuida de nossas
necessidades, pela adoção filial que nos outorga ("Serei para vós um pai, e sereis para mim filhos
e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso": 2Cor 6,18), e finalmente por sua misericórdia infinita, pois
mostra seu poder no mais alto grau, perdoando livremente os pecados.
271) A onipotência divina de modo algum é arbitrária. "Em Deus o poder e a essência, a
vontade e a inteligência, a sabedoria e a justiça são uma só e mesma coisa, de sorte que nada
pode estar no poder divino que não possa estar na vontade justa de Deus ou em sua inteligência
sábia".
MISTÉRIO DA APARENTE IMPOTÊNCIA DE DEUS
272) A fé em Deus Pai Todo-Poderoso pode ser posta à prova pela experiência do mal e
do sofrimento. Por vezes, Deus pode parecer ausente e incapaz de impedir o mal. Ora, Deus Pai
revelou sua Onipotência da maneira mais misteriosa no rebaixamento voluntário e na
Ressurreição de seu Filho, pelos quais venceu o mal. Assim, Cristo crucificado é "poder de Deus e
sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é
fraqueza de Deus é mais forte do que os homens" (1Cor 1,25). Foi na Ressurreição e na exaltação
de Cristo que o Pai "desdobrou o vigor de sua força" e manifestou "que extraordinária grandeza
reveste seu poder para nós, os que cremos" (Ef 1,19-22).
273) Somente a fé pode aderir aos caminhos misteriosos onipotência de Deus. Esta fé
gloria-se de suas fraquezas a fim de atrair sobre si o poder de Cristo, Desta fé, a Virgem Maria é o
modelo supremo, ela que acreditou que "nada impossível a Deus" (Lc 1,37) e que pôde
engrandecer o Senhor. "O Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor, seu nome é Santo"
(Lc 1,49).
274) "Por isso, nada é mais adequado para consolidar nossa Fé e nossa esperança do que
a convicção profundamente gravada em nossas almas de que nada é impossível a Deus. Pois
tudo o que [o Credo] a seguir nos propor a crer - as maiores coisas, as mais incompreensíveis,
bem como as que mais ultrapassam as leis ordinárias da natureza, desde que nossa: razão tenha
pelo menos idéia da onipotência divina, ela admitirá facilmente e sem qualquer hesitação".
RESUMINDO
275) Juntamente com Jó, o justo, nós confessamos: "Reconheço que tudo podes e que
nenhum dos teus desígnios fica frustrado" (Jó 42,2).
276) Fiel ao testemunho da Escritura, a Igreja dirige com freqüência sua prece ao "Deus
Todo-Poderoso e eterno" ("omnipotens sempiterne Deus..."), crendo firmemente que "nada é
impossível a Deus" (Lc 1,37)
277) Deus manifesta sua onipotência convertendo-nos dos nossos pecados e
restabelecendo-nos em sua amizade pela graça ("Deus, qui omnipotentiam tuam parcendo
maxime et miserando manifestas... - O Deus, que manifestais o vosso poder sobretudo na
misericórdia".
278) Se não crermos que o amor de Deus é Todo-Poderoso, como crer que o Pai pôde nos
criar, o Filho, remir-nos, o Espírito, santificar-nos?
PARÁGRAFO 4 - O CRIADOR
279) "No princípio, Deus criou o céu e a terra" (Gn 1,1). Com essas solenes palavras inicia-se
a Sagrada Escritura. O Símbolo da fé retoma estas palavras confessando Deus Pai Todo-Poderoso
como "O Criador do céu e da terra", "de todas as coisas visíveis e invisíveis". Por isso, falaremos
primeiro do Criador, em seguida de sua criação e, finalmente, da queda no pecado, do qual
Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio resgatar-nos.
280) A criação é o fundamento de "todos os desígnios salvíficos de Deus", "o começo da
história da salvação", que culmina em Cristo. Inversamente, o mistério de Cristo é a luz decisiva
sobre o mistério da criação; ele revela o fim em vista do qual, "no princípio, Deus criou o céu e a
terra" (Gn 1,1): desde o início, Deus tinha em vista a glória da nova criação em Cristo.
281) É por isso que as leituras da Vigília Pascal, celebração da criação nova em Cristo,
começam pelo relato da criação; da mesma forma, na liturgia bizantina, o relato da criação
constitui sempre a primeira leitura das vigílias das grandes festas do Senhor. Segundo o
testemunho dos antigos, a instrução dos catecúmenos para o batismo segue o mesmo caminho.
I. A CATEQUESE SOBRE A CRIAÇÃO
282) A catequese sobre a criação se reveste de uma importância capital. Ela diz respeito
aos próprios fundamentos da vida humana e cristã, pois explicita a resposta da fé cristã à
pergunta elementar feita pelos homens de todas as épocas: "De onde viemos?" "Para onde
vamos?" "Qual é a nossa origem?" "Qual é o nosso fim?" "De onde vem e para onde vai tudo o
que existe?" As duas questões, a da origem e a do fim, são inseparáveis. São decisivas para o
sentido e a orientação de nossa vida e de nosso agir.
283)A questão das origens do mundo e do homem é objeto de numerosas pesquisas
científicas que enriqueceram magnificamente nossos conhecimentos sobre a idade e as
dimensões do cosmo, o devir das formas vivas, o aparecimento do homem. Essas descobertas
nos convidam a admirar tanto mais a grandeza do Criador, a render-lhe graças por todas as suas
obras, pela inteligência e pela sabedoria que dá aos estudiosos e aos pesquisadores. Com
Salomão, estes últimos podem dizer: "Ele me deu um conhecimento infalível dos seres para
entender a estrutura do mundo, a atividade dos elementos... pois a Sabedoria, artífice do
mundo, mo ensinou" (Sb 7,17.22[a28] ).
284) O grande interesse reservado a essas pesquisas é fortemente estimulado por uma
questão de outra ordem e que ultrapassa o âmbito próprio das ciências naturais. Não se trata
somente de saber quando e como surgiu materialmente o cosmo, nem quando o homem
apareceu, mas, antes, de descobrir qual é o sentido de tal origem: se ela é governada pelo
acaso, um destino cego, uma necessidade anônima, ou por um Ser transcendente, inteligente e
bom, chamado Deus. E, se o mundo provém da sabedoria e da bondade de Deus, por que
existe o mal? De onde vem? Quem é o responsável por ele? Haverá como libertar-se dele?
285) Desde os inícios, a fé‚ cristã tem-se confrontado com respostas diferentes da sua no
que diz respeito à questão das origens. Assim, encontram-se nas religiões e nas culturas antigas
numerosos mitos acerca das origens. Certos filósofos afirmaram que tudo‚ é Deus, que o mundo é
Deus, ou que o devir do mundo é o devir de Deus (panteísmo); outros afirmaram que o mundo é
uma emanação necessária de Deus, emanação esta que deriva dessa fonte e volta a ela; outros
ainda afirmaram a existência de dois princípios eternos, o Bem e o Mal, a Luz e as Trevas, em luta
permanente entre si (dualismo, maniqueísmo); segundo algumas dessas concepções, o mundo
(pelo menos o mundo material) seria mau, produto de uma queda, e portanto deve ser rejeitado
ou superado (gnose); outros admitem que o mundo tenha sido feito por Deus, mas à maneira de
um relojoeiro que, uma vez terminado o serviço, o teria abandonado a si mesmo (deísmo);
outros, finalmente, não aceitam nenhuma origem transcendente do mundo, vendo neste o mero
jogo de uma matéria que teria existido sempre (materialismo). Todas essas tentativas dão prova
da permanência e da universalidade da questão das origens. Esta busca é própria do homem.
286) Sem dúvida, a inteligência humana já pode encontrar uma resposta para a questão
das origens. Com efeito, a existência de Deus Criador pode ser conhecida com certeza por meio
de suas obras, graças à luz da razão humana[fca30] , ainda que este conhecimento seja muitas
vezes obscurecido e desfigurado pelo erro. É por isso que a fé vem confirmar e iluminar a razão
na compreensão correta desta verdade: "Foi pela fé que compreendemos que os mundos foram
formados por uma palavra de Deus. Por isso é que o mundo visível não tem sua origem em coisas
manifestas" (Hb 11,3[a31] ).
287) A verdade da criação é tão importante para toda a vida humana que Deus, em sua
ternura, quis revelar a seu Povo tudo o que é útil conhecer a este respeito. Para além do
conhecimento natural que todo homem pode ter do Criador, Deus revelou progressivamente a
Israel o mistério da criação. Ele, que escolheu os patriarcas, que fez Israel sair do Egito e que, ao
escolher Israel, o criou e o formou, se revela como Aquele a quem pertencem todos os povos da
terra, e a terra inteira, como o único que "fez o céu e a terra" (Sl 115,15; 124,8; 134,3).
288) Assim, a revelação da criação é inseparável da revelação e da realização da
Aliança de Deus, o Único, com o seu Povo. A criação é revelada como sendo o primeiro passo
rumo a esta Aliança, como o testemunho primeiro e universal do amor Todo-Poderoso de Deus.
Além disso, a verdade da criação se exprime com um vigor crescente na mensagem dos
profetas, na oração dos salmos e da liturgia, na reflexão da sabedoria do Povo eleito.
289) Entre todas as palavras da Sagrada Escritura sobre a criação, os três primeiros
capítulos do Gênesis ocupam um lugar único. Do ponto de vista literário, esses textos podem ter
diversas fontes. Os autores inspirados puseram-nos no começo da Escritura, de sorte que eles
exprimem, em sua linguagem solene, as verdades da criação, da origem e do fim desta em
Deus, de sua ordem e de sua bondade, da vocação do homem e finalmente do drama do
pecado e da esperança da salvação. Lidas à luz de Cristo, na unidade da Sagrada Escritura e
na Tradição viva da Igreja, essas palavras são a fonte principal para a catequese dos Mistérios
"princípio": criação, queda, promessa da salvação.
II. A CRIAÇÃO - OBRA DA SANTÍSSIMA TRINDADE
290) "No princípio, Deus criou o céu e a terra" (Gn 1,1). Três coisas são afirmadas nestas
primeiras palavras da Escritura: o Deus eterno pôs um começo a tudo o que existe fora dele. Só
ele é Criador (o verbo “criar” - em hebraico, ''bara'' sempre tem como sujeito Deus). Tudo o que
existe (expresso pela fórmula "o céu e a terra") depende daquele que lhe dá o ser.
291) "No princípio era o Verbo... e o Verbo era Deus... Tudo foi feito por ele, e sem ele nada
foi feito"(Jo 1,1-3). O Novo Testamento revela que Deus criou tudo por meio do Verbo Eterno, seu
Filho bem-amado. Nele "foram criadas todas coisas, nos céus e na terra... tudo foi criado por Ele
e para Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste" (Cl 1,16-17). A fé da Igreja afirma outrossim a
ação criadora do Espírito Santo: Ele é o "doador de vida" "o Espírito Criador" ("Veni, Creator
Spiritus"), a "Fonte de todo bem.
292) Insinuada no Antigo Testamento[fca44] , revelada na Nova Aliança, a ação criadora
do Filho e do Espírito, inseparavelmente una com a do Pai, é claramente afirmada pela regra de
fé da Igreja: "Só existe um Deus...: ele é o Pai, é Deus, é o Criador, é o Autor, é o Ordenador. Ele
fez todas as coisas por si mesmo, isto é, pelo seu Verbo e Sabedoria", "pelo Filho e pelo Espírito",
que são como "suas mãos". A criação é a obra comum da Santíssima Trindade.
III. "O MUNDO FOI CRIADO PARA A GLÓRIA DE DEUS"
293) Eis uma verdade fundamental que a Escritura e a Tradição não cessam de ensinar e
de celebrar: "O mundo foi criado para a glória de Deus". Deus criou todas as coisas, explica São
Boaventura, "non propter gloriam augendam, sed propter gloriam manifestandam et propter
gloriam suam communicandam - não para aumentar a [sua] glória, mas para manifestar a glória
e para comunicar a sua glória". Pois Deus não tem outra razão para criar a não ser seu amor e
sua bondade: "Aperta manu clave amoris creaturae prodierunt - Aberta a mão pela chave do
amor, as criaturas surgiram". E o Concílio Vaticano I explica:
Este único e verdadeiro Deus, por sua bondade e por sua "virtude onipotente", não para
aumentar sua felicidade nem para adquirir sua perfeição, mas para manifestar essa perfeição
por meio dos bens que prodigaliza às criaturas, com vontade plenamente livre, criou
simultaneamente no início do tempo ambas as criaturas do nada: a espiritual e a corporal.
294) A glória de Deus consiste em que se realize esta manifesta o e esta comunicação de
sua bondade em vista das quais o mundo foi criado. Fazer de nós "filhos adotivos por Jesus Cristo:
conforme o beneplácito de sua vontade para louvor à glória da sua graça" (Ef 1,5-6): "Pois a
glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus: se já a revelação de Deus
por meio da criação proporcionou a vida a todos os seres que vivem na terra, quanto mais a
manifestação do Pai pelo Verbo proporciona a vida àqueles que vêem a Deus". O fim último da
criação é que Deus, "Criador do universo, tornar-se-á “tudo em todas as coisas' (1Cor 15,28),
procurando, ao mesmo tempo, a sua glória e a nossa felicidade".
IV. O mistério da criação
DEUS CRIA POR SABEDORIA E POR AMOR
295) Cremos que Deus criou o mundo segundo sua sabedoria. O mundo não é o produto
de uma necessidade qualquer, de um destino cego ou do acaso. Cremos que o mundo
procede da vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas participarem de seu ser, de sua
sabedoria e de sua bondade: "Pois tu criaste todas as coisas; por tua vontade é que elas existiam
e foram criadas”. (Ap 4,11). "Quão numerosas são as tuas obras, Senhor, e todas fizeste com
sabedoria!" (Sl 104,24). "O Senhor é bom para todos, compassivo com todas as suas obras" (Sl
145,9[a58] ).
DEUS CRIA "DO NADA"
296) Cremos que Deus não precisa de nada preexistente nem de nenhuma ajuda para
criar. A criação também não é uma emanação necessária da substância divina[. Deus cria
livremente "do nada":
Que haveria de extraordinário se Deus tivesse tirado o mundo de uma matéria
preexistente? Um artífice humano, quando se lhe dá um material, faz dele tudo o que quiser. Ao
passo que o poder de Deus se mostra precisamente quando parte do nada para fazer tudo o
que quer.
297) A fé na criação a partir "do nada" é atestada na Escritura como uma verdade cheia
de promessa e de esperança. Assim a mãe dos sete filhos os encoraja ao martírio:
Não sei como é que viestes a aparecer no meu seio, nem fui eu que vos dei o espírito e a
vida, nem também fui eu que dispus organicamente os elementos de cada um de vós. Por
conseguinte, foi o Criador do mundo que formou o homem em seu nascimento e deu origem a
todas as coisas, quem vos retribuirá, na sua misericórdia, o espírito e a vida, uma vez que agora
fazeis pouco caso de vós mesmos, por amor às leis dele... Eu te suplico, meu filho, contempla o
céu e a terra e observa tudo o que neles existe. Reconhece que não foi de coisas existentes que
Deus os fez, e que também o gênero humano surgiu da mesma forma (2Mc 7,22-23.28).
298) Uma vez que Deus pôde criar do nada, pode, pelo Espírito Santo, dar a vida da alma
a pecadores, criando neles um coração puro, e a vida do corpo aos falecidos, pela ressurreição,
Ele, "que faz viver os mortos e chama à existência as coisas que não existem" (Rm 4,17). E uma
vez que, pela sua Palavra, pôde fazer resplandecer a luz a partir das trevas, pode também dar a
luz da fé àqueles que a desconhecem.
DEUS CRIA UM MUNDO ORDENADO E BOM
299) Já que Deus cria com sabedoria, a criação é ordenada: "Tu dispuseste tudo com
medida número e peso" (Sb 11,20). Feita no e por meio do Verbo eterno, "imagem do Deus
invisível" (Cl 1,15), a criação está destinada, dirigida ao homem, imagem de Deus, chamado a
uma relação pessoal com Ele. Nossa inteligência, que participa da luz do Intelecto divino, pode
entender o que Deus nos diz por sua criação, sem dúvida não sem grande esforço e num espírito
de humildade e de respeito diante do Criador e de sua obra. Originada da bondade divina, a
criação participa desta bondade: "E Deus viu que isto era bom... muito bom" (Gn
1,4.10.12.18.21.31). Pois a criação é querida por Deus como um dom dirigido ao homem, como
uma herança que lhe é destinada e confiada. Repetidas vezes a Igreja teve de defender a
bondade da criação, inclusive do mundo material.
DEUS TRANSCENDE A CRIAÇÃO E ESTÁ PRESENTE NELA
300) Deus é infinitamente maior que todas as suas obras: "Sua majestade é mais alta do
que os céus" (Sl 8,2), "é incalculável a sua grandeza" (S1 145,3). Mas, por ser o Criador soberano e
livre, causa primeira de tudo o que existe, Ele está presente no mais íntimo das suas criaturas:
"Nele vivemos, nos movemos e existimos" (At 17,28). Segundo as palavras de Santo Agostinho, ele
é "superior summo meo et interior intimo meo - maior do que o que há de maior em mim e mais
íntimo do que o que há de mais íntimo em mim".
DEUS MANTÉM E SUSTENTA A CRIAÇÃO
301) Com a criação, Deus não abandona sua criatura a ela mesma. Não somente lhe dá
o ser e a existência, mas também a sustenta a todo instante no ser, dá-lhe o dom de agir e a
conduz a seu termo. Reconhecer esta dependência completa em relação ao Criador é uma
fonte de sabedoria e liberdade, alegria e confiança:
Sim, tu amas tudo o que criaste, não te aborreces com nada do que fizeste; se alguma
coisa tivesses odiado, não a terias feito. E como poderia subsistir alguma coisa se não a tivesses
querido? Como conservaria a sua existência se não a tivesses chamado? Mas a todos perdoas,
porque são teus: Senhor, amigo da vida! (Sb 11,24-26)
V. DEUS REALIZA O SEU PROJETO: A DIVINA PROVIDÊNCIA
302) A criação tem sua bondade e sua perfeição próprias, mas não saiu completamente
acabada das mãos do Criador. Ela é criada "em estado de caminhada" ("in statu viae") para
uma perfeição última a ser ainda atingida, para a qual Deus a destinou. Chamamos de divina
providência as disposições pelas quais Deus conduz sua criação para esta perfeição:
Deus conserva e governa com sua providência tudo o que criou; ela se estende "com
vigor de um extremo ao outro e governa o universo com suavidade" (Sb 8,1). Pois "tudo está nu e
descoberto aos seus olhos" (Hb 4,13), mesmo os atos dependentes da ação livre das criaturas.
303) O testemunho da Escritura é unânime: a solicitude da divina providência é concreta
e direta, toma cuidado de tudo, desde as mínimas coisas até os grandes acontecimentos do
mundo e da história. Com vigor, os livros sagrados afirmam a soberania absoluta de Deus no
curso dos acontecimentos: "O nosso Deus está no céu e faz tudo o que deseja" (S1 115,3); e de
Cristo se diz: "O que abre e ninguém mais fecha, e, fechando, ninguém mais abre" (Ap 3,7).
"Muitos são os projetos do coração humano, mas é o desígnio do Senhor que permanece firme"
(Pr 19,21).
304) Assim vemos o Espírito Santo, autor principal da Escritura, atribuir muitas vezes ações
a Deus, sem mencionar causas segundas. Esta não é uma "maneira de falar" primitiva, mas uma
forma profunda de lembrar o primado de Deus e o seu senhorio absoluto sobre a história e o
mundo e de assim educar para a confiança nele. A oração dos Salmos é a grande escola desta
confiança.
305) Jesus pede uma entrega filial à providência do Pai Celeste, que cuida das mínimas
necessidades de seus filhos: "Por isso, não andeis preocupados, dizendo: Que iremos comer? Ou,
que iremos beber?... Vosso Pai celeste sabe que tendes necessidade de todas essas coisas.
Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus sua justiça, e todas essas coisas vos serão
acrescentadas" (Mt 6,31-33).
A PROVIDÊNCIA E AS CAUSAS SEGUNDAS
306) Deus é o Senhor soberano de seus desígnios. Mas, para a realização dos mesmos,
serve-se também do concurso das criaturas. Isso não é um sinal de fraqueza, mas da grandeza e
da bondade do Deus Todo-Poderoso. Pois Deus não somente dá às suas criaturas o existir, mas
também a dignidade de agirem elas mesmas, de serem causas e princípios umas das outras e de
assim cooperarem no cumprimento de seu desígnio.
307) Aos homens, Deus concede até de poderem participar livremente de sua
providência, confiando-lhes a responsabilidade de "submeter" a terra e de dominá-la. Deus
concede assim aos homens serem causas inteligentes e livres para completar a obra da Criação,
aperfeiçoar sua harmonia para o bem deles e de seus próximos. Cooperadores muitas vezes
inconscientes da vontade divina, os homens podem entrar deliberadamente no plano divino, por
suas ações, por suas orações, mas também por seus sofrimentos. Tornam-se então plenamente
"cooperadores de Deus" (1Cor 3,9) e do seu Reino.
308) Eis uma verdade inseparável da fé em Deus Criador: Deus age em todo o agir de suas
criaturas. E é a causa primeira que opera nas causas segundas e por meio delas: "Pois é Deus
quem opera em vós o querer e o operar, segundo a sua vontade" (Fl 2,13). Longe de diminuir a
dignidade da criatura, esta verdade a realça. Tirada do nada pelo poder, sabedoria, bondade
de Deus, a criatura não pode nada se for cortada de sua origem, pois "a criatura sem o Criador
se esvai"; muito menos pode atingir seu fim último sem a ajuda da graça.
A PROVIDÊNCIA E O ESCÂNDALO DO MAL
309) Se Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do mundo ordenado e bom, cuida de todas as
suas criaturas, por que então o mal existe? Para esta pergunta tão premente quão inevitável, tão
dolorosa quanto misteriosa, não h uma resposta rápida. É o conjunto da fé cristã que constitui a
resposta a esta pergunta: a bondade da criação, o drama do pecado, o amor paciente de
Deus que se antecipa ao homem por suas Alianças, pela Encarnação redentora de seu Filho,
pelo dom do Espírito, pelo congraçamento da Igreja, pela força dos sacramentos, pelo
chamado a uma vida bem-aventurada à qual as criaturas livres são convidadas
antecipadamente a assentir, mas da qual podem, por um terrível mistério, abrir mão também
antecipadamente. Não há nenhum elemento da mensagem cristã que não seja, por uma parte,
uma resposta à questão do mal.
310) Mas por que Deus não criou um mundo tão perfeito que nele não possa existir mal
algum? Segundo seu poder infinito, Deus sempre poderia criar algo melhor. Todavia, em sua
sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente criar um mundo "em estado de caminhada"
para sua perfeição última. Este devir permite, no desígnio de Deus, juntamente com o
aparecimento de determinados seres, também o desaparecimento de outros, juntamente com o
mais perfeito, também o menos imperfeito, juntamente com as construções da natureza,
também as destruições. Juntamente com o bem físico existe, portanto, o mal físico, enquanto a
criação não houver atingido sua perfeição.
311) Os anjos e os homens, criaturas inteligentes e livres, devem caminhar para seu destino
último por opção livre e amor preferencial. Podem, no entanto, desviar-se. E, de fato, pecaram.
Foi assim que o mal moral entrou no mundo, incomensuravelmente mais grave do que o mal
físico. Deus não é de modo algum, nem direta nem indiretamente, a causa do mal moral.
Todavia, permite-o, respeitando a liberdade de sua criatura e, misteriosamente, sabe auferir dele
o bem:
Pois o Deus Todo-Poderoso..., por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal
existir em suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar o bem do próprio
ma1.
312) Assim, com o passar do tempo, pode-se descobrir que Deus, em sua providência
todo-poderosa, pode extrair um bem das conseqüências de um mal, mesmo moral, causado por
suas criaturas: "Não fostes vós, diz José a seus irmãos, que me enviastes para cá, foi Deus; - o mal
que tínheis a intenção de fazer-me, o desígnio de Deus o mudou em bem a fim de - salvar a vida
de um povo numeroso" (Gn 45,8; 50,20 Do maior mal moral jamais cometido, a saber, a rejeição
e homicídio do Filho de Deus, causado pelos pecados de todos os homens, Deus, pela
superabundância de sua graça, tirou o maior dos bens: a glorificação de Cristo e a nossa
Redenção. Com isso, porém, o mal não se converte em um bem.
313) "Sabemos que, para os que amam a Deus, tudo concorre para o bem" (Rm 8,28). O
testemunho dos santos não cessa de confirmar esta verdade.
Assim, Sta. Catarina de Sena diz "àqueles que se escandalizam e se revoltam com o que
lhes acontece": "Tudo procede do amor tudo está ordenado à salvação do homem, Deus não
faz nada que não seja para esta finalidade" E Santo Tomás More, pouco antes de seu martírio,
consola sua filha: "Não pode acontecer nada que Deus não tenha querido. Ora, tudo o que ele
quer, por pior que possa parecer-nos, é o que há de melhor para nós" E Lady Juliana de Norwich:
"Aprendi, portanto, pela graça de Deus, que era preciso apegar-me com firmeza à fé e crer com
não menor firmeza que todas as coisas irão bem.... “Tu mesmo verás que qualquer tipo de
circunstância servirá para o bem” - Thou shalt see thyself that all MANNER of thing shall be well"
314) Cremos firmemente que Deus é o Senhor do mundo e da história. Mas os caminhos de
sua providência muitas vezes nos são desconhecidos. Só no final, quando acabar o nosso
conhecimento parcial, quando virmos Deus "face a face" (1 Cor 13,12), teremos pleno
conhecimento dos caminhos pelos quais, mesmo por meio dos dramas do mal e do pecado,
Deus terá conduzido sua criação até o descanso desse Sábado [fca109] definitivo[fca110] , em
vista do qual criou o céu e a terra.
RESUMINDO
315) Na criação do mundo e dos homens, Deus colocou o primeiro e universal testemunho
de seu amor Todo-Poderoso e de sua sabedoria, o primeiro anúncio de seu "desígnio
benevolente", o qual encontra sua meta na nova criação em Cristo.
316) Embora a obra da criação seja particularmente atribuída ao Pai, é igualmente
verdade de fé que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são o único e indivisível princípio da criação.
317) Só Deus criou o universo, livremente, diretamente, sem nenhuma ajuda.
318) Nenhuma criatura tem o poder infinito que é necessário para "criar" no sentido próprio
da palavra, isto é, produzir e dar o ser àquilo que não o tinha de modo algum (chamar à
existência "ex nihilo" "do nada").
319) Deus criou o mundo para manifestar e para comunicar sua glória. Que suas criaturas
participem de sua verdade, de sua bondade e de sua beleza, é a glória para a qual Deus as
criou.
320) Deus, que criou o universo o mantém na existência por seu Verbo, "este Filho que
sustenta o universo com o poder de sua palavra" (Hb 1,3) e pelo seu Espírito Criador que dá a
vida.
321) A Divina Providência são as disposições pelas quais Deus conduz com sabedoria e
amor todas as criaturas até seu fim último.
322) Cristo convida-nos à entrega filial à Providência de nosso Pai celeste, e o Apóstolo
São Pedro lembra: "Lançai sobre ele toda a vossa preocupação porque é ele que cuida de vós".
323) A Providência divina age também por meio da ação das criaturas. Aos seres
humanos Deus concede cooperar livremente para seus desígnios.
324) A permissão divina do mal físico e do mal moral é um mistério que Deus ilumina por
seu Filho, Jesus Cristo, morto e ressuscitado para vencer o mal. A fé nos dá a certeza de que Deus
não permitiria o mal se do próprio mal não tirasse o bem, por caminhos que só conheceremos
plenamente na vida eterna.
PARÁGRAFO 5 - O CÉU E A TERRA
325 O Símbolo dos Apóstolos professa que Deus é "o Criador do céu e da terra", e o
Símbolo niceno-constantinopolitano explicita: "... do universo visível e invisível"
326 Na Sagrada Escritura, a expressão "céu e terra" significa tudo aquilo que existe, a
criação inteira. Indica também o nexo no interior da criação, que ao mesmo tempo une e
distingue céu e terra: "a terra" e o mundo dos homens; "o céu” ou "os céus" pode designar o
firmamento, mas também o "lugar" próprio de Deus: "nosso Pai nos céus" (Mt 5,16) e, por
conseguinte, também o "céu" que e a glória escatológica. Finalmente, a palavra "céu" indica o
"lugar" das criaturas espirituais - os anjos - que estão ao redor de Deus. (Parágrafos relacionados:
290,1023,2794)
327 A profissão de fé do IV Concilio de Latrão afirma que Deus "criou conjuntamente, do
nada, desde o início do tempo, ambas as criaturas, a espiritual e a corporal, isto é, os anjos e o
mundo terrestre; em seguida, a criatura humana, que tem algo de ambas, por compor-se de
espírito e de corpo[fca3] " (Parágrafo relacionado: 296)
I. OS ANJOS
A EXISTÊNCIA DOS ANJOS - UMA VERDADE DE FÉ
328 A existência dos seres espirituais, não-corporais, que Sagrada Escritura chama
habitualmente de anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro
quanto a unanimidade da Tradição. (Parágrafo relacionado: 150)
QUEM SÃO OS ANJOS?
329 Santo Agostinho diz a respeito deles: "Angelus officii nomen est, non naturae. Quaeris
nomen huius naturae, spiritus est; quaeris officium, angelus est; quaeris officium, angelus est, ex eo
quod est, spiritus est, ex eo quod agit, angelus - Anjo (mensageiro) é designação de encargo,
não de natureza. Se perguntares pela designação da natureza, é um espírito; se perguntares
pelo encargo, é um anjo: é espírito por aquilo que é, é anjo por aquilo que faz". Por todo o seu
ser, os anjos são servidores e mensageiros de Deus. Porque contemplam "constantemente a face
de meu Pai que está nos céus" (Mt 18,10), são "poderosos executores de sua palavra, obedientes
ao som de sua palavra" (Sl 103,20).
330 Como criaturas puramente espirituais, são dotados de inteligência e de vontade: são
criaturas pessoais e imortais. Superam em perfeição todas as criaturas visíveis. Disto dá
testemunho o fulgor de sua glória.
CRISTO "COM TODOS OS SEUS ANJOS"
331 Cristo é o centro do mundo angélico. São seus os anjos: "Quando o Filho do homem
vier em sua glória com todos os seus anjos..." (Mt 25,31). São seus porque foram criados por e
para Ele: “Pois foi nele que foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as
invisíveis: Tronos, Dominações, Principados, Potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele" (Cl
1,16). São seus, mais ainda, porque Ele os fez mensageiros de seu projeto de salvação.
"Porventura não são todos eles espíritos servidores, enviados ao serviço dos que devem herdar a
salvação?" (Hb 1,14). (Parágrafo relacionado: 291)
332 Eles aí estão, desde a criação e ao longo de toda a História da Salvação, anunciando
de longe ou de perto esta salvação e servindo ao desígnio divino de sua realização: fecham o
paraíso terrestre, protegem Lot, salvam Agar e seu fi1ho, seguram a mão de Abraão, comunicam
a lei por seu ministério, conduzem o povo de Deus, anunciam nascimentos e vocações, assistem
os profetas, para citarmos apenas alguns exemplos. Finalmente, é o anjo Gabriel que anuncia o
nascimento do Precursor e o do próprio Jesus.
333 Desde a Encarnação até a Ascensão, a vida do Verbo Encarnado é cercada da
adoração e do serviço dos anjos. Quando Deus “introduziu o Primogênito no mundo, disse: -
Adorem-no todos os anjos de Deus- ” (Hb 1,6). O canto de louvor deles ao nascimento de Cristo
não cessou de ressoar no louvor da Igreja: "Glória a Deus..." (Lc 2,14). Protegem a infância de
Jesus, servem a Jesus no deserto, reconfortam-no na agonia, embora tivesse podido ser salvo por
eles da mão dos inimigos, como outrora fora Israel. São ainda os anjos que "evangelizam",
anunciando a Boa Nova da Encarnação e da Ressurreição de Cristo. Estarão presentes no
retorno de Cristo, que eles anunciam serviço do juízo que o próprio Cristo pronunciará. (Parágrafo
relacionado: 559)
OS ANJOS NA VIDA DA IGREJA
334 Do mesmo modo, a vida da Igreja se beneficia da ajuda misteriosa e poderosa dos
anjos
.335 Em sua Liturgia, a Igreja se associa aos anjos para adora o Deus três vezes Santo; ela
invoca a sua assistência (assim em In Paradisum deducant te Angeli... - Para o Paraíso te levem os
anjos, da Liturgia dos defuntos, ou ainda no "hino querubínico" da Liturgia bizantina). Além disso,
festeja mais particularmente a memória de certos anjos (São Miguel, São Gabriel, São Rafael, os
anjos da guarda). (Parágrafo relacionado: 1138)
336 Desde o início até a morte, a vida humana é cercada por sua proteção e por sua
intercessão. "Cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida."
Ainda aqui na terra, a vida cristã participa na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos
homens, unidos em Deus. (Parágrafo relacionado: 1020)
II. O MUNDO VISÍVEL
337 Foi Deus mesmo quem criou o mundo visível em toda a sua riqueza, diversidade e
ordem. A Escritura apresenta a obra do Criador simbolicamente como uma seqüência de seis
dias “de trabalho” divino que terminam com o "descanso" do sétimo dia. O texto sagrado ensina,
a respeito da criação, verdades reveladas por Deus para nossa salvação que permitem
"reconhecer a natureza profunda da criação, seu valor e sua finalidade, que é a glória de Deus".
(Parágrafos relacionados: 290,293)
338 Não existe nada que não deva sua existência a Deus criador. O mundo começou
quando foi tirado do nada pela Palavra de Deus; todos os seres existentes, toda a natureza, toda
a história humana têm suas raízes neste acontecimento primordial: é a própria gênese pela qual
o mundo foi constituído e o tempo começou. (Parágrafo relacionado: 297)
339 Cada criatura possui sua bondade e sua perfeição próprias. Para cada uma das obras
dos "seis dias" se diz: "E Deus viu que isto era bom". "Pela própria condição da criação, todas as
coisas são dotadas de fundamento próprio, verdade, bondade, leis e ordens especificas." As
diferentes criaturas, queridas em seu próprio ser, refletem, cada uma a seu modo, um raio da
sabedoria e da bondade infinitas de Deus. É por isso que o homem deve respeitar a bondade
própria de cada criatura para evitar um uso desordenado das coisas, que menospreze o Criador
e acarrete conseqüências nefastas para os homens e seu meio ambiente. (Parágrafos
relacionados: 2501,299,226)
340 A interdependência das criaturas é querida por Deus. O sol e a lua, o cedro e a
pequena flor, a águia e o pardal: as inúmeras diversidades e desigualdades significam que
nenhuma criatura se basta a si mesma, que só existem em dependência recíproca, para se
completarem mutuamente, a serviço umas das outras. (Parágrafo relacionado: 1937)
341 A beleza do universo. A ordem e a harmonia do mundo criado resultam da
diversidade dos seres e das relações que existem entre eles. O homem as descobre
progressivamente como leis da natureza. Elas despertam a admiração dos sábios. A beleza da
criação reflete a infinita beleza do Criador. Ela deve inspirar o respeito e a submissão da
inteligência do homem e de sua vontade. (Parágrafos relacionados: 283,2500)
342 A hierarquia das criaturas é expressa pela ordem dos "seis dias", que vai do menos
perfeito ao mais perfeito. Deus ama todas as suas criaturas[fca44] , cuida de cada uma, até
mesmo dos pássaros. Apesar disso, Jesus diz: "Vós valeis mais do que muitos pardais" (Lc 12,7), ou
ainda: "Um homem vale muito mais do que uma ovelha" (Mt 12,12). (Parágrafo relacionado: 310)
343 O homem é a obra-prima do obra do criação. A narração bíblica exprime isto
distinguindo nitidamente a criação do homem da criação das outras criaturas[fca45] .
(Parágrafo relacionado: 335)
344 Existe uma solidariedade entre todas as criaturas pelo fato de terem todas o mesmo
Criador e de todas estarem ordenadas à sua glória: (Parágrafos relacionados: 293,139,2416)
Louvado sejas, meu Senhor.
Com todas as tuas criaturas,
Especialmente o senhor irmão Sol,
Que clareia o dia
E com sua LUZ nos alumia.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã água,
Que é muito útil e humilde
E preciosa e casta...
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã, a mãe Terra,
Que nos sustenta e governa,
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.
Louvai e bendizei a meu Senhor,
E dai-lhe graças,
E servi-o com grande humildade.
(Parágrafo relacionado: 1218)
345 O Sábado - fim da obra dos "seis dias". O texto sagrado diz que "Deus concluiu no
sétimo dia a obra que tinha feito", e assim "o céu e a terra foram terminados", e no sétimo dia
Deus "descansou", e santificou e abençoou este dia (Gn 2,1-3). Essas palavras inspiradas são ricas
de ensinamentos salutares: (Parágrafo relacionado: 2168)
346 Na criação, Deus depositou um fundamento e leis que permanecem estáveis, nos
quais o crente poder apoiar-se com confiança e que para ele serão o sinal e a garantia da
fidelidade inabalável da Aliança de Deus. Por sua parte, o homem deverá ficar fiel a este
fundamento e respeitar as leis que o Criador inscreveu nele. (Parágrafo relacionado: 2169)
347 A criação está em função do Sábado e portanto do culto e da adoração de Deus. O
culto está inscrito na ordem da criação. "Nada se anteponha à obra de Deus", diz a regra de São
Bento, indicando assim a ordem correta das preocupações humanas. (Parágrafos relacionados:
1145,1152)
348 O Sábado constitui o coração da lei de Israel. Observar os mandamentos é
corresponder à sabedoria e à vontade de Deus expressa em sua obra de criação. (Parágrafo
relacionado: 2172)
349 O oitavo dia. Mas para nós nasceu um dia novo: o dia da Ressurreição de Cristo. O
sétimo dia encerra a primeira criação. O oitavo dia dá início à nova criação. Assim, a obra da
criação culmina na obra maior da redenção. A primeira criação encontra seu sentido e seu
ponto culminante na nova criação em Cristo, cujo esplendor ultrapassa o da primeira.
(Parágrafos relacionados: 2174,1046)
RESUMINDO
350 Os anjos são criaturas espirituais que glorificam a Deus sem cessar e servem a seus
desígnios salvíficos em relação às demais criaturas: "Ad omnia bona nostra cooperantur angeli. -
Os anjos cooperam para todos os nossos bens”
351 Os anjos cercam Cristo, seu Senhor. Servem-no particularmente, no cumprimento de
sua missão salvífica para com os homens.
352 A Igreja venera os anjos que a ajudam em sua peregrinação terrestre e protegem
cada ser humano.
353 Deus quis a diversidade de suas criaturas e a bondade própria delas, sua
interdependência e ordem. Destinou todas a criaturas materiais ao bem do gênero humano. O
homem, e por meio dele a criação inteira, destina-se à glória de Deus.
354 Respeitar as leis inscritas na criação e as relações que derivam da natureza das coisas
é princípio de sabedoria e fundamento da moral.
PARÁGRAFO 6
O HOMEM
355 “Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os
criou" (Gn 1,27). O homem ocupa um lugar único na criação: ele é "a imagem de Deus" (I); em
sua própria natureza une o mundo espiritual e o mundo material (II); é criado "homem e mulher"
(III); Deus o estabeleceu em sua amizade (IV). (Parágrafos relacionados: 1700,343)
I. "À IMAGEM DE DEUS"
356 De todas as criaturas visíveis, só o homem é "capaz de conhecer e amar seu Criador”;
ele é "a única criatura na terra que Deus quis por si mesma"; só ele é chamado a compartilhar,
pelo conhecimento e pelo amor, a vida de Deus. Foi para este fim que o homem foi criado, e aí
reside a razão fundamental de sua dignidade: (Parágrafos relacionados: 1703,2258,225)
Que motivo vos fez constituir o homem em dignidade tão grande? O amor inestimável
pelo qual enxergastes em vós mesmo vossa criatura, e vos apaixonastes por ela; pois foi por amor
que a criastes, foi por amor que lhe destes um ser capaz de degustar vosso Bem eterno.
(Parágrafo relacionado: 295)
357 Por ser à imagem de Deus, o indivíduo humano tem a dignidade de pessoa: ele não é
apenas alguma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se
livremente e entrar em comunhão com outras pessoas, e é chamado, por graça, a uma aliança
com seu Criador, a oferecer-lhe uma resposta de é e de amor que ninguém mais pode dar em
seu lugar. (Parágrafos relacionados: 1935,1877)
358 Deus criou tudo para o homem, mas o homem foi criado, para servir e amar a Deus e
oferecer-lhe toda a criação: (Parágrafos relacionados: 299,901)
Quem é, pois, o ser que vai vir à existência cercado de tal consideração? E o homem,
grande e admirável figura viva, mais precioso aos olhos de Deus do que a criação inteira: é o
homem, é para ele que existem o céu e a terra e o mar e a totalidade da criação, e é à
salvação dele que Deus atribuiu tanta importância que nem sequer poupou seu Filho único em
seu favor. Pois Deus não cessou de tudo empreender para fazer o homem subir até ele e fazê-lo
sentar-se à sua direita.
359 Na realidade o mistério do homem só se torna claro verdadeiramente no mistério do
Verbo Encarnado." (Parágrafo relacionado: 1701)
São Paulo ensina-nos que dois homens estão na origem do gênero humano: Adão e
Cristo... "O primeiro Adão", diz ele, "foi criado como um ser humano que recebeu a vida; o
segundo é um ser espiritual que dá a vida." O primeiro foi criado pelo segundo, de quem
recebeu a alma que o faz viver... O segundo Adão estabeleceu sua imagem no primeiro Adão
quando o modelou. E assim se revestiu da natureza deste último e dele recebeu o nome, a fim
de não deixar perder aquilo que havia feito à sua imagem. Primeiro Adão, segundo Adão: o
primeiro começou, o segundo não acabará. Pois o segundo é verdadeiramente o primeiro,
como ele mesma disse: "Eu sou o Primeiro e o último" (Parágrafos relacionados: 388,411)
360 Graças à Origem comum, o gênero humano forma uma unidade. Pois Deus "de um
só fez toda a raça humana" (At 1 7,26[fca60] ): (Parágrafos relacionados: 225,404,775,831,842)
Maravilhosa visão que nos faz contemplar o gênero humano na unidade de sua origem
em Deus...; na unidade de sua natureza, composta igualmente em todos de um corpo material e
de uma alma espiritual; na unidade de seu fim imediato e de sua missão no mundo; na unidade
de seu hábitat: a terra, de cujos bens todos os homens, por direito natural, podem usar para
sustentar e desenvolver a vida; na unidade de seu fim sobrenatural: Deus mesmo, ao qual todos
devem tender; na unidade dos meios para atingir este fim;... na unidade do seu resgate,
realizado em favor de todos por Cristo.
361 "Esta lei de solidariedade humana e de caridade[fca62] ”, sem excluir a rica variedade
das pessoas, das culturas e dos povos, nos garante que todos os homens são verdadeiramente
irmãos. (Parágrafo relacionado: 1939)
II. "CORPORE ET ANIMA UNUS" (UNO DE ALMA E CORPO)
362 A pessoa humana, criada à imagem de Deus, é um ser ao mesmo tempo corporal e
espiritual. O relato bíblico exprime esta realidade com uma linguagem simbólica, ao afirmar que
"O Senhor Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de
vida e o homem se tornou um ser vivente" (Gn 2,7). Portanto, o homem em sua totalidade é
querido por Deus. (Parágrafos relacionados: 1146,2332)
363 Muitas vezes o termo alma designa na Sagrada Escritura a vida humana [fca63] ou a
pessoa humana inteira. Mas designa também o que há de mais íntimo no homem e o que há
nele de maior valor, aquilo que mais particularmente o faz ser imagem de Deus: "alma" significa o
princípio espiritual no homem. (Parágrafo relacionado: 1703)
364 O corpo do homem participa da dignidade da "imagem de Deus": ele é corpo
humano precisamente porque é animado pela alma espiritual, e é a pessoa humana inteira que
está destinada a tornar-se, no Corpo de Cristo, o Templo do Espírito. (Parágrafo relacionado:
1004)
Unidade de corpo e de alma, o homem, por sua própria condição corporal, sintetiza em si
os elementos do mundo material, que nele assim atinge sua plenitude e apresenta livremente ao
Criador uma voz de louvor. Não é, portanto, lícito ao homem desprezar a vida corporal; ao
contrario, deve estimar e honrar seu corpo, porque criado por Deus e destinado à ressurreição no
último dia. (Parágrafo relacionado: 2289)
365 A unidade da alma e do corpo é tão profunda que se deve considerar a alma como
a "forma" do corpo; ou seja, é graças à alma espiritual que o corpo constituído de matéria é um
corpo humano e vivo; o espírito e a matéria no homem não são duas naturezas unidas, mas a
união deles forma uma única natureza.
366 A Igreja ensina que cada alma espiritual é diretamente criada por Deus - não é
"produzida" pelos pais - e é imortal: ela não perece quando da separação do corpo na morte e
se unirá novamente ao corpo na ressurreição final. (Parágrafos relacionados: 1005,997)
367 Por vezes ocorre que a alma aparece distinta do espírito. Assim, São Paulo ora para
que nosso "ser inteiro, o espírito, a alma e o corpo", seja guardado irrepreensível na Vinda do
Senhor (1 Ts 5,23). A Igreja ensina que esta distinção não introduz uma dualidade na alma.
"Espírito" significa que o homem está ordenado desde a sua criação para seu fim sobrenatural, e
que sua alma é capaz de ser elevada gratuitamente à comunhão com Deus. (Parágrafo
relacionado: 2083)
368 A tradição espiritual da Igreja insiste também no coração, no sentido bíblico de "fundo
do ser" (Jr 31,33), onde a pessoa se decide ou não por Deus. (Parágrafos relacionados:
478,582,1431,1764,2517,2562,2843,2331,2336)
III. "HOMEM E MULHER OS CRIOU"
IGUALDADE E DIFERENÇA QUERIDAS POR DEUS
369 O homem e a mulher são criados, isto é, são queridos por Deus: por um lado, em
perfeita igualdade como pessoas humanas e, por outro, em seu ser respectivo de homem e de
mulher. "Ser homem, 'ser mulher" é uma realidade boa e querida por Deus: o homem e a mulher
têm uma dignidade inamissível que lhes vem diretamente de Deus, seu Criador. O homem e a
mulher são criados em idêntica dignidade, "à imagem de Deus". Em seu "ser-homem" e seu "sermulher”
refletem a sabedoria e a bondade do Criador.
370 Deus não é de modo algum à imagem do homem. Não é nem homem nem mulher.
Deus é puro espírito, não havendo nele lugar para a diferença dos sexos. Mas as "perfeições" do
homem e da mulher refletem algo da infinita perfeição de Deus: as de uma mãe e as de um pai
e esposo. (Parágrafos relacionados: 42,239)
"UM PARA O OUTRO" "UMA UNIDADE A DOIS"
371 Criados conjuntamente, Deus quer o homem e a mulher um para o outro. A Palavra
de Deus dá-nos a entender isto por meio de diversas passagens do texto sagrado. "Não é bom
que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda" (Gn 2,18). Nenhum dos
animais pode ser este "vis-à-vis" do varão[fca80] . A mulher que Deus "modela" da costela tirada
do varão e que leva a ele provoca da parte do homem um grito de admiração, uma
exclamação de amor e de comunhão: "É osso de meus e carne de minha carne" (Gn 2,23). O
homem descobre a mulher como um outro "eu" da mesma humanidade. (Parágrafo
relacionado: 1605)
372 O homem e a mulher são feitos "um para o outro": não que Deus os tivesse feito
apenas "pela metade" e "incompletos"; criou-os para uma comunhão de pessoas, na qual cada
um dos dois pode ser "ajuda" para o outro, por serem ao mesmo tempo iguais enquanto pessoas
("osso de meus ossos...") e complementares enquanto masculino e feminino. No matrimônio, Deus
os une de maneira que, formando "uma só carne" (Gn 2,24), possam transmitir a vida humana:
"Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra" (Gn 1,28). Ao transmitir a seus descendentes a
vida humana, o homem e a mulher, como esposos e pais, cooperam de forma única na obra do
Criador. (Parágrafo relacionado: 1652,2366)
373 No desígnio de Deus, o homem e a mulher têm a vocação de "submeter" a terra como
"intendentes" de Deus. Esta soberania não deve ser uma dominação arbitrária e destrutiva. À
imagem do Criador "que ama tudo o que existe" (Sb 11,24), o homem e a mulher são chamados
a participar da Providência divina em relação às demais criaturas. Daí a responsabilidade deles
para com o mundo que Deus lhes confiou. (Parágrafos relacionados: 307,2415)
IV. O HOMEM NO PARAÍSO
374 O primeiro homem não só foi criado bom, mas também foi constituído em uma
amizade com seu Criador e em tal harmonia consigo mesmo e com a criação que o rodeava
que só serão superadas pela glória da nova criação em Cristo. (Parágrafo relacionado: 54)
375 Interpretando de maneira autêntica o simbolismo da linguagem bíblica à luz do Novo
Testamento e da Tradição, a Igreja ensina que nossos primeiros pais, Adão e Eva, foram
constituídos em um estado "de santidade e de justiça original". Esta graça da santidade original
era uma participação da vida divina. (Parágrafo relacionado: 1997)
376 Pela irradiação desta graça, todas as dimensões da vida do homem eram
fortalecidas. Enquanto permanecesse na intimidade divina, o homem não devia nem morrer
nem sofrer. A harmonia interior da pessoa humana, a harmonia entre o homem e a mulher e,
finalmente, a harmonia entre o primeiro casal e toda a criação constituíam o estado
denominado "justiça original". (Parágrafos relacionados: 1008,1502)
377 O "domínio" do mundo que Deus havia outorgado ao homem desde o início
realizava-se antes de tudo no próprio homem como domínio de si mesmo. O homem estava
intacto e ordenação em todo o seu ser, porque livre da tríplice concupiscência [fca89] que o
submete aos prazeres dos sentidos, à cobiça dos bens terrestres e à auto-afirmação contra os
imperativos da razão. (Parágrafo relacionado: 2514)
378 O sinal da familiaridade com Deus é o fato de Deus o colocar no jardim[fca90] . Lá
vive "para cultivá-lo e guardá-lo” (Gn 2,15): o trabalho não é uma penalidade[fca91] , mas sim a
colaboração do homem e da mulher com Deus no aperfeiçoamento da criação visível.
(Parágrafos relacionados: 2415,2417)
379 E toda esta harmonia da justiça original, prevista para o homem pelo desígnio de
Deus, que será perdida pelo pecado de nossos primeiros pais.
RESUMINDO
380 "Pai Santo, criastes o homem e a mulher à vossa imagem e lhes confiastes todo o
universo, para que, servindo a Vós, seu Criador, dominassem toda criatura"
381 O homem é predestinado a reproduzir a imagem do Filho de Deus feito homem
"imagem do Deus invisível" (Cl 1,15), a fim de que Cristo seja o primogênito de uma multidão de
irmãos e de irmãs.
382 O homem é "corpore et anima unus" (uno de corpo e alma). A doutrina da fé afirma
que a alma espiritual e imortal é criada diretamente por Deus.
383 "Deus não criou o homem solitário. Desde o início, 'Deus os criou varão e mulher' (Gn
1,27). Esta união constituiu a primeira forma de comunhão de pessoas."
384 A revelação dá-nos a conhecer o estado de santidade e de justiça originais do
homem e da mulher antes do pecado: da amizade deles com Deus advinha a felicidade da
existência deles no Paraíso.
CAPITULO II - CREIO EM JESUS CRISTO, FILHO ÚNICO DE DEUS
A BOA NOVA: DEUS ENVIOU SEU FILHO
422 "Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus seu Filho, nascido de
uma mulher, nascido sob a Lei, para remir os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos
a adoção filial" (Gl 4,4-5). Este é "o Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus": Deus visitou seu
povo, cumpriu as promessas feitas a Abraão e à sua descendência; fê-lo para além de toda
expectativa: enviou seu "Filho bem-amado”. (Parágrafos relacionados: 389,2763)
423 Cremos e confessamos que Jesus de Nazaré, nascido judeu de uma filha de Israel, em
Belém, no tempo do rei Herodes Magno e do imperador César Augusto, carpinteiro de profissão,
morto e crucificado em Jerusalém, sob o procurador Pôncio Pilatos, durante o reinado do
imperador Tibério, é o Filho eterno de Deus feito homem; que ele "veio de Deus" (Jo 13,3), "desceu
do céu" (Jo 3,13; 6,33), "veio na carne", pois "o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e nós
vimos sua glória, glória que ele tem junto ao Pai, como Filho único, cheio de graça e de
verdade... Pois de sua plenitude nós recebemos graça por graça" (Jo 1,14-16).
424 Movidos pela graça do Espírito Santo e atraídos pelo Pai, cremos e confessamos
acerca de Jesus: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16,16). Foi sobre a rocha desta fé,
confessada por São Pedro, que Cristo construiu sua Igreja. (Parágrafos relacionados: 683,552)
"ANUNCIAR... A INSONDÁVEL RIQUEZA DE CRISTO" (Ef 3,8)
425 A transmissão da fé cristã é primeiramente o anúncio de Jesus Cristo, para levar à fé
nele. Desde o começo, os primeiros discípulos ardiam do desejo de anunciar Cristo: "Pois não
podemos, nós, deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos" (At 4,20). E convidam os homens
de todos os tempos a entrarem na alegria de sua comunhão com Cristo: (Parágrafos
relacionados: 850,858)
O que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos
apalparam do Verbo da vida – porque a Vida manifestou-se: nós a vimos e lhe damos
testemunho e vos anunciamos a Vida Eterna, que estava voltada para o Pai e que no;
apareceu -, o que vimos e ouvimos, vo-lo anunciamos para que estejais também em comunhão
conosco. E nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo. E isto vos escrevemos para
que nossa alegria seja completa (1Jo 1,1-4).
CRISTO É O CENTRO DA CATEQUESE
426 No centro da catequese encontramos essencialmente uma Pessoa, a de Jesus de
Nazaré, Filho único do Pai..., que sofreu e morreu por nós e agora, ressuscitado, vive conosco
para sempre... Catequizar... é desvendar na Pessoa de Cristo todo o desígnio eterno de Deus
que nela se realiza. E procurar compreender o significado dos gestos e das palavras de Cristo e
dos sinais realizados por Ele." A finalidade definitiva da catequese é "levar à comunhão com
Jesus Cristo: só ele pode conduzir ao amor do Pai no Espírito e fazer-nos participar da vida da
Santíssima Trindade". (Parágrafos relacionados: 1698,513,260)
427 "Na catequese, é Cristo, Verbo Encarnado e Filho de Deus, que é ensinado - todo o
resto está em relação com ele; e somente Cristo ensina; todo outro que ensine, fá-lo na medida
em que é seu porta-voz, permitindo a Cristo ensinar por sua boca... Todo catequista deveria
poder aplicar a si mesmo a misteriosa palavra de Jesus: 'Minha doutrina não é minha, mas
daquele que me enviou' (Jo 7,16[a8] )." (Parágrafos relacionados: 2145,876)
428 Aquele que é chamado a "ensinar o Cristo" deve, portanto, procurar primeiro "este
ganho supereminente que é o conhecimento de Cristo"; é preciso "aceitar perder tudo... a fim de
ganhar a Cristo e ser achado nele", e "conhecer o poder de sua Ressurreição e a participação
em seus sofrimentos, conformando-me com ele em sua Morte, para ver se alcanço a ressurreição
de entre os mortos" (Fl 3,8-11).
429 É deste conhecimento amoroso de Cristo que jorra o desejo de anunciá-lo, de
"evangelizar" e de levar outros ao "sim" da fé em Jesus Cristo. Mas ao mesmo tempo se faz sentir a
necessidade de conhecer cada vez melhor esta fé. Para este fim, segundo a ordem do Símbolo
da fé, primeiro serão apresentados os principais títulos de Jesus: Cristo, o Filho de Deus, o Senhor
(artigo 2). Em seguida, o Símbolo confessa os principais Mistérios da vida de Cristo: os de sua
Encarnação (artigo 3), os de sua Páscoa (artigos 4 e 5) e, finalmente, os de sua Glorificação
(artigos 6 e 7). (Parágrafo relacionado: 851)
ARTIGO 2
"E EM JESUS CRISTO, SEU FILHO ÚNICO, NOSSO SENHOR"
I- JESUS
430 Jesus quer dizer, em hebraico, "Deus salva". No momento da Anunciação, o anjo
Gabriel dá-lhe como nome próprio o nome de Jesus, que exprime ao mesmo tempo sua
identidade e missão. Uma vez que "só Deus pode perdoar os pecados" (Mc 2,7), é Ele que, em
Jesus, seu Filho eterno feito homem, "salvará seu povo dos pecados" (Mt 1,21). Em Jesus, portanto,
Deus recapitula toda a sua história de salvação em favor dos homens. (Parágrafos relacionados:
210,402)
431 Na História da Salvação, Deus não se contentou em libertar Israel da "casa da
escravidão" (Dt 5,6), fazendo-o sair do Egito. Salva-o também de seu pecado. Por ser o pecado
sempre uma ofensa feita a Deus, só ele pode perdoá-lo. Por isso Israel, tomando consciência
cada vez mais clara da universalidade do pecado, não poder mais procurar a salvação a não
ser na invocação do Nome do Deus Redentor. (Parágrafos relacionados: 1441,1850,388)
432 O nome de Jesus significa que o próprio nome de Deus está presente na pessoa de
seu Filho feito homem para a redenção universal e definitiva dos pecados. E o único nome divino
que traz a salvação e a partir de agora pode ser invocado por todos, pois se uniu a todos os
homens pela Encarnação, de sorte que "não existe debaixo do céu outro nome dado aos
homens pelo qual devamos ser salvos" (At 4,12[a16] ). (Parágrafos relacionados: 589,266,389,161)
433 O nome do Deus Salvador era invocado uma só vez por ano pelo sumo sacerdote
para a expiação dos pecados de Israel, depois de ele aspergir o propiciatório do Santo dos
Santos com o sangue do sacrifício. O propiciatório era o lugar da presença de Deus. Quando
São Paulo diz de Jesus que "Deus o destinou como instrumento de propiciação, por seu próprio
Sangue" (Rm 3,25), quer afirmar que na humanidade deste último "era Deus que em Cristo
reconciliava consigo o mundo" (2Cor 5,19). (Parágrafo relacionado: 615)
434 A Ressurreição de Jesus glorifica o nome do Deus Salvador, pois a partir de agora é o
nome de Jesus que manifesta em plenitude o poder supremo do "nome acima de todo nome".
Os espíritos maus temem seu nome, e é em nome dele que os discípulos de Jesus operam
milagres, pois tudo o que pedem ao Pai em seu nome o Pai lhes concede. (Parágrafos
relacionados: 2812,2614)
435 O nome de Jesus está no cerne da oração cristã. Todas as orações litúrgicas são
concluídas pela fórmula "per Dominum nostrum Iesum Christum por Nosso Senhor Jesus Cristo...".
A "Ave-Maria" culmina no "e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus". A oração oriental do
coração denominada "oração a Jesus" diz: "Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor, tem piedade de
mim, pecador". Numerosos cristãos, como Sta. Joana d'Arc, morrem tendo nos lábios apenas o
nome de Jesus. (Parágrafos relacionados: 2667,2668,2676)
II. CRISTO
436 Cristo vem da tradução grega do termo hebraico "Messias", que quer dizer "ungido".
Só se toma o nome próprio de Jesus porque este leva à perfeição a missão divina que significa.
Com efeito, em Israel eram ungidos em nome de Deus os que lhe eram consagrados para uma
missão vinda dele. Era o caso dos reis, dos sacerdotes e, em raras ocasiões, dos profetas. Esse
devia ser por excelência o caso do Messias que Deus enviaria para instaurar definitivamente seu
Reino. O Messias devia ser ungido pelo Espírito do Senhor ao mesmo tempo como rei e
sacerdote, mas também como profeta. Jesus realizou a esperança messiânica de Israel em sua
tríplice função de sacerdote, profeta e rei. (Parágrafos relacionados: 690,695,711-716,783)
437 O anjo anunciou aos pastores o nascimento de Jesus como o do Messias prometido a
Israel: "Hoje, na cidade de Davi, nasceu-vos um Salvador que é o Cristo Senhor" (Lc 2,11). Desde o
inicio Ele é "aquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo" (Jo 10,36), concebido como
"Santo" no seio virginal de Maria. José foi chamado por Deus "a receber Maria, sua mulher",
grávida "daquele que foi gerado nela pelo Espírito Santo" (Mt 1,21), para que Jesus, "que se
chama Cristo", nascesse da esposa de José na descendência messiânica de Davi (Mt 1,16).
(Parágrafos relacionados: 486,525)
438 A consagração messiânica de Jesus manifesta sua missão divina. "É, aliás, o que indica
seu próprio nome, pois no nome de Cristo está subentendido Aquele que ungiu, Aquele que foi
ungido e a própria Unção com que ele foi ungido dado: Aquele que ungiu é o Pai, Aquele que
foi ungido é o Filho, e o foi no Espírito, que é a Unção." Sua consagração messiânica eterna
revelou-se no tempo de sua vida terrestre, por ocasião de seu Batismo por João, quando "Deus o
ungiu com o Espírito Santo e poder" (At 10,38), "para que ele fosse manifestado a Israel" (Jo 1,31)
como seu Messias. Por suas obras e palavras será conhecido como "o Santo de Deus".
(Parágrafos relacionados: 727,535)
439 Numerosos judeus e até certos pagãos os que compartilhavam a esperança deles
reconheceram em Jesus os traços fundamentais tais do "Filho de Davi" messiânico, prometido por
Deus a Israel. Jesus aceitou o título de Messias ao qual tinha direito, mas com reserva, pois este
era entendido por uma parte de seus contemporâneos segundo uma concepção
demasiadamente humana, essencialmente política. (Parágrafos relacionados: 528-529,547)
440 Jesus acolheu a profissão de fé de Pedro, que o reconhecia como o Messias
anunciando a Paixão iminente do Filho do Homem. Desvendou o conteúdo autêntico de sua
realeza messiânica, seja na identidade transcendente do Filho do Homem "que desceu do Céu"
(Jo 3,13) seja em sua missão redentora como Servo sofredor: "O Filho do Homem não veio para
ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate pela multidão" (Mt 20,28[a42] ). Por isso o
verdadeiro sentido de sua realeza só se manifestou do alto da Cruz. É somente após sua
Ressurreição que sua realeza messiânica poderá ser proclamada por Pedro diante do povo de
Deus: "Que toda casa de Israel saiba com certeza: Deus o constituiu Senhor e Cristo, este Jesus
que vós crucificastes" (At 2,36). (Parágrafos relacionados: 552,550,445)
III. FILHO ÚNICO DE DEUS
441 Filho de Deus, no Antigo Testamento, é um título aos anjos, ao povo da Eleição, aos
filhos de Israel e a seus reis. Significa então uma filiação adotiva que estabelece entre Deus e sua
criatura relações de uma intimidade especial. Quando o Rei-Messias prometido é chamado "filho
de Deus", isso não implica necessariamente, segundo o sentido literal desses textos, que ele
ultrapasse o nível humano. Os que designaram Jesus como Messias de Israel talvez não tenham
tido a intenção de dizer mais do que isto.
442 Não acontece o mesmo com Pedro, quando confessa Jesus como "o Cristo, o Filho do
Deus vivo", pois este lhe responde com solenidade: "Não foi a carne e o sangue que te revelaram
isso, e sim meu Pai que está nos Céus" (Mt 16,17). Paralelamente, Paulo dirá a propósito de sua
conversão no caminho para Damasco: Quando, porém, aquele que me separou desde o seio
materno e me chamou, por sua graça houve por bem revelar em mim o seu Filho, para que eu o
evangelizasse entre os gentios..." (Gl 1,15-16). "Imediatamente, nas sinagogas, começou a
proclamar Jesus, afirmando que ele é o Filho de Deus" (At 9,20). Este será desde o início o centro
da fé apostólica professada primeiro por Pedro como fundamento da Igreja. (Parágrafos
relacionados: 552,424)
443 Se Pedro pôde reconhecer o caráter transcendente da filiação divina de Jesus Messias
foi porque este o deu a entender claramente. Diante do Sinédrio, a pergunta de seus
acusadores: "Tu és então o Filho de Deus?", Jesus respondeu: "Vós dizeis que eu Sou" (Lc 22,70). Já
bem antes, Ele se designara como "o Filho" que conhece o Pai [a56] e que é diferente dos
"servos" que Deus enviou anteriormente a seu povo, superior aos próprios anjos. Distinguiu sua
filiação daquela de seus discípulos, não dizendo nunca "nosso Pai", a não ser para ordenar-lhes:
"Portanto, orai desta maneira: Pai Nosso" (Mt 6,9); e sublinhou esta distinção: "Meu Pai e vosso Pai"
(Jo 20,17). (Parágrafo relacionado: 2786)
444 Os Evangelhos narram em dois momentos solenes - o Batismo e a Transfiguração de
Cristo - a voz do Pai a designá-lo como seu "Filho bem-amado". Jesus designa-se a si mesmo
como "o Filho Único de Deus" (Jo 3,16) e afirma com este título sua preexistência eterna. Exige a
fé "em nome do Filho Único de Deus" (Jo 3,18). Esta confissão cristã aparece já na exclamação
do centurião diante de Jesus na cruz: "Verdadeiramente este homem era Filho de Deus" (Mc
15,39), pois somente no Mistério Pascal o fiel cristão pode entender o pleno significado do título
"Filho de Deus". (Parágrafos relacionados: 536,554)
445 É depois de sua Ressurreição que a filiação divina de Jesus aparece no poder de sua
humanidade glorificada: "Estabelecido Filho de Deus com poder por sua Ressurreição dos mortos"
(Rm 1,4). Os apóstolos poderão confessar: "Nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto ao Pai
como Filhos Único, cheio de graça e de verdade" (Jo 1,14). (Parágrafo relacionado: 653)
IV. SENHOR
446 Na versão grega dos livros do Antigo Testamento, o nome inefável com o qual Deus se
revelou a Moisés, Iahweh, traduzido por "Kýrios" ["Senhor"]. Senhor torna-se desde então o nome
mais habitual para designar a própria divindade do Deus de Israel. É neste sentido forte que o
Novo Testamento utiliza o título de "Senhor" para o Pai, e também - e aí está a novidade - para
Jesus reconhecido assim como o próprio Deus. (Parágrafo relacionado: 209)
447 Jesus mesmo atribui-se de maneira velada este título quando discute com os fariseus
sobre o sentido do Salmo 110, mas também de modo explícito dirigindo-se a seus apóstolos. Ao
longo de toda a sua vida pública, seus gestos de domínio sobre a natureza, sobre as doenças,
sobre os demônios, sobre a morte e o pecado demonstravam sua soberania divina. (Parágrafo
relacionado: 548)
448 Muito freqüentemente nos Evangelhos determinadas pessoas se dirigem a Jesus
chamando-o de "Senhor". Este título exprime o respeito e a confiança dos que se achegam a
Jesus e esperam dele ajuda e cura. Sob a moção do Espírito Santo, ele exprime o
reconhecimento do Mistério Divino de Jesus. No encontro com Jesus ressuscitado, ele se
transforma em expressão de adoração: "Meu Senhor e meu Deus!" (Jo 20,28). Assume então uma
conotação de amor e afeição que tornar-se-á peculiar à tradição cristã: "É o Senhor!" (Jo 21,7).
(Parágrafos relacionados: 208,683,641)
449 Ao atribuir a Jesus o título divino de Senhor, as primeiras confissões de fé da Igreja
afirmam, desde o início, que o poder, a honra e a glória devidos a Deus Pai cabem também a
Jesus[a70] , por ser Ele "de condição divina" (Fl 2,6) e ter o Pai manifestado esta soberania de
Jesus ressuscitando-o dos mortos e exaltando-o em sua glória. (Parágrafo relacionado: 461,653)
450 Desde o principio da história cristã a afirmação do senhorio de Jesus sobre o mundo e
sobre a história significa também o reconhecimento de que o homem não deve submeter sua
liberdade de pessoal, de maneira absoluta, a nenhum poder terrestre, mas somente a Deus Pai e
ao Senhor Jesus Cristo: César não é "o Senhor. "A Igreja crê... que a chave, o centro e o fim de
toda a história humana se encontram em seu Senhor e Mestre." (Parágrafos relacionados: 668-
672,2242)
451 A oração cristã é marcava pelo título "Senhor", quer se trate do convite à oração "o
Senhor esteja convosco" ou da conclusão da oração, "por Jesus Cristo nosso Senhor", ou ainda
do grito cheio de confiança e de esperança: "Maran atha" ("o Senhor vem!") ou "Marana tha"
("Vem, Senhor!") (1Cor 16,22): "Amém, vem, Senhor Jesus!" (Ap 2,20). (Parágrafos relacionados:
2664-2665,2817)
RESUMINDO
452 O nome de Jesus significa "Deus que salva". A criança nascida da Virgem Maria é
chamada "Jesus", "pois Ele salvará seu povo de seus pecados" (Mt 1,21): "Não existe debaixo do
céu outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos" (At 4,12).
453 O nome Cristo significa "Ungido", "Messias". Jesus é o Cristo pois "Deus o ungiu com o
Espírito Santo e com poder" (At 10,38). Ele era "aquele que há de vir" (Lc 7,19), o objeto da
"esperança de Israel".
454 O nome Filho de Deus significa a relação única e eterna de Jesus Cristo com Deus, seu
Pai: Ele é o Filho Único do Pai e o próprio Deus. Crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus é
necessário para ser cristão”
O nome Senhor designa a soberania divina. Confessar ou invocar Jesus como Senhor é
crer em sua divindade. "Ninguém pode dizer 'Jesus é Senhor' a não ser no Espírito Santo" (1 Cor
12,3).
ARTIGO 3
"JESUS CRISTO FOI CONCEBIDO PELO PODER DO ESPÍRITO SANTO, NASCEU DA VIRGEM MARIA"
PARÁGRAFO 1 - O FILHO DE DEUS SE FEZ HOMEM
I. POR QUE O VERBO SE FEZ CARNE?
456 Com o Credo niceno-constantinopolitano, respondemos, confessando: "E por nós,
homens, e para nossa salvação, desceu dos céus e se encarnou pelo Espirito Santo, no seio da
Virgem Maria, e se fez homem"
457 O Verbo se fez carne para salvar-nos, reconciliando-nos com Deus: "Foi Ele que nos
amou e enviou-nos seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados" (1Jo 4,10). "O Pai
enviou seu Filho como o Salvador do mundo" (1Jo 4,14). "Este apareceu para tirar os pecados"
(1Jo 3,5): (Parágrafo relacionado: 607,385)
Doente, nossa natureza precisava ser curada; decaída, ser reerguida; morta, ser
ressuscitada. Havíamos perdido a posse do bem, era preciso no-la restituir. Enclausurados nas
trevas, era preciso trazer-nos à luz; cativos, esperávamos um salvador; prisioneiros, um socorro;
escravos, um libertador. Essas razões eram sem importância? Não eram tais que comoveriam a
Deus a ponto de fazê-lo descer até nossa natureza humana para visita-la, uma vez que a
humanidade se encontrava em um estado tão miserável e tão infeliz?
458 O Verbo se fez carne para que, assim, conhecêssemos o amor de Deus: "Nisto
manifestou-se o amor de Deus por nós: Deus enviou seu Filho Único ao mundo para que vivamos
por Ele" (1 Jo 4,9). "Pois Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho Único, a fim de que todo o
que crer nele não pereça, mas tenha a Vida Eterna" (Jo 3,16). (Parágrafo relacionado: 219)
459 O Verbo se fez carne para ser nosso modelo de santidade: "Tomai sobre vós o meu
jugo e aprendei de mim..." (Mt 11,29). "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao
Pai a não ser por mim" (Jo 14,6). E o Pai, no monte da Transfiguração, ordena: "Ouvi-o" (Mc
9,7[a3] ). Pois Ele é o modelo das Bem-aventuranças e a norma da Nova Lei: "Amai-vos uns aos
outros como eu vos amei" (Jo 15,12). Este amor implica a oferta efetiva de si mesmo em seu
seguimento. (Parágrafos relacionados: 520,823,2012,1717,1965)
460 O Verbo se fez carne para tornar-nos "participantes da natureza divina" (2Pd 1,4):
"Pois esta é a razão pela qual o Verbo se fez homem, e o Filho de Deus, Filho do homem: é para
que o homem, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo, assim, a filiação divina, se
torne filho de Deus". (Parágrafos relacionados: 1265,1391)
"Pois o Filho de Deus se fez homem para nos fazer Deus[a6] . "Unigenitus Dei Filius, suae
divinitatis volens nos esse participes, naturam nostram assumpsit, ut homines deos faceret factus
homo. O Filho Unigênito de Deus, querendo-nos participantes de sua divindade, assumiu nossa
natureza para que aquele que se fez homem dos homens fizesse deuses." (Parágrafo
relacionado: 1988)
II. A Encarnação
461 Retomando a expressão de São João ("O Verbo se fez carne" Jo 1,14), a Igreja
denomina "Encarnação" o fato de Filho de Deus ter assumido uma natureza humana para
realizar nela a nossa salvação. Em um hino atestado por São Paulo, a Igreja canta o mistério da
Encarnação: (Parágrafos relacionados: 653,661,449)
Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus: Ele tinha a condição divina, e não
considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si
mesmo, assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de
homem, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz! (Fl 2,5-8).
462 A Epístola aos Hebreus fala do mesmo mistério: Por isso, ao entrar no mundo, ele
afirmou: Não quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-me um corpo. Holocaustos e
sacrifícios pelo pecado não foram de teu agrado. Por isso eu digo: Eis-me aqui... para fazer a tua
vontade (Hb 10,5-7, citando Sl 40,7-9 LXX)
463 A fé na Encarnação verdadeira do Filho de Deus é o sinal distintivo da fé cristã: "Nisto
reconheceis o Espírito de Deus. Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio na carne é de
Deus" (1Jo 4,2). Esta é a alegre convicção da Igreja desde o seu começo, quando canta "o
grande mistério da piedade”: "Ele foi manifestado na carne" (1 Tm 3,16). (Parágrafo relacionado:
90)
III. VERDADEIRO DEUS E VERDADEIRO HOMEM
464 O acontecimento único e totalmente singular da Encarnação do Filho de Deus não
significa que Jesus Cristo seja em parte Deus e em parte homem, nem que ele seja o resultado da
mescla confusa entre o divino e o humano. Ele se fez verdadeiramente homem permanecendo
verdadeiro Deus. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. A Igreja teve de defender
e clarificar esta verdade de fé no decurso dos primeiros séculos, diante das heresias que a
falsificavam. (Parágrafo relacionado: 88)
465 As primeiras heresias, mais do que a divindade de Cristo, negaram sua humanidade
verdadeira (docetismo gnóstico). Desde os tempos apostólicos a fé cristã insistiu na verdadeira
Encarnação do Filho de Deus, "que veio na carne". Mas desde o século III a Igreja teve de
afirmar, contra Paulo de Samósata, em um concílio reunido em Antioquia, que Jesus Cristo é Filho
de Deus por natureza e não por adoção. O I Concílio Ecumênico de Nicéia, em 325, confessou
em seu Credo que o Filho de Deus é "gerado, não criado, consubstancial (homousios) ao Pai" e
condenou Ário, que afirmava que" o Filho de Deus veio do nada" e que ele seria "de uma
substância diferente da do Pai. (Parágrafo relacionado: 242)
466 A heresia nestoriana via em Cristo uma pessoa humana unida à pessoa divina do
Filho de Deus. Diante dela, São Cirilo de Alexandria e o III Concílio Ecumênico, reunido em Éfeso
em 431, confessaram que "o Verbo, unindo a si em sua pessoa uma carne animada por uma
alma racional, se tornou homem". A humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa
divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde sua concepção. Por isso o Concílio de
Éfeso proclamou, em 431, que Maria se tornou de verdade Mãe de Deus pela concepção
humana do Filho de Deus em seu seio: "Mãe de Deus não porque o Verbo de Deus tirou dela sua
natureza divina, mas porque é dela que ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional,
unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne". (Parágrafo
relacionado: 495)
467 Os monofisistas afirmavam que a natureza humana tinha cessado de existir como tal
em Cristo ao ser assumida por sua pessoa divina de Filho de Deus. Confrontado com esta heresia,
IV Concílio Ecumênico, em Calcedônia, confessou em 451:
Na linha dos santos Padres, ensinamos unanimemente a confessar um só e mesmo Filho,
Nosso Senhor Jesus Cristo, o mesmo perfeito em divindade e perfeito em humanidade, o mesmo
verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto de um alma racional e de um
corpo, consubstancial ao Pai segundo a divindade, consubstancial a nós segundo a
humanidade, "semelhante a nós em tudo, com exceção do pecado"; gerado do Pai antes de
todos os séculos segundo a divindade, e nesses últimos dias, para nós e para nossa salvação,
nascido da Virgem Maria, Mãe de Deus, segundo a humanidade. Um só e mesmo Cristo, Senhor,
Filho Único, que devemos reconhecer em duas naturezas, sem confusão, sem mudanças, sem
divisão, sem separação. A diferença das naturezas não é de modo algum suprimida por sua
união, mas antes as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas em uma só
pessoa e uma só hipóstase.
468 Depois do Concílio de Calcedônia, alguns fizeram da natureza humana de Cristo uma
espécie de sujeito pessoal. Contra eles, o V Concílio Ecumênico, em Constantinopla, em 553,
confessou a propósito de Cristo: "Não há senão uma única hipóstase [ou pessoa], que é Nosso
Senhor Jesus Cristo, Um da Trindade". Na humanidade de Cristo, portanto, tudo deve ser atribuído
à sua pessoa divina como ao seu sujeito próprio; não somente os milagres, mas também os
sofrimentos, e até a morte: "Aquele que foi crucificado na carne, nosso Senhor Jesus Cristo, é
verdadeiro Deus, Senhor da glória e Um da Santíssima Trindade”. (Parágrafos relacionados:
254,616)
469 A Igreja confessa, assim, que Jesus é inseparavelmente verdadeiro Deus e verdadeiro
homem. Ele é verdadeiramente o Filho de Deus que se fez homem, nosso irmão, e isto sem deixar
de ser Deus, nosso Senhor:
"Id quod fuiit remansit et quod non fuiit assumpsit - Ele permaneceu o que era, assumiu o
que não era", canta a liturgia romana. E a liturgia de São João Crisóstomo proclama e canta: "Ó
Filho Único e Verbo de Deus, sendo imortal, vos dignastes por nossa salvação encarnar-vos da
Santa Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, vós que sem mudança vos tomastes homem e fostes
crucificado, ó Cristo Deus, que por vossa morte esmagastes a morte, sois Um da Santíssima
Trindade, glorificado com o Pai e o Espírito Santo, salvai-nos!". (Parágrafo relacionado: 212)
IV. DE QUE MANEIRA O FILHO DE DEUS É HOMEM
470 Uma vez que na união misteriosa da Encarnação "a natureza humana foi assumida,
não aniquilada”, a Igreja tem sido levada, ao longo dos séculos, a confessar a plena realidade
da alma humana, com suas operações de inteligência e vontade, e a do corpo humano de
Cristo. Mas, paralelamente, teve de lembrar toda vez que a natureza humana de Cristo pertence
"in proprio" à pessoa divina do Filho de Deus que a assumiu. Tudo o que Cristo é e o que faz nela
depende do "Um da Trindade". Por conseguinte, o Filho de Deus comunica à sua humanidade
seu próprio modo de existir pessoal na Trindade. Assim, em sua alma como em seu corpo, Cristo
exprime humanamente os modos divinos de agir da Trindade: (Parágrafos relacionados: 516,626)
[O Filho de Deus] trabalhou com mãos humanas, pensou com inteligência humana, agiu
com vontade humana, amou com coração humano. Nascido da Virgem Maria, tomou-se
verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado. (Parágrafo
relacionado: 2599)
A ALMA E O CONHECIMENTO HUMANO DE CRISTO
471 Apolinário de Laodicéia afirmava que em Cristo o Verbo havia substituído a alma ou o
espírito. Contra este erro a Igreja confessou que o Filho assumiu também uma alma racional
humana. (Parágrafo relacionado: 363)
472 Esta alma humana que o Filho de Deus assumiu é dotada de um verdadeiro
conhecimento humano. Enquanto tal, este não podia ser em si ilimitado: exercia-se nas
condições históricas de sua existência no espaço e no tempo. Por isso O Filho de Deus, ao tornarse
homem, pôde aceitar "crescer em sabedoria, em estatura e em graça" (Lc 2,52) e também
informar-se sobre aquilo que na condição humana se deve aprender de maneira experimental.
Isto correspondia à realidade de seu rebaixamento voluntário na "condição de escravo".
473 Mas, ao mesmo tempo, este conhecimento verdadeiramente humano do Filho de
Deus exprimia a vida divina de sua pessoa. "A natureza humana do Filho de Deus, não por si
mesma, mas por sua união ao Verbo, conhecia e manifestava nela tudo o que convém a Deus[."
Este é, em primeiro lugar, o caso do conhecimento íntimo e direto que o Filho de Deus feito
homem tem de seu Pai. O Filho mostrava também em seu conhecimento humano a penetração
divina que tinha pensamentos secretos do coração dos homens. (Parágrafo relacionado: 240)
474 Por sua união a Sabedoria divina na pessoa do Verbo encarnado, o conhecimento
humano de Cristo gozava em plenitude da ciência dos desígnios eternos que viera revelar. O
que ele reconhece desconhecer neste campo [a34] declara alhures não ser sua missão revelálo.
A VONTADE HUMANA DE CRISTO
475 Paralelamente, a Igreja confessou no VI Concílio Ecumênico que Cristo possui duas
vontades e duas operações naturais, divinas e humanas, não opostas, mas cooperantes, de sorte
que o Verbo feito carne quis humanamente na obediência a seu Pai tudo o que decidiu
divinamente com o Pai e o Espírito Santo por nossa salvação. A vontade humana de Cristo
"segue a sua vontade divina sem estar em resistência nem em oposição em relação a ela; mas
antes sendo subordinada a esta vontade todo-poderosa". (Parágrafo relacionado: 2008,2824)
O VERDADEIRO CORPO DE CRISTO
476 Visto que o Verbo se fez carne assumindo uma verdadeira humanidade, o corpo de
Cristo era delimitado. Em razão disso, o rosto humano de Jesus pode ser "desenhado". No VII
Concílio Ecumênico, a Igreja reconheceu como legítimo que ele seja representado em imagens
sagradas. (Parágrafos relacionados: 1159-1162,2129-2132)
477 Ao mesmo tempo, a Igreja sempre reconheceu que, no corpo de Jesus, "Deus, que
por natureza é invisível se tornou visível aos nossos olhos". Com efeito as particularidades
individuais do corpo de Cristo exprimem a pessoa divina do Filho de Deus. Este fez seus os traços
de seu corpo humano a ponto de, pintados em uma imagem sagrada, poderem ser venerados,
pois o crente que venera sua imagem "venera nela a pessoa que está pintada".
O CORAÇÃO DO VERBO ENCARNADO
478 Jesus conheceu-nos e amou-nos a todos durante sua Vida, sua Agonia e Paixão e
entregou-se por todos e cada um de nós: "O Filho de Deus amou-me e entregou-se por mim" (Gl
2,20). Amou-nos a todos comum coração humano. Por esta razão, o sagrado Coração de Jesus,
traspassado por nossos pecados e para a nossa salvação, "praecipuus consideratur index et
symbolus... illius amoris, quo divinus Rcdemptor aeternum Patrem hominesque universos
continenter adamat - é considerado o principal sinal e símbolo daquele amor com o qual o
divino Redentor ama ininterruptamente o Pai Eterno e todos os homens”. (Parágrafos
relacionados: 487,368,2669,766)
RESUMINDO
479 No tempo determinado por Deus, o Filho Único do Pai, a Palavra Eterna, isto é, o
Verbo e a Imagem substancial do Pai, encarnou sem perder a natureza divina, assumiu a
natureza humana.
480 Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, na unidade de sua Pessoa Divina:
por isso Ele é o único mediador entre Deus e os homens.
481 Jesus Cristo possui duas naturezas, a divina e a humana, não confundidas, mas unidas
na única Pessoa do Filho de Deus.
482 Sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, Cristo tem uma inteligência e uma
vontade humanas, perfeitamente concordantes com e submetidas a sua inteligência e a sua
vontade divinas que tem em comum com o Pai e o Espírito Santo
483 A Encarnação é, portanto, o Mistério da admirável união da natureza divina e da
natureza humana na única Pessoa do Verbo.
PARÁGRAFO 2
“...CONCEBIDO PELO PODER DO ESPÍRITO SANTO,
NASCIDO DA VIRGEM MARIA"
I CONCEBIDO PELO PODER DO ESPÍRITO SANTO.
484 A Anunciação a Maria inaugura a "plenitude dos tempos" (Gl 4,4), isto é, o
cumprimento das promessas e das preparações. Maria é convidada a conceber aquele em
quem habitará “corporalmente a plenitude da divindade" (Cl 2,9). A resposta divina à sua
pergunta "Como se fará isto, se não conheço homem algum?" (Lc 1,34) é dada pelo poder do
Espírito: "O Espírito Santo virá sobre ti" (Lc 1,35). (Parágrafos relacionados: 461,721)
485 A missão do Espírito Santo está sempre conjugada e ordenada à do Filho[a45] . O
Espírito Santo é enviado para santificar o seio da Virgem Maria e fecundá-la divinamente, ele
que é "o Senhor que da a Vida", fazendo com que ela conceba o Filho Eterno do Pai em uma
humanidade proveniente da sua. (Parágrafos relacionados: 689,723)
486 Ao ser concebido como homem no seio da Virgem Maria, o Filho Único do Pai é
"Cristo", isto e, ungido pelo Espirito Santo desde o início de sua existência humana, ainda que sua
manifestação só se realize progressivamente: aos pastores, aos magos, a João Batista, aos
discípulos. Toda a Vida de Jesus Cristo manifestará, portanto, "como Deus o ungiu com o Espírito
e com poder" (At 10,38). (Parágrafo relacionado: 437)
II... NASCIDO DA VIRGEM MARIA
487 O que a fé católica crê acerca de Maria funda-se no que ela crê acerca de Cristo,
mas o que a fé ensina sobre Maria ilumina, por sua vez, sua fé em Cristo. (Parágrafo relacionado:
963)
A PREDESTINAÇÃO DE MARIA
488 "Deus enviou Seu Filho" (Gl 4,4), mas, para "formar-lhe um corpo[a51] " quis a livre
cooperação de uma criatura. Por isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe
de Seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré na Galiléia, "uma virgem desposada
com um varão chamado José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria" (Lc 1,26-27):
Quis o Pai das misericórdias que a Encarnação fosse precedida pela aceitação daquela que era
predestinada a ser Mãe de seu Filho, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte,
uma mulher também contribuísse para a vida.
489 Ao longo de toda a Antiga Aliança, a missão de Maria foi preparada pela missão de
santas mulheres. No princípio está Eva: a despeito de sua desobediência, ela recebe a promessa
de uma descendência que será vitoriosa sobre o Maligno e a de ser a mãe de todos os viventes.
Em virtude dessa promessa, Sara concebe um filho, apesar de sua idade avançada. Contra toda
expectativa humana, Deus escolheu o era tido como impotente e fraco para mostrar sua
fidelidade à sua promessa: Ana, a mãe de Samuel, Débora, Rute, Judite e Ester, e muitas outras
mulheres. Maria "sobressai entre (esses) humildes e pobres do Senhor, que dele esperam e
recebem com confiança a Salvação. Com ela, Filha de Sião por excelência, depois de uma
demorada espera da promessa, completam-se os tempos e se instaura a nova economia"
(Parágrafos relacionados: 722,410,145,64)
A IMACULADA CONCEIÇÃO
490 Para ser a Mãe do Salvador, Maria "'foi enriquecida por Deus com dons dignos para
tamanha função". No momento da Anunciação, o anjo Gabriel a saúda como “cheia de graça".
Efetivamente, para poder dar o assentimento livre de sua fé ao anúncio de sua vocação era
preciso que ela estivesse totalmente sob a moção da graça de Deus. (Parágrafos relacionados:
2676,2853,2001)
491 Ao longo dos séculos, a Igreja tomou consciência de que Maria, "cumulada de graça"
por Deus, foi redimida desde a concepção. E isso que confessa o dogma da Imaculada
Conceição, proclamado em 1854 pelo papa Pio IX: (Parágrafo relacionado: 411)
A beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, por singular graça e
privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano
foi preservada imune de toda mancha do pecado original.
492 Esta "santidade resplandecente, absolutamente única" da qual Maria é "enriquecida
desde o primeiro instante de sua conceição[a63] . lhe vem inteiramente de Cristo: "Em vista dos
méritos de seu Filho, foi redimida de um modo mais sublime[a64] ". Mais do que qualquer outra
pessoa criada, o Pai a "abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo"
(Ef 1,3). Ele a "escolheu nele (Cristo), desde antes da fundação do mundo, para ser santa e
imaculada em sua presença, no amor" (Ef 1,4). (Parágrafos relacionados: 2011,1077)
493 Os Padres da tradição oriental chamam a Mãe de Deus "a toda santa" ("Pan-hagia";
pronuncie "pan-haguía"), celebram-na como "imune de toda mancha de pecado, tendo sido
plasmada pelo Espírito Santo, e formada como uma nova criatura". Pela graça de Deus, Maria
permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo de toda a sua vida.
"FAÇA-SE EM MIM SEGUNDO A TUA PALAVRA...
494 Ao anúncio de que, sem conhecer homem algum, ela conceberia o Filho do Altíssimo
pela virtude do Espírito Santo[a66] , Maria respondeu com a "obediência da fé", certa de que
"nada é impossível a Deus": "Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra"
(Lc 1,37-38). Assim, dando à Palavra de Deus o seu consentimento, Maria se tomou Mãe de Jesus
e, abraçando de todo o coração, sem que nenhum pecado a retivesse, a vontade divina de
salvação, entregou-se ela mesma totalmente à pessoa e à obra de seu Filho, para servir, na
dependência dele e com Ele, pela graça de Deus, ao Mistério da Redenção: (Parágrafos
relacionados: 2617,148,968)
Como diz Santo Irineu, "obedecendo, se fez causa de salvação tanto para si como para
todo o gênero humano". Do mesmo modo, não poucos antigos Padres dizem com ele: "O nó da
desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva ligou pela
incredulidade a virgem Maria desligou pela fé”. Comparando Maria com Eva, chamam Maria de
"mãe dos viventes" e com freqüência afirmam: "Veio a morte por Eva e a vida por Maria”.
(Parágrafo relacionado: 726)
A MATERNIDADE DIVINA DE MARIA
495 Denominada nos Evangelhos "a Mãe de Jesus" (João 2,1;19,25[a72] ), Maria é
aclamada, sob o impulso do Espírito, desde antes do nascimento de seu Filho, como "a Mãe de
meu Senhor" (Lc 1,43). Com efeito, Aquele que ela concebeu Espírito Santo como homem e que
se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne não é outro que o Filho eterno do Pai, a
segunda Pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é verdadeiramente Mãe de
Deus (Theotókos). (Parágrafos relacionados: 466,2677)
A VIRGINDADE DE MARIA
496 Desde as primeiras formulações da fé, a Igreja confessou que Jesus foi concebido
exclusivamente pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, afirmando também o
aspecto corporal deste evento: Jesus foi concebido "do Espírito Santo, sem sêmen". Os Padres
vêem na conceição virginal o sinal de que foi verdadeiramente o Filho de Deus que veio numa
humanidade como a nossa: Assim, Santo Inácio de Antioquia (início do século II): "Estais
firmemente convencidos acerca de Nosso Senhor, que é verdadeiramente da raça de Davi
segundo a carne[a76] , Filho de Deus segundo a vontade e o poder de Deus[a77] ,
verdadeiramente nascido de uma virgem... ele foi verdadeiramente pregado, na sua carne, {à
cruz} por nossa salvação sob Pôncio Pilatos... ele sofreu verdadeiramente, como também
ressuscitou verdadeiramente".
497 Os relatos evangélicos entendem a conceição virginal como uma obra divina que
ultrapassa toda compreensão e toda possibilidade humanas[a80] : "O que foi gerado nela vem
do Espírito Santo", diz o anjo a José acerca de Maria, sua noiva (Mt 1,20). A Igreja vê aí o
cumprimento da promessa divina dada pelo profeta Isaias: "Eis que a virgem conceberá e dará
à luz um filho" (Is 7,14, segundo a tradução grega de Mt 1,23).
498 Por vezes tem-se estranhado o silêncio do Evangelho de São Marcos e das epístolas do
Novo Testamento sobre a concepção virginal de Maria. Houve também quem se perguntasse se
não se trataria aqui de lendas ou de construções teológicas sem pretensões históricas. A isto
deve-se responder: a fé na concepção virginal de Jesus deparou com intensa oposição,
zombarias ou incompreensões da parte dos não-crentes, judeus e pagãos. Ela não era motivada
pela mitologia pagã ou por alguma adaptação às idéias do tempo. O sentido deste
acontecimento só é acessível à fé, que o vê no "nexo que interliga os mistérios entre si", no
conjunto dos Mistérios de Cristo, desde a sua Encarnação até a sua Páscoa. Santo Inácio de
Antioquia já dá testemunho deste nexo: "O príncipe deste mundo ignorou a virgindade de Maria
e o seu parto, da mesma forma que a Morte do Senhor: três mistérios proeminentes que se
realizaram no silêncio de Deus. (Parágrafos relacionados: 90,2717)
MARIA - "SEMPRE VIRGEM"
499 O aprofundamento de sua fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a
virgindade real e perpétua de Maria, mesmo no parto do Filho de Deus feito homem. Com efeito,
o nascimento de Cristo "não lhe diminuiu, mas sagrou a integridade virginal" de sua mãe[a86] . A
Liturgia da Igreja celebra Maria como a "Aeiparthenos" (pronuncie " áeiparthénos"), "sempre
virgem".
500 A isto objeta-se por vezes que a Escritura menciona Irmãos e irmãs de Jesus[a88] . A
Igreja sempre entendeu que essas passagens não designam outros filhos da Virgem Maria: com
efeito, Tiago e José, "irmãos de Jesus" (Mt 13,55), são os filhos de uma Maria discípula de Cristo
que significativamente é designada como "a outra Maria" (Mt 28,1). Trata-se de parentes
próximos de Jesus, consoante uma expressão conhecida do Antigo Testamento.
501 Jesus é o Filho Único de Maria. Mas a maternidade espiritual de Maria estende-se a
todos os homens que Ele veio salvar: "Ela gerou seu Filho, do qual Deus fez “o primogênito entre
uma multidão de irmãos” (Rm 8,29), isto é, entre os fiéis, em cujo nascimento e educação Ela
coopera com amor materno. (Parágrafos relacionados: 969,970)
A MATERNIDADE VIRGINAL DE MARIA NO DESÍGNIO DE DEUS
502 O olhar da fé pode descobrir, tendo em mente o conjunto da Revelação, as razões
misteriosas pelas quais Deus, em seu desígnio salvífico, quis que seu Filho nascesse de uma
virgem. Essas razões tocam tanto a pessoa e a missão redentora de Cristo quanto o acolhimento
desta missão por Maria em favor de todos os homens. (Parágrafo relacionado: 90)
503 A virgindade de Maria manifesta a iniciativa absoluta de Deus Encarnação. Jesus tem
um só Pai: Deus. "A natureza humana que ele assumiu nunca o afastou do Pai...; por natureza,
Filho de seu Pai segundo a divindade; por natureza, Filho de sua Mãe, segundo a humanidade;
mas propriamente Filho de Deus em suas duas naturezas." (Parágrafo relacionado: 422)
504 Jesus é concebido pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, pois ele é o
Novo Adão que inaugura a nova criação: “O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o
segundo homem vem do Céu" (1Cor 15,47). A humanidade de Cristo é, desde a sua concepção,
repleta do Espírito Santo, pois Deus "lhe dá o Espírito sem medida" (Jo 3,34). É da "plenitude dele",
cabeça da humanidade remida, que "nós recebemos graça sobre graça" (Jo 1,16). (Parágrafo
relacionado: 359)
505 Jesus, o Novo Adão, inaugura por sua concepção virginal o novo nascimento dos
filhos de adoção no Espírito Santo pela fé. "Como se fará isto?" (Lc 1,34[a97] ). A participação na
vida divina não vem "do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do
homem, mas de Deus" (Jo 1,13). O acolhimento desta vida é virginal, pois esta é totalmente dada
pelo Espírito ao homem. O sentido esponsal da vocação humana em relação a Deus é realizado
perfeitamente na maternidade virginal de Maria. (Parágrafo relacionado: 1265)
506 Maria é virgem porque sua virgindade é o sinal de sua fé, absolutamente livre de
qualquer dúvida", e de sua doação sem reservas à vontade de Deus. É sua fé que lhe concede
tomar-se a Mãe do Salvador: "Beatior est Maria percipiendo fidem Christi quam concipiendo
carnem Christi - Maria é mais bem-aventurada recebendo a fé de Cristo do que concebendo a
carne de Cristo". (Parágrafos relacionados: 148,1814)
507 Maria é ao mesmo tempo Virgem e Mãe por ser a figura e a mais perfeita realização
da Igreja "A Igreja... torna-se também ela Mãe por meio da palavra de Deus que ela recebe na
fé, pois pela pregação e pelo Batismo ela gera para a vida nova e imortal os filhos concebidos
do Espírito Santo e nascidos de Deus. Ela é também a virgem que guarda, íntegra e puramente,
a fé dada a seu Esposo. (Parágrafos relacionados: 967,149)
RESUMINDO
508 Na descendência de Eva, Deus escolheu a Virgem Maria para ser a Mãe de seu Filho.
"Cheia de graça", ela é "o fruto mais excelente da Redenção". Desde o primeiro instante de sua
concepção, foi totalmente preservada da mancha do pecado original e permaneceu pura de
todo pecado pessoal ao longo de toda a sua vida.
509 Maria é verdadeiramente "Mãe de Deus", visto ser a Mãe do Filho Eterno de Deus feito
homem, que é ele mesmo Deus.
510 Maria "permaneceu Virgem concebendo seu Filho, Virgem ao dá-lo à luz, Virgem ao
carregá-lo, Virgem ao alimentá-lo de seu seio, Virgem sempre" : com todo o seu ser Ela é "a Serva
do Senhor" (Lc 1,38).
511 A Virgem Maria cooperou "para a salvação humana com livre fé e obediência"
Pronunciou seu 'fiat" (faça-se) "em representação de toda a natureza humana" Por sua
obediência, tornou-se a nova Eva, Mãe dos viventes.
OS MISTÉRIOS DA VIDA DE CRISTO
512 No tocante à vida de Cristo, o Símbolo da Fé fala somente dos mistérios da
Encarnação (Conceição e Nascimento) Páscoa (Paixão, Crucifixão, Morte, Sepultamento,
Descida aos Infernos, Ressurreição, Ascensão). Não diz nada, explicitamente dos mistérios da
vida oculta e pública de Jesus. Mas os artigos da fé referentes à Encarnação e à Páscoa de
Jesus iluminam toda a vida terrestre de Cristo. "Tudo o que Jesus fez e ensinou, desde o começo
até o dia em que foi arrebatado" (At 1,1-2), deve ser visto à luz dos mistérios do Natal e da
Páscoa. (Parágrafo relacionado: 1163)
513 A Catequese, conforme as circunstâncias, há desenvolver toda a riqueza dos Mistérios
de Jesus. Aqui é suficiente indicar alguns elementos comuns a todos os mistérios da vida de Cristo
(I), para em seguida esboçar os principais mistérios da vida oculta (II) e pública (III) de Jesus.
(Parágrafos relacionados: 426,561)
I- TODA A VIDA DE CRISTO É MISTÉRIO
514 Muitas coisas que interessam à curiosidade humana acerca de Jesus não figuram nos
Evangelhos. Quase nada é dito sobre sua vida em Nazaré, e mesmo uma grande parte de sua
vida pública não é relatada. O que foi escrito nos Evangelhos foi "para crerdes que Jesus é o
Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome" (Jo 20, 31).
515 Os Evangelhos foram escritos por homens que estiveram entre os primeiros a ter a fé
[a2] e que queriam compartilhá-la com outros. Depois de terem conhecido na fé quem é Jesus,
puderam ver e fazer ver os traços de seu mistério em toda a sua vida terrestre. Desde os paninhos
de sua natividade até o vinagre de sua Paixão e o sudário de sua Ressurreição, tudo na vida de
Jesus é sinal de seu Mistério. Por meio de seus gestos, de seus milagres, de suas palavras, foi
revelado que "nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Cl 2,9). Sua
humanidade aparece, assim, como o "sacramento", isto é, o sinal e o instrumento de sua
divindade e da salvação que ele traz: o que havia de visível em sua vida terrestre apontava para
o mistério invisível de sua filiação divina e de sua missão redentora. (Parágrafos relacionados:
126,609,774,477)
OS TRAÇOS COMUNS DOS MISTÉRIOS DE JESUS
516 Toda a vida de Cristo é Revelação do Pai: suas palavras e seus atos, seus silêncios e
seus sofrimentos, sua maneira de ser e de falar. Jesus pode dizer: "Quem me vê, vê o Pai" (Jo
14,9); e o Pai pode dizer: "Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o" (Lc 9,35). Tendo Nosso Senhor se feito
homem para cumprir a vontade do Pai, Os mínimos traços de seus mistérios nos manifestam "o
amor de Deus por nos". (Parágrafos relacionados: 65,2708)
517 Toda a vida de Cristo é mistério de Redenção. A Redenção nos vem antes de tudo
pelo sangue da Cruz, mas este mistério está em ação em toda a vida de Cristo: já em sua
Encarnação, pela qual, fazendo-se pobre, nos enriqueceu por sua pobreza; em sua vida oculta,
que, por sua submissão, serve de reparação para nossa insubmissão; em sua palavra, que
purifica seus ouvintes; em suas curas e em seus exorcismos, pelos quais "levou nossas fraquezas e
carregou nossas doenças" (Mt 8,17); em sua Ressurreição, pela qual nos justifica. (Parágrafos
relacionados: 606,1115)
518 Toda a vida de Cristo é mistério de Recapitulação. Tudo o que Jesus fez, disse e sofreu
tinha por meta restabelecer o homem caído em sua vocação primeira: (Parágrafos
relacionados: 668,2748)
Quando ele se encarnou e se fez homem, recapitulou em si mesmo a longa história dos
homens e, em resumo, nos proporcionou a salvação, de sorte que aquilo que havíamos perdido
em Adão, isto é, sermos à imagem e à semelhança de Deus, o recuperamos em Cristo Jesus. É,
aliás, por isso que Cristo passou por todas as idades da vida, restituindo com isto a os homens a
comunhão com Deus.
NOSSA COMUNHÃO COM OS MISTÉRIOS DE JESUS
519 Toda a riqueza de Cristo "é destinada a cada homem e constitui o bem de cada um".
Cristo não viveu sua vida para si mesmo, mas para nós, desde sua Encarnação "por nossos
homens, e por nossa salvação" até sua Morte "por nossos pecados" (1Cor 15,3) e sua Ressurreição
"para nossa justificação" (Rm 4,25). Ainda agora, Ele é "nosso advogado junto do Pai" (1Jo 2,1),
"estando sempre vivo para interceder a nosso favor" (Hb 7,25). Com tudo o que viveu e sofreu por
nós vez por todas, Ele permanece presente para sempre "diante face de Deus a nosso favor" (Hb
9,24). (Parágrafos relacionados: 793,602,1085)
520 Em toda a sua vida, Jesus mostra-se como nosso modelo. Ele é "o homem perfeito"
que nos convida a tomar-nos seus discípulos e a segui-lo: por seu rebaixamento, deu-nos um
exemplo a imitar; por sua oração, atrai à oração; por sua pobreza chama a aceitar livremente o
despojamento e as perseguições. (Parágrafos relacionados: 459,359,2609)
521 Tudo o que Cristo viveu foi para que pudéssemos vivê-lo nele e para que Ele o vivesse
em nos. "Por sua Encarnação, o Filho de Deus, de certo modo, se uniu a todo homem." Nós somos
chamados a ser uma só coisa com Ele; Ele nos faz partilhar (comungar), como membros de seu
corpo, de tudo o que (Ele), por nós e como nosso modelo, viveu em sua carne. (Parágrafos
relacionados: 2715,1391)
Devemos continuar e realizar em nós os estados e os mistérios de Jesus, e pedir-lhe muitas
vezes que os complete e realize em nós e em toda a sua Igreja... Pois o Filho de Deus deseja
conceder uma certa participação, e fazer como que uma extensão e continuação de seus
mistérios em nós e em toda a sua Igreja, pelas graças que quer comunicar-nos, e pelos efeitos
que quer operar em nós por esses mistérios. Por estes meios quer realizá-los em nós.
II. OS MISTÉRIOS DA INFÂNCIA E DA VIDA OCULTA DE JESUS
A PREPARAÇÃO
522 A vinda do Filho de Deus à terra é um acontecimento de tal imensidão que Deus quis
prepará-lo durante séculos. Ritos e sacrifícios, figuras e símbolos da "Primeira Aliança", tudo ele faz
convergir para Cristo; anuncia-o pela boca dos profetas que se sucedem em Israel. Desperta,
além disso, no coração dos pagãos a obscura expectativa desta vinda. (Parágrafos
relacionados: 711,762)
523 São João Batista é o precursor imediato do Senhor, enviado para preparar-lhe o
caminho. "Profeta do Altíssimo" (Lc; 1,76), ele supera todos os profetas, deles é o último, inaugura
o Evangelho; saúda a vinda de Cristo desde o seio de sua mãe e encontra sua alegria em ser "o
amigo do esposo" (Jo 3,29), que designa como "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo" (Jo 1,29). Precedendo a Jesus "com o espírito e o poder de Elias" (Lc 1,17), dá-lhe
testemunho por sua pregação, seu batismo de conversão e, finalmente, seu martírio. (Parágrafos
relacionados: 712,720)
524 Ao celebrar cada ano a liturgia do Advento, a Igreja atualiza esta espera do Messias:
comungando com a longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o
ardente desejo de sua Segunda Vinda. Pela celebração da natividade e do martírio do
Precursor, a Igreja se une a seu desejo: "É preciso que Ele cresça e que eu diminua" (Jo 3,30).
(Parágrafo relacionado: 1171)
O MISTÉRIO DO NATAL
525 Jesus nasceu na humildade de um estábulo, em uma família pobre; as primeiras
testemunhas do evento são simples pastores. É nesta pobreza que se manifesta a glória do Céu.
A Igreja não se cansa de cantar a glória dessa noite: Hoje a Virgem traz ao mundo o Eterno.
(Parágrafos relacionados: 437,2443)
E a terra oferece uma gruta ao Inacessível.
Os anjos e os pastores o louvam
E os magos caminham com a estrela.
Pois Vós nascestes por nós, Menino, Deus eterno!
526 "Tornar-se criança" em relação a Deus é a condição para entrar no Reino; para isso é
preciso humilhar-se, tornar-se pequeno; mais ainda: é preciso "nascer do alto" (Jo 3,7), "nascer de
Deus" para tornar-nos filhos de Deus. O mistério do Natal realiza-se em nós quando Cristo "toma
forma" em nós. O Natal é o mistério deste "admirável intercâmbio:
O admirabile commercium! Creator generis humani, anima corpus sumens, de Vir gine
nasci digna tus est; et procedens homo sine semine, largitus est nobis suam deitatem - Admirável
intercâmbio! O Criador da humanidade, assumindo corpo e dignou-se nascer de uma Virgem; e,
tomando-se homem intervenção do homem, nos doou sua própria divindade! (Parágrafo
relacionado: 460)
Os MISTÉRIOS DA INFÂNCIA DE JESUS
527 A circuncisão de Jesus, no oitavo dia depois de seu nascimento, é sinal de sua
inserção na descendência de Abraão, no povo da Aliança, de sua submissão à Lei e de
capacitação para o culto de Israel, do qual participará durante sua toda a vida. Este sinal
prefigura "a circuncisão de Cristo", que é o Batismo. (Parágrafos relacionados: 580,1214)
528 A epifania é a manifestação de Jesus como Messias Israel, Filho de Deus e Salvador
do mundo. Com o Batismo de Jesus no Jordão e com as bodas de Caná, ela celebra a
adoração de Jesus pelos "magos" vindos do Oriente. Nesses "magos", representantes das religiões
pagãs circunvizinhas, o Evangelho vê as primícias das nações que acolhem a Boa Nova da
salvação pela Encarnação. A vinda dos magos a Jerusalém para "adorar ao Rei dos Judeus"
mostra que eles procuram em Israel, à luz messiânica da estrela de Davi, aquele que será o Rei
das nações. Sua vinda significa que os pagãos só podem descobrir Jesus e adorá-lo como Filho
de Deus e Salvador do mundo voltando-se para os judeus recebendo deles sua promessa
messiânica, tal como está contida no Antigo Testamento. A Epifania manifesta que "a plenitude
dos pagãos entra na família dos patriarcas" e adquire a "dignidade israelítica". (Parágrafos
relacionados: 439,711-716,122)
529 A apresentação de Jesus no Templo mostra-o como o Primogênito pertencente ao
Senhor. Com Simeão e Ana, é toda a espera de Israel que vem ao encontro de seu Salvador (a
tradição bizantina designa com este termo tal acontecimento). Jesus é reconhecido como o
Messias tão esperado, "luz das nações" e "Glória de Israel", mas também "sinal de contradição". A
espada de dor predita a Maria anuncia esta outra oblação, perfeita e única, da Cruz, que dará
a salvação que Deus "preparou diante de todos os povos". (Parágrafos relacionados: 583,439,614)
530 A fuga para o Egito e o massacre dos inocentes manifestam a oposição das trevas à
luz: "Ele veio para o que era seu e os seus não o receberam" (Jo 1,11). Toda a vida de Cristo
estará sob o signo da perseguição. Os seus compartilham com Ele esta perseguição. Sua volta
do Egito lembra o Êxodo e apresenta Jesus como o libertador definitivo. (Parágrafo relacionado:
574)
OS MISTÉRIOS DA VIDA OCULTA DE JESUS
531 Durante a maior parte de sua vida, Jesus compartilhou a condição da imensa maioria
dos homens: uma vida cotidiana. Sem grandeza aparente, vida de trabalho manual, vida
religiosa judaica submetida à Lei de Deus, vida na comunidade. De todo este período é-nos
revelado que Jesus era "submisso" a seus pais e que "crescia em sabedoria, em estatura em
graça diante de Deus e diante dos homens" (Lc 2,52). (Parágrafo relacionado: 2427)
532 A submissão de Jesus a sua Mãe e a seu pai legal cumpre com perfeição o quarto
mandamento. Ela é a imagem temporal de sua obediência filial a seu Pai celeste. A submissão
diária de Jesus a José e a Maria anunciava e antecipava a submissão da Quinta-feira Santa:
"Não a minha vontade..." (Lc 22,42). A obediência de Cristo no cotidiano da vida condida
inaugurava já a obra de restabelecimento daquilo a desobediência de Adão havia destruído.
(Parágrafos relacionados: 2214,2220,612)
533 A vida oculta de Nazaré permite a todo homem estar unido a Jesus nos caminhos
mais cotidianos da vida: Nazaré é a escola na qual se começa a compreender a vida de Jesus:
a escola do Evangelho... Primeiramente, uma lição de silêncio. Que nasça em nós a estima do
silêncio, esta admirável e indispensável condição do espírito... Uma lição de vida familiar. Que
Nazaré nos ensine o que é a família, sua comunhão de amor, sua beleza austera e simples, seu
caráter sagrado e inviolável... Uma lição de trabalho. Nazaré, ó casa do "Filho do Carpinteiro", é
aqui que gostaríamos de compreender e celebrar a lei severa e redentora do trabalho
humano...; assim como gostaríamos finalmente de saudar aqui todos os trabalhadores do mundo
inteiro e mostrar-lhes seu grande modelo, seu Irmão divino. (Parágrafos relacionados: 2717,2427)
534 O reencontro de Jesus no Templo é o único acontecimento que rompe o silêncio dos
Evangelhos sobre os anos ocultos de Jesus. Nele Jesus deixa entrever o mistério de sua
consagração total a uma missão decorrente de sua filiação divina: "Não sabíeis que devo
ocupar-me com as coisas de meu Pai?" (Lc 2,49). Maria e José "não compreenderam" esta
palavra, mas a acolheram na fé, e Maria "guardava a lembrança de todos esses fatos em seu
coração" (Lc 2,51), ao longo dos anos em que Jesus permanecia mergulhado no silêncio de uma
vida ordinária. (Parágrafos relacionados: 583,2599,964)
III. OS MISTÉRIOS DA VIDA PÚBLICA DE JESUS
O BATISMO DE JESUS
535 A vida pública de Jesus tem início com seu Batismo por João no rio Jordão. João
Batista proclamava "um batismo de arrependimento para a remissão dos pecados" (Lc 3,3). Uma
multidão de pecadores, de publicanos e soldados, fariseus e saduceus e prostitutas vem fazer-se
batizar por ele. Jesus aparece, o Batista hesita, mas Jesus insiste. E Ele recebe o Batismo. Então o
Espírito Santo, sob forma de pomba, vem sobre Jesus, e a voz do céu proclama: "Este é o meu
Filho bem-amado" (Mt 3,13-17). É a manifestação ("Epifania") de Jesus como Messias de Israel e
Filho de Deus. (Parágrafos relacionados: 719-720,701,438)
536 O Batismo de Jesus é, da parte dele, a aceitação e a inauguração de sua missão de
Servo sofredor. Deixa-se contar entre os pecadores; é, já, "o Cordeiro de Deus que tira o pecado
do mundo" (Jo 1,29), antecipa já o "Batismo" de sua morte sangrenta. Vem, já, "cumprir toda a
justiça" (Mt 3,15), ou seja, submete-se por inteiro à vontade de seu Pai: aceita por amor este
batismo de morte para a remissão de nossos pecados. A esta aceitação responde a voz do Pai,
que coloca toda a sua complacência em seu Filho. O Espírito que Jesus possui em plenitude
desde a sua concepção vem "repousar" sobre Ele. Jesus ser a fonte do Espírito para toda a
humanidade. No Batismo de Jesus, "abriram-se os Céus" (Mt 3,16) que o pecado de Adão havia
fechado; e as águas são santificadas pela descida de Jesus e do Espírito, prelúdio da nova
criação. (Parágrafos relacionados: 606,1224,444,727,739)
537 Pelo Batismo, o cristão é sacramentalmente assimilado a Jesus, que antecipa em seu
Batismo a sua Morte e a sua Ressurreição; deve entrar neste mistério de rebaixamento humilde e
de arrependimento, descer à água com Jesus para subir novamente com ele, renascer da
água e do Espírito para tornar-se, no Filho, filho bem-amado do Pai e "viver em uma vida nova"
(Rm 6,4): (Parágrafo relacionado: 1262)
Sepultemo-nos com Cristo pelo Batismo, para ressuscitar com Ele; desçamos com Ele, para
ser elevados com Ele; subamos novamente com Ele, para ser glorificados nele. (Parágrafo
relacionado: 628)
Tudo o que aconteceu com Cristo dá-nos a conhecer que, depois da imersão na água, o
Espírito Santo voa sobre nós do alto do Céu e que, adotados pela Voz do Pai, nos tornamos filhos
de Deus.
A TENTAÇÃO DE JESUS
538 Os Evangelhos falam de um tempo de solidão de Jesus no deserto, imediatamente
após seu Batismo por João: "Levado pelo Espírito" ao deserto, Jesus ali fica quarenta dias sem
comer, vive com os animais selvagens e os anjos o servem. No final dessa permanência, Satanás
o tenta por três vezes procurando questionar sua atitude filial para com Deus. Jesus rechaça
esses ataques que recapitulam as tentações de Adão no Paraíso e de Israel no deserto, e o
Diabo afasta-se dele "até o tempo oportuno" (Lc 4,13). (Parágrafos relacionados: 394,518)
539 Os evangelistas assinalam o sentido salvífico desse acontecimento misterioso. Jesus é o
novo Adão, que ficou fiel onde o primeiro sucumbiu à tentação. Jesus cumpre à perfeição a
vocação de Israel: contrariamente aos que provocai outrora a Deus durante quarenta anos no
deserto, Cristo se revela como o Servo de Deus totalmente obediente à vontade divina. Nisso
Jesus é vencedor do Diabo: ele "amarrou o homem forte" para retomar-lhe a presa. A vitória de
Jesus sobre o tentador no deserto antecipa a vitória da Paixão, obediência suprema de seu
amor filial ao Pai. (Parágrafos relacionados: 397,385)
540 A tentação de Jesus manifesta a maneira que o Filho de Deus tem de ser Messias o
oposto da que lhe propõe Satanás e que os homens desejam atribuir-lhe. E por isso que Cristão
venceu o Tentador por nós: "Pois não temos um sumo sacerdote incapaz de compadecer-se de
nossas fraquezas, pois Ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado" (Hb
4,15). A Igreja se une a cada ano, mediante os quarenta dias da Grande Quaresma, ao mistério
de Jesus no deserto. (Parágrafos relacionados: 2119,519,2849,1438)
"O REINO DE DEUS ESTÁ BEM PRÓXIMO"
541 "Depois que João foi preso, Jesus veio para a Galiléia proclamando, nestes termos, o
Evangelho de Deus: "Cumpriu-se O tempo e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e
crede no Evangelho"' (Mc 1,14-15). "Para cumprir a vontade do Pai, Cristo inaugurou o Reino dos
céus na terra." Ora, a vontade do Pai é "elevar os homens à participação da Vida Divina". Realiza
tal intento reunindo os homens em torno de seu Filho, Jesus Cristo. Esta reunião é a Igreja, que é
na terra "O germe e o começo do Reino de Deus". (Parágrafos relacionados:
2816,763,669,768,865)
542 Cristo está no centro do congraçamento dos homens na "família de Deus". Convocaos
junto a si por sua palavra, por seus sinais que manifestam o reino de Deus, pelo envio de seus
discípulos. Realizar a vinda de seu Reino sobretudo pelo grande mistério de sua Páscoa: sua
morte na Cruz e sua Ressurreição. "E eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim" (Jo
12,32). A esta união com Cristo são chamados todos os homens. (Parágrafos relacionados:
2233,789)
O ANUNCIO DO REINO DE DEUS
543 Todos os homens são chamados a entrar no Reino. Anunciado primeiro aos filhos de
Israel, este Reino messiânico está destinado a acolher os homens de todas as nações. Para ter
acesso a ele, é preciso acolher a palavra de Jesus: (Parágrafo relacionado: 764)
Pois a palavra do Senhor é comparada à semente semeada no campo: os que a ouvem
com fé e são contados no número da pequena grei de Cristo receberam o próprio Reino; depois,
por sua própria força, a semente germina e cresce até o tempo da messe.
544 O Reino pertence aos pobres e aos pequenos, isto é, aos que o acolheram com um
coração humilde. Jesus é enviado para "evangelizar os pobres" (Lc 4,18). Declara-os bemaventurados,
pois "o Reino dos Céus é deles" (Mt 5,3); foi aos "pequenos" que o Pai se dignou
revelar o que permanece escondido aos sábios e aos entendidos. Jesus compartilha a vida dos
pobres desde a manjedoura até a cruz; conhece a fome, a sede e a indigência. Mais ainda:
identifica-se com os pobres de todos os tipos e faz do amor ativo para com eles a condição para
se entrar em seu Reino. (Parágrafos relacionados: 709,2443,2546)
545 Jesus convida os pecadores à mesa do Reino: "Não vim chamar justos, mas
pecadores" (Mc 2,17). Convida-os à conversão, sem a qual não se pode entrar no Reino, mas
mostrando-lhes, com palavras e atos, a misericórdia sem limites do Pai por eles e a imensa
"alegria no céu por um único pecador que se arrepende" (Lc 15,7). A prova suprema deste amor
ser o sacrifício de sua própria vida "em remissão dos pecados" (Mt 26.28). (Parágrafos
relacionados: 1443,588,1846,1439)
546 Jesus convida a entrar no Reino por meio das parábolas, traço típico de seu
ensinamento[a97] . Por elas, convida ao festim do Reino, mas exige também uma opção radical:
para adquirir o Reino é preciso dar tudo; as palavras não bastam, são necessários atos As
parábolas são como espelhos para o homem: este acolhe a palavra como um solo duro ou
como uma terra boa? Que faz ele dos talentos recebidos[a102] ? Jesus e a presença do Reino
neste mundo estão secretamente no coração das parábolas. E preciso entrar no Reino, isto é,
tomar-se discípulos de Cristo para "conhecer os mistérios do Reino dos Céus" (Mt 13,11). Para os
que ficam "de fora" (Mc 4,11), tudo permanece enigmático. (Parágrafos relacionados: 2613,542)
OS SINAIS DO REINO DE DEUS
547 Jesus acompanha suas palavras com numerosos "milagres, prodígios e sinais" (At 2,22)
que manifestam que o Reino está presente nele. Atestam que Jesus é o Messias anunciado.
(Parágrafos relacionados: 670,439)
548 Os sinais operados por Jesus testemunham que o Pai o enviou. Convidam a crer nele.
Aos que a Ele se dirigem com fé, concede o que pedem. Assim, os milagres fortificam a fé
naquele que realiza as obras de seu Pai: testemunham que Ele é o Filho de Deus. Eles podem
também ser "ocasião de escândalo". Não se destinam a satisfazer a curiosidade e os desejos
mágicos. Apesar de seus milagres tão evidentes, Jesus é rejeitado por alguns; acusam-no até de
agir por intermédio dos demônios. (Parágrafos relacionados: 156,2616,574,447)
549 Ao libertar certas pessoas dos males terrestres da fome, da injustiça, da doença e da
morte, Jesus operou sinais messiânicos; não veio, no entanto, para abolir todos os males da terra,
mas para libertar os homens da mais grave das escravidões, a do pecado, que os entrava em
sua vocação de filhos de Deus e causa todas as suas escravidões humanas. (Parágrafos
relacionados: 1503,440)
550 O advento do Reino de Deus é a derrota do reino de Satanás: "Se é pelo Espírito de
Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou a vós" (Mt 12,28). Os
exorcismos de Jesus libertam homens do domínio dos demônios. Antecipam a grande vitória de
Jesus sobre "o príncipe deste mundo". E pela Cruz de Cristo que o Reino de Deus ser
definitivamente estabelecido: "Regnavit a ligno Deus - Deus reinou do alto do madeiro".
(Parágrafos relacionados: 394,1673,440,2816)
"AS CHAVES DO REINO"
551 Desde o início de sua vida pública, Jesus escolhe homens em número de doze para
estar com Ele e para participar de sua missão; dá-lhes participação em sua autoridade "e enviouos
a proclamar o Reino de Deus e a curar" (Lc 9,2). Permanecem eles para sempre associados ao
Reino de Cristo, pois Jesus dirige a Igreja por intermédio deles: (Parágrafos relacionados: 858,765)
Disponho para vós o Reino, como meu Pai o dispôs para mim, a fim de que comais e
bebais à minha mesa em meu Reino, e vos senteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel
(Lc 22,29-30).
552 No colégio dos Doze, Simão Pedro ocupa o primeiro lugar[. Jesus confiou-lhe uma
missão única. Graças a uma revelação vinda do Pai, Pedro havia confessado: "Tu és o Cristo, o
Filho do Deus vivo" (Mt 16,16). Nosso Senhor lhe declara na ocasião: "Tu és Pedro, e sobre esta
pedra edificarei minha Igreja, e as Portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela" (Mt 16,18).
Cristo, "Pedra viva"; garante a sua Igreja construída sobre Pedro a vitória sobre as potências de
morte. Pedro, em razão da fé por ele confessada, permanecerá como a rocha inabalável da
Igreja. Terá por missão defender esta fé de todo desfalecimento e confirmar nela seus irmãos[.
(Parágrafos relacionados: 880,153,442,424)
553 Jesus confiou a Pedro uma autoridade específica: "Eu te darei as chaves do Reino dos
Céus: o que ligares na terra será ligado nos Céus, e o que desligares na terra será desligado nos
Céus" (Mt 16,19). O "poder das chaves" designa a autoridade para governar a casa de Deus, que
é a Igreja. Jesus, "o Bom Pastor" (Jo 10,11), confirmou este encargo depois de sua Ressurreição:
"Apascenta as minhas ovelhas" (Jo 21,15-17). O poder de "ligar e desligar" significa a autoridade
para absolver os pecados, pronunciar juízos doutrinais e tomar decisões disciplinares na Igreja.
Jesus confiou esta autoridade à Igreja pelo ministério dos apóstolos e particularmente de Pedro,
o único ao qual confiou explicitamente as chaves do Reino. (Parágrafos relacionados:
381,1445,641,881)
UM ANTEGOZO DO REINO: A TRANSFIGURAÇÃO
554 A partir do dia em que Pedro confessou que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, o
Mestre "começou a mostrar a seus discípulo que era necessário que fosse a Jerusalém e sofresse...
que fosse morto e ressurgisse ao terceiro dia" (Mt 16,21): Pedro rechaça este anúncio, os demais
também não o compreendem. É neste contexto que se situa o episódio misterioso da
Transfiguração de Jesus sobre um monte elevado, diante de três testemunhas escolhidas por ele:
Pedro, Tiago e João. O rosto e as vestes de Jesus tornam-se fulgurantes de luz, Moisés e Elias
aparecem, "falavam de sua partida que iria se consumar em Jerusalém" (Lc 9,31). Uma nuvem os
cobre e uma voz do céu diz: "Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o" (Lc 9,35). (Parágrafos
relacionados: 697,2600,444)
555 Por um instante, Jesus mostra sua glória divina, confirmando, assim, a confissão de
Pedro. Mostra também que, para "entrar em sua glória" (Lc 24,26), deve passar pela Cruz em
Jerusalém. Moisés e Elias haviam visto a glória de Deus sobre a Montanha; a Lei e os profetas
tinham anunciado os sofrimentos do Messias. A Paixão de Jesus é sem dúvida a vontade do Pai:
o Filho age como servo de Deus. A nuvem indica a presença do Espírito Santo: "Tota Trinitas
apparuit: Pater in voce; Filius in homine, Spiritus in nube clara - A Trindade inteira apareceu: o Pai,
na voz; o Filho, no homem; o Espírito, na nuvem clara. (Parágrafos relacionados: 2576,2583,257)
Vós vos transfigurastes na montanha e, porquanto eram capazes, vossos discípulos
contemplaram vossa Glória, Cristo Deus, para que, quando vos vissem crucificado,
compreendessem que vossa Paixão era voluntária e anunciassem ao mundo que vós sois
verdadeiramente a irradiação do Pai.
556 No limiar da vida pública, o Batismo; no limiar da Páscoa, a Transfiguração. Pelo
Batismo de Jesus "declaratum fuit mysterium primae regenerationis - foi manifestado o mistério da
primeira regeneração": o nosso Batismo; a Transfiguração "est sacramentum secundae
regenerationis - é o sacramento da segunda regeneração": a nossa própria ressurreição. Desde
já participamos da Ressurreição do Senhor pelo Espírito Santo que age nos sacramentos do
Corpo de Cristo A Transfiguração dá-nos um antegozo da vinda gloriosa do Cristo, "que
transfigurar nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso" (Fl 3,21). Mas ela nos
lembra também "que é preciso passarmos por muitas tribulações para entrarmos no Reino de
Deus" (At 14,22): (Parágrafos relacionados: 1003)
Pedro ainda não tinha compreendido isso ao desejar viver com Cristo sobre a montanha.
Ele reservou-te isto, Pedro, para depois da morte. Mas agora Ele mesmo diz: Desce para sofrer na
terra, para servir na terra, para ser desprezado, crucificado na terra. A Vida desce para fazer-se
matar; o Pão desce para ter fome; o Caminho desce para cansar-se da caminhada; a Fonte
desce para ter sede; e tu recusas Sofrer?
A SUBIDA DE JESUS A JERUSALÉM
557 "Ora, quando se completaram os dias de sua elevação, Jesus tomou resolutamente o
caminho de Jerusalém" (Lc 9, 51). Com esta decisão, indicava que subia a Jerusalém pronto
para morrer. Por três vezes tinha anunciado sua Paixão e sua Ressurreição. Ao dirigir-se para
Jerusalém, disse: "Não convém que um profeta pereça fora de Jerusalém" (Lc 13,33).
558 Jesus lembra o martírio dos profetas que tinham sido mortos em Jerusalém. Todavia,
persiste em convidar Jerusalém a congregar-se em torno dele: "Quantas vezes quis eu ajuntar os
teus filhos, como a galinha recolhe seus pintainhos debaixo das asas... e não o quiseste" (Mt
23,37b). Quando Jerusalém está à vista, chora sobre ela e exprime uma vez mais o desejo de seu
coração: "Ah! Se neste dia também tu conhecesses a mensagem de paz! Agora, porém, isto está
escondido a teus olhos" (Lc 19,42).
A ENTRADA MESSIÂNICA DE JESUS EM JERUSALÉM
559 Como vai Jerusalém acolher seu Messias? Embora sempre se tivesse subtraído às
tentativas populares de fazê-lo rei. Jesus escolhe o momento e prepara os detalhes de sua
entrada messiânica na cidade de "Davi, seu pai" (Lc 1,32). É aclamado como o filho de Davi,
aquele que traz a salvação ("Hosana" quer dizer salva-nos!", "dá a salvação!") Ora, o "Rei de
Glória" (Sl 24,7-10) entra em sua cidade "montado em um jumento" (Zc 9,9): não conquista a Filha
de Sião figura de sua Igreja, pela astúcia nem pela violência, mas pela humildade que dá
testemunho da Verdade. Por isso os súditos de seu Reino, nesse dia, são as crianças e os "pobres
de Deus" que o aclamam como os anjos o anunciaram aos pastores. A aclamação deles -
"Bendito seja o que vem em nome do Senhor" (S1 118,26)- é retomada pela Igreja no "Sanctus" da
liturgia eucarística, para abrir o memorial da Páscoa do Senhor. (Parágrafos relacionados:
333,1352)
560 A entrada de Jesus em Jerusalém manifesta a vinda do Reino que o Rei-Messias vai
realizar pela Páscoa de sua Morte e de sua Ressurreição. E com sua celebração, no Domingo de
Ramos, que a liturgia da Igreja abre a grande Semana Santa. (Parágrafos relacionados:
550,2816,1169)
RESUMINDO
561 "Toda a vida de Cristo foi um contínuo ensinamento: seus silêncios, seus milagres, seus
gestos, sua oração, seu amor ao homem, sua predileção pelos pequenos e pelos pobres, a
aceitação do sacrifício total na Cruz pela redenção do mundo, Sua Ressurreição constituem a
atuação de sua palavra e o cumprimento da Revelação.
562 Os discípulos de Cristo devem conformar-se com Ele até Ele se formar neles" É por isso
que somos inseridos nos mistérios de sua vida, com Ele configurados, com Ele mortos e com Ele
ressuscitados, até que com Ele reinemos.
563 "Seja pastor, seja mago, não se pode atingir a Deus na terra senão ajoelhando-se
diante da manjedoura de Belém e adorando-o escondido na fraqueza de uma criança.
564 Por sua submissão a Maria e José, assim como por seu humilde trabalho durante
longos anos em Nazaré, Jesus nos dá o exemplo da santidade na vida cotidiana da família e do
trabalho.
565 Desde o início de sua vida pública, em seu Batismo, Jesus é o "Servo", inteiramente
consagrado à obra redentora que se realizará pelo "Batismo" de sua paixão.
566 A tentação no deserto mostra Jesus, Messias humilde que triunfa sobre Satanás por
sua total adesão ao desígnio de salvação querido pelo Pai.
567 O Reino dos céus foi inaugurado na terra por Cristo. "Manifesta-se lucidamente aos
homens na palavra, nas obras e na presença de Cristo. "A Igreja é o germe e o começo desde
Reino. Suas chaves são confiadas a Pedro.
568 A Transfiguração de Cristo tem por finalidade fortificar a fé dos apóstolos em vista da
Paixão: a subida à "elevada montanha" prepara a subida ao Calvário. Cristo, Cabeça da Igreja,
manifesta o que seu Corpo contém e irradia nos sacramentos "a esperança da Glória" (Cl
1,27[a149] ).
569 Jesus subiu voluntariamente a Jerusalém, embora soubesse que lá morreria de morte
violenta por causa da contradição por parte dos pecadores.
570 A entrada de Jesus em Jerusalém manifesta a vinda do Reino que o Rei-Messias,
acolhido em sua cidade pelas crianças e pelos humildes de coração, vai realizar por meio da
Páscoa de sua Morte e Ressurreição.
ARTIGO 4 :
"JESUS CRISTO PADECEU SOB PÔNCIO PILATOS, FOI CRUCIFICADO, MORTO E SEPULTADO"
571 O mistério pascal da Cruz e da Ressurreição de Cristo está no centro da Boa Nova
que os apóstolos e a Igreja, na esteira deles, devem anunciar ao mundo. O projeto salvador de
Deus realizou-se "uma vez por todas" (Hb 9,26) pela morte redentora de seu Filho, Jesus Cristo.
(Parágrafo relacionado: 1067)
572 A Igreja permanece fiel à "interpretação de todas as Escrituras" dada por Jesus
mesmo antes e também depois de sua Páscoa. "Não era preciso que Cristo sofresse tudo isso e
entrasse em sua glória?" (Lc 24,26). Os sofrimentos de Jesus tomaram sua forma histórica concreta
pelo fato de ele ter sido "rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas"
(Mc 8,31), que o "entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado" (Mt
20,19). (Parágrafo relacionado: 599)
573 A fé pode, pois, tentar perscrutar as circunstâncias da Morte de Jesus, transmitidas
fielmente pelos Evangelhos e iluminadas por outras fontes históricas, para melhor compreender o
sentido da Redenção. (Parágrafo relacionado: 158)
PARÁGRAFO I - JESUS E ISRAEL
574 Desde o início do ministério público de Jesus, fariseus e adeptos de Herodes, com
sacerdotes e escribas, mancomunaram-se para matá-lo. Por causa de certos atos por ele
praticados (expulsão de demônios, perdão dos pecados, curas em dia de sábado [a6]
interpretação original dos preceitos de pureza da Lei, de pureza da Lei, familiaridade com os
publicanos e com pecadores públicos), Jesus pareceu a alguns mal-intencionados, suspeito de
possessão demoníaca. Ele é acusado de blasfêmia e de falso profetismo, crimes religiosos que a
Lei punia com a pena de morte sob forma de apedrejamento. (Parágrafos relacionados: 530,591)
575 Muitos atos e palavras de Jesus constituíram, portanto, um sinal de contradição" para
as autoridades religiosas de Jerusalém – que o Evangelho de São João com freqüência
denomina "os judeus" – mas ainda do que para o comum do povo de Deus. Sem dúvida, suas
relações com os fariseus não foram exclusivamente polêmicas. São os fariseus que o previnem do
perigo que corre. Jesus elogia alguns deles, como o escriba de Mc 12,34, e repetidas vezes come
com fariseus. Jesus confirma doutrinas compartilhadas por essa elite religiosa do povo de Deus: a
ressurreição dos mortos, as formas de piedade (esmola, jejum e oração) e o hábito de dirigir-se a
Deus como Pai, a centralidade do mandamento do amor a Deus e ao próximo. (Parágrafo
relacionado: 993)
576 Aos olhos de muitos, em Israel, Jesus parece agir contra as instituições essenciais do
Povo eleito:
ü a submissão à Lei na integralidade de seus preceitos escritos e, para os fariseus, na
interpretação da tradição oral;
ü a centralidade do Templo de Jerusalém como lugar santo, em que Deus habita de
forma privilegiada;
ü a fé no Deus único, cuja glória nenhum homem pode compartilhar.
I. JESUS E A LEI
577 Jesus fez uma advertência solene no começo do Sermão da Montanha, em que
apresentou a Lei dada por Deus no Sinai por ocasião da Primeira Aliança à luz da graça da Nova
Aliança: Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas. Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno
cumprimento, porque em verdade vos digo que, até que passem o céu e a terra, não será
omitido um só i, uma só vírgula da Lei, sem que tudo seja realizado. Aquele, portanto, que violar
um só destes menores mandamentos e ensinar os homens a fazerem o mesmo ser chamado o
menor no Reino dos Céus; aquele, porém, que os praticar e os ensinar, esse será chamado
grande no Reino dos Céus (Mt 5,17-19). (Parágrafos relacionados: 1965,1967)
578 Jesus, o Messias de Israel, portanto o maior no Reino dos Céus, tinha a obrigação de
cumprir a Lei, executando-a em sua integridade até seus mínimos preceitos, segundo suas
próprias palavras. Ele é o único que conseguiu cumpri-la com perfeição. Os judeus, conforme sua
própria confissão, nunca conseguiram cumprir a Lei em sua integridade sem violar-lhe o mínimo
preceito. Esta é a razão pela qual, em cada festa anual da Expiação, os filhos de Israel pedem a
Deus perdão por suas transgressões da Lei. Com efeito, a Lei constitui um todo e, como recorda
São Tiago, "aquele que guarda toda a Lei, mas desobedece a um só ponto, torna- se culpado
da transgressão da Lei inteira" (Tg [a23] 2,10). (Parágrafo relacionado: 1953)
579 Esse princípio da integralidade da observância da Lei, não somente em sua letra, mas
em seu espírito, era caro aos fariseus. Tomando-o extensivo a Israel, levaram muitos judeus do
tempo de Jesus a um zelo religioso extremo. Este zelo extremo, se não quisesse envolver-se em
uma casuística "hipócrita", só podia preparar o povo para essa intervenção inaudita de Deus que
será o cumprimento perfeito da Lei exclusivamente pelo Justo em lugar de todos os pecadores.
580 O cumprimento perfeito da Lei só podia ser obra do Legislador divino nascido sujeito
à Lei na pessoa do Filho. Em Jesus, a Lei não aparece mais gravada nas tábuas de pedra, mas
"no fundo do coração" (Jr 31,33) do Servo, o qual, pelo fato de "trazer fielmente o direito" (Is 42,3),
se tornou "a Aliança do povo" (Is 42,6). Jesus cumpriu a Lei até o ponto de tomar sobre si "a
maldição da Lei[a28] ” in quod illi incurrerant "qui non permanent in omnibus, quae scripta sunt, ut
faciant ea", na qual incorrerreram aqueles que "não praticam todos os preceitos da mesma, pois
“a morte de Cristo aconteceu para resgatar as transgressões cometidas no Regime da Primeira
Aliança" (Hb 9, 15). (Parágrafo relacionado: 527)
581 Jesus apareceu aos olhos dos judeus e de seus chefes espirituais como um "rabi". Com
freqüência argumentou na linha da interpretação rabínica da Lei. Mas ao mesmo tempo Jesus só
podia chocar os doutores da Lei, já que não se contentava em propor sua interpretação em pé
de igualdade com as deles, senão que "ensinava como alguém que tem autoridade, e não
como os escribas" (Mt 7,28-29). Nele, é a mesma Palavra de Deus que tinha ressoado no Sinai
para a Moisés a Lei escrita, que se faz ouvir novamente sobre o Monte Bem-aventuranças. Ela
não abole a Lei, mas a cumpre, fornecendo de modo divino a interpretação última dela:
"Aprendestes o que foi dito aos antigos... eu, porém, vos digo" (Mt 5,33-34). Com esta mesma
autoridade divina, Ele desabona certas "tradições humanas" dos fariseus que "invalidam a
Palavra de Deus". (Parágrafo relacionado: 2054)
582 Indo mais longe, Jesus cumpre a Lei a respeito da pureza dos alimentos, tão
importante na vida diária judaica, revelando o sentido “pedagógico" dela por uma
interpretação divina: "Tudo o que de fora, entrando no homem, não pode torná-lo impuro..."
assim declarava puros todos os alimentos. "O que sai do homem, é isto que o torna impuro. Pois é
de dentro, do coração dos homens, que as intenções malignas" (Mc 7,18-21). Ao dar com
autoridade divina a interpretação definitiva da Lei, Jesus acabou confrontando-se com certos
doutores da Lei que não aceitavam a interpretação da Lei dada por Jesus, apesar de garantida
pelos sinais divinos que a acompanhavam. Isto vale particularmente para a questão do sábado:
Jesus lembra, muitas vezes com argumentos rabínicos, que o descanso do sábado não é lesado
pelo serviço de Deus ou do próximo, executado por meio das curas operadas por Ele.
(Parágrafos relacionados: 368,548,2173)
II. JESUS E O TEMPLO
583 Jesus, como os profetas anteriores a Ele, teve pelo Templo de Jerusalém o mais
profundo respeito. Nele foi apresentado por José e Maria quarenta dias após seu nascimento.
Com doze anos, decide ficar no Templo para lembrar a seus pais que deve dedicar-se às coisas
de seu Pai. Durante os anos de sua vida oculta, subiu ao Templo a cada ano, no mínimo por
ocasião da Páscoa; até seu ministério público foi ritmado por suas peregrinações a Jerusalém
para as grandes festas judaicas. (Parágrafos relacionados: 529,534)
584 Jesus subiu ao Templo como lugar privilegiado de encontro com Deus. O Templo é
para ele a morada de seu Pai, uma casa de oração, e se indigna pelo fato de seu átrio externo
ter-se tornado um lugar de comércio. Se expulsa os vendilhões do Templo, é por amor zeloso a
seu Pai. "Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio. Seus discípulos lembram-se do
que está escrito: 'O zelo por tua casa me devorará' (Sl 69)” (Jo 2,16-17). Depois de sua
Ressurreição, os apóstolos mantiveram um respeito religioso pelo Templo. (Parágrafo relacionado:
2599)
585 Contudo, no limiar de sua Paixão, Jesus anunciou a ruína desse esplêndido edifício,
do qual não restará mais pedra sobre pedra. Há aqui o anúncio de um sinal dos tempos finais
que vão abrir-se com sua própria Páscoa. Esta profecia, porém, pode ser relatada de modo
deformado por testemunhas falsas no momento do interrogatório de Jesus diante do sumo
sacerdote, sendo-lhe atribuída como injúria quando ele foi pregado à cruz.
586 Longe de ter sido hostil ao Templo, local em que aliás, ministrou o essencial de seu
ensinamento, Jesus fez questão de pagar o imposto do Templo, associando a este ato Pedro,
que acabara de estabelecer como fundamento para sua Igreja futura. Mais ainda: identificou-se
com o Templo ao apresentar-se como a morada definitiva de Deus entre os homens. Eis por que
sua morte corporal decretada anuncia a destruição do Templo, (destruição) que manifestará a
entrada em uma nova era História da Salvação: "Vem a hora em que nem sobre esta montanha
nem em Jerusalém adorareis o Pai" (Jo 4,21) (Parágrafos relacionados: 797,1179)
III. JESUS E A FÉ DE ISRAEL NO DEUS ÚNICO E SALVADOR
587 Se a Lei e o Templo de Jerusalém puderam ser ocasião de "contradição” da parte de
Jesus para as autoridades religiosas de Israel, foi o papel dele na redenção dos pecados, obra
divina por excelência, que constituiu para elas a verdadeira pedra de escândalo.
588 Jesus escandalizou os fariseus ao comer com os publicanos e os pecadores com a
mesma familiaridade com que comia com eles. Contra os que, dentre os fariseus, estavam
"convencidos de serem justos e desprezavam os outros" (Lc 18,9), Jesus afirmou: "Eu não vim
chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento" (Lc 5,32). Foi mais longe ao proclamar
diante dos fariseus que, sendo o pecado universal, os que pretendem não necessitar de
salvação estão cegos para sua própria cegueira. (Parágrafos Relacionados 545)
589 Jesus escandalizou sobretudo porque identificou sua conduta misericordiosa para
com os pecadores com a atitude do próprio Deus para com eles. Chegou ao ponto de dar a
entender que, partilhando a mesa dos pecadores, os estava admitindo ao banquete messiânico.
Mas foi particularmente ao perdoar os pecados que Jesus deixou as autoridades religiosas de
Israel diante de um dilema. Foi isto que disseram com razão, cheios de espanto: Só Deus pode
perdoar os pecados" (Mc 2,7). Ao perdoar os pecados, ou Jesus blasfema - pois é um homem
que se iguala a Deus -, ou diz a verdade, e sua pessoa torna presente e revela o Nome de Deus.
(Parágrafos Relacionados 431,1441,432)
590 Somente a identidade divina da pessoa de Jesus pode justificar uma exigência tão
absoluta quanto esta: "Aquele que não está comigo está contra mim" (Mt 12,30); assim,
também, quando diz que nele está "mais do que Jonas... mais do que Salomão" (Mt 12,41-42),
"mais do que o Templo"; ou quando lembra, referindo-se a si mesmo, que Davi chamou o Messias
de seu Senhor, ao a firmar "Antes que Abraão fosse, Eu Sou" (Jo 8,58); e até "Eu e o Pai somos um"
(Jo 10,30). (Parágrafo Relacionado 253)
591 Jesus pediu às autoridades religiosas de Jerusalém que cressem nele por causa das
obras de seu Pai que ele realiza. Tal ato de fé tinha de passar, no entanto, por uma misteriosa
morte de si mesmo em vista de um novo "nascimento do alto", sob o impulso da graça divina.
Essa exigência de conversão ante um cumprimento tão surpreendente das promessas permite
compreender o trágico desprezo do sinédrio ao estimar que Jesus merecia a morte como
blasfemo. Seus membros agiam assim por "ignorância" e ao mesmo tempo pelo “endurecimento"
da "incredulidade". (Parágrafos Relacionados 526,574)
RESUMINDO
592 Jesus não aboliu a Lei do Sinai, mas a cumpriu com tal perfeição que revela seu
sentido último e resgata as transgressões contra ela.
593 Jesus venerou o Templo, subindo a ele nas festas judaicas de peregrinação, e amou
com amor cioso esta morada de Deus entre os homens. O Templo prefigura seu próprio mistério.
Se anuncia a destruição do Templo, é como manifestação de sua própria morte e da entrada
em uma nova era da História da Salvação, na qual seu Corpo será o Templo definitivo.
594 Jesus realizou atos como o perdão dos pecados – que o manifestaram como o
próprio Deus Salvador. Alguns judeus, não reconhecendo o Deus feito homem e vendo nele um
homem que se faz Deus", julgaram-no blasfemo.
PARÁGRAFO 2
JESUS MORREU CRUCIFICADO
I. O PROCESSO DE JESUS
DISSENSÕES ENTRE AS AUTORIDADES JUDAICAS EM RELAÇÃO A JESUS
595 Entre as autoridades religiosas de Jerusalém não houve somente o fariseu Nicodemos
ou o ilustre José de Arimatéia como discípulos secretos de Jesus, mas durante muito tempo foram
produzidas dissensões acerca de Jesus, a ponto de, às vésperas de sua Paixão São João poder
dizer deles que "um bom número deles creu nele”, ainda que de forma bem imperfeita (Jo 12,42).
Isso não tem nada de surpreendente se levarmos em conta que no dia seguinte a Pentecostes
"uma multidão de sacerdotes obedecia à fé" (At 6,7) e que "alguns do partido dos fariseus
haviam abraçado a fé" (At 15,5), a ponto de São Tiago poder dizer a São Paulo que "zelosos
partidários da Lei, milhares de judeus abraçaram a fé" (At 21,20).
596 As autoridades religiosas de Jerusalém não foram unânimes na conduta a adotar em
relação a Jesus. Os fariseus ameaçaram de excomunhão os que o seguissem. Aos que temiam
que "todos crerão em Jesus e os romanos virão e destruirão nosso Lugar Santo e a nação" (Jo
11,48), o Sumo Sacerdote Caifás propôs, profetizando: "Não compreendeis que é de vosso
interesse que um só homem morra pelo povo e não pereça a nação toda?" (Jo 11,50). O
Sinédrio, depois de declarar Jesus "passível de morte" na qualidade deblasfemador, mas, tendo
perdido o direito de pô-lo à morte, entrega Jesus aos romanos, acusando-o de revolta política, o
que colocará Jesus no mesmo pé que Barrabás, acusado de "sedição" (Lc 23,19). São também
ameaças políticas o que os chefes dos sacerdotes fazem a Pilatos para que condene Jesus à
morte. (Parágrafo Relacionado 1753)
OS JUDEUS NÃO SÃO COLETIVAMENTE RESPONSÁVEIS PELA MORTE DE JESUS
597 Levando em conta a complexidade histórica do processo de Jesus manifestada nos
relatos evangélicos, e qualquer que possa ser o pecado pessoal dos atores do processo (Judas, o
Sinédrio, Pilatos), conhecido só de Deus, não se pode atribuirá responsabilidade ao conjunto dos
judeus de Jerusalém, a despeito dos gritos de uma multidão manipulada e das censuras globais
contidas nos apelos à conversão depois de Pentecostes. O próprio Jesus, ao perdoar na cruz, e
Pedro, depois dele, apelaram para a "ignorância" dos judeus de Jerusalém e até dos chefes
deles. Menos ainda pode-se, a partir do grito do povo: "Seu sangue caia sobre nós e sobre nossos
filhos" (Mt 27,25), que significa uma fórmula de ratificação, estender a responsabilidade aos
outros judeus no espaço e no tempo. (Parágrafo Relacionado 1735)
Por isso a Igreja declarou muito oportunamente no Concílio Vaticano II: "Aquilo que se
perpetrou em sua Paixão não pode indistintamente ser imputado a todos os judeus que viviam
então, nem aos de hoje... Os judeus não devem ser apresentados nem como condenados por
Deus nem como amaldiçoados, como se isto decorresse das Sagradas Escrituras". (Parágrafo
Relacionado 839)
TODOS OS PECADORES FORAM OS AUTORES DA PAIXÃO DE CRISTO
598 No magistério de sua fé e no testemunho de seus santos a Igreja nunca esqueceu
que "foram os pecadores como tais os autores e como que os instrumentos de todos os
sofrimentos por que passou o Divino Redentor". Levando em conta que nossos pecados atingem
o próprio Cristo, a Igreja não hesita em imputar aos cristãos a responsabilidade mais grave no
suplício de Jesus, responsabilidade que com excessiva freqüência estes debitaram quase
exclusivamente aos judeus.
Devemos considerar como culpados desta falta horrível os que continuam a reincidir em
pecados. Já que são os nossos crimes que arrastaram Nosso Senhor Jesus Cristo ao suplício da
cruz, com certeza os que mergulham nas desordens e no mal “de sua parte crucificam de novo
o Filho de Deus e o expõem as injúrias" (Hb 6,6). E é imperioso reconhecer que nosso próprio
crime, neste caso é maior do que o dos judeus. Pois estes, como testemunha o Apóstolo, "se
tivessem conhecido o Rei da glória, nunca o teriam crucificado" (1Cor 2,8). Nós, porém, fazemos
profissão de conhecê-lo. E, quando o negamos por nossos atos, de certo modo levantamos
contra Ele nossas mãos homicidas. Os demônios, então, não foram eles que o crucificaram; és tu
que com eles o crucificaste e continuas a crucificá-lo, deleitando-te nos vícios e. nos pecados.
(Parágrafo Relacionado 1851)
II. A MORTE REDENTORA DE CRISTO NO DESÍGNIO DIVINO DE SALVAÇÃO
"JESUS ENTREGUE SEGUNDO O DESÍGNIO BEM DETERMINADO DE DEUS”
599 A morte violenta de Jesus não foi o resultado do acaso um conjunto infeliz de
circunstâncias. Ela faz parte do mistério do projeto de Deus, como explica São Pedro aos judeus
de Jerusalém já em seu primeiro discurso de Pentecostes: “Ele foi entregue segundo o desígnio
determinado e a presciência de Deus" (At 2,23). Esta linguagem bíblica não significa que os que
"entregaram Jesus" tenham sido apenas executores passivos de um roteiro escrito de antemão
por Deus. (Parágrafo Relacionado 517)
600 Para Deus, todos os momentos do tempo estão presentes em sua atualidade. Ele
estabelece, portanto, seu projeto eterno de "predestinação" incluindo nele a resposta livre de
cada homem à sua graça: "De fato, contra teu servo Jesus, a quem ungiste, verdadeiramente
coligaram-se, nesta cidade, Herodes e Pôncio Pilatos com as nações pagãs e os povos de Israel,
para executar tudo o que, em teu poder e sabedoria, havias predeterminado" (At 4,27-28). Deus
permitiu os atos nascidos de sua cegueira, a fim de realizar seu projeto de salvação. (Parágrafo
Relacionado 312)
"MORREU POR NOSSOS PECADOS SEGUNDO AS ESCRITURAS"
601 Este projeto divino de salvação mediante a morte do "Servo, o Justo" havia sido
anunciado antecipadamente na Escritura como um mistério de redenção universal, isto é, de
resgate que liberta os homens da escravidão do pecado. São Paulo, em sua confissão de fé que
diz ter "recebido secundum Scripturas", professa que "Cristo morreu por nossos pecados segundo
as Escrituras. A morte redentora de Jesus cumpre em particular a profecia do Servo Sofredor.
Jesus mesmo apresentou o sentido de sua vida e de sua morte à luz do Servo Sofredor. Após a
sua Ressurreição, ele deu esta interpretação das Escrituras aos discípulos de Emaús, e depois aos
próprios apóstolos. (Parágrafos Relacionados 652,713)
"AQUELE QUE NÃO CONHECERA O PECADO, DEUS O FEZ PECADO POR CAUSA DE NÓS"
602 Por isso, São Pedro pode formular assim a fé apostólica no projeto divino de salvação:
"Fostes resgatados da vida fútil que herdastes de vossos pais, pelo sangue precioso de Cristo,
como de um cordeiro sem defeitos e sem mácula, conhecido antes da fundação do mundo,
mas manifestado, no fim dos tempos, por causa de vós" (1Pd 1,18-20). Os pecados dos homens,
depois do pecado original, são sancionados pela morte. Ao enviar seu próprio Filho na condição
de escravo, condição de uma humanidade decaída e fadada à morte por causa do pecado.
"Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que, por
ele, nos tornemos justiça de Deus" (2Cor 5,21). (Parágrafos Relacionados 400,519)
603 Jesus não conheceu a reprovação, como se Ele mesmo tivesse pecado. Mas, no
amor redentor que sempre o unia ao Pai, nos assumiu na perdição de nosso pecado em relação
a Deus a ponto de poder dizer em nosso nome, na cruz: "Meu Deus, meu Deus por que me
abandonaste?" (Mc 15,34). Tendo-o tornado solidário de nós, pecadores, "Deus não poupou seu
próprio Filho, mas o entregou por todos nós" (Rm 8,32), a fim de que fôssemos "reconciliados com
Ele pela morte de seu Filho” (Rm 5,10). (Parágrafo Relacionado 2572)
DEUS TEM A INICIATIVA DO AMOR REDENTOR UNIVERSAL
604 Ao entregar seu Filho por nossos pecados, Deus manifesta que seu desígnio sobre nós
é um desígnio de amor benevolente que antecede a qualquer mérito nosso: "Nisto consiste o
amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e enviou-nos seu Filho
como vítima de expiação por nossos pecados" (1Jo 4,10). "Deus demonstra seu amor para
conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando éramos ainda pecadores" (Rm 5,8).
(Parágrafos Relacionados 211,2009,1925)
605 Este amor não exclui ninguém. Jesus lembrou-o na conclusão da parábola da ovelha
perdida: "Assim, também, não é da vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes
pequeninos se perca" (Mt 18,14). Afirma ele "dar sua vida em resgate por muitos" (Mt 20,28); este
último termo não é restritivo: opõe o conjunto da humanidade à única pessoa do Redentor que
se entrega para salvá-la. A Igreja, no seguimento dos apóstolos, ensina que Cristo morreu por
todos os homens sem exceção: "Não há, não houve e não haverá nenhum homem pelo qual
Cristo não tenha sofrido". (Parágrafos Relacionados 402,634,2793)
III. CRISTO OFERECEU-SE A SEU PAI POR NOSSOS PECADOS
TODA A VIDA DE CRISTO É OFERENDA AO PAI
606 O Filho de Deus, que "desceu do Céu não para fazer sua vontade, mas a do Pai que
o enviou", "diz ao entrar no mundo:.. Eis-me aqui... eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade...
Graças a esta vontade é que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo,
realizada uma vez por todas" (Hb 10,5-10). Desde o primeiro instante de sua Encarnação, o Filho
desposa o desígnio de salvação divino em sua missão redentora: "Meu alimento é fazer a
vontade daquele que me enviou e consumar sua obra" (Jo 4,34). O sacrifício de Jesus "pelos
pecados do mundo inteiro" (1Jo 2,2) é a expressão de sua comunhão de amor ao Pai: "O Pai me
ama porque dou a minha vida" (Jo 10,17). "O mundo saberá que amo o Pai e faço como o Pai
me ordenou" (Jo 14,31). (Parágrafos Relacionados 517,536)
607 Este desejo de desposar o desígnio de amor redentor de seu Pai anima toda a vida
de Jesus pois sua Paixão redentora é a razão de ser de sua Encarnação: "Pai, salva-me desta
hora. Mas foi precisamente para esta hora que eu vim" (Jo 12,27). "Deixarei eu de beber o cálice
que o Pai me deu?" (Jo 18,11). E ainda na cruz, antes que tudo fosse "consumado" (Jo 19,30), ele
disse: "Tenho sede" (Jo 19,28). (Parágrafo Relacionado 457)
"O CORDEIRO QUE TIRA O PECADO DO MUNDO"
608 Depois de ter aceitado dar-lhe o Batismo junto com os pecadores, João Batista viu
e mostrou em Jesus o "Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo". Manifesta, assim que
Jesus é ao mesmo tempo o Servo Sofredor que se deixa levar silencioso ao matadouro e carrega
o pecado das multidões e o cordeiro pascal, símbolo da redenção de Israel por ocasião da
primeira Páscoa. Toda a vida de Cristo exprime sua missão: "Servir e dar sua vida em resgate por
muitos”. (Parágrafos Relacionados 523,517)
JESUS ABRAÇA LIVREMENTE O AMOR REDENTOR DO PAI
609 Ao abraçar em seu coração humano o amor do Pai pelos homens, Jesus "amou-os
até o fim" (Jo 13,11), "pois ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus
amigos” (Jo 15,13). Assim, no sofrimento e na morte, sua humanidade se tornou o instrumento livre
e perfeito de seu amor divino, que quer a salvação dos homens. Com efeito, aceitou livremente
sua Paixão e sua Morte por amor de seu Pai e dos homens, que o Pai quer salvar: "Ninguém me
tira a vida, mas eu a dou livremente" (Jo 10,18). Daí a liberdade soberana do Filho de Deus
quando Ele mesmo vai ao encontro da morte. (Parágrafos Relacionados 478,515,272,539)
NA CEIA, JESUS ANTECIPOU A OFERTA LIVRE DE SUA VIDA
610 Jesus expressou de modo supremo a oferta livre de si mesmo na refeição que
tomou com os Doze Apóstolos na "noite em que foi entregue" (1 Cor 11,23). Na véspera de sua
Paixão, quando ainda estava em liberdade, Jesus fez desta Última Ceia com seus apóstolos o
memorial de sua oferta voluntária ao Pai, pela salvação dos homens: "Isto é o meu corpo que é
dado por vós” (Lc 22,19). "Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por
muitos para remissão dos pecados" (Mt 26,28). (Parágrafos Relacionados 766,1337)
611 A Eucaristia que instituiu naquele momento será o "memorial" de seu sacrifício. Jesus
inclui os apóstolos em sua própria oferta e lhes pede que a perpetuem. Com isso, institui seus
apóstolos sacerdotes da Nova Aliança: "Por eles, a mim mesmo me santifico, para que sejam
santificados na verdade" (Jo 17,19). (Parágrafos Relacionados 1364,1341,1566)
A AGONIA NO GETSÊMANI
612 O cálice da Nova Aliança, que Jesus antecipou na Ceia, oferecendo-se a si
mesmo, aceita-o em seguida das mãos do Pai em sua agonia no Getsêmani, tornando-se
"obediente até a morte" (Fl 2,8). Jesus ora: "Meu Pai, se for possível, que passe de mim este
cálice..." (Mt 26,39). Exprime assim o horror que a morte representa para sua natureza humana.
Com efeito, a natureza humana de Jesus, como a nossa, está destinada à Vida Eterna; além
disso, diversamente da nossa, ela é totalmente isenta de pecado, que causa a morte"; mas ela é
sobretudo assumida pela pessoa divina do "Príncipe da Vida", do "vivente". Ao aceitar em sua
vontade humana que a vontade do Pai seja feita, aceita sua morte como redentora para
"carregar em seu próprio corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1Pd 2,24). (Parágrafos
Relacionados 532,2600,1009)
A MORTE DE CRISTO É O SACRIFÍCIO ÚNICO E DEFINITIVO
613 A morte de Cristo é ao mesmo tempo o sacrifício pascal, que realiza a redenção
definitiva dos homens pelo "cordeiro que tira o pecado do mundo", e o sacrifício da Nova
Aliança, que reconduz o homem à comunhão com Deus, reconciliando-o com ele pelo "sangue
derramado por muitos para remissão dos pecados". (Parágrafos Relacionados 1366,2009)
614 Este sacrifício de Cristo é único. Ele realiza e supera todos os sacrifícios. Ele é primeiro
um dom do próprio Deus Pai: é o Pai que entrega seu Filho para reconciliar-nos consigo. É ao
mesmo tempo oferenda do Filho de Deus feito homem, o qual, livremente e por amor, oferece
sua vida a seu Pai pelo Espírito Santo, para reparar nossa desobediência. (Parágrafos
Relacionados 529,1330,2100)
JESUS SUBSTITUI NOSSA DESOBEDIÊNCIA POR SUA OBEDIÊNCIA
615 Como pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores, assim,
pela obediência de um só, todos se tornarão justos" (Rm 5,19). Por sua obediência até a morte,
Jesus realizou a substituição do Servo Sofredor que "oferece sua vida em sacrifício expiatório",
"quando carregava o pecado das multidões", "que ele justifica levando sobre si o pecado de
muitos". Jesus prestou reparação por nossas faltas e satisfez o Pai por nossos pecados. (Parágrafos
Relacionados 1850,433,411)
NA CRUZ, JESUS CONSUMA SEU SACRIFÍCIO
616 É "o amor até o fim" que confere o Valor de redenção de reparação, de expiação
e de satisfação ao sacrifício de Cristo. Ele nos conheceu a todos e amou na oferenda de sua
vida. “A caridade de Cristo nos compele quando consideramos que um só morreu por todos e
que, por conseguinte, todos morreram" (2 Cor 5,14). Nenhum homem, ainda que o mais santo,
tinha condições de tomar sobre si os pecados de todos os homens e de se oferecer em sacrifício
por todos. A existência em Cristo da Pessoa Divina do Filho, que supera e, ao mesmo tempo,
abraça todas as pessoas humanas, e que o constitui Cabeça de toda a humanidade, torna
possível seu sacrifício redentor por todos. (Parágrafos Relacionados 478,468,519)
617 "Sua sanctissima passione in ligno crucis nobis iustificationem meruit - Por sua
santíssima Paixão no madeiro da cruz mereceu-nos a justificação", ensina o Concílio de Trento,
sublinhando o caráter único do sacrifício de Cristo como "princípio de salvação eterna". E a Igreja
venera a Cruz, cantando: crux, ave, spes única - Salve, ó Cruz, única esperança". (Parágrafos
Relacionados 1992,1235)
NOSSA PARTICIPAÇÃO NO SACRIFÍCIO DE CRISTO
618 A Cruz é o único sacrifício de Cristo, "único mediador entre Deus e os homens". Mas
pelo fato de que, em sua Pessoa Divina encarnada, "de certo modo uniu a si mesmo todos os
homens", "oferece a todos os homens, de uma forma que Deus conhece, a possibilidade de
serem associados ao Mistério Pascal". Chama seus discípulos a "tomar sua cruz e a segui-lo", pois
"sofreu por nós, deixou-nos um exemplo, a fim de que sigamos seus passos". Quer associar a seu
sacrifício redentor aqueles mesmos que são os primeiros beneficiários dele. Isto realiza-se de
maneira suprema em sua Mãe, associada mais intimamente do que qualquer outro ao mistério
de seu sofrimento redentor: (Parágrafos Relacionados 1368,1460,307,2100,964)
Fora da Cruz não existe outra escada por onde subir ao céu.
RESUMINDO
619 "Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras" (1Cor 15,3).
620 Nossa salvação deriva da iniciativa de amor de Deus para conosco, pois “foi Ele
quem nos amou e enviou seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados" (1Jo 4,10). "Foi
Deus que em Cristo reconciliou o mundo consigo" (2 Cor 5,19).
621 Jesus ofereceu-se livremente por nossa salvação. Este, dom, ele o significa e o
realiza por antecipação durante a Última Ceia: "Isto é meu corpo, que será dado por vós" (Lc
22,19).
622 Nisto consiste a redenção de Cristo: ele "veio dar a sua vida em resgate por muitos"
(Mt 20,28), isto é, "amar os seus até o fim" (Jo 13,1), para que sejais "libertados da vida fútil que
herdastes de vossos pais".
623 Por sua obediência de amor ao Pai, "até a morte de cruz" (Fl 2,8), Jesus realizou sua
missão expiadora do Servo Sofredor que “justificará a muitos e levar sobre si as suas
transgressões".
PARÁGRAFO 3
JESUS CRISTO FOI SEPULTADO
624 "Pela graça de Deus, Ele provou a morte em favor de todos os homens" (Hb 2,9). Em
seu projeto de salvação, Deus dispôs que seu Filho não somente "morresse por nossos pecados"
(1Cor 15,3), mas também que "provasse a morte", isto é, conhecesse o estado de morte, o estado
de separação entre sua alma e seu corpo, durante o tempo compreendido entre o momento
em que expirou na cruz e o momento em que ressuscitou. Este estado do Cristo morto é o mistério
do sepulcro e da descida aos Infernos. É o mistério do Sábado Santo, que o Cristo depositado no
túmulo manifesta o grande descanso sabático de Deus depois da realização da salvação dos
homens, que confere paz ao universo inteiro. (Parágrafos Relacionados 362,1005,345)
CRISTO COM SEU CORPO NA SEPULTURA
625 A permanência de Cristo no túmulo constitui o vínculo real entre o estado passível
de Cristo antes da Páscoa e seu atual estado glorioso de Ressuscitado. E a mesma pessoa do
"Vivente" que pode dizer: "Estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos" (Ap
1,18).
Deus [o Filho] não impediu a morte de separar a alma do corpo segundo a ordem
necessária à natureza, mas os reuniu novamente um ao outro pela Ressurreição, a fim de ser ele
mesmo em sua pessoa o ponto de encontro da morte e da vida, sustando nele a decomposição
da natureza, produzida pela morte, e tomando-se ele mesmo princípio de reunião para as partes
separadas.
626 Visto que o "Príncipe da vida" que mataram é o mesmo "Vivente que ressuscitou" é
preciso que a Pessoa Divina do Filho de Deus tenha continuado a assumir sua alma e seu corpo
separados entre si pela morte:
Pelo fato de que na morte de Cristo a alma tenha sido separada da carne, a única pessoa
não foi dividida em duas pessoas, pois o corpo e a alma de Cristo existiram da mesma forma
desde o início na pessoa do Verbo; e na Morte, embora separados um do outro, ficaram cada
um com a mesma e única pessoa do Verbo. (Parágrafos Relacionados 470,650)
"NÃO DEIXARÁS TEU SANTO VER A CORRUPÇÃO"
627 A Morte de Cristo foi uma Morte verdadeira enquanto pôs fim à sua existência
humana terrestre. Mas, devido à união que a pessoa do Filho manteve com o seu corpo, não
estamos diante de um cadáver como os outros, porque "não era possível que a morte o retivesse
em seu poder" (At 2,24) e porque "a virtude divina preservou o corpo de Cristo da corrupção".
Sobre Cristo pode-se dizer ao mesmo tempo: "Ele foi eliminado da terra dos vivos" (Is 53,8) e
"Minha carne repousará na esperança, porque não abandonarás minha alma no Hades, nem
permitirás que teu Santo veja a corrupção" (At 2,26-27). A Ressurreição de Jesus "no terceiro dia"
(1 Cor 15,4; Lc 24,46) foi a prova disso, pois se pensava que a corrupção se manifestaria a partir
do quarto dia. (Parágrafos Relacionados 1009,1683)
"SEPULTADOS COM CRISTO...
628 O Batismo, cujo sinal original e pleno é a imersão, significa eficazmente a descida
ao túmulo do cristão que morre para o pecado com Cristo em vista de uma vida nova: "Pelo
Batismo nós fomos sepultados com Cristo na morte, a fim de que, como Cristo foi ressuscitado
dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova" (Rm 6,4). (Parágrafos
Relacionados 537,1215)
RESUMINDO
629 Em benefício de todo homem, Jesus experimentou a morte. Foi verdadeiramente o
Filho de Deus feito homem que morreu e que foi sepultado.
630 Durante a permanência de Cristo no túmulo, sua Pessoa Divina continuou a assumir
tanto a sua alma como o seu corpo, embora separados entre si pela morte. Por isso o corpo
Cristo morto "não viu a corrupção" (At 2,27).
ARTIGO 5
" J E S US CRI S T O DESCEU AOS INF ERNOS, R ES S US C I TOU D O S MORTO S NO
TERCEIRO D IA"
631 "Jesus desceu às profundezas da terra. Aquele que desceu é também aquele que
subiu" (Ef 4,9-10). O Símbolo dos Apóstolos confessa em um mesmo artigo de fé a descida de
Cristo aos Infernos e sua Ressurreição dos mortos no terceiro dia, porque em sua Páscoa é do
fundo da morte que ele fez jorrar a vida:
Cristo, teu Filho,
que, retomado dos Infernos,
brilhou sereno para o gênero humano,
e vive e reina pelos séculos dos séculos. Amem.
PARÁGRAFO I
CRISTO DESCEU AOS INFERNOS
632 As freqüentes afirmações do Novo Testamento segundo as quais Jesus "ressuscitou
dentre os mortos" (1Cor 15,20) pressupõem, anteriormente à ressurreição, que este tenha ficado
na Morada dos Mortos. Este é o sentido primeiro que a pregação apostólica deu à descida de
Jesus aos Infernos: Jesus conheceu a morte como todos os seres humanos e com sua alma
esteve com eles na Morada dos Mortos. Mas para lá foi como Salvador, proclamando a boa
notícia aos espíritos que ali estavam aprisionados.
633 A Escritura denomina a Morada dos Mortos, para a qual Cristo morto desceu, de os
Infernos, o sheol ou o Hades, Visto que os que lá se encontram estão privados da visão de Deus.
Este é, com efeito, o estado de todos os mortos, maus ou justos, à espera do Redentor que não
significa que a sorte deles seja idêntica, como mostra Jesus na parábola do pobre Lázaro
recebido no "seio de Abraão". "São precisamente essas almas santas, que esperavam seu
Libertador no seio de Abraão, que Jesus libertou ao descer aos Infernos". Jesus não desceu aos
Infernos para ali libertar os condenados nem para destruir o Inferno da condenação, mas para
libertar os justos que o haviam precedido. (Parágrafo Relacionado 1033)
634 "A Boa Nova foi igualmente anunciada aos mortos..." (1Pd 4,6). A descida aos
Infernos é o cumprimento, até sua plenitude, do anúncio evangélico da salvação. É a fase última
da missão messiânica de Jesus, fase condensada no tempo, mas imensamente vasta em sua
significação real de extensão da obra redentora a todos os homens de todos os tempos e de
todos os lugares, pois todos os que são salvos se tomaram participantes da Redenção.
(Parágrafo Relacionado 605)
635 Cristo desceu, portanto, no seio da terra, a fim de que "os mortos ouçam a voz do
Filho de Deus e os que a ouvirem vivam" (Jo 5,25). Jesus, "o Príncipe da vida", "destruiu pela morte
o dominador da morte, isto é, O Diabo, e libertou os que passaram toda a vida em estado de
servidão, pelo temor da morte" (Hb 2,5). A partir de agora, Cristo ressuscitado "detém a chave da
morte e do Hades" (Ap 1,18), e "ao nome de Jesus todo joelho se dobra no Céu, na Terra e nos
Infernos" (Fl 2,10).
Um grande silêncio reina hoje na terra, um grande silêncio e uma grande solidão. Um
grande silêncio porque o Rei dorme. A terra tremeu e acalmou-se porque Deus adormeceu na
carne e foi acordar os que dormiam desde séculos... Ele vai procurar Adão, nosso primeiro Pai, a
ovelha perdida. Quer ir visitar todos os que se assentaram nas trevas e à sombra da morte. Vai
libertar de suas dores aqueles dos quais é filho e para os quais é Deus: Adão acorrentado e Eva
com ele cativa. "Eu sou teu Deus, e por causa de ti me tornei teu filho. Levanta-te, tu que dormes,
pois não te criei para que fiques prisioneiro do Inferno: Levanta-te dentre os mortos, eu sou a Vida
dos mortos."
RESUMINDO
636 Na expressão "Jesus desceu à mansão dos mortos", o símbolo confessa que Jesus
morreu realmente e que, por sua morte por nós, venceu a morte e o Diabo, "o dominador da
morte. (Hb 2,14)
637 O Cristo morto, em sua alma unida à sua pessoa divina, desceu à Morada dos Mortos.
Abriu as portas do Céu aos justos que o haviam precedido.
PARÁGRAFO 2
NO TERCEIRO DIA RESSUSCITOU DOS MORTOS
638 "Anunciamo-vos a Boa Nova: a promessa, feita a nossos pais, Deus a realizou
plenamente para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus" (At 13,32-33). A Ressurreição de Jesus é a
verdade culminante de nossa fé em Cristo, crida e vivida como verdade central pela primeira
comunidade cristã, transmitida como fundamental pela Tradição, estabelecida pelos
documentos do Novo Testamento, pregada, juntamente com a Cruz, como parte essencial do
Mistério Pascal. (Parágrafos Relacionados 90,651,991)
Cristo ressuscitou dos mortos.
Por sua morte venceu a morte,
Aos mortos deu a vida[a16] .
I - O EVENTO HISTÓRICO E TRANSCENDENTE
639 O mistério da Ressurreição de Cristo é um acontecimento real que teve
manifestações historicamente constatadas, como atesta o Novo Testamento. Já São Paulo
escrevia aos Coríntios pelo ano de 56: "Eu vos transmiti... o que eu mesmo recebi: Cristo morreu
por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
Escrituras. Apareceu a Cefas, e depois aos Doze" (1Cor 15,3-4). O apóstolo fala aqui da viva
tradição da Ressurreição, que ficou conhecendo após sua conversão às portas de Damasco.
O TÚMULO VAZIO
640 "Por que procurais entre os mortos Aquele que vive? Ele não esta aqui; ressuscitou"
(Lc 24,5-6). No quadro dos acontecimentos da Páscoa, c primeiro elemento com que se depara
é o sepulcro vazio. Ele não constitui em si uma prova direta. A ausência do corpo de Cristo no
túmulo poderia explicar-se de outra forma. Apesar disso, o sepulcro vazio constitui para todos um
sinal essencial. Sua descoberta pelos discípulos foi o primeiro passo para o reconhecimento do
próprio fato da Ressurreição. Este é o caso das santas mulheres, em primeiro 1ugar, em seguida
de Pedro. "O discípulo que Jesus amava" (Jo 20,2) afirma que, ao entrar no túmulo vazio e ao
descobrir "os panos de linho no chão" (Jo 20,6), "viu e creu". Isto supõe que ele tenha constatado,
pelo estado do sepulcro vazio, que a ausência do corpo de Jesus não poderia ser obra humana
e que Jesus não havia simplesmente retomado a Vida terrestre, como tinha sido o caso de
Lázaro. (Parágrafo Relacionado 999)
AS APARIÇÕES DO RESSUSCITADO
641 Maria de Mágdala e as santas mulheres, que Vinham terminar de embalsamar o
corpo de Jesus, sepultado às pressas, devido à chegada do Sábado, na tarde da Sexta-feira
Santa, foram as primeiras a encontrar o Ressuscitado. Assim, as mulheres foram as primeiras
mensageiras da Ressurreição de Cristo para os próprios apóstolos. Foi a eles que Jesus apareceu
em seguida, primeiro a Pedro, depois aos Doze. Pedro, chamado a confirmar a fé de seus irmãos,
vê portanto, o Ressuscitado antes deles, e é baseada no testemunho dele que a comunidade
exclama: "E verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão" (Lc 24,34). (Parágrafos
Relacionados 553,448)
642 Tudo o que aconteceu nesses dias pascais convoca todos os apóstolos, de modo
particular Pedro, para a construção da era nova que começou na manhã de Páscoa. Como
testemunhas do Ressuscitado, são eles as pedras de fundação de sua Igreja. A fé da primeira
comunidade dos crentes tem por fundamento o testemunho de homens concretos, conhecidos
dos cristãos e, na maioria dos casos, vivendo ainda entre eles. Estas "testemunhas da Ressurreição
de Cristo" são, antes de tudo, Pedro e os Doze, mas não somente eles: Paulo fala claramente de
mais de quinhentas pessoas às quais Jesus apareceu de uma só vez, além de Tiago e de todos os
apóstolos. (Parágrafos Relacionados 659,881,860)
643 Diante desses testemunhos é impossível interpretar a Ressurreição de Cristo fora da
ordem física e não reconhecê-la como um fato histórico. Os fatos mostram que a fé dos
discípulos foi submetida à prova radical da paixão e morte na cruz de seu Mestre, anunciada
antecipadamente por Ele. O abalo provocado pela Paixão foi tão grande que os discípulos (pelo
menos alguns deles) não creram de imediato na notícia da ressurreição. Longe de nos falar de
uma comunidade tomada de exaltação mística, os Evangelhos nos apresentam discípulos
abatidos, "com o rosto sombrio" (Lc 24,17) e assustados. Por isso não acreditaram nas santas
mulheres que voltavam do sepulcro, e "as palavras delas pareceram-lhes desvario" (Lc 24,11[a34]
). Quando Jesus se manifesta aos onze na tarde da Páscoa, "censura-lhes a incredulidade e a
dureza de coração, porque não haviam dado crédito aos que tinham visto o Ressuscitado" (Mc
16,14).
644 Mesmo confrontados com a realidade de Jesus ressuscitado, os discípulos ainda
duvidam, a tal ponto que o fato lhes parece impossível: pensam estar vendo um espírito. "Por
causa da alegria, não podiam acreditar ainda e permaneciam perplexos" (Lc 24,41). Tomé
conhecerá a mesma provação da dúvida e quando da última aparição na Galiléia, contada
por Mateus, "alguns, porém, duvidaram" (Mt 28,17). Por isso, a hipótese segundo a qual a
ressurreição teria sido um "produto" da fé (ou da credulidade) dos apóstolos carece de
consistência. Muito pelo contrário, a fé que tinham na Ressurreição nasceu - sob a ação da
graça divina - da experiência direta da realidade de Jesus ressuscitado.
O ESTADO DA HUMANIDADE RESSUSCITADA DE CRISTO
645 Jesus ressuscitado estabelece com seus discípulos relações diretas, em que estes o
apalpam e com Ele comem. Convida-os, com isso, a reconhecer que Ele não é um espírito, mas
sobretudo a constatar que o corpo ressuscitado com o qual Ele se apresenta a eles é o mesmo
que foi martirizado e crucificado, pois ainda traz as marcas de sua Paixão. Contudo, este corpo
autêntico e real possui, ao mesmo tempo, as propriedades novas de um corpo glorioso: não está
mais situado no espaço e no tempo, mas pode tornar-se presente a seu modo, onde e quando
quiser, pois sua humanidade não pode mais ficar presa à terra, mas já pertence exclusivamente
ao domínio divino do Pai. Por esta razão também Jesus ressuscitado é soberanamente livre de
aparecer como quiser: sob a aparência de um jardineiro ou “de outra forma" (Mc 16,12),
diferente das que eram familiares aos discípulos, e isto precisamente para suscitar-lhes a fé.
(Parágrafo Relacionado 999)
646 A Ressurreição de Cristo não constituiu uma volta à vida terrestre, como foi o caso
das ressurreições que Ele havia realizado antes da Páscoa: a filha de Jairo, o jovem de Naim e
Lázaro. Tais fatos eram acontecimentos miraculosos, mas as pessoas contempladas pelos
milagres voltavam simplesmente à vida terrestre "ordinária" pelo poder de Jesus. Em determinado
momento, voltariam a morrer. A Ressurreição de Cristo é essencialmente diferente. Em seu corpo
ressuscitado, Ele passa de um estado de morte para outra vida, para além do tempo e do
espaço. Na Ressurreição, o corpo de Jesus é repleto do poder do Espírito Santo; participa da
vida divina no estado de sua glória, de modo que Paulo pode chamar a Cristo de "o homem
celeste". (Parágrafos Relacionados 934,549)
A RESSURREIÇÃO COMO ACONTECIMENTO TRANSCENDENTE
647 "Só tu, noite feliz "canta o Exsultet da Páscoa – “soubeste a hora em que Cristo da
morte ressurgia." Com efeito ninguém foi testemunha ocular do próprio acontecimento da
Ressurreição, e nenhum Evangelista o descreve. Ninguém foi capaz de dizer como ela se
produziu fisicamente. Muito menos sua essência mais íntima, sua passagem a outra vida, foi
perceptível aos sentidos. Como evento histórico constatável pelo sinal do sepulcro vazio e pela
realidade dos encontros dos apóstolos com Cristo ressuscitado, a Ressurreição nem por isso deixa
de estar no cerne do mistério da fé, no que ela transcende e supera a história. E por isso que
Cristo ressuscitado não se manifesta ao mundo mas a seus discípulos, "aos que haviam subido
com ele da Galiléia para Jerusalém, os quais são agora suas testemunhas diante do povo" (At
13,31). (Parágrafo Relacionado 1000)
II. A RESSURREIÇÃO - OBRA DA SANTÍSSIMA TRINDADE
648 A Ressurreição de Cristo é objeto de fé enquanto intervenção transcendente do
próprio Deus na criação e na história. Nela, as três Pessoas Divinas agem ao mesmo tempo,
juntas, e manifestam sua originalidade própria. Ela aconteceu pelo poder do Pai que "ressuscitou"
(At 2,24) Cristo, seu Filho, e desta forma introduziu de modo perfeito sua humanidade - com seu
corpo - na Trindade. Jesus é definitivamente revelado "Filho de Deus com poder por sua
Ressurreição dos mortos segundo o Espírito de santidade" (Rm 1,4). São Paulo insiste na
manifestação do poder de Deus pela obra do Espírito que vivificou a humanidade morta de
Jesus e a chamou ao estado glorioso de Senhor. (Parágrafos Relacionados 258,989,663,445,272)
649 O Filho opera, por sua vez, a própria Ressurreição em virtude de seu poder divino.
Jesus anuncia que o Filho do homem dever sofrer muito, morrer e, em seguida, ressuscitar
(sentido ativo da palavra). Alhures, afirma explicitamente: "Eu dou a minha vida para retomá-la...
Tenho poder de dá-la e poder para retomá-la" (Jo 10,17-18 "Nós cremos... que Jesus morreu, em
seguida ressuscitou" (1Ts 4,14).
650 Os Padres da Igreja contemplam a Ressurreição a partir da Pessoa Divina de Cristo
que ficou unida à sua alma e a seu corpo separados entre si pela morte: "Pela unidade da
natureza divina, que permanece presente em cada uma das duas partes do homem, estas se
unem novamente. Assim, a Morte se produz pela separação do composto humano, e a
Ressurreição, pela união das duas partes separadas[a51] " (Parágrafos Relacionados 626,1005)
III. SENTIDO E ALCANCE SALVÍFICO DA RESSURREIÇÃO
651 "Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia é também a vossa fé"
(1Cor 15,14). A Ressurreição constitui antes de mais nada a confirmação de tudo o que o próprio
Cristo fez e ensinou. Todas as Verdades, mesmo as mais inacessíveis ao espírito humano,
encontram sua justificação se, ao ressuscitar, Cristo deu a prova definitiva, que havia prometido,
de sua autoridade divina. (Parágrafos Relacionados 129,274)
652 A Ressurreição de Cristo é cumprimento das promessas do Antigo Testamento[a52] "
e do próprio Jesus durante sua vida terrestre. A expressão "segundo as Escrituras" indica que a
Ressurreição de Cristo realiza essas predições. (Parágrafos Relacionados 994,601)
653 A verdade da divindade de Jesus é confirmada por sua Ressurreição. Dissera Ele:
"Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que EU SOU, (Jo 8,28). A
Ressurreição do Crucificado demonstrou que ele era verdadeiramente "EU SOU", o Filho de Deus
e Deus mesmo. São Paulo pôde declarar aos judeus: "A promessa feita a nossos pais, Deus a
realizou plenamente para nós...; ressuscitou Jesus, como está escrito no Salmo segundo: 'Tu és o
meu filho, eu hoje te gerei” (At 13,32-33). A Ressurreição de Cristo está estreitamente ligada ao
mistério da Encarnação do Filho de Deus. E o cumprimento segundo o desígnio eterno de
Deus.(Parágrafos Relacionados 445,422,461)
654 Há um duplo aspecto no Mistério Pascal: por sua morte Jesus nos liberta do
pecado, por sua Ressurreição Ele nos abre as portas de uma nova vida. Esta é primeiramente a
justificação que nos restitui a graça de Deus, "a fim de que, como Cristo foi ressuscitado dentre os
mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova" (Rm 6,4). Esta consiste na vitória
sobre a morte do pecado e na nova participação na graça". Ela realiza a adoção filial, pois os
homens se tornam irmãos de Cristo, como o próprio Jesus chama seus discípulos após a
Ressurreição: “Ide anunciar a meus irmãos" (Mt 28,10). Irmãos não por natureza mas por dom da
graça, visto que esta filiação adotiva proporciona uma participação real na vida do Filho Único,
que se revelou plenamente em sua Ressurreição. (Parágrafos Relacionados 1987,1996)
655 Finalmente, a Ressurreição de Cristo - e o próprio Cristo ressuscitado - é princípio e
fonte de nossa ressurreição futura: "Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que
adormeceram... assim como todos morrem em Adão, em Cristo todos receberão a vida" (1Cor
15,20-22). Na expectativa desta realização, Cristo ressuscitado vive no coração de seus fiéis.
Nele, os cristãos "experimentaram... as forças do mundo que há de vir" (Hb 6,5) e sua vida é
atraída por Cristo ao seio da vida divina" "a fim de que não vivam mais para si mesmos, mas para
aquele que morreu e ressuscitou por eles" (2Cor 5,15). (Parágrafos Relacionados 989,1002)
RESUMINDO
656 A fé na Ressurreição tem por objeto um acontecimento ao mesmo tempo
historicamente atestado pelos discípulos que encontraram verdadeiramente o Ressuscitado e
misteriosamente transcendente, enquanto entrada da humanidade de Cristo na glória de Deus.
657 O sepulcro vazio e os panos de linho no chão significam por si mesmos que o corpo
de Cristo escapou às correntes da morte e da corrupção pelo poder de Deus. Eles preparam os
discípulos para o reencontro com o Ressuscitado.
658 Cristo, "primogênito dentre os mortos" (Cl 1,18), é o princípio de nossa própria
ressurreição, desde já pela justificação de nossa alma, mais tarde pela vivificação de nosso
corpo".
ARTIGO 6
"JESUS SUBIU AOS CÉUS, ESTÁ SENTADO ·
DIREITA DE DEUS PAI TODO-PODEROSO"
659 "E o Senhor Jesus, depois de ter-lhes falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à
direita de Deus" (Mc 9). O corpo de Cristo foi glorificado desde o instante de sua Ressurreição,
como provam as propriedades novas e sobrenaturais de que desfruta partir de agora seu corpo
em caráter permanente". Mas, durante os quarenta dias em que vai comer e beber
familiarmente com seus discípulos e instruí-los sobre o Reino sua glória permanece ainda velada
sob os traços de uma humanidade comum. A última aparição de Jesus termina com a entrada
irreversível de sua humanidade na glória divina, simbolizada pela nuvem e pelo céu onde já está
desde agora sentado à direita de Deus. Só de modo totalmente excepcional e único Ele se
mostrará a Paulo "como a um abortivo" (1 Cor 15,8) em uma última aparição que o constitui
apóstolo.(Parágrafos Relacionados 645,66,697,642)
660 O caráter velado da glória do Ressuscitado durante esse tempo transparece em
sua palavra misteriosa a Maria Madalena "Ainda não subi para o Pai. Mas vai aos meus irmãos e
dizer-lhes Eu subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus (Jo 20,17). Isso indica
uma diferença de manifestação entre a glória de Cristo ressuscitado e a de Cristo exaltado à
direita do Pai. O acontecimento ao mesmo tempo histórico e transcendente da Ascensão marca
a transição de uma para a outra.
661 Esta última etapa permanece intimamente unida à primeira, isto é, à descida do
céu realizada na Encarnação. Só aquele que "saiu do Pai" pode "retomar ao Pai": Cristo[a70] .
"Ninguém jamais subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem" (Jo
3,13). Entregue a suas forças naturais, a humanidade não tem acesso à "Casa do Pai" à vida e à
felicidade de Deus. Só Cristo pôde abrir esta porta ao homem, "de sorte que nós, seus membros,
tenhamos a esperança de encontrá-lo lá onde Ele, nossa cabeça e nosso princípio, nos
precedeu". (Parágrafos Relacionados 461,792)
662 "E, quando eu for elevado da terra, atrairei todos os homens a mim" (Jo 12,32). A
elevação na Cruz significa e anuncia a elevação da Ascensão ao céu. É o começo dela. Jesus
Cristo, o Único Sacerdote da nova e eterna Aliança, não "entrou em um santuário feito por mão
de homem... e sim no próprio céu, a fim de comparecer agora diante da face de Deus a nosso
favor" (Hb 9,24). No céu, Cristo exerce em caráter permanente seu sacerdócio, "por isso é capaz
de salvar totalmente aqueles que, por meio dele, se aproximam de Deus, visto que ele vive
eternamente para interceder por eles" (Hb 7,25). Como "sumo sacerdote dos bens vindouros" (Hb
9,11) ele é o centro é o ator principal da liturgia que honra o Pai nos Céus. (Parágrafos
Relacionados 1545,1137)
663 A partir de agora, Cristo está sentado à direita do Pai: "Por direita do Pai
entendemos a glória e a honra da divindade, onde aquele que existia como Filho de Deus antes
de todos os séculos como Deus e consubstancial ao Pai se sentou corporalmente depois de
encarnar-se e de sua carne ser glorificada" (Parágrafo Relacionado 648)
664 O sentar-se à direita do Pai significa a inauguração do Reino do Messias, realização
da visão do profeta Daniel no tocante ao Filho do Homem: "A Ele foram outorgados o império, a
honra e o reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram. Seu império é um império eterno
que jamais passará, e seu reino jamais será destruído" (Dn 7,14). A partir desse momento, os
apóstolos se tomaram as testemunhas do "Reino que não terá fim". (Parágrafo Relacionado 541)
RESUMINDO
665 A ascensão de Cristo assinala a entrada definitiva da humanidade de Jesus no
domínio celeste de Deus, donde voltará, mas que até lá o esconde aos olhos dos homens.
666 Jesus Cristo, Cabeça da Igreja, nos precede no Reino glorioso do Pai para que nós,
membros de seu Corpo, vivamos na esperança de estarmos um dia eternamente com Ele.
667 Tendo entrado uma vez por todas no santuário do céu, Jesus Cristo intercede sem
cessar por nós como mediador que nos garante permanentemente a efusão do Espírito Santo
ARTIGO 7
“DONDE VIRÁ JULGAR OS VIVOS E OS MORTOS"
I. ELE VOLTARÁ NA GLÓRIA
CRISTO JÁ REINA PELA IGREJA...
668 "Cristo morreu e reviveu para ser o Senhor dos mortos e dos vivos" (Rm 14,9). A
Ascensão de Cristo ao Céu significa sua participação, em sua humanidade, no poder e na
autoridade do próprio Deus. Jesus Cristo é Senhor: possui todo poder nos céus e na terra. Está
"acima de toda autoridade, poder, potentado e soberania", pois o Pai "tudo submeteu a seus pés
(Ef 1,20-22). Cristo é o Senhor do cosmo e da história. Nele, a história do homem e mesmo toda a
criação encontram sua "recapitulação"' sua consumação transcendente. (Parágrafos
Relacionados 450,518)
669 Como Senhor, Cristo é também a cabeça da Igreja, que é seu Corpo. Elevado ao
céu e glorificado, tendo assim cumprido plenamente sua missão, Ele permanece na terra em sua
Igreja. A redenção é a fonte da autoridade que Cristo, em Virtude do Espírito Santo, exerce
sobre a Igreja". O Reino de Cristo já está misteriosamente presente na Igreja", germe e início
deste Reino na terra. (Parágrafos Relacionados 792,1088,541)
670 Desde a Ascensão, o desígnio de Deus entrou em sua consumação. Já estamos na
"última hora" (1Jo 2,18)". “Portanto, a era final do mundo já chegou para nós, e a renovação do
mundo está irrevogavelmente realizada e, de certo modo, já está antecipada nesta terra. Pois já
na terra a Igreja se reveste de verdadeira santidade, embora imperfeita." O Reino de Cristo já
manifesta sua presença pelos sinais milagrosos que acompanham seu anúncio pela Igreja".
(Parágrafos Relacionados 1042,825,547)
À ESPERA DE QUE TUDO LHE SEJA SUBMETIDO
671 Já presente em sua Igreja, o Reino de Cristo ainda não está consumado "com
poder e grande glória" (Lc 21, 17) pelo advento do Rei na terra. Esse Reino é ainda atacado
pelos poderes maus, embora estes já tenham sido vencidos em suas bases pela Páscoa de
Cristo. Enquanto tudo não for submetido a ele, "enquanto não houver novos céus e nova terra,
nos quais habita a justiça, a Igreja peregrina leva consigo em seus sacramentos e em suas
instituições, que pertencem à idade presente, a figura deste mundo que passa, e ela mesma vive
entre as criaturas que gemem e sofrem como que dores de parto até o presente e aguardam a
manifestação dos filhos de Deus" Por este motivo os cristãos oram, sobretudo na Eucaristia, para
apressar a volta de Cristo, dizendo-lhe: "Vem, Senhor" (Ap 22,20). (Parágrafos Relacionados
1043,769,773,1043,2046,2817)
672 Cristo afirmou antes de sua Ascensão que ainda não chegara a hora do
estabelecimento glorioso do Reino messiânico esperado por Israel, que deveria trazer a todos os
homens, segundo os profetas a ordem definitiva da justiça, do amor e da paz. O tempo presente
é, segundo o Senhor, o tempo do Espírito e do testemunho mas é também um tempo ainda
marcado pela "tristeza" e pela provação do mal, que não poupa a Igreja e inaugura os
combates dos últimos dias. E um tempo de expectativa e de vigília. (Parágrafos Relacionados
732,2612)
O ADVENTO GLORIOSO DE CRISTO, ESPERANÇA DE ISRAEL
673 A partir da Ascensão, o advento de Cristo na glória é iminente, embora não nos
"caiba conhecer os tempos e os momentos que o Pai fixou com sua própria autoridade" (At1,7).
Este acontecimento escatológico pode ocorrer a qualquer momento,ainda que estejam "retidos"
tanto ele como a provação final que há de precedê-lo. (Parágrafos Relacionados 1040,1048)
674 A vinda do Messias glorioso depende a todo momento da história do
reconhecimento dele por "todo Israel". Uma parte desse Israel se "endureceu" (Rm 5) na
"incredulidade" (Rm 11,20) para com Jesus. São Pedro o afirma aos judeus de Jerusalém depois
de Pentecostes: "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, a fim de que sejam apagados os vossos
pecados e deste modo venham da face do Senhor os tempos de refrigério. Então enviará ele o
Cristo que vos foi destinado, Jesus a quem o céu deve acolher até os tempos da restauração de
todas as coisas, das quais Deus falou pela boca de seus santos profetas" (At 3,19-21). E São Paulo
lhe faz eco: "Se a rejeição deles resultou na reconciliação do mundo, O que será o acolhimento
deles senão a vida que vem dos mortos?" A entrada da "plenitude dos judeus" na salvação
messiânica, depois da "plenitude dos pagãos, dará ao Povo de Deus a possibilidade de "realizar
a plenitude de Cristo" (Ef 4, 13), na qual "Deus ser tudo em todos" (1Cor 15,28). (Parágrafos
Relacionados 840,58)
A PROVAÇÃO DERRADEIRA DA IGREJA
675 Antes do advento de Cristo, a Igreja deve passar por uma provação final que
abalar a fé de muitos crentes. A perseguição que acompanha a peregrinação dela na terra"
desvendará o "mistério de iniqüidade" sob a forma de uma impostura religiosa que há de trazer
aos homens uma solução aparente a seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A
impostura religiosa suprema é a do Anticristo, isto é, a de um pseudo-messianismo em que o
homem glorifica a si mesmo em lugar de Deus e de seu Messias que veio na carne.(Parágrafo
Relacionado 769)
676 Esta impostura anticrística já se esboça no mundo toda vez que se pretende
realizar na história a esperança messiânica que só pode realiza-se para além dela, por meio do
juízo escatológico: mesmo em sua forma mitigada, a Igreja rejeitou esta falsificação do Reino
vindouro sob o nome de milenarismo, sobretudo sob a forma política de um messianismo
secularizado, "intrinsecamente perverso".(Parágrafo Relacionado 2425)
677 A Igreja só entrará na glória do Reino por meio desta derradeira Páscoa, em que
seguirá seu Senhor em sua Morte e Ressurreição. Portanto, o Reino não se realizará por um
triunfo histórico da Igreja segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre
o desencadeamento último do mal, que fará sua Esposa descer do Céu. O triunfo de Deus sobre
a revolta do mal assumirá a forma do Juízo Final depois do derradeiro abalo cósmico deste
mundo que passa. (Parágrafos Relacionados 1340,2853)
II. PARA JULGAR OS VIVOS E OS MORTOS
678 Na linha dos profetas e de João Batista, Jesus anunciou em sua pregação o Juízo
do último Dia. Então será revelada a conduta de cada um e o segredo dos corações. Será
também condenada a incredulidade culpada que fez pouco caso da graça oferecida por
Deus. A atitude em relação ao próximo revelará o acolhimento ou a recusa da graça e do amor
divino Jesus dirá no último Dia: "Cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais
pequeninos, a mim o fizestes" (Mt 25,40). (Parágrafo Relacionado 1470)
679 Cristo é Senhor da Vida Eterna. O pleno direito de julgar definitivamente as obras e
os corações dos homens pertence a Ele enquanto Redentor do mundo. Ele "adquiriu" este direito
por sua Cruz. O Pai entregou "todo o julgamento ao Filho" (Jo 5,22). Ora, o Filho não veio para
julgar, mas para salvar e para dar a vida que está nele. É pela recusa da graça nesta vida que
cada um já se julga a si mesmo recebe de acordo com suas obras e pode até condenar-se
para a eternidade ao recusar o Espírito de amor. (Parágrafo Relacionado 1021)
RESUMINDO
680 Cristo Senhor já reina pela Igreja, mas ainda não lhe estão submetidas todas as
coisas deste mundo. O triunfo do Reino de Cristo não se dará sem uma última investida das
potências do mal.
681 No dia do juízo, por ocasião do fim do mundo, Cristo virá na glória para realizar o
triunfo definitivo do bem sobre o mal os quais, como o trigo e o joio, terão crescido juntos ao
longo da história.
682 Ao vir no fim dos tempos para julgar os vivos e os mortos, Cristo glorioso revelará a
disposição secreta dos corações e retribuirá a cada um segundo suas obras e segundo tiver
acolhido ou rejeitado sua graça.
CREIO NO ESPÍRITO SANTO
683 "Ninguém pode dizer ‘Jesus é Senhor’ a não ser no Espírito Santo" (1Cor 12,3). "Deus
enviou a nossos corações o Espírito de seu Filho que clama: Abbá, Pai!" (Gl 4,6). Este
conhecimento de fé só é possível no Espírito Santo Para estar em contato com Cristo, é preciso
primeiro ter sido tocado pelo Espírito Santo É ele que nos precede e suscita em nós a fé. Por nosso
Batismo, primeiro sacramento da fé, a Vida, que tem sua fonte no Pai e nos é oferecida no Filho,
nos é comunicada intimamente e pessoalmente pelo Espírito Santo na Igreja: (Parágrafos
Relacionados 424,2670,152)
O Batismo nos concede a graça do novo nascimento em Deus Pai por meio de seu
Filho no Espírito Santo Pois os que têm o Espírito de Deus são conduzidos ao Verbo, isto é, ao Filho;
mas o Filho os apresenta ao Pai, e o Pai lhes concede a incorruptibilidade. Portanto, sem o
Espírito não é possível ver o Filho de Deus, e sem o Filho ninguém pode aproximar-se do Pai, pois o
conhecimento do Pai é o Filho, e o conhecimento do Filho de Deus se faz pelo Espírito Santo.
(Parágrafo Relacionado 236)
684 Espírito Santo, por sua graça, é primeiro no despertar de nossa fé e na vida nova
que é "conhecer o Pai e aquele que Ele enviou, Jesus Cristo". Todavia, é último na revelação das
Pessoas da Santíssima Trindade. São Gregório Nazianzeno, "o Teólogo", explica esta progressão
pela pedagogia da "condescendência" divina: O Antigo Testamento proclamava
manifestamente o Pai, mais obscuramente o Filho. O Novo manifestou o Filho, fez entrever a
divindade do Espírito. Agora o Espírito tem direito de cidadania entre nós e nos concede uma
visão mais clara de si mesmo. Com efeito, não era prudente, quando ainda não se confessava a
divindade do Pai, proclamar abertamente o Filho e, quando a divindade do Filho ainda não era
admitida, acrescentar o Espírito Santo como um peso suplementar, para usarmos uma expressão
um tanto ousada... É por meio de avanços e de progressões "de glória em glória" que a luz da
Trindade resplenderá em claridades mais brilhantes.
685 Crer no Espírito Santo é, pois, professar que o Espírito Santo é uma das Pessoas da
Santíssima Trindade, consubstancial ao Pai e ao Filho, "e com o Pai e o Filho é adorado e
glorificado[a4] ". É por isso que se tratou do mistério divino do Espírito Santo na "teologia" trinitária.
Aqui, portanto, só se tratará do Espírito Santo na "Economia" divina. (Parágrafo Relacionado 236)
686 O Espírito Santo está em ação com o Pai e o Filho do início até a consumação do
Projeto de nossa salvação. Mas é nos “últimos tempos", inaugurados pela Encarnação redentora
do Filho que ele é revelado e dado, reconhecido e acolhido como Pessoa. Então este Projeto
Divino, realizado em Cristo, "Primogênito” e Cabeça da nova criação, poderá tomar corpo na
humanidade pelo Espírito difundido: a Igreja, a comunhão dos santos, a remissão dos pecados, a
ressurreição da carne, a Vida Eterna. (Parágrafo Relacionado 258)
Artigo 8
"CREIO NO ESPÍRITO SANTO"
687 "O que está em Deus, ninguém o conhece senão o Espírito de Deus" (1 Cor 2,11).
Ora, seu Espírito que o revela nos conhecer Cristo, seu Verbo, sua Palavra viva, mas não se revela
a si mesmo. Aquele que "falou pelos profetas" faz-nos ouvir a Palavra do Pai. Mas, ele mesmo, nós
não o ouvimos. Só o conhecemos no momento em que nos revela o Verbo e nos dispõe a
acolhê-lo na fé. O Espírito de Verdade que nos "desvenda o Cristo "não fala de si mesmo". Tal
apagamento, propriamente divino, explica por que "o mundo não pode acolhê-lo, porque não o
vê nem o conhece", enquanto os que crêem em Cristo o conhecem, porque ele permanece
com eles (Jo 14,17). (Parágrafo Relacionado 243)
688 A Igreja, comunhão viva na fé dos apóstolos, que ela transmite, é o lugar de nosso
conhecimento do Espírito Santo:
ü nas Escrituras que ele inspirou;
ü na Tradição, da qual os Padres da Igreja são as testemunhas sempre atuais;
ü no Magistério da Igreja, ao qual ele assiste;
ü na Liturgia sacramental, por meio de suas palavras e de seus símbolos, na qual o
Espírito Santo nos coloca em Comunhão com Cristo;
ü na oração, na qual Ele intercede por nós;
ü nos carismas e nos ministérios, pelos quais a Igreja é edificada;
ü nos sinais de vida apostólica e missionária;
ü no testemunho dos santos, no qual ele manifesta sua santidade e continua a obra da
salvação.
I. A MISSÃO CONJUNTA DO FILHO E DO ESPÍRITO
689 Aquele que o Pai enviou a nossos corações, o Espírito de seu Filho" é realmente
Deus. Consubstancial ao Pai e ao Filho, ele é inseparável dos dois, tanto na Vida íntima da
Trindade como em seu dom de amor pelo mundo. Mas ao adorar a Santíssima Trindade,
vivificante, consubstancial e indivisível, a fé da Igreja professa também a distinção das Pessoas.
Quando o Pai envia seu Verbo, envia sempre seu Sopro: missão conjunta em que o Filho e o
Espírito Santo são distintos, mas inseparáveis. Sem dúvida, é Cristo que aparece, ele, a Imagem
visível do Deus invisível; mas é o Espírito Santo que o revela. (Parágrafos Relacionados 24,254,485)
690 Jesus é Cristo, "ungido", porque o Espírito é a unção dele, e tudo o que advém a
partir da Encarnação decorre desta plenitude. Quando finalmente Cristo é glorificado, pode, por
sua vez, de junto do Pai, enviar o Espírito aos que crêem nele: comunica-lhes sua glória, isto é, o
Espírito Santo que o glorifica. A missão conjunta se desdobrar então nos filhos adotados pelo Pai
no Corpo de seu Filho: a missão do Espírito de adoção será uni-los a Cristo e fazê-los viver nele:
(Parágrafos Relacionados 436,788)
A noção da unção sugere... que não existe nenhuma distância entre o Filho e o
Espírito. Com efeito, da mesma forma que entre a superfície do corpo e a unção do óleo nem a
razão nem os sentidos conhecem nenhum intermediário, assim é imediato o contato do Filho
com o Espírito, tanto que, para aquele que vai tomar contato com o Filho pela fé é necessário
encontrar primeiro o óleo pelo contato. Com efeito não há nenhuma parte que esteja privada
do Espírito Santo Por isso a confissão do Senhorio do Filho se faz no Espírito Santo para os que a
recebem, vindo o Espírito de todas as partes precedendo os que se aproximam pela fé.
(Parágrafo Relacionado 448)
II. O NOME, AS DENOMINAÇÕES E OS SÍMBOLOS DO ESPÍRITO
O NOME PRÓPRIO DO ESPÍRITO SANTO
691 "Espírito Santo", este é o nome próprio daquele que adoramos e glorificamos com o
Pai e o Filho. A Igreja o recebeu do Senhor e o professa no Batismo de seus novos filhos O termo
“Espírito” traduz o termo hebraico "Ruah", o qual em seu sentido primeiro, significa sopro, ar,
vento. Jesus utiliza justamente a imagem sensível do vento para sugerir a Nicodemos a nossa
novidade transcendente daquele que é pessoalmente o Sopro de Deus, o Espírito divino. Por
outro lado, Espírito e Santo são atributos divinos comuns às três Pessoas Divinas. Mas ao juntar os
dois termos, a Escritura, a Liturgia e a linguagem teológica designam a Pessoa inefável do Espírito
Santo, sem equívoco possível com os outros empregos dos termos "espírito" e "santo". (Parágrafo
Relacionado 1433)
AS DENOMINAÇÕES DO ESPÍRITO SANTO
692 Ao anunciar e prometer a vinda do Espírito Santo, Jesus o denomina o "Paráclito",
literalmente: aquele que é chamado para perto de, "advocatus" (Jo 14,16.26; 15,26; 16,7).
“Paráclito” é habitualmente traduzido por "Consolador", sendo Jesus o primeiro consolador. O
próprio Senhor chama o Espírito Santo". Espírito de Verdade. ".
693 Além de seu nome próprio, que é o mais empregado nos Atos dos Apóstolos e nas
Epístolas, encontram-se em São Paulo as denominações: o Espírito da promessa (Gl 3,14; Ef 1,13),
o Espírito de adoção (Rm 8,15; Gl 4,6), o Espírito de Cristo (Rm 8,11), o Espírito do Senhor (2Cor
3,17), o Espírito de Deus (Rm 8,9.14;15,19; 1Cor 6,11;7,40) e, em São Pedro, o Espírito de glória (1Pd
4,14).
OS SÍMBOLOS DO ESPÍRITO SANTO
694 A água. O simbolismo da água é significativo da ação do Espírito Santo no Batismo,
pois após a invocação do Espírito Santo ela se torna a sinal sacramental eficaz do novo
nascimento: assim como a gestação de nosso primeiro nascimento se operou na água, da
mesma forma também a água batismal significa realmente que nosso nascimento para, a vida
divina nos é dado no Espírito Santo Mas "batizados em um só Espírito” também "bebemos de um
só Espírito" (1Cor 12,13): o Espírito é, pois também pessoalmente a água viva que jorra de Cristo
crucificado como de sua fonte e que em nós jorra em Vida Eterna. (Parágrafos Relacionados
1218,2652)
695 A unção. O simbolismo da unção com óleo também é significativo do Espírito
Santo, a ponto de tomar-se sinônimo dele. Na iniciação cristã, ela é o sinal sacramental da
confirmação, chamada com acerto nas Igrejas do Oriente de "crismação". Mas, para perceber
toda a força deste simbolismo, há que retomar à unção primeira realizada pelo Espírito Santo: a
de Jesus. Cristo ("Messias" a partir do hebraico) significa "Ungido" do Espírito de Deus. Houve
"ungidos" do Senhor na Antiga Aliança de modo eminente o rei Davi. Mas Jesus é o Ungido de
Deus de uma forma única: a humanidade que o Filho assume é totalmente "ungida do Espírito
Santo". Jesus é constituído "Cristo" pelo Espírito Santo A Virgem Maria concebe Cristo do Espírito
Santo, que pelo anjo o anuncia como Cristo por ocasião do nascimento dele e leva Simeão a vir
ao Templo para ver o Cristo do Senhor; é Ele que plenifica o Cristo é o poder dele que sai de
Cristo em seus atos de cura e de salvação. É finalmente Ele que ressuscita Jesus dentre os mortos.
Então, constituído plenamente "Cristo" em sua Humanidade vitoriosa da morte, Jesus difunde em
profusão o Espírito Santo até "os santos" constituírem, em sua união com a Humanidade do Filho
de Deus, "esse Homem perfeito... que realiza a plenitude de Cristo" (Ef 4, 13): "o Cristo total",
segundo a expressão de Santo Agostinho. (Parágrafos Relacionados 1293,436,1504,794)
696 O fogo. Enquanto a água significa o nascimento e a fecundidade da Vida dada no
Espírito Santo o fogo simboliza a energia transformadora dos atos do Espírito Santo O profeta Elias,
que "surgiu como um fogo cuja palavra queimava como uma tocha" (Eclo 48,1), por sua oração
atrai o fogo do céu sobre o sacrifício do monte Carmelo, figura do fogo do Espírito Santo que
transforma o que toca. João Batista, que caminha diante do Senhor com o espírito e o poder de
Elias” (Lc 1,17), anuncia o Cristo como aquele que "batizará com o Espírito Santo e com o fogo"
(Lc 3,16), esse Espírito do qual Jesus dirá "Vim trazer fogo à terra, e quanto desejaria que já
estivesse acesso (Lc 12,49). É sob a forma de línguas "que se diriam de fogo" o Espírito Santo
pousa sobre os discípulos na manhã de Pentecostes e os enche de Si[a31] . A tradição espiritual
manterá este simbolismo do fogo como um dos mais expressivos da ação do Espírito Santo Não
extingais o Espírito" (1Ts 5,19). (Parágrafos Relacionados 1127,2586,718)
697 A nuvem e a luz. Estes dois símbolos são inseparáveis nas manifestações do Espírito
Santo Desde as teofanias do Antigo Testamento, a Nuvem, ora escura, ora luminosa, revela o
Deus vivo e salvador, escondendo a transcendência de sua Glória: com Moisés sobre a
montanha do Sinai, na Tenda de Reunião e durante a caminhada no deserto; com Salomão por
ocasião da dedicação do Templo[. Ora, estas figuras são cumpridas por Cristo no Santo Espírito
Santo. É este que paira sobre a Virgem Maria e a cobre "com sua sombra", para que ela
conceba e dê à luz Jesus. No monte da Transfiguração, é ele que "sobrevêm na nuvem que
toma" Jesus, Moisés e Elias, Pedro, Tiago e João "debaixo de sua sombra"; da Nuvem sai uma voz
que diz: "Este é meu Filho, o Eleito, ouvi-o sempre" (Lc 9,34-35). É finalmente essa Nuvem que
"subtrai Jesus aos olhos" dos discípulos no dia da Ascensão e que o revelará Filho do Homem em
sua glória no Dia de sua Vinda. (Parágrafos Relacionados 484,554,659)
698 O selo é um símbolo próximo ao da unção. Com efeito, é Cristo que "Deus marcou
com seu selo" (Jo 6,27) e é nele que também o Pai nos marca com seu selo. Por indicar o efeito
indelével da unção do Espírito Santo nos sacramentos do batismo, da confirmação e da ordem,
a imagem do selo ("sphragis") tem sido utilizada em certas tradições teológicas para exprimir o
"caráter" indelével impresso por estes três sacramentos que não podem ser reiterados.
(Parágrafos Relacionados 1295,1296,1121)
699 A mão.
E impondo as mãos que Jesus cura os doentes e abençoa as criancinhas. Em nome dele,
os apóstolos farão o mesmo. Melhor ainda: é pela imposição das mãos dos apóstolos que o
Espírito Santo é dado. A Epístola aos Hebreus inclui a imposição das mãos entre os "artigos
fundamentais" de seu ensinamento. A Igreja conservou este sinal da efusão onipotente do Espírito
Santo em suas epicleses sacramentais. (Parágrafos Relacionados 292,1288,1300,1573,1668)
700 O dedo.
"E pelo dedo de Deus que (Jesus) expulsa os demônios." Se a Lei de Deus foi escrita em
tábuas de pedra "pelo dedo de Deus" (Ex 31,18), a "letra de Cristo", entregue aos cuidados dos
apóstolos" é escrita com o Espírito de Deus vivo não em tábuas de pedra, mas em tábuas de
carne, nos corações" (2Cor 3,3). O hino "Veni, Creator Spiritus" (Vem, Espírito criador) invoca o
Espírito Santo como "dedo da direita paterna" (digitus paternae dexterae). (Parágrafo
Relacionado 2056)
701 A pomba.
No fim do dilúvio (cujo simbolismo está ligado ao batismo), a pomba solta por Noé volta
com um ramo novo de oliveira no bico, sinal de que a terra é de novo habitável. Quando Cristo
volta a subir da água de seu batismo, o Espírito Santo, em forma de uma pomba, desce sobre Ele
e sobre Ele permanece. O Espírito desce e repousa no coração purificado dos batizados. Em
certas igrejas, a santa Reserva eucarística é conservada em um recipiente metálico em forma de
pomba (o columbarium) suspenso acima do altar. O símbolo da pomba para sugerir o Espírito
Santo é tradicional na iconografia cristã. (Parágrafos Relacionados 1219,535)
III. O ESPÍRITO E A PALAVRA DE DEUS NO TEMPO DAS PROMESSAS
702 Desde o começo até a "plenitude do tempo”, a missão conjunta do Verbo e do
Espírito do Pai permanece escondida, mas está em ação. O Espírito de Deus prepara aí o tempo
do Messias, e os dois, sem serem ainda plenamente revelados, já são prometidos, a fim de serem
esperados e acolhidos quando se manifestarem. E por isso que, quando a Igreja lê o Antigo
Testamento, procura nele o que o Espírito, "que falou pelos profetas (Simbolo de Niceno-
Constantinopolitano:DS 150), quer falar-nos a respeito de Cristo. (Parágrafos Relacionados
122,107)
Por "profetas", a fé da Igreja entende aqui todos aqueles que o Espírito Santo inspirou para
o anúncio de viva voz e na redação dos livros sagrados, tanto do Antigo como do Novo
Testamento. A tradição judaica distingue a Lei (os cinco primeiros livros ou Pentateuco), os
Profetas (nossos livros denominados históricos e proféticos) e os Escritos (sobretudo sapienciais, em
particular os Salmos). (Parágrafo Relacionado 243)
NA CRIAÇÃO
703 A Palavra de Deus e seu Sopro estão na origem do ser e da vida de toda criatura:
(Parágrafo Relacionado 292)
Ao Espírito Santo cabe reinar, santificar e animar a criação, pois é Deus consubstancial ao
Pai e ao Filho... A ele cabe o poder sobre a vida, pois, sendo Deus, ele conserva a criação no Pai
pelo Filho. (Parágrafo Relacionado 291)
704 "Quanto ao homem, Deus o modelou com as próprias mãos [isto é, o Filho e o
Espírito Santo] (...) e imprimiu na carne modelada sua própria forma, de modo que até o que
fosse visível tivesse a forma divina." (Parágrafo Relacionado 356)
O ESPÍRITO DA PROMESSA
705 Desfigurado pelo pecado e pela morte, o homem continua sendo "à imagem de
Deus", à imagem do Filho, mas é “privado da Glória de Deus", privado da "semelhança". A
promessa feita a Abraão o inaugura a Economia da salvação, no fim da qual o próprio Filho
assumirá "a imagem" e a restaurará na "semelhança" com o Pai, restituindo-lhe a Glória, o Espírito
"que dá a vida". (Parágrafos Relacionados 410,2809)
706 Contra toda esperança humana, Deus promete a Abraão a uma descendência,
como fruto da fé e do poder do Espírito Santo Nela serão abençoadas todas as nações da terra.
Esta descendência será Cristo, no qual a efusão do Espírito Santo fará "a unidade dos filhos de
Deus dispersos". Ao comprometer-se por juramento, Deus já se compromete a dar seu Filho bemamado
e "o Espírito da promessa... que prepara a redenção do Povo que Deus adquiriu para si".
(Parágrafo Relacionado 60)
NAS TEOFANIAS E NA LEI
707 As Teofanias (manifestações de Deus) iluminam o caminho da promessa, desde os
patriarcas até Moisés e de Josué até as visões que inauguram a missão dos grandes profetas. A
tradição cristã sempre reconheceu que, nessas Teofanias, o Verbo de Deus se fazia ver e ouvir,
revelado e ao mesmo tempo "oculto" na Nuvem do Espírito Santo.
708 Esta pedagogia de Deus aparece especialmente no dom da Lei, a qual foi dada
como um "pedagogo" para conduzir o Povo a Cristo. Mas sua impotência para salvar o homem
privado da "semelhança" divina e do conhecimento maior que ela dá do pecado suscitam o
desejo do Espírito Santo Os gemidos dos Salmos atestam isto. (Parágrafos Relacionados 1961-
1964,122,2585)
NO REINO E NO EXÍLIO
709 A Lei, sinal da promessa e da aliança, deveria ter regido o coração e as instituições
do povo nascido da fé de Abraão. "Se ouvirdes minha voz e guardardes minha aliança... sereis
para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa" (Ex 19,5-6). Mas, depois de Davi, Israel
sucumbe à tentação de tornar-se um reino como as demais nações. Ora, o Reino, objeto da
promessa feita a Davi, ser obra do Espírito Santo; ele pertencerá pobres segundo o Espírito.
(Parágrafos Relacionados 2579,544)
710 O esquecimento da Lei e a infidelidade à Aliança desembocam na morte: é o Exílio,
aparentemente fracasso das Promessas, mas, na realidade, fidelidade misteriosa do Deus
salvador e início de uma restauração prometida, mas segundo o Espírito. Era preciso que o Povo
de Deus sofresse essa purificação; o Exílio já traz a sombra da Cruz no Projeto de Deus, e o Resto
dos pobres que volta de lá é uma das figuras mais transparentes da Igreja.
A EXPECTATIVA DO MESSIAS E DE SEU ESPÍRITO
711 "Eis que vou fazer uma coisa nova" (Is 43,19): duas linhas proféticas vão desenhar-se,
uma levando para a espera do Messias, a outra para o anúncio de um Espírito Novo, e ambas
convergindo no pequeno Resto, o povo dos Pobres, que aguarda na esperança a "consolação
de Israel" e "a libertação de Jerusalém" (Lc 2,25.38). (Parágrafos relacionados 64,522).Vimos
anteriormente como Jesus realiza as profecias que lhe dizem respeito. Limitamo-nos aqui àquelas
em que aparece mais a relação entre o Messias e seu Espírito.
712 Os traços do rosto do Messias esperado começam aparecer no Livro do Emanuel
("quando Isaias teve a visão da Glória" de Cristo: Jo 12,41), em especial em Is 11,1-2: (Parágrafo
relacionado 439)
Um ramo sairá do tronco de Jessé,
um rebento brotará de suas raízes:
sobre ele repousará o espírito do Senhor,
espírito de sabedoria e de inteligência,
espírito de conselho e de fortaleza,
espírito de conhecimento e de temor do Senhor.
713 Os traços do Messias são revelados sobretudo nos cantos do Servo. Esses cantos
anunciam o sentido da Paixão de Jesus e indicam, assim, a maneira como ele derramará o
Espírito Santo para vivificar a multidão: não partindo de fora, mas desposando nossa "condição
de escravo" (Fl 2,7). Tomando sobre si nossa morte, ele pode comunicar-nos seu próprio Espírito
de vida. (Parágrafo relacionado 601)
714 É por isso que Cristo inaugura o anúncio da Boa Nova, fazendo sua esta passagem
de Isaias (Lc [a75] 4,18-19):
O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque ele me ungiu
para evangelizar os pobres;
curar aos de coração ferido;
enviou-me para proclamar a remissão aos presos,
e aos cegos a recuperação da vista,
para restituir a liberdade aos oprimidos
e para proclamar um ano de graça do Senhor.
715 Os textos proféticos diretamente referentes ao envio do Espírito Santo são oráculos
em que Deus fala ao coração de seu Povo na linguagem da promessa, com as tônicas do "amor
e da fidelidade"', cujo cumprimento São Pedro proclamará na manhã de Pentecostes. Segundo
essas promessas, nos "últimos tempos" o Espírito do Senhor renovará o coração dos homens,
gravando neles uma Lei Nova; reunirá e reconciliará os povos dispersos e divididos; transformará
a criação primeira; e Deus habitará nela com os homens na paz. (Parágrafos relacionados
214,1965)
716 O Povo dos "pobres" os humildes e os mansos, totalmente entregues aos desígnios
misteriosos de seu Deus, os que esperam a justiça não dos homens, mas do Messias - é finalmente
a grande obra da missão escondida do Espírito Santo durante o tempo das promessas para
preparar a vinda de Cristo. É a sua qualidade de coração, purificado e iluminado pelo Espírito,
que se exprime nos Salmos. Nesses pobres, o Espírito prepara para o Senhor "um povo bemdisposto”.
(Parágrafo relacionado 368)
IV. O ESPÍRITO DE CRISTO NA PLENITUDE DO TEMPO
JOÃO, PRECURSOR, PROFETA E BATISTA
717 “Houve um homem enviado por Deus. Seu nome era João” (Jo 1,6). João é "repleto
do Espírito Santo, ainda no seio de sua mãe" (Lc 1,15.41) por obra do próprio Cristo que a Virgem
Maria acabava de conceber do Espírito Santo A "visitação" de Maria a Isabel tomou-se, assim,
"visita de Deus ao seu povo. (Parágrafo relacionado 523)
718 João é "Elias que deve vir ": o Fogo do Espírito habita nele e o faz "correr adiante"
(na qualidade de “precursor”) do Senhor que vem. Em João, o Precursor, o Espírito Santo
concluía a obra de "preparar para o Senhor um povo bem-disposto" (Lc 1, 17). (Parágrafo
relacionado 696)
719 João é "mais do que um profeta". Nele, o Espírito Santo conclui a tarefa de "falar
pelos profetas". João encerra o ciclo dos profetas inaugurado por Elias. Anuncia a iminência da
Consolação de Israel, é a "voz" do Consolador que vem. Como fará o Espírito de Verdade, "ele
vem como testemunha, para dar testemunho da Luz" (Jo 1,7). Aos olhos de João o Espírito realiza,
assim, as "pesquisas dos profetas" e o “desejo" dos anjos:"Aquele sobre quem vires o Espírito
descer e permanecer é o que batiza com o Espírito Santo Eu vi e dou testemunho de que ele é o
Filho de Deus... Eis o Cordeiro de Deus" (Jo 1,33-36). (Parágrafos relacionados 2684,536)
720 Finalmente, com João Batista o Espírito Santo inaugura, prefigurando-o, o que
realizará com e em Cristo: restituirá ao homem "a semelhança" divina. O Batismo de João era
para o arrependimento, o Batismo da água e no Espírito será um novo nascimento. (Parágrafo
relacionado 535)
"ALEGRA-TE, CHEIA DE GRAÇA
721 Maria, a Mãe de Deus toda santa, sempre Virgem, é a obra prima da missão do
Filho e do Espírito na plenitude do tempo pela primeira vez no plano da salvação e porque o seu
Espírito a preparou, o Pai encontra a Morada em, que seu Filho e seu Espírito podem habitar entre
os homens. E neste sentido que a Tradição da Igreja muitas vezes leu, com relação a Maria, os
mais belos textos sobre a Sabedoria: Maria é decantada e representada na Liturgia como o
"trono da Sabedoria". Nela começam a manifestar-se as "maravilhas de Deus" que o Espírito vai
realizar em Cristo e na Igreja. (Parágrafo relacionado 484)
722 O Espírito Santo preparou Maria com sua graça. Convinha que fosse "cheia de
graça" a mãe daquele em quem "habita corporalmente a Plenitude da Divindade" (Cl 2,9). Por
pura graça, ela foi concebida sem pecado como a mais humilde das criaturas; a mais capaz de
acolher o Dom inefável do Todo-Poderoso. É com razão que o anjo Gabriel a saúda como a
"filha de Sião": "Alegra-te". É a ação de graças de todo o Povo de Deus, e portanto da Igreja, que
ela faz subir ao Pai no Espírito Santo em seu cântico, enquanto traz em si o Filho Eterno.
(Parágrafos relacionados 489,2676)
723 Em Maria, o Espírito Santo realiza o desígnio benevolente do Pai. É pelo Espírito Santo
que a Virgem concebe e dá à luz o Filho de Deus. Sua virgindade transforma-se em fecundidade
única pelo poder do Espírito e da fé. (Parágrafos relacionados 485,506)
724 Em Maria, o Espírito Santo manifesta o Filho do Pai tornado Filho da Virgem. Ela é a
Sarça ardente da Teofania definitiva: repleta do Espírito Santo, ela mostra o Verbo na humildade
de sua carne, e é aos Pobres e às primícias das nações que ela o dá a conhecer. (Parágrafos
relacionados 208,2619)
725 Finalmente, por Maria o Espírito Santo começa a pôr em Comunhão com Cristo os
homens, "objetos do amor benevolente de Deus", e os humildes são sempre os primeiros a
recebê-lo: os pastores, os magos, Simeão e Ana, os esposos de Caná e os primeiros discípulos.
(Parágrafo relacionado 963)
726 Ao final desta missão do Espírito, Maria torna-se a "Mulher", nova Eva, "mãe dos
viventes", Mãe do "Cristo total". É nesta qualidade que ela está presente com os Doze, “com um
só coração, assíduos à oração" (At 1,14), na aurora dos "últimos tempos" que o Espírito vai
inaugurar na manhã de Pentecostes, com a manifestação da Igreja. (Parágrafos relacionados
494,2618)
O CRISTO JESUS
727 Toda a missão do Filho e do Espírito Santo na plenitude do tempo está contida no
fato de o Filho ser o Ungido do Espírito do Pai desde a sua Encarnação: Jesus é o Cristo, o
Messias. Todo o segundo capitulo do Símbolo da fé deve ser lido sob esta luz. Toda a obra de
Cristo é missão conjunta do Filho e do Espírito Santo Aqui mencionaremos somente o que diz
respeito à promessa do Espírito Santo feita por Jesus e o dom do Espírito pelo Senhor glorificado.
(Parágrafos relacionados 438,695,536)
728 Jesus não revela plenamente o Espírito Santo enquanto Ele mesmo não é glorificado
por sua Morte e Ressurreição. Contudo, sugere-o pouco a pouco, mesmo em seus ensinamentos
às multidões, quando revela que sua Carne será alimento para a vida do mundo [a97] sugere-o
também a Nicodemos, à Samaritana e aos que participam da festa dos Tabernáculos. A seus
discípulos, fala dele abertamente a propósito da oração [a101] do testemunho que deverão dar.
(Parágrafo relacionado 2615)
729 É somente quando chega a Hora em que vai ser glorificado que Jesus promete a
vinda do Espírito Santo, pois sua Morte e Ressurreição serão o cumprimento da Promessa feita aos
Apóstolos[a103] : o Espírito de Verdade, o Paráclito, será dado pelo Pai a pedido de Jesus; Ele
será enviado pelo Pai em nome de Jesus; Jesus o enviará de junto do Pai, pois ele procede do
Pai. O Espírito Santo virá, nós o conheceremos, Ele estará conosco para sempre, Ele
permanecerá conosco; Ele nos ensinará tudo e nos lembrará de tudo o que Cristo nos disse, e
dele dará testemunho; conduzir-nos-á à verdade inteira e glorificará a Cristo. Quanto ao mundo,
confundi-lo-á em matéria de pecado, de justiça e de julgamento. (Parágrafos relacionados
388,1433)
730 Finalmente chega a Hora de Jesus. Jesus entrega seu espírito nas mãos do Pai
[a105] momento em que, por sua Morte, e, vencedor da morte, de maneira que, "ressuscitado
dos mortos pela Glória do Pai" (Rm 6,4), dá imediatamente o Espírito Santo, "soprando" sobre seus
discípulos. A partir dessa Hora, a missão de Cristo e do Espírito passa a ser a missão da Igreja:
"Como o Pai me enviou, também eu vos envio" (Jo 20,21). (Parágrafo relacionado 850)
V. O ESPÍRITO E A IGREJA NOS ÚLTIMOS TEMPOS
PENTECOSTES
731 No dia de Pentecostes (no fim das sete semanas pascais), a Páscoa de Cristo se
realiza na efusão do Espírito Santo, que é manifestado, dado e comunicado como Pessoa Divina:
de sua plenitude, Cristo, Senhor, derrama em profusão o Espírito. (Parágrafos relacionados
2623,767,1302)
732 Nesse dia é revelada plenamente a Santíssima Trindade. A partir desse dia, o Reino
anunciado por Cristo está aberto aos que crêem nele; na humildade da carne e na fé, eles
participam já da comunhão da Santíssima Trindade. Por sua vinda e ela não cessa, o Espírito
Santo faz o mundo entrar nos "últimos tempos", o tempo da Igreja, o Reino já recebido em
herança, mas ainda não consumado: (Parágrafos relacionados 244,672). Vimos a verdadeira Luz,
recebemos o Espírito celeste, encontramos a verdadeira fé: adoramos a Trindade indivisível, pois
foi ela quem nos salvou.
O ESPÍRITO SANTO - O DOM DE DEUS
733 "Deus é Amor" (1Jo 4,8.16). e o Amor é o primeiro dom. Ele contém todos os demais.
Este amor, "Deus o derramou em nossos corações pelo Espírito que nos foi dado" (Rm 5,5).
(Parágrafo relacionado 218)
734 Pelo fato de estarmos mortos, ou, pelo menos, feridos pelo pecado, o primeiro efeito
do dom do Amor é a remissão de nossos pecados. É a comunhão do Espírito Santo (2Cor 13,13)
que, na Igreja, restitui aos batizados a semelhança divina perdida pelo pecado. (Parágrafo
relacionado 1987)
735 Ele dá, então, o "penhor" ou as "primícias" de nossa Herança: a própria vida da
Santíssima Trindade, que é amar "como Ele nos amou". Este amor (a caridade de 1Cor 13) é o
princípio da vida nova em Cristo, possibilitada pelo fato de termos "recebido uma força, a do
Espírito Santo" (At 1,8). (Parágrafo relacionado 1822)
736 É por este poder do Espírito que os filhos de Deus podem (dar fruto. Aquele que nos
enxertou na verdadeira vida nos fará produzir "o fruto do Espírito, que é amor, alegria, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio" (Gl 5,22-23). "Se
vivemos pelo Espírito", quanto mais renunciarmos a nós mesmos, tanto mais "pelo Espírito
pautemos também a nossa conduta (Parágrafo relacionado 1832). Por estarmos em comunhão
com Ele, o Espírito Santo torna-nos espirituais, recoloca-nos no Paraíso, reconduz-nos ao Reino dos
Céus e à adoção filial, dá-nos a confiança de chamarmos Deus de Pai e de participarmos na
graça de Cristo, de sermos chamados filhos da luz e de termos parte na vida eterna.
O ESPÍRITO SANTO E A IGREJA
737 A missão de Cristo e do Espírito Santo realiza-se na Igreja, Corpo de Cristo e Templo
do Espírito Santo. Esta missão conjunta associa a partir de agora os fiéis de Cristo à sua
comunhão com o Pai no Espírito Santo: o Espírito prepara os homens, antecipa-se a eles por sua
graça, para atraí-los a Cristo. Manifesta-lhes o Senhor ressuscitado, lembra-lhes sua palavra,
abrindo-lhes o espírito à compreensão de sua Morte e Ressurreição. Torna-lhes presente o mistério
de Cristo, eminentemente na Eucaristia, a fim de reconciliá-los, de colocá-los em comunhão com
Deus, a fim de fazê-los produzir "muito fruto". (Parágrafos relacionados 787-798,1093-1109)
738 Assim, a missão da Igreja não é acrescentada à de Cristo e do Espírito Santo, senão
que é o Sacramento dela: por todo o seu ser e em todos os seus membros, a Igreja é enviada a
anunciar e testemunhar, atualizar e difundir o mistério da comunhão da Santíssima Trindade (a ser
tratado no próximo artigo): Nós todos, que recebemos o único e mesmo espírito, a saber, o
Espírito Santo, unimo-nos profundamente entre nós e com Deus. Pois embora sejamos numerosos
separadamente e embora Cristo faça com que o Espírito do Pai e o dele habite em cada um de
nós, este Espírito único e indivisível reconduz por si mesmo à unidade os que são distintos entre si...
e faz com que todos apareçam como uma só coisa nele mesmo. E, da mesma forma que o
poder da santa humanidade de Cristo faz com que todos aqueles em quem ela se encontra
formem um só corpo, penso que da mesma maneira o Espírito de Deus que habita em todos,
único e indivisível, os reconduz todos à unidade espiritual. (Parágrafos relacionados 850,777)
739 Por ser o Espírito Santo a unção de Cristo, é Cristo, a Cabeça do Corpo, que o
difunde em seus membros, para alimentá-los, curá-los, organizá-los em suas funções mútuas,
vivificá-los, enviá-los a testemunhar, associá-los,à sua oferta ao Pai e à sua intercessão pelo
mundo inteiro. É pelos sacramentos da Igreja que Cristo comunica aos membros de seu Corpo o
seu Espírito Santo e Santificador (a ser tratado na segunda parte do Catecismo). (Parágrafo
relacionado 1076)
740 Essas "maravilhas de Deus", oferecidas aos crentes nos sacramentos da Igreja,
produzem seus frutos na vida nova, em Cristo, segundo o Espírito (a ser tratado na terceira parte
do Catecismo).
741 "O Espírito socorre a nossa fraqueza, pois não sabemos o que seja conveniente
pedir; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis" (Rm 8,26). O Espírito Santo,
artífice das obras de Deus, é o Mestre da oração (a ser tratado na quarta parte do Catecismo).
RESUMINDO
742 "E, porque sois filhos, enviou Deus a nossos corações Espírito de seu Filho que clama:
Abbá, Pai" (Gl 4,6).
743 Desde o início até a consumação do tempo, quando Deus envia seu Filho, envia
sempre seu Espírito: a missão dos dois é conjunta e inseparável.
744 Na plenitude do tempo, o Espírito Santo realiza em Maria todas as preparações
para a vinda de Cristo no Povo de Deus. Pela ação do Espírito Santo nela, o Pai dá ao mundo o
Emanuel, "Deus-conosco" (Mt 1,23).
745 O Filho de Deus é consagrado Cristo (Messias) pela unção do Espírito Santo em sua
Encarnação.
746 Por sua Morte e Ressurreição, Jesus é constituído Senhor e Cristo na glória[a118] . De
sua Plenitude, derrama o Espírito Santo sobre os apóstolos e a Igreja.
747 O Espírito Santo que Cristo, Cabeça, derrama em seus membros constrói, anima e
santifica a Igreja. Ela é o sacramento da Comunhão da Santíssima Trindade e dos homens.
ARTIGO 9
"CREIO NA SANTA IGREJA CATÓLICA"
748 "Sendo Cristo a Luz dos Povos, este sacrossanto Sínodo, congregado no Espírito
Santo, deseja ardentemente anunciar o Evangelho a toda criatura e iluminar todos os homens
com a claridade de Cristo que resplandece na face da Igreja. " É com essas palavras que
começa a “Constituição dogmática sobre a Igreja" do Concílio Vaticano II. Com isso, o Concílio
mostra que o artigo de fé sobre a Igreja depende inteiramente dos artigos concernentes a Cristo
Jesus. A Igreja não tem outra luz senão a de Cristo; segundo uma imagem cara aos Padres da
Igreja, ela é comparável à lua, cuja luz toda é reflexo do sol.
749 O artigo sobre a Igreja depende também inteiramente do artigo sobre o Espírito,
que o precede. "Com efeito, após termos mostrado que o Espírito Santo é a fonte e o doador de
toda santidade, confessamos agora que foi Ele quem dotou a Igreja de Santidade. "Segundo a
expressão dos Padres, a Igreja é o lugar "onde floresce o Espírito".
750 Crer que a Igreja é "santa" e "católica" e que ela é "una" e "apostólica" (como
acrescenta o Símbolo niceno-constantinopolitano) é inseparável da fé em Deus Pai, Filho e
Espírito Santo No Símbolo dos Apóstolos, fazemos profissão de crer em uma Igreja Santa ("Credo...
Ecclesiam"), e não na Igreja, para não confundir Deus com suas obras e para atribuir claramente
à bondade de Deus todos os dons que ele pôs em sua Igreja. (Parágrafos relacionados 811,169)
PARÁGRAFO I
A IGREJA NO DESÍGNIO DE DEUS
I. AS DENOMINAÇÕES E AS IMAGENS DA IGREJA
751 A palavra "Igreja" ["ekklésia", do grego "ekkaléin" "chamar fora"] significa
"convocação". Designa assembléias do povo, geralmente de caráter religioso. É o termo
freqüentemente usado no Antigo Testamento grego para a assembléia do povo eleito diante de
Deus, sobretudo para a assembléia do Sinai, onde Israel recebeu a Lei e foi constituído por Deus
como seu Povo santo. Ao denominar-se "Igreja", a primeira comunidade dos que criam em Cristo
se reconhece herdeira dessa assembléia. Nela, Deus "convoca" seu Povo de todos os confins da
terra. O termo "Kyriakà", do qual deriva "Church", "Kirche", significa "a que pertence ao Senhor".
752 Na linguagem cristã, a palavra "Igreja" designa a assembléia litúrgica, mas também
a comunidade local ou toda a comunidade universal dos crentes. Esses três significados são
inseparáveis. "A Igreja" é o Povo que Deus reúne no mundo inteiro. Existe nas comunidades locais
e se realiza como assembléia litúrgica, sobretudo eucarística. Ela vive da Palavra e do Corpo de
Cristo e se torna, assim, Corpo de Cristo. (Parágrafos relacionados 1140,832,830)
Os SÍMBOLOS DA IGREJA
753 Na Sagrada Escritura, encontramos uma multidão de imagens e figuras interligadas,
pelas quais a revelação fala do mistério inesgotável da Igreja. As imagens tiradas do Antigo
Testamento constituem variações de uma idéia de fundo, a do “Povo de Deus". No Novo
Testamento, todas essas imagens entram um novo centro pelo fato de Cristo tornar-se "a
Cabeça” deste povo, que é, então, seu Corpo. Em torno deste centro agruparam-se imagens
"tiradas ou da vida pastoril ou da vida dos campos, ou do trabalho de construção ou da família e
do casamento". (Parágrafos relacionados 781,789)
754 "Com efeito, a Igreja é o redil, do qual Cristo é: a única e necessária porta. Ela é
também a grei, da qual o próprio Deus prenunciou que seria o pastor. Suas ovelhas, embora
governadas por pastores humanos, são, contudo, incessantemente conduzidas e alimentadas
pelo próprio Cristo, Bom Pastor e Príncipe dos pastores, que deu sua vida por suas ovelhas".
(Parágrafo relacionado 857)
755 "A Igreja é a lavoura ou campo de Deus (1 Cor 3,9). Nesse campo cresce a oliveira
antiga, cuja raiz santa foram os Patriarcas e em que foi feita e se fará a reconciliação dos judeus
e dos gentios. Ela foi plantada pelo celeste Viticultor como vinha eleita. Cristo é a verdadeira
Vide, que dá vida e fecundidade aos ramos, que dizer, a nós, que pela Igreja permanecemos
nele, sem o qual nada podermos fazer. (Parágrafo relacionado 795)
756 "Com freqüência a Igreja é também chamada de construção de Deus. O próprio
Senhor comparou-se à pedra que os construtores rejeitaram e se tornou a pedra angular (Mt
21,42 par.; At 4,11; 1 Pd 2,7; Sl 118,22). Sobre este fundamento a Igreja é construída pelos
apóstolos, e dele recebe firmeza e coesão. Essa construção recebe vários nomes: casa de Deus
(1 Tm 3,15) na qual habita sua família, morada de Deus no Espírito, tenda de Deus entre os
homens e principalmente templo santo, que, representado pelos santuários de pedra, é louvado
pelos santos Padres e, não sem razão, comparado na Liturgia com a Cidade santa, a nova
Jerusalém. Pois nela somos, nesta terra, como as pedras vivas que entram na construção. E João
contempla esta cidade santa que, na renovação do mundo, desce do céu, de junto de Deus,
adornada como uma esposa enfeitada para seu esposo (Ap 21,1-2). (Parágrafos relacionados
857,797,1045)
757 "A Igreja é chamada também de 'Jerusalém celeste' e 'nossa Mãe' (Gl 4,26). É
ainda descrita como a esposa imaculada do Cordeiro imaculado. Cristo 'amou-a e por Ela se
entregou, a fim de santificá-la' (Ef 5,26); associou-a a si por uma aliança indissolúvel e
incessantemente 'a nutre e dela cuida' (Ef 5,29)." (Parágrafos relacionados 507,796,1616)
II. ORIGEM, FUNDAÇÃO E MISSÃO DA IGREJA
758 Para perscrutar o mistério da Igreja, convém meditar primeiro sobre sua origem no
desígnio da Santíssima Trindade e sobre sua realização progressiva no curso da história.
(Parágrafo relacionado 257)
UM PROJETO NASCIDO NO CORAÇÃO DO PAI
759 "O Pai eterno, por libérrimo e arcano desígnio de sua sabedoria e bondade, criou
todo o universo; decidiu elevar os homens à comunhão da vida divina", à qual chama todos os
homens em seu Filho: "Todos os que crêem em Cristo, o Pai quis chamá-los a formarem a santa
Igreja". Esta "família de Deus" se constitui e se realiza gradualmente ao longo das etapas da
história humana, segundo as disposições do Pai. Com efeito, "desde a origem do mundo a Igreja
foi prefigurada. Foi admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na antiga aliança.
Foi fundada nos últimos tempos. Foi manifestada pela efusão do Espírito. E no fim dos tempos será
gloriosamente consumada". (Parágrafo relacionado 293)
A IGREJA PREFIGURADA DESDE A ORIGEM DO MUNDO
760 "O mundo foi criado em vista da Igreja", diziam os cristãos dos primeiros tempos.
Deus criou o mundo em vista da comunhão com sua vida divina, comunhão esta que se realiza
pela “convocação” dos homens em Cristo, e esta “convocação” é a Igreja. A Igreja é a
finalidade de todas as coisas, e as próprias vicissitudes dolorosas, como a queda dos anjos e o
pecado do homem, só foram permitidas por Deus como ocasião e meio para desdobrar toda a
força de seu braço, toda a medida de amor que Ele queria dar ao mundo: (Parágrafos
relacionados 294,309)
Assim como a vontade de Deus é um ato e se chama mundo, assim também sua intenção
é a salvação dos homens e se chama Igreja.
A IGREJA PREPARADA NA ANTIGA ALIANÇA
761 O congraçamento do povo de Deus começa no instante em que o pecado destrói
a comunhão dos homens com Deus e a dos homens entre si. A convocação da Igreja é por
assim dizer a reação de Deus ao caos provocado pelo pecado. Esta reunificação realiza-se
secretamente dentro de todos os povos: "Em qualquer nação, quem o teme e pratica a justiça
lhe é agradável" (At 10,35). (Parágrafo relacionado 55)
762 A preparação longínqua da reunião do Povo de Deus começa com a vocação de
Abraão, a quem Deus promete que será o pai de um grande povo. A preparação imediata tem
seus inícios com a eleição de Israel como povo de Deus. Por sua eleição, Israel deve ser o sinal do
congraçamento futuro de todas as nações. Mas já os profetas acusam Israel de ter rompido a
aliança e de ter-se comportado como uma prostituta. Anunciam uma nova e eterna Aliança.
"Esta Aliança Nova, Cristo a instituiu." (Parágrafos relacionados 122,522,60,84)
A IGREJA - INSTITUÍDA POR CRISTO JESUS
763 Cabe ao Filho realizar, na plenitude dos tempos, o plano de salvação de seu Pai.
Este é o motivo de sua "missão". "O Senhor Jesus iniciou sua Igreja pregando a Boa Nova, isto é, o
advento do Reino de Deus prometido nas Escrituras havia séculos." Para cumprir a vontade do
Pai, Cristo inaugurou o Reino dos Céus na terra. A Igreja "é o Reino de Cristo já misteriosamente
presente"'. (Parágrafo relacionado 541)
764 "Este Reino manifesta-se lucidamente aos homens na palavra, nas obras e na
presença de Cristo." Acolher a palavra de Jesus é "acolher o próprio Reino". O germe e o
começo do Reino são o "pequeno rebanho" (Lc 12,32) dos que Jesus veio convocar em torno de
si, dos quais ele mesmo é o pastor”. Eles constituem a verdadeira família de Jesus. Aos que assim
reuniu em torno dele, ensinou uma "maneira de agir" nova e também uma oração própria.
(Parágrafos relacionados 543,1691,2558)
765 O Senhor Jesus dotou sua comunidade de uma estrutura que permanecerá até a
plena consumação do Reino. Há antes de tudo a escolha dos Doze, com Pedro como seu
chefe. Representando as doze tribos de Israel, eles são as pedras de fundação da nova
Jerusalém. Os Doze e os outros discípulos participam da missão de Cristo, de seu poder, mas
também de sua sorte (cf. Mt 10, 25 ; Jo 15, 20) . Por meio de todos os esses atos, Cristo prepara e
constrói sua Igreja. (Parágrafos relacionados 551,860)
766 Mas a Igreja nasceu primeiramente do dom total de Cristo para nossa salvação,
antecipado na instituição da Eucaristia e realizado na Cruz. "O começo e o crescimento da
Igreja são significados pelo sangue e pela água que saíram do lado aberto de Jesus
crucificado." "Pois do lado de Cristo dormindo na Cruz é que nasceu o admirável sacramento de
toda a Igreja." Da mesma forma que Eva foi formada do lado de Adão adormecido, assim a
Igreja nasceu do coração traspassado de Cristo morto na Cruz. (Parágrafos relacionados
813,610,1340,617,478)
A IGREJA MANIFESTADA PELO ESPÍRITO SANTO
767 "Terminada a obra que o Pai havia confiado ao Filho para realizará na terra, foi
enviado o Espírito Santo no dia de Pentecostes para santificar a Igreja permanentemente." Foi
então que "a Igreja se manifestou publicamente diante da multidão e começou a difusão do
Evangelho com a pregação". Por ser "convocação" de todos os homens para a salvação, a
Igreja é, por sua própria natureza, missionária enviada por Cristo a todos os povos para fazer
deles discípulos. (Parágrafos relacionados 731,849)
768 Para realizar sua missão, o Espírito Santo "dota e dirige a Igreja mediante os diversos
dons hierárquicos e carismáticos. "Por isso a Igreja, enriquecida com os dons de seu Fundador e
empenhando-se em observar fielmente seus preceitos de caridade, humildade e abnegação,
recebeu a missão de anunciar o Reino de Cristo e de Deus e de estabelecê-lo em todos os
povos; deste Reino ela constitui na terra o germe e o início." (Parágrafo relacionado 541)
A IGREJA - CONSUMADA NA GLÓRIA
769 "A Igreja... só terá sua consumação na glória celeste quando do retomo glorioso de
Cristo. Até aquele dia, "a Igreja avança em sua peregrinação por meio das perseguições do
mundo e das consolações de Deus". Aqui na terra, sabe que está em exílio, longe do Senhor e
aspira ao advento pleno do Reino, "a hora em que ela será, 'na glória, reunida a seu Rei". A
consumação da Igreja e, por meio dela, a do mundo, na glória, não acontecerá sem grandes
provações. Só então "todos os justos, desde Adão, em seguida Abel, o justo, até o último eleito,
serão congregados junto do Pai na Igreja universal (Parágrafos relacionados 671,2818,675,1045)
III. O MISTÉRIO DA IGREJA
770 A Igreja está na história, mas ao mesmo tempo a transcende. É unicamente "com os
olhos da fé" que se pode enxergar em sua realidade visível, ao mesmo tempo, uma realidade
espiritual, portadora de vida divina. (Parágrafo relacionado 812)
A IGREJA - AO MESMO TEMPO VISÍVEL E ESPIRITUAL
771 "O Mediador único, Cristo, constituiu e incessantemente sustenta aqui na terra sua
santa Igreja, comunidade de fé, esperança e caridade, como um 'todo' visível pelo qual difunde
a verdade e a graça a todos." A Igreja é ao mesmo tempo: (Parágrafos relacionados
827,1880,954)
ü "sociedade provida de órgãos hierárquicos e Corpo Místico de Cristo;
ü assembléia visível e comunidade espiritual;
ü Igreja terrestre e Igreja enriquecida de bens celestes".
Essas dimensões constituem "uma só realidade complexa em que se funde o elemento
divino e humano": Caracteriza-se a Igreja por ser humana e ao mesmo tempo divina, visível, mas
ornada de dons invisíveis, operosa na ação e devotada à contemplação presente no mundo e,
no entanto, peregrina. E isso de modo que nela o humano se ordene divino e a ele se subordine,
o visível ao invisível, a ação à contemplação e o presente à cidade futura, que buscamos.
Ó humildade! Ó sublimidade! Tabernáculo de Cedar e santuário de Deus; morada terrestre
e palácio celeste; casa de barro e sala régia; corpo de morte e templo de luz; finalmente,
desprezo para os soberbos e esposa de Cristo! És negra, mas formosa, ó filha de Jerusalém: ainda
que desfigurada pelo labor e pelado longo exílio, a beleza celeste te adorna.
A IGREJA - MISTÉRIO DA ÚNICO DOS HOMENS COM DEUS
772 É na Igreja que Cristo realiza e revela seu próprio mistério como a meta do desígnio
de Deus: "Recapitular tudo nele” (Ef 1,10). São Paulo denomina de "grande mistério" (Ef 5,32) a
união esponsal entre Cristo e a Igreja. Por estar ela unida a Cristo como a seu Esposo, a própria
Igreja também se torna mistério. Contemplando nela o mistério, São Paulo exclama "Cristo em
vós, a esperança da glória" (Cl 1,27). (Parágrafos relacionados 518,796)
773 Na Igreja, esta comunhão dos homens com Deus pela "caridade que nunca
passará" (1 Cor 13,8) é a finalidade que comanda tudo o que nela é meio sacramental ligado ao
mundo presente que passa. Sua estrutura se ordena integralmente à santidade dos membros do
corpo místico de Cristo. E a santidade é medida segundo o 'grande mistério', em que a Esposa
responde com o dom do amor ao dom do Esposo. Maria nos precede a todos na santidade que
é o mistério da Igreja como "a Esposa sem mancha nem ruga". Por isso, "a dimensão marial da
Igreja antecede sua dimensão petrina". (Parágrafos relacionados 671,972)
A IGREJA - SACRAMENTO UNIVERSAL DA SALVAÇÃO
774 A palavra grega "mysterion" foi traduzida para o latim por dois termos: "mysterium" e
"sacramentum". Na interpretação ulterior, o termo "sacramentum" exprime mais o sinal visível da
realidade escondida da salvação, indicada pelo termo "mysterium". Neste sentido, Cristo mesmo
é o mistério da salvação: "Non est enim aliud Dei mysterium, Christus - Pois não existe outro
mistério de Deus a não ser Cristo[a78] ”. A obra salvífica de sua humanidade santa e santificante
é o sacramento da salvação que se manifesta e age nos sacramentos da Igreja (que as Igrejas
do Oriente denominam também "os santos mistérios"). Os sete sacramentos são os sinais e os
instrumentos pelos quais o Espírito Santo difunde a graça de Cristo, que é a Cabeça, na Igreja,
que é seu Corpo. A Igreja contém, portanto, e comunica a graça invisível que ela significa. É
neste sentido analógico que ela é chamada de "sacramento". (Parágrafos relacionados
1075,515,2014,1116)
775 "A Igreja é, em Cristo, como que o sacramento ou o sinal e instrumento da íntima
união com Deus e da unidade de todo o gênero humano." Ser o sacramento da união íntima dos
homens com Deus é o primeiro objetivo da Igreja. Visto que a comunhão entre os homens está
enraizada na união com Deus, a Igreja é também o sacramento da unidade do gênero
humano. Nela, esta unidade já começou, pois ela congrega homens "de toda nação, raça,
povo e língua" (Ap 7,9); ao mesmo tempo, a Igreja é "sinal e instrumento" da plena realização
desta unidade que ainda deve vir. (Parágrafo relacionado 360)
776 Como sacramento, a Igreja é instrumento de Cristo. "Nas mãos dele, ela é o
instrumento da Redenção de todos os homens " o sacramento universal da salvação" pelo qual
Cristo "manifesta e atualiza o amor de Deus pelos homens". Ela "é o projeto visível do amor de
Deus pela humanidade" que quer que o "gênero humano inteiro constitua o único povo de Deus,
se congregue no único Corpo de Cristo, seja construído no único templo do Espírito Santo".
(Parágrafo relacionado 1088)
RESUMINDO
777 A palavra "Igreja" significa "convocação". Designa a assembléia daqueles que a
Palavra de Deus convoca para formarem o Povo de Deus e que, alimentados pelo Corpo de
Cristo, se tornam Corpo de Cristo.
778 A Igreja é ao mesmo tempo caminho e finalidade do desígnio de Deus: prefigurada
na criação, preparada na Antiga Aliança, fundada pelas palavras e atos de Jesus Cristo,
realizada por sua Cruz redentora e por sua Ressurreição, ela é manifestada como mistério de
salvação pela efusão do Espírito Santo Será consuma na glória do céu como assembléia de
todos os resgatados da terra.
779 A Igreja é ao mesmo tempo visível e espiritual, sociedade hierárquica e Corpo
Místico de Cristo. Ela é una, formada de elemento humano e um elemento divino. Somente a fé
pode acolher este mistério.
780 A Igreja é no mundo presente o sacramento da salvação, o sinal e o instrumento da
comunhão de Deus e dos homens.
PARÁGRAFO 2 - A IGREJA -
POVO DE DEUS, CORPO DE CRISTO TEMPLO DO ESPÍRITO SANTO
I. A IGREJA - POVO DE DEUS
781 "Em qualquer época e em qualquer povo é aceito por Deus todo aquele que o teme
e pratica a justiça. Aprouve, contudo, a Deus santificar e salvar os homens não singularmente,
sem nenhuma conexão uns com os outros, mas constituí-los num povo, que o conhecesse na
verdade e santamente o servisse. Escolheu, por isso Israel como seu povo. Estabeleceu com ele
uma aliança e instruiu-o passo a passo... Tudo isso, porém, aconteceu em preparação e figura
para aquela nova e perfeita aliança que se estabeleceria em Cristo... Esta é a Nova Aliança, isto
é o Novo Testamento em seu sangue, chamando de entre judeus e gentios um povo que junto
crescesse na unidade, não segundo a carne, mas no Espírito.
AS CARACTERÍSTICAS DO POVO DE DEUS
782 O Povo de Deus tem características que o distinguem nitidamente de todos os
agrupamentos religiosos, étnicos, políticos ou culturais da história: (Parágrafo relacionado 871)
ü Ele é o Povo de Deus: Deus não pertence, como propriedade, a nenhum povo. Mas adquiriu
para si um povo dentre os que outrora não eram um povo: "Uma raça eleita, um sacerdócio
régio, uma nação santa" (1Pd 2,9). (Parágrafo relacionado 2787)
ü A pessoa torna-se membro deste povo não pelo nascimento físico, mas pelo "nascimento do
alto", "da água e do Espírito" (Jo 3,3-5), isto é, pela fé em Cristo e pelo Batismo. (Parágrafo
relacionado 1267)
ü Este povo tem por Chefe (Cabeça) Jesus Cristo (Ungido, Messias); pelo fato de a mesma
Unção, o Espírito Santo, fluir da Cabeça para o Corpo, ele é "o Povo messiânico”. (Parágrafo
relacionado 695)
ü A condição deste povo é a dignidade da liberdade dos filhos de Deus: nos corações deles,
como em um templo, reside o Espírito Santo (Parágrafo relacionado 1741)
ü "Sua lei é o mandamento novo de amar como Cristo mesmo nos amou[a87] .". É a lei "nova"
do Espírito Santo. (Parágrafo relacionado 1972)
ü Sua missão é ser o sal da terra e a luz do mundo. “Ele constitui para todo o gênero humano o
mais forte germe de unidade, esperança e salvação." (Parágrafo relacionado 849)
ü Finalmente, sua meta é "o Reino de Deus, iniciado na terra por Deus mesmo, Reino a ser
estendido mais e mais, até que, no fim dos tempos, seja consumado por Deus mesmo".
(Parágrafo relacionado 769)
UM POVO SACERDOTAL, PROFÉTICO E RÉGIO
783 Jesus Cristo é aquele que o Pai ungiu com o Espírito Santo e que constituiu "Sacerdote,
Profeta e Rei". O Povo de Deus inteiro participa dessas três funções de Cristo e assume as
responsabilidades de missão e de serviço que daí decorrem. (Parágrafos relacionados 436,873)
784 Ao entrar no Povo de Deus pela fé e pelo Batismo, recebe-se participação na
vocação única deste povo, em sua vocação sacerdotal: "Cristo Senhor, Pontífice tomado dentre
os homens, fez do novo povo 'um reino e sacerdotes para Deus Pai'. Pois os batizados, pela
regeneração e unção do Espírito Santo, são consagrados para ser uma morada espiritual e
sacerdócio santo. (Parágrafos relacionados 1268,1546)
785 "O povo santo de Deus participa também da função profética de Cristo." Isso se
verifica de modo particular pelo sentido sobrenatural da fé, que é de todo o povo, leigos e
hierarquia, apegando-se "indefectivelmente à fé uma vez para sempre transmitida aos santos", e
aprofunda a compreensão da mesma e torna-se testemunha de Cristo no meio deste mundo.
(Parágrafo relacionado 92)
786 O Povo de Deus participa finalmente da função régia de Cristo. Cristo exerce sua
realeza atraindo para si todos os homens por sua morte e Ressurreição. Cristo, Rei e Senhor do
universo, se fez servidor de todos, não veio "para ser servido, mas para servir e para dar sua vida
em resgate por muitos” (Mt 20,28). Para o cristão, "reinar é servir", particularmente "nos pobres e
nos sofredores, nos quais a Igreja reconhece a imagem de seu Fundador pobre e sofredor". O
povo de Deus realiza sua "dignidade régia" vivendo em conformidade com esta vocação de
servir com Cristo. (Parágrafos relacionados 2449,2443)
Todos os que renasceram em Cristo obtiveram, pelo sinal da cruz, a dignidade real e, pela
unção do Espírito Santo, receberam a consagração sacerdotal. Por isso, não obstante o serviço
especial do nosso ministério, todos os cristãos foram revestidos de um carisma espiritual que os
torna membros desta família de reis e deste povo de sacerdotes. Não será, na verdade, função
régia o fato de uma alma, submetida a Deus, governar seu corpo? E não será função sacerdotal
consagrar ao Senhor uma consciência pura e oferecer no altar do coração a hóstia imaculada
de nossa piedade?
II. A IGREJA - CORPO DE CRISTO
A IGREJA É COMUNHÃO COM JESUS
787 Desde o início, Jesus associou seus discípulos à sua vida revelou-lhes o Mistério do
Reino, deu-lhes participar de sua missão, de sua alegria e de seus sofrimentos. Jesus fala de uma
comunhão ainda mais íntima entre Ele e os que o seguiriam: “Permanecei em mim, como eu em
vós... Eu sou a videira, e vós os ramos" (Jo 15,4-5). E anuncia uma comunhão misteriosa e real
entre o seu próprio corpo e o nosso: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
permanece em mim e eu nele" (Jo 6,56). (Parágrafo relacionado 755)
788 Quando sua presença visível lhes foi tirada, Jesus não deixou seus discípulos órfãos.
Prometeu ficar com eles até o fim dos tempos, enviou-lhes seu Espírito. A comunhão com Jesus
tomou-se, de certa maneira, mais intensa: "Ao comunicar seu Espírito, fez de seus irmãos,
chamados de todos os povos, misticamente os componentes de seu próprio Corpo". (Parágrafo
relacionado 690)
789 A comparação da Igreja com o corpo projeta uma luz sobre os laços íntimos entre a
Igreja e Cristo. Ela não é somente congregada em torno dele; é unificada nele, em seu Corpo.
Cabe destacar mais especificamente três aspectos da Igreja-Corpo de Cristo: a unidade de
todos os membros entre si por sua união com Cristo; Cristo Cabeça do Corpo; a Igreja, Esposa de
Cristo. (Parágrafo relacionado 521)
"UM SÓ CORPO"
790 Os crentes que respondem à Palavra de Deus e se tornam membros do Corpo de
Cristo ficam estreitamente unidos a Cristo: "Neste corpo, a vida de Cristo se difunde por meio dos
crentes que os sacramentos, de forma misteriosa e real, unem a Cristo sofredor e glorificado" Isto
é particularmente verdade com relação ao Batismo, pelo qual somos unidos à morte e à
Ressurreição de Cristo, e com relação à Eucaristia, pela qual, "participando realmente do Corpo
de Cristo", "somos elevados à comunhão com ele e entre nós"' (Parágrafo relacionado
947,1227,1329)
791 A unidade do corpo não acaba com a diversidade dos membros: "Na edificação do
corpo de Cristo, há diversidade de membros e de funções. Um só é o Espírito que distribui dons
variados para o bem da Igreja segundo suas riquezas e as necessidades dos ministérios". A
unidade do Corpo Místico produz e estimula entre os fiéis a caridade: "Por isso), se um membro
sofre, todos os membros padecem com ele; ou, se um membro é honrado, todos os membros se
regozijam com ele". Finalmente, a unidade do Corpo Místico vence todas as divisões humanas:
"Todos vós, com efeito, que fostes batizados em Cristo, vos vestistes de Cristo. Não há judeu nem
grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo
Jesus" (Gl 3,27-28). (Parágrafos relacionados 814,1937)
"DESTE CORPO, CRISTO É A CABEÇA"
792 Cristo "é a Cabeça do Corpo que é a Igreja" (Cl 1,18) Ele é o Princípio da criação e da
redenção. Elevado na glória do Pai "Ele tem em tudo a primazia" (Cl 1,18), principalmente sobre
a Igreja, por meio da qual estende seu reino sobre todas as coisas. (Parágrafos relacionados
669,1119)
793 Ele nos une a sua Páscoa. Todos os membros devem esforçar-se por se assemelhar a
ele "até Cristo ser formado neles" (Gl 4,19). "Por isso somos inseridos nos mistérios de sua vida
associamo-nos a suas dores como o corpo à Cabeça, para que padecendo com ele, sejamos
com ele também glorificados. (Parágrafos relacionados 661,519)
794 Ele provê o nosso crescimento. Para fazer-nos crescer em direção a ele, nossa
Cabeça[a114] , Cristo ordena em seu corpo, a Igreja, os dons e os serviços pelos quais nós nos a
ajudamos mutuamente no caminho da salvação. (Parágrafo relacionado 872)
795 Cristo e a Igreja, eis, portanto, o "Cristo total" ("Christus totus"). A Igreja é una com
Cristo. Os Santos têm uma consciência bem viva desta unidade: (Parágrafo relacionado 695)
Alegremo-nos, portanto, e demos graças por nos termos tornado não somente cristãos,
mas o próprio Cristo. Compreendeis, irmãos, a graça que Deus nos concedeu ao dar-nos Cristo
como Cabeça? Admirai e rejubilai, nós nos tornamos Cristo. Com efeito, uma vez que Ele é a
Cabeça e nós somos os membros, o homem inteiro é constituído por Ele e por nós. A plenitude de
Cristo é, portanto, a Cabeça e os membros. O que significa isto: a Cabeça e os membros? Cristo
e a Igreja. Redemptor nos ter unam se personam cum sancta Eccies ia, quam assumpsit, exhibuit
- Nosso Redentor mostrou-se como uma só pessoa com a santa Igreja, que ele assumiu. Caput et
inembra sunt quasi una persona mystica - Cabeça e membros são como uma só pessoa mística.
(Parágrafo relacionado 1474)
Uma palavra de Santa Joana d'Arc a seus juizes resume a fé dos santos Doutores e exprime
o bom senso do crente: "Quanto a Jesus Cristo e à Igreja, parece-me que são uma só coisa e que
não se deve fazer objeções a isso.
A IGREJA É A ESPOSA DE CRISTO
796 A unidade entre Cristo e a Igreja, Cabeça e membros do Corpo, implica também a
distinção dos dois em uma relação pessoal. Este aspecto é muitas vezes expresso pela imagem
do Esposo e da Esposa. O tema de Cristo Esposo da Igreja foi preparado pelos Profetas e
anunciado por João Batista. O Senhor mesmo designou-se como "o Esposo" (Mc 2,19). O apóstolo
apresenta a Igreja e cada fiel, membro de seu Corpo, como uma Esposa "desposada" com Cristo
Senhor, para ser com Ele um só Espírito. Ela é a Esposa imaculada do Cordeiro imaculado, a qual
Cristo "amou, pela qual se entregou, a fim de santificá-la" (Ef 5,26), que associou a si por uma
Aliança eterna e da qual não cessa de cuidar como de seu próprio Corpo. (Parágrafos
relacionados 757,219,772,1602,1616)
Eis o Cristo total, Cabeça e Corpo, um só formado por muitos... Seja a cabeça a falar, seja
os membros, é sempre Cristo quem fala. Fala desempenhando o papel da Cabeça ["ex persona
capitis"], fala desempenhando o papel do Corpo ["ex persona corporis"]. Conforme o que está
escrito: "Serão dois em uma só carne. Eis um grande mistério: refiro-me a Cristo e à Igreja" (Ef 5,31-
32). E o Senhor mesmo diz no Evangelho: "Já não são dois, mas uma só carne" (Mt 19,6). Como
vistes, há de fato duas pessoas diferentes, e todavia elas constituem uma só coisa no amplexo
conjugal. Na qualidade de Cabeça ele se diz "Esposo", na qualidade de Corpo se diz "Esposa".
III. A IGREJA - TEMPLO DO ESPÍRITO SANTO
797 "Quod est spiritus noster, id est anima nostra, ad membra nostra, hoc est Spiritus Sanctus
ad membra Christi, ad corpus Christi, quod est Ecclesia - O que é o nosso espírito, isto é, a nossa
alma em relação a nossos membros, assim é o Espírito Santo em relação aos membros de Cristo,
ao corpo de Cristo que é a Igreja." "A este Espírito de Cristo, em princípio invisível, deve-se atribuir
também a união de todas as partes do Corpo tanto entre si como com sua Cabeça, pois ele
está todo na Cabeça, todo no Corpo e todo em cada um de seus membros." O Espírito Santo faz
da Igreja "o Templo do Deus Vivo" (2 Cor 6, 16): (Parágrafos relacionados 813,586)
"Com efeito, é à própria Igreja que foi confiado o Dom de Deus. É nela que foi depositada
a comunhão com Cristo, isto é, o Espírito Santo, penhor da incorruptibilidade, confirmação de
nossa fé e escada de nossa ascensão para Deus. Pois lá onde está a Igreja, ali também está o
Espírito de Deus; e lá onde está o Espírito de Deus, ali está a Igreja e toda graça".
798 O Espírito Santo é "o Princípio de toda ação vital e verdadeiramente salutar em cada
uma das diversas partes do Corpo". Ele opera de múltiplas maneiras a edificação do Corpo
inteiro na caridade: pela Palavra de Deus, "que tem o poder de edificar” (At 20,32); pelo Batismo,
por meio do qual forma o Corpo de Cristo; pelos sacramentos, que proporcionam crescimento e
cura aos membros de Cristo; pela "graça concedida aos apóstolos, que ocupa o primeiro lugar
entre seus dons"; pelas virtudes, que fazem agir segundo o bem; e, enfim, pelas múltiplas graças
especiais (chamadas de "carismas"), por meio das quais "torna os fiéis aptos e prontos a tomarem
sobre si os vários trabalhos e ofícios que contribuem para a renovação e maior incremento da
Igreja". (Parágrafos relacionados 737,1091-1109,791)
OS CARISMAS
799 Quer extraordinários quer simples e humildes, os carismas são graças do Espírito Santo
que, direta ou indiretamente, têm urna utilidade eclesial, pois são ordenados à edificação da
Igreja, ao bem dos homens e às necessidades do mundo. (Parágrafos relacionados 951,2003)
800 Os carismas devem ser acolhidos com reconhecimento por aquele que os recebe,
mas também por todos os membros da Igreja, pois são uma maravilhosa riqueza de graça para
a vitalidade apostólica e para a santidade de todo o Corpo de Cristo, contanto que se trate de
dons que provenham verdadeiramente do Espírito Santo e que sejam exercidos de maneira
plenamente conforme aos impulsos autênticos deste mesmo Espírito, isto é, segundo a caridade,
verdadeira medida dos carismas.
801 É neste sentido que se faz sempre necessário o discernimento dos carismas. Nenhum
carisma dispensa da reverência e da submissão aos Pastores da Igreja. "A eles em especial cabe
não extinguir o Espírito, mas provar as coisas e ficar com o que é bom”, a fim de que todos os
carismas cooperem, em sua diversidade e complementaridade, para o "bem comum" (1Cor
12,7). (Parágrafos relacionados 894,1905)
RESUMINDO
802 "Cristo Jesus entregou-se a si mesmo por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e
para purificar um povo que lhe pertence" (Tt 2,14)
803 "Vós sois uma raça eleita, um sacerdócio régio, uma nação santa, o Povo de sua
particular propriedade" (1 Pd 2,9).
804 Ingressa-se no Povo de Deus pela fé e pelo Batismo. "Todos os homens são chamados
a fazer parte do Povo de Deus", a fim de que, em Cristo, "os homens constituam uma só família e
um só Povo de Deus ".
805 A Igreja é o Corpo de Cristo. Pelo Espírito e pela ação deste nos sacramentos,
sobretudo a Eucaristia, Cristo morto e ressuscitado constitui a comunidade dos crentes como seu
Corpo.
806 Na unidade deste Corpo existe diversidade de membros e de junções. Todos os
membros estão ligados uns aos outros, particularmente aos que sofrem, são pobres e
perseguidos.
807 A Igreja é este Corpo do qual Cristo é a Cabeça: ela vive dele nele e por ele; ele vive
com ela e nela.
808 A Igreja é a Esposa de Cristo: ele a amou e entregou-se por ela. Purificou-a com seu
sangue. Fez dela a Mãe fecunda de todos os filhos de Deus.
809 A Igreja é o Templo do Espírito Santo O Espírito é como a alma do Corpo Místico,
princípio de sua vida, da unidade na diversidade e da riqueza de seus dons e carismas.
810 Desta maneira a Igreja universal aparece como `um povo que traz sua unidade' da
unidade do Pai."
A IGREJA É UNA, SANTA, CATÓLICA E APOSTÓLICA
811 Esta é a única Igreja de Cristo que, no Símbolo, confessamos una, santa, católica e
apostólica." Esses quatro atributos, inseparavelmente ligados entre [a2] si, indicam traços
essenciais da Igreja e de sua missão. A Igreja não os tem de si mesma; é Cristo que, pelo Espírito
Santo, dá a sua Igreja o ser una, santa, católica e apostólica, e é também ele que a convida a
realizar cada uma dessas qualidades. (Parágrafos relacionados 750,832,865)
812 Só a fé pode reconhecer que a Igreja recebe estas propriedades de sua fonte divina.
Mas as manifestações históricas delas constituem sinais que falam também com clareza à razão
humana. "A Igreja - lembra o Concílio Vaticano I -, em razão de sua santidade, de sua unidade
católica, de sua constância invicta, é ela mesma um grande e perpétuo motivo de credibilidade
e uma prova irrefutável de sua missão divina." (Parágrafos relacionados 156,770)
I- A IGREJA É UMA
"O MISTÉRIO SAGRADO DA UNIDADE DA IGREJA"
813 A Igreja é una por sua fonte: "Deste mistério, o modelo supremo e o princípio é a
unidade de um só Deus na Trindade de Pessoas, Pai e Filho no Espírito Santo". A Igreja é una por
seu Fundador: "Pois o próprio Filho encarnado, príncipe da paz, por sua cruz reconciliou todos os
homens com Deus, restabelecendo a união de todos em um só Povo, em um só Corpo". A Igreja
é una por sua "alma": "O Espírito Santo que habita nos crentes, que plenifica e rege toda a Igreja,
realiza esta admirável comunhão dos fiéis e os une tão intimamente em Cristo, que ele é o
princípio de Unidade da Igreja". Portanto, é da própria essência da Igreja ser una: (Parágrafos
relacionados 172,766,797)
Que estupendo mistério! Há um único Pai do universo, um único Logos do universo
e também um único Espírito Santo, idêntico em todo lugar; há também uma única virgem que se
tornou mãe, e me agrada chamá-la Igreja.
814 Contudo, desde a origem, esta Igreja una se apresenta com uma grande
diversidade, que provém ao mesmo tempo da variedade dos dons de Deus e da multiplicidade
das pessoas que os recebem. Na unidade do Povo de Deus se congregam as diversidades dos
povos e das culturas. Entre os membros da Igreja existe uma diversidade de dons, de encargos,
de condições e de modos de vida; "na comunhão eclesiástica há, legitimamente, Igrejas
particulares gozando de tradições próprias[a9] ". A grande riqueza desta diversidade não se
opõe à unidade da Igreja. Todavia, o pecado e o peso de suas conseqüências ameaçam sem
cessar o dom da unidade. Assim, o apóstolo tem de exortar a "conservar a unidade do Espírito
pelo vínculo da paz" (Ef 4,3). (Parágrafos relacionados 791,873,1202,832)
815 Quais são estes vínculos da unidade? "Sobre tudo isso [está] a caridade, que é o
vínculo da perfeição" (Cl 3,14). Mas a unidade da Igreja peregrinante é também assegurada por
vínculos visíveis de comunhão: (Parágrafos relacionados 1827,830,837)
ü profissão de uma única fé recebida dos Apóstolos (Parágrafo relacionado 173)
ü a celebração comum do culto divino, sobretudo dos sacramentos;
ü a sucessão apostólica, por meio do Sacramento da Ordem, que mantém a concórdia
fraterna da família de Deus.
816 "A única Igreja de Cristo (...) é aquela que nosso Salvador depois de sua
Ressurreição, entregou a Pedro para que fosse seu pastor e confiou a ele e aos demais Apóstolos
para propagá-la e regê-la... Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como uma
sociedade, subsiste na ( "subsistit in") Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos
Bispos em comunhão com ele":
O Decreto sobre o Ecumenismo, do Concílio Vaticano II, explicita: "Pois somente por
meio da Igreja católica de Cristo, 'a qual é meio geral de salvação', pode ser atingida toda a
plenitude dos meios de salvação. Cremos que o Senhor confiou todos os bens da Nova Aliança
somente ao Colégio Apostólico, do qual Pedro é o chefe, a fim de constituir na terra um só
Corpo de Cristo, ao qual é necessário que se incorporem plenamente todos os que, de que
alguma forma, já pertencem ao Povo de Deus". (Parágrafo relacionado 830)
AS FERIDAS DA UNIDADE
817 Na realidade, "nesta una e única Igreja de Deus, já desde os primórdios, surgiram
algumas cisões, que o Apóstolo censura com vigor como condenáveis. Dissensões mais amplas
nasceram nos séculos posteriores. Comunidades não pequenas separaram-se da plena
comunhão com a Igreja católica, por vezes não sem culpa de homens de ambas as partes". As
rupturas que ferem a unidade do Corpo de Cristo (distinguem-se a heresia, a apostasia e o
cisma) não acontecem sem os pecados dos homens: (Parágrafo relacionado 2089)
"Ubi peccata sunt, ibi multitudo, ibi schismata, ibi haereses, ibi discussiones. Ubi autem virtus,
ibi singularitas, ibi unio, ex quo omnium credentium erat cor unum et anima una. - Onde estão os
pecados, aí está a multiplicidade (das crenças), aí o cisma, aí as heresias, aí as controvérsias.
Onde, porém, está a virtude, aí está a unidade, aí a comunhão, em força disso, os crentes eram
um só coração e uma só alma."
818 Os que hoje em dia nascem em comunidades que surgiram de tais rupturas "e estão
imbuídos da fé em Cristo não podem ser argüidos de pecado de separação, e a Igreja católica
os abraça com fraterna reverência e amor... Justificados pela fé recebida no Batismo; estão
incorporados em Cristo, e por isso com razão são honrados com o nome de cristãos e
merecidamente reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor". (Parágrafo
relacionado 1271)
819 Além disso, "muitos elementos de santificação e de verdade existem fora dos limites
visíveis da Igreja católica": "A palavra escrita de Deus, a vida da graça, a fé, a esperança, a
caridade, outros dons interiores do Espírito Santo e outros elementos visíveis" O espírito de Cristo
serve-se dessas igrejas e comunidades eclesiais como meios de salvação cuja força vem da
plenitude de graça e de verdade que Cristo confiou à Igreja católica. Todos esses bens provêm
de Cristo e levam a Ele e chamam, por eles mesmos, para a "unidade católica".
RUMO À UNIDADE
820 A unidade, "Cristo a concedeu, desde o início, à sua Igreja, e nós cremos que ela
subsiste sem possibilidade de ser perdida na Igreja católica e esperamos que cresça, dia após
dia, até a consumação dos séculos". Cristo dá sempre à sua Igreja o dom da unidade, mas a
Igreja deve sempre orar e trabalhar para manter, reforçar e aperfeiçoar a unidade que Cristo
quer para ela. Por isso Jesus mesmo orou na hora de sua Paixão, e não cessa de orar ao Pai pela
unidade de seus discípulos: "... Que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que
eles esteja me nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste" (Jo 17,21). O desejo de
reencontrar a unidade de todos os cristãos é um dom de Cristo e convite do Espírito Santo.
(Parágrafo relacionado 2748)
821 Para responder adequadamente a este apelo, exigem-se:
ü uma renovação permanente da Igreja em uma fidelidade maior à sua vocação. Esta
renovação é a mola do movimento rumo à unidade.
ü a conversão do coração, "com vistas a viver mais puramente segundo o Evangelho",
pois e a infidelidade dos membros ao dom de Cristo que causa as divisões; (Parágrafo
relacionado 827)
ü a oração em comum, pois "a conversão do coração e a santidade de vida, juntamente
com as preces particulares e públicas pela unidade dos cristãos, devem ser consideradas a alma
de todo o movimento ecumênico e, com razão, podem ser chamadas de ecumenismo
espiritual"; (Parágrafo relacionado 2791)
ü conhecimento fraterno recíproco,
ü a formação ecumênica dos fiéis e especialmente dos presbíteros;
ü diálogo entre os teólogos e os encontros entre os cristãos diferentes Igrejas e
comunidades;
ü a colaboração entre cristãos nos diversos campos do serviço aos homens.
822 A preocupação de realizar a união "diz respeito à Igreja inteira, fiéis e pastores". Mas é
preciso também "ter consciência de que este projeto sagrado, a reconciliação de todos os
cristãos na unidade de uma só e única Igreja de Cristo, ultrapassa as forças e as capacidades
humanas". Por isso depositamos toda a nossa esperança "na oração de Cristo pela Igreja, no
amor do Pai por nós e no poder do Espírito Santo".
II. A IGREJA É SANTA
823 "A Igreja... é, aos olhos da fé, indefectivelmente santa. pois Cristo, Filho de Deus, que
com o Pai e o Espírito Santo é proclamado o 'único Santo', amou a Igreja como sua Esposa. Por
ela se entregou com o fim de santificá-la. Uniu-a a si como seu corpo e cumulou-a com o dom
do Espírito Santo, para a glória de Deus." A Igreja é, portanto, "o Povo santo de Deus", e seus
membros são chamados "santos. (Parágrafos relacionados 459,796,946)
824 A Igreja, unida a Cristo, é santificada por Ele; por Ele e nele torna-se também
santificante. Todas as obras da Igreja tendem, como seu fim, "à santificação dos homens em
Cristo e à glorificação de Deus". É na Igreja que está depositada "a plenitude dos meios de
salvação". É nela que "adquirimos a santidade pela graça de Deus". (Parágrafo relacionado 816)
825 "Já na terra a Igreja está ornada de verdadeira santidade, embora imperfeita." Em
seus membros, a santidade perfeita ainda é coisa a adquirir: "Munidos de tantos e tão salutares
meios, todos os cristãos, de qualquer condição ou estado, são chamados pelo Senhor, cada um
por seu caminho, à perfeição da santidade pela qual é perfeito o próprio Pai ". (Parágrafos
relacionados 670,2013)
826 A caridade é a alma da santidade à qual todos são chamados. Ela "dirige todos os
meios de santificação, dá-lhes forma e os conduz ao fim". (Parágrafos relacionados 1827,2658)
"Compreendi que a Igreja tinha um corpo, composto de diferentes membros, não
lhe faltava o membro mais nobre e mais necessário (o coração). Compreendi que a Igreja tinha
um Coração, e que este Coração ARDIA de AMOR. Compreendi que só o amor fazia os
membros da Igreja agirem, que, se o Amor viesse a se apagar, os Apóstolos não anunciariam
mais o Evangelho, os Mártires se recusariam a derramar seu sangue... Compreendi que O AMOR
ENCERRAVA TODAS AS VOCAÇÕES, QUE O AMOR ERA TUDO QUE ELE ABRAÇAVA TODOS OS
TEMPOS E TODOS LUGARES... EM UMA PALAVRA, QUE ELE É ETERNO!” (Parágrafo relacionado 864)
827 "Mas enquanto Cristo, 'santo, inocente, imaculado', não conheceu o pecado, mas
veio apenas para expiar os pecados do povo, a Igreja, reunindo em seu próprio seio os
pecadores ao mesmo tempo santa e sempre necessitada de purificar-se, busca sem cessar a
penitência e a renovação." Todos os membros da Igreja, inclusive seus ministros, devem
reconhecer-se pecadores. Em todos eles o joio do pecado continua ainda mesclado ao trigo do
Evangelho até o fim dos tempos. A Igreja reúne, por-tanto, pecadores alcançados pela salvação
de Cristo, mas ainda em via de santificação. (Parágrafos relacionados 1425-1429,821)
A Igreja é santa, mesmo tendo pecadores em seu seio, pois não possui outra vida
senão a da graça: é vivendo de sua vida que seus membros se santificam; é subtraindo-se à vida
dela que caem pecados e nas desordens que impedem a irradiação da santidade dela. É por
isso que ela sofre e faz penitência por essas faltas das quais tem o poder de curar seus filhos, pelo
sangue de Cristo e pelo dom do Espírito Santo.
828 Ao canonizar certos fiéis, isto é, ao proclamar solene que esses fiéis praticaram
heroicamente as virtudes e viveram na fidelidade à graça de Deus, a Igreja reconhece o poder
do Espírito de santidade que está em si e sustenta a esperança dos fiéis, propondo-os como
modelos e intercessores. "Os santos e as santas sempre foram fonte e origem de renovação nas
circunstâncias mais difíceis da história da Igreja." Com efeito, "a santidade é a fonte secreta e a
medida infalível de sua atividade apostólica e de seu elã missionário". (Parágrafos relacionados
1173,2045)
829 "Enquanto na beatíssima Virgem a Igreja já atingiu a perfeição, pela qual existe
sem mácula e sem ruga, os cristãos ainda se esforçam por crescer em santidade, vencendo o
pecado. Por isso elevam seus olhos a Maria" ela, a Igreja é já a toda santa. (Parágrafos
relacionados 1172,972)
A IGREJA É CATÓLICA
QUE QUER DIZER "CATÓLICO"?
830 A palavra "católico" significa "universal" no sentido de segundo a totalidade" ou
"segundo a integralidade". A Igreja é católica em duplo sentido. Ela é católica porque nela Cristo
está presente. "Onde está Cristo Jesus, está a Igreja católica." Nela subsiste a plenitude do Corpo
de Cristo unido à sua Cabeça o que implica que ela recebe dele "a plenitude dos meios de
salvação" que ele quis: confissão de fé correta e completa, vida sacramental integral e ministério
ordenado na sucessão apostólica. Neste sentido fundamental, a Igreja era católica no dia de
Pentecostes e o será sempre, até o dia da Parusia. (Parágrafos relacionados 795,815-816)
831 Ela é católica porque é enviada em missão por Cristo à universalidade do gênero
humano. (Parágrafo relacionado 849)
Todos os homens são chamados a pertencer ao novo Povo de Deus. Por isso este Povo,
permanecendo uno e único, deve estender-se a todo o mundo e por todos os tempos, para que
se cumpra, o desígnio da vontade de Deus, que no início formou uma natureza humana e
finalmente decretou congregar seus filhos que estavam dispersos... Este caráter de universalidade
que marca o Povo de Deus é um dom do próprio Senhor, pelo qual a Igreja Católica, de maneira
eficaz e perpétua, tende a recapitular toda a humanidade com todos os seus bens sob Cristo
Cabeça, na unidade do seu Espírito. (Parágrafos relacionados 360,518)
CADA IGREJA PARTICULAR É "CATÓLICA”
832 "Esta Igreja de Cristo está verdadeiramente presente em todas as legitimas
comunidades locais de fiéis que, unidas a seus pastores, são também elas, no Novo Testamento,
chamadas “Igrejas”... Nelas os fiéis são reunidos pela pregação do Evangelho de Cristo, nelas se
celebra o mistério da Ceia do Senhor... Nessas comunidades, embora muitas vezes pequenas e
pobres, ou vivendo na dispersão, está presente Cristo, por cuja virtude se constitui a Igreja una,
santa, católica e apostólica." (Parágrafos relacionados 814,811)
833 Entende-se por Igreja particular, o que é, em primeiro lugar, a diocese (ou a eparquia),
uma comunidade de fiéis cristãos em comunhão na fé e nos sacramentos com seu Bispo
ordenado na sucessão apostólica. Essas Igrejas particulares "são formadas à imagem da Igreja
universal; é nelas e a partir delas que existe a Igreja católica una e única" (Parágrafo relacionado
886)
834 As Igrejas particulares são plenamente católicas pela comunhão com uma delas: a
Igreja de Roma, "que preside à caridade". "Pois com esta Igreja, em razão de sua origem mais
excelente, deve necessariamente concordar cada Igreja, isto é, os fiéis de toda parte." "Com
efeito, desde a descida a nós do Verbo Encarnado, todas as Igrejas cristãs de toda parte
consideraram e continuam considerando a grande Igreja que está aqui [em Roma] como única
base e fundamento, visto que, segundo as próprias promessas do Salvador, as portas do inferno
nunca prevaleceram sobre ela." (Parágrafos relacionados 882,1369)
835 "Guardemo-nos bem, no entanto, de conceber a Igreja universal como sendo a
somatória, ou, se preferir dizê-lo, a federação mais ou menos anômala de Igrejas particulares
essencialmente diversas. No pensamento do Senhor, é a Igreja, universal por vocação e por
missão, que, ao lançar suas raízes na variedade dos terrenos culturais, sociais e humanos, se
reveste em cada parte do mundo de aspectos e de expressões exteriores diversas. A rica
variedade de disciplinas eclesiásticas, de ritos litúrgicos, de patrimônios teológicos espirituais
próprios das Igrejas locais "mostra mais luminosamente a catolicidade da Igreja indivisa, por sua
convergência na unidade. (Parágrafo relacionado 1202)
QUEM PERTENCE · IGREJA CATÓLICA?
836 "Todos os homens, pois, são chamados a esta católica unidade do Povo de Deus, que
prefigura e promove a paz universal. A ela pertencem ou são ordenados de modos diversos quer
os fiéis católicos, quer os outros crentes em Cristo, quer, enfim, os homens em geral, chamados à
salvação pela graça de Deus (Parágrafo relacionado 831)
837 "São incorporados plenamente à sociedade, que é a Igreja, os que, tendo o Espírito de
Cristo, aceitam a totalidade de sua organização e todos os meios de salvação nela instituídos e
em sua estrutura visível - regida por Cristo por meio do Sumo Pontífice e dos Bispos se unem com
Ele pelos vínculos da profissão de fé, dos sacramentos, do regime eclesiástico e da comunhão.
Contudo não se salva, embora esteja incorporado à Igreja, aquele que, não perseverando na
caridade, permanece dentro da Igreja 'com o corpo', mas não 'com o coração.” (Parágrafos
relacionados 771,882,815)
838 Por muitos títulos a Igreja sabe-se ligada aos batizados que são ornados com o nome
cristão, mas não professam na íntegra a fé ou não guardam a unidade da comunhão sob o
Sucessor de Pedro." “Aqueles que crêem em Cristo e foram devidamente batizados estão
constituídos em certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja católica." Com as Igrejas
ortodoxas, esta comunhão é tão profunda "que falta bem pouco para que ela atinja a plenitude
que autoriza uma celebração comum da Eucaristia do Senhor". (Parágrafos relacionados
818,1271,1399)
A IGREJA E OS NÃO-CRISTÃOS
839 "Os que ainda não receberam o Evangelho também se ordenam por diversos modos
ao Povo de Deus." (Parágrafo relacionado 856)
A relação da Igreja com o Povo Hebreu. A Igreja, Povo de Deus na Nova Aliança,
descobre, ao perscrutar seu próprio ministério, seus vínculos com o Povo Hebreu" a quem Deus
falou em primeiro lugar". Ao contrário das outras religiões não-cristãs, a fé hebraica já é resposta
à revelação de Deus na Antiga Aliança. É ao Povo Hebreu que "pertencem a adoção filial, a
glória, as alianças, a legislação, o culto, as promessas e os patriarcas, dos quais descende Cristo,
segundo a carne” (Rm 9,4-5), pois "os dons e o chamado de Deus são sem arrependimento" (Rm
11, 29). (Parágrafos relacionados 63,147)
840 De resto, quando se considera o futuro, o povo de Deus da Antiga Aliança e o novo
Povo de Deus tendem para fins análogos: a espera da vinda (ou da volta) do Messias. Mas o que
se espera é do lado dos cristãos, a volta do Messias, morto e ressuscitado, reconhecido como
Senhor e Filho de Deus, e do lado dos hebreus, a vinda do Messias - cujos traços permanecem
encobertos -, no fim dos tempos, espera esta acompanhada do drama da ignorância ou do
desconhecimento de Cristo Jesus. (Parágrafos relacionados 674,597)
841 As relações da Igreja com os muçulmanos. "Mas o plano de salvação abrange
também aqueles que reconhecem o Criador. Entre eles, em primeiro lugar, os muçulmanos, que,
professando manter a fé de Abraão, adoram conosco o Deus único, misericordioso, juiz dos
homens no último dia."
842 O vínculo da Igreja com as religiões não-cristãs é primeiramente o da origem e do fim
comuns do gênero humano: (Parágrafo relacionado 360)
Com efeito, todos os povos constituem uma só comunidade. Têm uma origem comum,
visto que Deus fez todo o gênero humano habitar a face da terra. Têm igualmente um único fim
comum, Deus, cuja providência, testemunhos de bondade e planos de salvação abarcam a
todos, até os eleitos se reunirem na Cidade Santa[a73] .
843 A Igreja reconhece nas outras religiões a busca, “ainda nas sombras e sob imagens",
do Deus desconhecido, mas próximo, pois é Ele quem dá a todos vida, respiração e tudo o mais,
e porque quer que todos os homens sejam salvos. Assim, a Igreja considera tudo o que pode
haver de bom e de verdadeiro nas religiões "como uma preparação evangélica dada por
Aquele que ilumina todo homem para que, finalmente, tenha a vida". (Parágrafos relacionados
28,856)
844 Em seu comportamento religioso, porém, os homens mostram também limitações e
erros que desfiguram neles a imagem de Deus: (Parágrafo relacionado )
Muitas vezes os homens, enganados pelo Maligno, se enganaram em seus pensamentos e
trocaram a verdade de Deus pela mentira, servindo à criatura mais que ao Criador, ou, vivendo
e morrendo sem Deus neste mundo, se expõem ao extremo desespero. (Parágrafo relacionado
29)
845 É para reunir novamente todos os seus filhos - que o pecado dispersou e desgarrou
que o Pai quis convocar toda a humanidade na Igreja de seu Filho. A Igreja é o lugar em que a
humanidade deve reencontrar sua unidade e sua salvação. Ela é "o mundo reconciliado". Ela é
esse navio que "navega bem neste mundo ao sopro do Espírito Santo com as velas da Cruz do
Senhor plenamente desfraldadas". Segundo outra imagem cara aos Padres da Igreja, ela é
figurada pela Arca de Noé, a única que salva do dilúvio. (Parágrafos relacionados 30,953,1219)
"FORA DA IGREJA NÃO HÁ SALVAÇÃO"
846 Como entender esta afirmação, com freqüência repetida pelos Padres da Igreja?
Formulada de maneira positiva, ela significa que toda salvação vem de Cristo-Cabeça por meio
da Igreja, que é seu Corpo:
Apoiado na Sagrada Escritura e na Tradição, [o Concílio] ensina que esta Igreja peregrina
é necessária para a salvação. O único mediador e caminho da salvação é Cristo, que se nos
torna presente em seu Corpo, que é a Igreja. Ele, porém, inculcando com palavras expressas a
necessidade da fé e do batismo, ao mesmo tempo confirmou a necessidade da Igreja, na qual
os homens entram pelo Batismo, como que por uma porta. Por isso não podem salvar-se aqueles
que, sabendo que a Igreja católica foi fundada por Deus por meio de Jesus Cristo como
instituição necessária, apesar disso não quiserem nela entrar ou nela perseverar. (Parágrafos
relacionados 161,1257)
847 Esta afirmação não visa àqueles que, sem culpa, desconhecem Cristo e sua Igreja:
"Aqueles, portanto, que sem culpa ignoram o Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas buscam a
Deus com coração sincero e tentam, sob o influxo da graça, cumprir por obras a sua vontade
conhecida por meio do ditame da consciência podem conseguir a salvação eterna”.
848 "Deus pode, por caminhos dele conhecidos, levar à fé todos os homens que sem
culpa própria ignoram o Evangelho. Pois 'sem a fé é impossível agradar-lhe'. Mesmo assim, cabe
à Igreja o dever e também o direito sagrado de evangelizar " todos os homens. (Parágrafo
relacionado 1260)
A MISSÃO UMA EXIGÊNCIA DA CATOLICIDADE DA IGREJA
849 O mandato missionário. "Enviada por Deus às nações para ser 'o sacramento universal
da salvação', a Igreja, em virtude das exigências intimas de sua própria catolicidade e
obedecendo à ordem de seu fundador, esforça-se para anunciar o Evangelho a todos os
homens. "Ide, portanto, e fazei que todos os povos se tomem discípulos, batizando-os em nome
do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-os a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que
estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mt 28,19-20). (Parágrafos
relacionados 738,767)
850 A origem e o escopo da missão. O mandato missionário Senhor tem sua fonte última
no amor eterno da Santíssima Trindade: "A Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária. Pois
ela se origina da missão do Filho e da missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus Pai". E
o fim último da missão não é outro senão fazer os homens participarem da comunhão que existe
entre o Pai e o Filho em seu Espírito de amor. (Parágrafos relacionados 257,730)
851 O motivo da missão. É do amor de Deus por todos os homens que a Igreja sempre tirou
a obrigação e a força de seu clã missionário: "Pois o amor de Cristo nos impele..." (2Cor5,14).
Com efeito, "Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da
verdade" (1Tm 2,4). Deus quer a salvação de todos pelo conhecimento da verdade. A salvação
está na verdade. Os que obedecem à moção do Espírito de verdade já estão no caminho da
salvação; mas a Igreja, a quem esta verdade foi confiada, deve ir ao encontro de seu anseio,
levando-lhes a mesma verdade. Ela tem de ser missionária porque crê no projeto universal de
salvação. (Parágrafos relacionados 221,429,74,217,2104,890)
852 Os caminhos da missão. "O Espírito Santo é o protagonista de toda a missão eclesial ." É
ele quem conduz a Igreja pelos caminhos da missão. "Esta missão, no decurso da história,
continua e desdobra a missão do próprio Cristo, enviado a evangelizar os pobres. Eis por que a
Igreja, impelida pelo Espírito de Cristo, deve trilhar a mesma senda de Cristo, isto é, o caminhos
da pobreza, da obediência, do serviço e da imolação de si até a, morte, da qual Ele saiu
vencedor por sua Ressurreição." É assim que "o sangue dos mártires é uma semente de
cristãos".(Parágrafos relacionados 2044,2473)
853 Mas em sua peregrinação "não ignora a Igreja o quanto se distanciam entre si a
mensagem que ela profere e a fraqueza humana daqueles aos quais o Evangelho foi confiado".
Somente avançando pelo caminho "da penitência e da renovação" e "pela porta estreita da
Cruz" o Povo de Deus pode estender o Reino de Cristo. Com efeito, "assim como Cristo consumou
a obra da redenção na pobreza e na perseguição, assim a Igreja é chamada a seguir o mesmo
caminho, a fim de comunicar aos homens os frutos da salvação" (Parágrafos relacionados
1428,2443)
854 Por sua própria missão, "a Igreja caminha com a humanidade inteira. Experimenta
com o mundo a mesma sorte terrena; é como o fermento e a alma da sociedade humana a ser
renovada em Cristo e transformada na família de Deus". O esforço missionário exige, pois, a
paciência. Começa pelo anúncio do Evangelho aos povos e aos grupos que ainda não crêem
em Cristo; prossegue no estabelecimento de comunidades cristãs que sejam "sinais da presença
de Deus no mundo[" e na fundação de Igrejas locais; encaminha um processo de inculturação
para encarnar o Evangelho nas culturas dos povos; e não deixará de conhecer também
fracassos. “Quanto aos homens, sociedades e povos, apenas gradualmente os atinge e penetra,
e assim os assume na plenitude católica." (Parágrafos relacionados 2105,204)
855 A missão da Igreja exige o esforço rumo à unidade dos cristãos. Efetivamente, "as
divisões entre cristãos impedem a Igreja de realizar a plenitude da catolicidade que lhe é própria
naqueles filhos que, embora lhe pertençam pelo batismo, estão separados da plena comunhão
com ela. Não só isso, mas também para a própria Igreja se torna tanto mais difícil exprimir, na
realidade de sua plena catolicidade sob todos os aspectos". (Parágrafo relacionado 821)
856 A tarefa missionária implica um diálogo respeitoso com os que ainda não aceitam o
Evangelho. Os fiéis podem tirar proveito para si mesmos deste diálogo, aprendendo a conhecer
melhor “tudo quanto de verdade e de graça já se achava entre as nações, numa como que
secreta presença de Deus". Se anunciam a Boa Nova aos que a desconhecem, é para
consolidar, completar e elevar a verdade e o bem que Deus difundiu entre os homens e os povos
e para purificá-los do erro e do mal, "para a glória de Deus, a confusão do demônio e a
felicidade do homem''. (Parágrafos relacionados 839,843)
IV. A IGREJA É APOSTÓLICA
857 A Igreja é apostólica por ser fundada sobre os apóstolos, e isto em um tríplice sentido:
(Parágrafo relacionado 75)
ü ela foi e continua sendo construída sobre "o fundamento dos apóstolos" (Ef 2,20),
testemunhas escolhidas e enviadas em missão pelo próprio Cristo;
ü ela conserva e transmite, com a ajuda do Espírito que ela habita, o ensinamento, o
depósito precioso, as salutares palavras ouvidas da boca dos apóstolos; (Parágrafo relacionado
171)
ü ela continua a ser ensinada, santificada e dirigida pelos apóstolos até a volta de Cristo,
graças aos que a eles sucedem na missão pastoral: o colégio dos bispos, "assistido pelos
presbíteros, em união com o sucessor de Pedro, pastor supremo da Igreja ". (Parágrafos
relacionados 880,1575)
"Pastor eterno, vós não abandonais o rebanho, mas o guardais constantemente pela
proteção dos Apóstolos. E assim a Igreja é conduzida pelos mesmos pastores que pusestes à sua
frente como representantes de vosso Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso".
A MISSÃO DOS APÓSTOLOS
858 Jesus é o Enviado do Pai. Desde o início de seu ministério "chamou a si os que quis, e
dentre eles escolheu Doze para estarem com ele e para enviá-los a pregar" (Mc 3,13-14). A partir
daquela hora eles serão os seus "enviados" (é o que significa a palavra grega "apóstolo"). Neles
continua a sua própria missão: "Como o Pai me enviou, eu também vos envio" (Jo 20,21). Seu
ministério é, portanto, a continuação de sua própria missão: "Quem vos recebe a mim recebe",
diz ele aos Doze (Mt 10,40). (Parágrafos relacionados 551,425,1086)
859 Jesus associa-os à missão que recebeu do Pai: como "o Filho não pode fazer nada por
si mesmo" (Jo 5,19.30), mas recebe tudo do Pai que o enviou, assim os que Jesus envia nada
podem fazer sem. ele, de quem recebem o mandato de missão e o poder de exercê-lo. Os
Apóstolos de Cristo sabem, portanto, que são qualificados por Deus como "ministros de Uma
aliança nova" (2Cor 3,6), "ministros de Deus" (2Cor 6,4), "embaixadores de Cristo" (2Cor 5,20),
"servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus" (1 Cor 4,1). (Parágrafo relacionado
876)
860 No encargo dos Apóstolos, há um aspecto não-transmissível: serem as testemunhas
escolhidas da Ressurreição do Senhor e os fundamentos da Igreja. Mas h também um aspecto
permanente de seu ofício. Cristo prometeu-lhes ficar com eles até o fim dos tempos. "Esta missão
divina confiada por Cristo aos Apóstolos deverá durar até o fim dos século que o Evangelho que
eles devem transmitir é para a Igreja, em todos os tempos, a fonte de toda vida. Por esta razão os
apóstolos cuidaram de instituir sucessores[." (Parágrafos relacionados 642,765,1536)
OS BISPOS, SUCESSORES DOS APÓSTOLOS
861 "Para que a missão a eles confiada fosse continuada após sua morte, confiaram a seus
cooperadores imediatos, como que por testamento, o múnus de completar e confirmar a obra
iniciada por eles, recomendando-lhes que atendessem a todo o rebanho no qual o Espírito Santo
os instituíra para apascentar a Igreja de Deus. Constituíram, pois, tais varões e administraram-lhes,
depois, a ordenação a fim de que, quando eles morressem outros homens íntegros assumissem
seu ministério." (Parágrafos relacionados 77,1087)
862 "Assim como permanece o múnus que o Senhor concedeu singularmente a Pedro, o
primeiro dos apóstolos, a ser transmitido a seus sucessores, da mesma forma permanece todos
Apóstolos de apascentar a Igreja, o qual deve ser exercido para sempre pela sagrada ordem
dos Bispos." Eis por que a Igreja ensina que "os bispos, por instituição divina, sucederam aos
apóstolos como pastores da Igreja, de sorte quem os ouve, ouve a Cristo, e quem os despreza,
despreza a (aquele por quem Cristo foi enviado". (Parágrafos relacionados 880,1556)
O APOSTOLADO
863 Toda a Igreja é apostólica na medida em que, por meio dos sucessores de São Pedro
e dos apóstolos, permanece em comunhão de fé e de vida com sua origem. Toda a Igreja é
apostólica na medida em que é "enviada" ao mundo inteiro; todos os membros da Igreja, ainda
que de formas diversas, participam deste envio. "A vocação cristã é também por natureza
vocação ao apostolado." Denomina-se "apostolado" "toda a atividade do Corpo Místico" que
tende a "estender o reino de Cristo a toda a terra". (Parágrafos relacionados 900,2472)
864 "Sendo Cristo enviado pelo Pai a fonte e a origem de todo apostolado da Igreja", é
evidente que a fecundidade do apostolado, tanto o dos ministros ordenados como o dos leigos,
depende de sua união vital com Cristo. De acordo com as vocações, os apelos da época e os
dons variados do Espírito Santo, o apostolado assume as formas mais diversas. Mas é sempre a
caridade, haurida sobretudo na Eucaristia, "que e como que a alma de todo apostolado".
(Parágrafos relacionados 828,824,1324)
865 A Igreja é una, santa, católica e apostólica em sua identidade profunda e última,
porque é nela que já existe e será consumado no fim dos tempos "o Reino dos céus", "o Remo de
Deus", que veio na Pessoa de Cristo e cresce misteriosamente no coração dos que lhe são
incorporados, até sua plena manifestação escatológica. Então todos os homens remidos por ele,
tornados nele "santos e imaculados na presença de Deus no Amor", serão reunidos como o único
Povo de Deus, "a Esposa do Cordeiro", "a Cidade Santa descida do Céu, de junto de Deus, com
a Glória de Deus nela", e "a muralha da cidade tem doze alicerces, sobre os quais estão os
nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro" (Ap 21,14). (Parágrafos relacionados 811,541)
RESUMINDO
866 A Igreja é una: tem um só Senhor, confessa uma só fé, nasce de um só Batismo, forma
um só Corpo, vivificado por um só Espírito, em vista de uma única esperança, no fim da qual
serão superadas todas as divisões.
867 A Igreja é santa: o Deus Santíssimo é seu autor; Cristo, seu esposo, se entregou por ela
para santificá-la; o Espírito de santidade a vivifica. Embora congregue pecadores, ela é
"imaculada (feita) de maculados" ("ex maculatis immaculata"). Nos santos brilha a santidade da
Igreja; em Maria esta já é a toda santa.
868 A Igreja é católica: anuncia a totalidade da fé; traz em si e administra a plenitude
dos meios de salvação; é enviada a todos os povos; dirige-se a todos os homens; abarca todos
os tempos; "ela é, por sua própria natureza, missionária.
869 A Igreja é apostólica: está construída sobre fundamentos duradouros: "Os doze
Apóstolos do Cordeiro"; ela é indestrutível; é infalivelmente mantida na verdade: Cristo a governa
por meio de Pedro e dos demais apóstolos, presentes em seus sucessores, o Papa e o colégio dos
Bispos.
870 "A única Igreja de Cristo, que no Símbolo confessamos una, santa, católica e
apostólica... subsiste na Igreja católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em
comunhão com ele, embora fora de sua estrutura visível se encontrem numerosos elementos de
santificação e de verdade. "
PARÁGRAFO 4
OS FIÉIS DE CRISTO - HIERARQUIA, LEIGOS, VIDA CONSAGRADA
871 "Fiéis são os que, incorporados a Cristo pelo Batismo, foram constituídos em povo de
Deus e, assim, feitos participantes, a seus modo, do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo,
são chamados a exercer, seguindo a condição própria de cada um, a missão que Deus confiou
para a Igreja cumprir no mundo." (Parágrafos relacionados 1268,1269,782-786)
872 "Entre todos os fiéis de Cristo, por sua regeneração em Cristo, vigora, no que se refere
à dignidade e à atividade, uma verdadeira igualdade, pela qual todos, segundo a condição e
os múnus próprios de cada um, cooperam na construção do Corpo de Cristo." (Parágrafos
relacionados 1934,794)
873 As próprias diferenças que o Senhor quis estabelecer entre os membros de seu Corpo
servem à sua unidade e à sua missão. Pois, embora "exista na Igreja diversidade de serviços, há
unidade de missão. Cristo confiou aos apóstolos e a seus sucessores o múnus de ensinar, de
santificar e de governar em seu nome e por seu poder. Os leigos, por sua vez, participantes do
múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, compartilham a missão de todo o povo de Deus na
Igreja e no mundo". Finalmente, "em ambas as categorias [hierarquia e leigos] há fiéis que, pela
profissão dos conselhos evangélicos, se consagram, em seu modo especial, a Deus e servem à
missão salvífica da Igreja; seu estado, embora não faça parte da estrutura hierárquica da Igreja,
pertence, não obstante, à sua vida e santidade". (Parágrafos relacionados 814,1937)
A CONSTITUIÇÃO HIERÁRQUICA DA IGREJA
POR QUE Q MINISTÉRIO ECLESIAL?
874 O próprio Cristo é a fonte do ministério na Igreja. Instituiu-a, deu-lhe autoridade e
missão, orientação e finalidade: (Parágrafo relacionado 1544)
Para apascentar e aumentar sempre o Povo de Deus, Cristo Senhor instituiu em sua Igreja
uma variedade de ministérios que tendem ao bem de todo o Corpo. Pois os ministros que são
revestidos do sagrado poder servem a seus irmãos para que todos os que formam o Povo de
Deus... cheguem à salvação.
875 "Como poderiam crer naquele que não ouviram? E como poderiam ouvir sem
pregador? E como podem pregar se não forem enviados?" (Rm 10,14-15). Ninguém, nenhum
indivíduo, nenhuma comunidade pode anunciar a si mesmo o Evangelho. "A fé vem da
pregação" (Rm 10,17). Ninguém pode dar a si mesmo o mandato e a missão de anunciar o
Evangelho. O enviado do Senhor fala e age não por autoridade própria, mas em virtude da
autoridade de Cristo; não como membro da comunidade, mas falando a ela em nome de
Cristo. Ninguém pode conferir a si mesmo a graça; ela precisa ser dada e oferecida. Isto supõe
ministros da graça autorizados e habilitados da parte de Cristo. Dele, os bispos e os presbíteros
recebem a missão e a faculdade (o "poder sagrado") de agir "na pessoa de Cristo-Cabeça", os
diáconos, a força de servir o Povo de Deus na "diaconia" da liturgia, da palavra e da caridade,
em comunhão com o bispo e seu presbitério. A tradição da Igreja chama de "sacramento" este
ministério, pelo qual os enviados de Cristo fazem e dão, por dom de Deus, o que não podem
fazer nem dar por si mesmos. O ministério da Igreja é conferido por um sacramento específico.
(Parágrafos relacionados 166,1548,1536)
876 Intrinsecamente ligado à natureza sacramental do ministério eclesial está o seu
caráter de serviço. Com efeito, inteiramente dependentes de Cristo, que dá missão e
autoridade, os ministros são verdadeiramente "servos de Cristo", a imagem de Cristo que assumiu
livremente por nós "a forma de servo" (Fl 2,7). Já que a palavra e a graça de que são ministros
não são deles, mas de Cristo, que lhas confiou aos outros, eles se farão livremente servos de
todos. (Parágrafos relacionados 1551,427)
877 Igualmente, é da natureza sacramental do ministério eclesial que exista um caráter
colegial. Efetivamente, desde o início de seu ministério o Senhor Jesus instituiu os Doze, "os germes
do Novo Israel e ao mesmo tempo a origem da sagrada hierarquia. Escolhidos conjuntamente,
são também enviados conjuntamente, e sua união fraterna estará a serviço da comunhão
fraterna de todos os fiéis; esta união será como um reflexo e um testemunho da comunhão das
pessoas divinas. Por isso, todo bispo exerce seu ministério dentro do colégio episcopal, em
comunhão com o Bispo de Roma, sucessor de São Pedro e chefe do colégio; os presbíteros
exercem seu ministério dentro do presbitério da diocese, sob a direção de seu Bispo. (Parágrafo
relacionado 1559)
878 Finalmente, é da natureza sacramental do ministério eclesial que haja um caráter
pessoal. Se os ministros de Cristo agem em comunhão, agem também sempre de maneira
pessoal. Cada um é chamado pessoalmente - "Tu, segue-me (Jo 21,22) - para ser, na missão
comum, testemunha pessoal, assumindo pessoalmente a responsabilidade diante daquele que
dá a missão, agindo "em sua pessoa" e em favor de pessoas: "Eu te batizo em nome do Pai... "Eu
te perdôo...”. (Parágrafo relacionado 1484)
879 O ministério sacramental na Igreja é um serviço exercido em nome de Cristo, que
tem caráter pessoal e forma colegial. Isto verifica-se nos vínculos entre o colégio episcopal e seu
chefe, o sucessor de Pedro, e na relação entre a responsabilidade pastoral do Bispo por sua
Igreja particular e a solicitude comum do colégio episcopal pela Igreja Universal.
O COLÉGIO EPISCOPAL E SEU CHEFE, O PAPA
880 Cristo, ao instituir os Doze, "instituiu-os à maneira de colégio ou grupo estável, ao
qual propôs Pedro, escolhido dentre eles." Assim como, por disposição do Senhor, São Pedro e os
outros apóstolos constituem um único colégio apostólico, de modo semelhante o Romano
Pontífice, sucessor de Pedro, e os Bispos, sucessores dos Apóstolos, estão unidos entre si.
(Parágrafos relacionados 552,862)
881 Somente Simão, a quem deu o nome de Pedro, o Senhor constituiu em pedra de
sua Igreja. Entregou-lhe as chaves da mesma, instituiu-o pastor de todo o rebanho. Porém, o
múnus de ligar e desligar, que foi dado a Pedro, consta que também foi dado ao colégio dos
apóstolos, unido a seu chefe. " Este oficio pastoral de Pedro e dos outros Apóstolos faz parte dos
fundamentos da Igreja e é continuado pelos Bispos sob o primado do Papa.
(Parágrafos relacionados 553,642)
882 O Papa, Bispo de Roma e sucessor de São Pedro, "é o perpétuo e visível princípio e
fundamento da unidade, quer dos Bispos, quer da multidão dos fiéis" "Com efeito, o Pontífice
Romano, em virtude de seu múnus de Vigário de Cristo e de Pastor de toda a Igreja, possui na
Igreja poder pleno, supremo e universal. E ele pode exercer sempre livremente este seu poder.
(Parágrafos relacionados 834,1369,837)
883 "O colégio ou corpo episcopal não tem autoridade se nele não se considerar
incluído, como chefe, o Romano Pontífice." Como tal, este colégio é "também ele detentor do
poder supremo e pleno sobre a Igreja inteira. Todavia, este poder não pode ser exercido senão
com o consentimento do Romano Pontífice.
884 "O colégio dos Bispos exerce o poder sobre a Igreja inteira, de forma solene, no
Concílio Ecumênico." Não pode haver Concílio Ecumênico que, como tal, não seja aprovado ou
ao menos reconhecido pelo sucessor de Pedro."
885 "Enquanto composto de muitos, este Colégio exprime a variedade e a
universalidade do povo de Deus e, enquanto unido sob um só chefe, exprime a unidade do
rebanho de Cristo.
886 "Os Bispos individualmente são o visível princípio e fundamento da unidade em suas
Igrejas particulares. " Nesta qualidade, "exercem sua autoridade pastoral sobre a porção do
povo de Deus que lhes foi confiada" assistidos pelos presbíteros c pelos diáconos. Todavia, como
membros do colégio episcopal, cada um deles participa da solicitude por todas as Igrejas,
solicitude esta que exercem primeiramente "governando bem sua própria Igreja como uma
porção da Igreja universal", contribuindo, assim, "para o bem de todo o Corpo Místico, que é
também o Corpo das Igrejas". Esta solicitude estender-se-á particularmente aos pobres, aos
perseguidos por causa da fé, assim como aos missionários que atuam em toda a terra.
(Parágrafos relacionados 1560,833,2448)
887 As Igrejas particulares vizinhas e de cultura homogênea formam províncias
eclesiásticas ou conjuntos mais amplos, denominados patriarcados ou regiões Os Bispos desses
conjuntos podem reunir-se em sínodos ou em concílios provinciais. "Da mesma forma, as
Conferências Episcopais podem hoje em dia, contribuir de forma múltipla e fecunda para que o
espírito colegial se realize concretamente."
O MÚNUS DE ENSINAR
(Parágrafos relacionados 85,87,2032-2040)
888 Os Bispos, junto com os presbíteros, seus cooperadores, “têm como primeira tarefa
anunciar o Evangelho de Deus a todos homens, segundo a ordem do Senhor. São "os arautos da
fé, que levam a Cristo novos discípulos, os doutores autênticos" da fé apostólica, "providos da
autoridade de Cristo". (Parágrafo relacionado 2068)
889 Para manter a Igreja na pureza da fé transmitida pelos apóstolos, Cristo quis conferir
à sua Igreja uma participação em sua própria infalibilidade, ele que é a Verdade. Pelo "sentido
sobrenatural da fé", o Povo de Deus "se atém indefectivelmente à fé", sob a guia do Magistério
vivo da Igreja.(Parágrafo relacionado 92)
890 A missão do Magistério está ligada ao caráter definitivo da Aliança instaurada por
Deus em Cristo com seu Povo; deve protegê-lo dos desvios e dos afrouxamentos e garantir-lhe a
possibilidade objetiva de professar sem erro a fé autêntica. O ofício pastoral do Magistério está,
assim, ordenado ao cuidado para que o Povo de Deus permaneça na verdade que liberta. Para
executar este serviço, Cristo dotou os pastores do carisma de infalibilidade em matéria de fé e de
costumes. O exercício deste carisma pode assumir várias modalidades. (Parágrafos relacionados
851,1785)
891 "Goza desta infalibilidade o Pontífice Romano, chefe do colégio dos Bispos, por
força de seu cargo quando, na qualidade de pastor e doutor supremo de todos os fiéis e
encarregado de confirmar seus irmãos na fé, proclama, por um ato definitivo, um ponto de
doutrina que concerne à fé ou aos costumes... A infalibilidade prometida à Igreja reside também
no corpo episcopal quando este exerce seu magistério supremo em união com o sucessor de
Pedro", sobretudo em um Concílio Ecumênico. Quando, por seu Magistério supremo, a Igreja
propõe alguma coisa "a crer como sendo revelada por Deus" como ensinamento de Cristo, "é
preciso aderir na obediência da fé a tais definições. Esta infalibilidade tem a mesma extensão
que o próprio depósito da Revelação divina.
892 A assistência divina é também dada aos sucessores dos apóstolos, ao ensinarem
em comunhão com o sucessor de Pedro e, de modo particular, com o Bispo de Roma, Pastor de
tida a Igreja, quando, mesmo sem chegar a uma definição infalível e sem se pronunciar de
"forma definitiva", propõem no exercício do magistério ordinário um ensinamento que leva a
uma compreensão melhor da Revelação em matéria de fé e de costumes. A este ensinamento
ordinário os fiéis devem "ater-se com religioso obséquio do espírito" [eique religioso obsequio
adhaerere debent] qual, embora se distinga do assentimento da fé, o prolonga.
O MÚNUS DE SANTIFICAR
893 O Bispo tem, também, "a responsabilidade de ministrar a graça do sacerdócio
supremo em particular na Eucaristia, que ele mesmo oferece ou da qual garante a oblação
pelos presbíteros, seus cooperadores. Pois a Eucaristia é o centro da vida da Igreja particular. O
Bispo e os presbíteros santificam a Igreja por sua oração e seu trabalho, pelo ministério da
palavra e dos sacramentos. Santificam-na por seu exemplo, "não agindo como senhores
daqueles que vos couberam por sorte, mas, antes, como modelos do rebanho" (1 Pd 5,3). É assim
que "chegam, com o rebanho que lhes está confiado, à vida eterna. (Parágrafo relacionado
1561)
O MÚNUS DE REGER
894 "Os Bispos dirigem suas Igrejas particulares como vigários e delegados de Cristo com
conselhos, exortações e exemplos, mas também com autoridade e com poder sagrado", o qual,
porém, devem exercer para edificar, no espírito de serviço que caracteriza o de seu Mestre.
(Parágrafo relacionado 801)
895 "Este poder, que exercem pessoalmente em nome de Cristo, é um poder próprio,
ordinário e imediato; em seu exercício, porém, está submetido à regulamentação última da
autoridade suprema da Igreja.” Todavia, não se devem considerar. Os Bispos como vigários do
Papa, cuja autoridade ordinária e imediata sobre toda a Igreja não anula, ao contrário, confirma
e defende a deles. Esta deve ser exercida em comunhão com toda a Igreja, sob a condução do
Papa. (Parágrafo relacionado 1558)
96 O Bom Pastor será o modelo e a "forma" do múnus pastoral do bispo. Consciente
de suas fraquezas, "o Bispo pode compadecer-se dos ignorantes e extraviados. Não se negue,
pois, a atender aos súditos, amando-os como verdadeiros filhos e exortando-os para que
alegremente colaborem com ele... Por sua vez, os fiéis devem estar unidos a seu Bispo como a
Igreja a Jesus Cristo, e Jesus Cristo ao Pai". (Parágrafo relacionado 1550)
Segui todos o Bispo, como Jesus Cristo [segue] seu Pai, e o presbitério como aos
apóstolos; quanto aos diáconos, respeitai-os como a lei de Deus. Que ninguém faça sem o Bispo
nada do que diz respeito à Igreja.
II. OS FIÉIS LEIGOS
897 "Sob o nome de leigos entendem-se aqui todos os cristãos, exceto os membros das
Sagradas Ordens ou do estado religioso reconhecido na Igreja, isto é, os fiéis que, incorporados a
Cristo pelo Batismo, constituídos em Povo de Deus e a seu modo feitos participantes da função
sacerdotal, profética e régia de Cristo, exercem, em seu âmbito, a missão de todo o Povo cristão
na Igreja e no mundo." (Parágrafo relacionado 893)
A VOCAÇÃO DOS LEIGOS
898 "É especifico dos leigos, por sua própria vocação, procurar o Reino de Deus
exercendo funções temporais e ordenando-as segundo Deus... A eles, portanto, cabe de
maneira especial iluminar e ordenar de tal modo todas as coisas temporais, as quais estão
intimamente unidos, que elas continuamente se façam e cresçam segundo Cristo e contribuam
para o louvor do Criador e Redentor." (Parágrafo relacionado 2105)
899 A iniciativa dos cristãos leigos é particularmente necessária quando se trata de
descobrir, de inventar meios para impregnar as realidades sociais, políticas e econômicas com as
exigências da doutrina e da vida cristãs. Esta iniciativa é um elemento normal da vida da Igreja.
(Parágrafo relacionado 2442)
Os fiéis leigos estio na linha mais avançada da vida da Igreja: graças a eles a Igreja
é o princípio vital da sociedade humana. Por isso, especialmente eles devem ter uma
consciência sempre mais clara não somente de pertencerem à Igreja, mas de serem Igreja, isto
é, a comunidade dos fiéis na terra sob a direção do Chefe comum, o Papa, e dos Bispos em
comunhão com ele. Eles são a Igreja .
900 Uma vez que, como todos os fiéis, os leigos são encarregados por Deus do
apostolado em virtude do Batismo e da Confirmação, eles têm a obrigação e gozam do direito,
individualmente ou agrupados em associações, de trabalhar para que a mensagem divina da
salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra; esta obrigação é
ainda mais presente se levarmos em conta que é somente por meio deles que os homens podem
ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. Nas comunidades eclesiais, a ação deles é tão necessária
que sem ela o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito.
(Parágrafo relacionado 863)
A PARTICIPAÇÃO DOS LEIGOS NO MÚNUS SACERDOTAL DE CRISTO
901 "Os leigos, em virtude de sua consagração a Cristo e da unção do Espírito Santo,
recebem a vocação admirável e os meios que permitem ao Espírito produzir neles frutos sempre
mais abundantes. Assim, todas as suas obras, preces e iniciativas apostólicas, vida conjugal e
familiar, trabalho cotidiano, descanso do corpo e da alma, se praticados no Espírito, e mesmo as
provações da vida, pacientemente suportadas, se tornam 'hóstias espirituais, agradáveis a Deus
por Jesus Cristo' (l Pd 2,5), hóstias que são piedosamente oferecidas ao Pai com a oblação do
Senhor na celebração da Eucaristia. É assim que os leigos consagram a Deus o próprio mundo,
prestando a Ele, em toda parte, na santidade de sua vida, um culto de adoração." (Parágrafos
relacionados 784,1268,358)
902 De maneira especial, os pais participam do múnus de santificação "quando levam
uma vida conjugal com espírito cristão e velando pela educação cristã dos filhos".
903 Se tiverem as qualidades exigidas os leigos podem ser admitidos de maneira estável
aos ministérios' de leitores e de acólitos. "Onde a necessidade da Igreja o aconselhar, podem
também os leigos, na falta de ministros mesmo não sendo leitores ou acólitos, suprir alguns de
seus ofícios a saber exercer o ministério da palavra, presidir às orações litúrgicas administrar o
Batismo e distribuir a sagrada Comunhão de acordo com as prescrições do direito." (Parágrafo
relacionado 1143)
SUA PARTICIPAÇÃO NO MÚNUS PROFÉTICO DE CRISTO
904 "Cristo... exerce seu múnus profético não somente por meio da hierarquia... mas
também por meio dos leigos, fazendo deles testemunhas e provendo-os do senso da fé e da
graça da palavra": (Parágrafos relacionados 785,92)
Ensinar alguém para levá-lo à fé é a tarefa de cada pregador e até de cada crente.
905 Os leigos exercem sua missão profética também pela evangelização, "isto é, o
anúncio de Cristo feito pelo testemunho da vida e pela palavra". Nos leigos, "esta
evangelização... adquire características específicas e eficácia peculiar pelo fato de se realizar
nas condições comuns do século": (Parágrafo relacionado 2044)
Este apostolado não consiste apenas no testemunho da vida: o verdadeiro
Apóstolo procura as ocasiões para anunciar Cristo pela palavra, seja aos descrentes... seja aos
fiéis. (Parágrafo relacionado 2472)
906 Os leigos que forem capazes e que se formarem para isto podem também dar sua
colaboração na formação catequética, no ensino das ciências sagradas e atuar nos meios de
comunicação social. (Parágrafo relacionado 2495)
907 "De acordo com a ciência, a competência e o prestígio de que gozam, têm o
direito e, às vezes, até o dever de manifestar aos pastores sagrados a própria opinião sobre o
que afeta o bem da Igreja e, ressalvando a integridade da fé e dos costumes e a reverência
para com os pastores, e levando em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas, dêem
a conhecer essa sua opinião também aos outros fiéis.
SUA PARTICIPAÇÃO NO MÚNUS RÉGIO DE CRISTO
908 Por sua obediência até a morte, Cristo comunicou a seus discípulos o dom da
liberdade régia, "para que vençam em si mesmos o reino do pecado, por meio de sua
abnegação e vida santa”: (Parágrafo relacionado 786)
Aquele que submete seu próprio corpo e governa sua alma, sem deixar-se
submergir pelas paixões, é seu próprio senhor (é dono de si mesmo): pode ser chamado rei
porque é capaz de reger sua própria pessoa; é livre e independente e não se deixa aprisionar
por uma escravidão culposa".
909 Além disso, com forças conjugadas, que os leigos sanem as instituições e condições
do mundo, caso estas incitem ao pecado. E isto de tal modo que todas essas coisas se conforme
com as normas da justiça e, em vez de a elas se opor, antes favoreçam o exercício das virtudes.
Agindo dessa forma impregnarão de valor moral a cultura e as obras humanas." (Parágrafo
relacionado 1887)
910 Os leigos podem também sentir-se chamados ou vir a ser chamados para colaborar
com os próprios pastores no serviço da comunidade eclesial, para o crescimento e a vida da
mesma, exercendo ministérios bem diversificados, segundo a graça e os carismas que o Senhor
quiser depositar neles. (Parágrafo relacionado 799)
911 Na Igreja, "os fiéis leigos podem cooperar juridicamente no exercício do poder de
governo". Isto se diz de sua presença nos concílios particulares, nos sínodos diocesanos nos
conselhos pastorais; do exercício do encargo pastoral de uma paróquia; da colaboração nos
conselhos de assuntos econômicos; da participação nos tribunais eclesiásticos etc.
912 Os fiéis devem "distinguir acuradamente entre os direitos e os deveres que lhes
incumbem enquanto membros da Igreja e os que lhes competem enquanto membros da
sociedade humana. Procurarão conciliar ambos harmonicamente entre si, lembrados de que em
qualquer situação temporal devem conduzir-se pela consciência cristã, uma vez que nenhuma
atividade humana, nem mesmo nas coisas temporais, pode ser subtraída ao domínio de Deus".
(Parágrafo relacionado 2245)
913 "Assim, todo leigo, em virtude dos dons que lhe foram conferidos, é ao mesmo
tempo testemunha e instrumento vivo da própria missão da Igreja “pela medida do dom de
Cristo" (Ef 4,7)
III. A VIDA CONSAGRADA
914 "O estado de vida constituído pela profissão dos conselhos evangélicos, embora
não pertença à estrutura hierárquica da Igreja, está, contudo, firmemente relacionado com sua
vida e santidade." (Parágrafo relacionado 2103)
CONSELHOS EVANGÉLICOS, VIDA CONSAGRADA
915 Os conselhos evangélicos, em sua multiplicidade, são propostos a todo discípulo de
Cristo. A perfeição da caridade à qual todos os fiéis são chamados comporta para os que
assumem livremente o chamado à vida consagrada a obrigação de praticar, a castidade no
celibato pelo Reino, a pobreza e a obediência. E a profissão desses conselhos em um estado de
vida estável reconhecido pela Igreja que caracteriza a "vida consagrada" a Deus. (Parágrafos
relacionados 1973-1974)
916 O estado da vida consagrada aparece, portanto, como uma das maneiras de
conhecer uma consagração "mais íntima", que se radica no Batismo e se dedica totalmente a
Deus. Na vida consagrada, os fiéis de Cristo se propõem, sob a moção do Espírito Santo, seguir a
Cristo mais de perto, doar-se a Deus amado acima de tudo e, procurando alcançar a perfeição
da caridade a serviço do Reino, significar e anunciar na Igreja a glória do mundo futuro.
(Parágrafos relacionados 2687,933)
UMA GRANDE ÁRVORE, DE MÚLTIPLOS RAMOS
917 Disso resultou que, como numa árvore frondosa e admiravelmente variegada na
seara do Senhor - e isto em virtude do germe divinamente plantado -, floresceram as diversas
modalidades da vida solitária ou comum, assim como as várias famílias quais vão aumentando
tanto para proveito dos próprios membros quanto para o bem de todo o Corpo de Cristo."
(Parágrafo relacionado 2684)
918 "Desde os primórdios da Igreja existiram homens e mulheres que se propuseram,
pela prática dos conselhos evangélicos, seguir a Cristo com maior liberdade e imitá-lo mais de
perto, e levaram, cada qual a seu modo, uma vida consagrada a Deus. Dentre eles, muitos, por
inspiração do Espírito Santo, ou passaram a vida na solidão ou fundaram famílias religiosas, que a
Igreja, de boa vontade, recebeu e aprovou com sua autoridade."
919 Os Bispos hão de empenhar-se sempre em discernir os novos dons de vida
consagrada confiados pelo Espírito Santo à sua Igreja; a aprovação de novas formas de vida
consagrada é reservada à Sé Apostólica.
A VIDA EREMÍTICA
920 Embora nem sempre professem publicamente os três conselhos evangélicos, os
eremitas, "por uma separação mais rígida do mundo, pelo silêncio da solidão, pela assídua
oração e penitência, consagram a vida ao louvor de Deus e à salvação do mundo.
921 Os eremitas mostram a cada um este aspecto interior do mistério da Igreja, que é a
intimidade pessoal com Cristo. Escondida aos olhos dos homens, a vida do eremita é pregação
silenciosa daquele ao qual entregou sua vida, pois é tudo para Ele. É um chamado peculiar a
encontrar no deserto, precisamente no combate espiritual, a glória do Crucificado. (Parágrafos
relacionados 2719,2015)
AS VIRGENS E AS VIÚVAS CONSAGRADAS
922 Desde os tempos apostólicos, virgens e viúvas cristãs , chamadas pelo Senhor a
apegar-se a Ele sem partilha em uma liberdade maior de coração, de corpo e de espírito,
tomaram a decisão, aprovada pela Igreja, de viver respectivamente no estado de virgindade ou
de castidade perpétua "por causa do Reino dos Céus" (Mt 19,12). (Parágrafo relacionado 1618-
1620)
923 "Emitindo o santo propósito de seguir a Cristo mais de perto, [as Virgens] são
consagradas a Deus pelo Bispo diocesano segundo o rito litúrgico aprovado, misticamente
desposadas com Cristo, Filho de Deus, e dedicadas ao serviço da Igreja ." Por este rito solene
("Consecratio virginum"), "a virgem é constituída pessoa consagrada, sinal transcendente do
amor da Igreja a Cristo, imagem escatológica desta Esposa do Céu e da vida futura ".
(Parágrafos relacionados 1537,1672)
924 "Acrescentada às outras formas de vida consagrada", a ordem das virgens constitui
a mulher que vive no mundo (ou a monja) na oração, na penitência, no serviço a seus irmãos e
no trabalho apostólico, conforme o estado e os carismas respectivos oferecidos a cada uma. As
virgens consagradas podem associar-se para guardar mais fielmente seus propósitos.
A VIDA RELIGIOSA
925 Nascida no Oriente nos primeiros séculos do cristianismo e vivida nos institutos
canonicamente erigidos pela Igreja, a vida religiosa se distingue das outras modalidades de vida
consagrada pelo aspecto cultual, pela profissão pública dos conselhos evangélicos, pela vida
fraterna levada em comum, pelo testemunho da união de Cristo com a Igreja. (Parágrafo
relacionado 1672)
926 A vida religiosa faz parte do mistério da Igreja. É um dom que a Igreja recebe de seu
Senhor e que oferece como um estado de vida permanente ao fiel chamado por Deus na
profissão dos conselhos. Assim, a Igreja pode ao mesmo tempo manifestar o Cristo e reconhecerse
como esposa do Salvador. A vida religiosa é convidada a significar, em suas variadas formas,
a própria caridade de Deus, em linguagem de nossa época. (Parágrafo relacionado 796)
927 Todos os religiosos, isentos ou não , são contados entre os cooperadores do Bispo
diocesano em seu ministério pastoral . A implantação e a expansão missionária da Igreja exigiram
a presença da vida religiosa sob todas as suas formas desde os inícios da evangelização. "A
história atesta os grandes méritos das famílias religiosas na propagação da fé e na formação de
novas Igrejas, desde as antigas instituições monásticas e as ordens medievais até as
congregações modernas." Parágrafo relacionado 854)
OS INSTITUTOS SECULARES
928 Instituto secular é um instituto de vida consagrada no qual os fiéis, vivendo no
mundo, tendem à perfeição da caridade e procuram cooperar para a santificação do mundo,
principalmente a partir de dentro.
929 "Por urna "vida perfeita [= perfeitamente] e inteiramente consagrada a [esta]
santificação", os membros desses institutos participam da tarefa de evangelização da Igreja, "no
mundo e partir do mundo", onde sua presença age "à guisa de um fermento". Seu "testemunho
de vida cristã" visa "organizar as coisas temporais de acordo com Deus e impregnar o mundo
com a força do Evangelho". Eles assumem por vínculos sagrados os conselhos evangélicos e
mantêm entre si a comunhão e a fraternidade próprias de seu "modo de vida secular".
(Parágrafo relacionado 901)
AS SOCIEDADES DE VIDA APOSTÓLICA
930 Às formas diversas de vida consagrada "acrescentam-se as sociedades de vida
apostólica, cujos membros, sem os votos religiosos, buscam a finalidade apostólica própria de
sua sociedade e, levando vida fraterna em comum, segundo o próprio modo de vida, tendem à
perfeição da caridade pela observância das constituições. Entre elas há sociedades cujos
membros assumem os conselhos evangélicos" por meio de algum vínculo determinado pelas
constituições.
CONSAGRAÇÃO E MISSÃO: ANUNCIAR O REI QUE VEM
931 Entregue a Deus supremamente amado, aquele que pelo Batismo já estava
consagrado a ele é assim consagrado mais intimamente ao serviço divino e dedicado ao bem
da Igreja. Pelo estado de consagração a Deus, a Igreja manifesta Cristo e mostra corno o Espírito
Santo age nela de maneira admirável. Os que professam os conselhos evangélicos têm, pois, por
missão primeiramente viver sua consagração. Mas "enquanto dedicados, em virtude da própria
consagração, ao serviço da Igreja têm obrigação de se entregar, de maneira especial, à ação
missionária no modo próprio de seu instituto".
932 a Igreja - ela é como sacramento, isto é, o sinal e o instrumento da vida de Deus -, a
vida consagrada aparece como um sinal peculiar do mistério da redenção. Seguir e imitar a
Cristo "mais de perto", manifestar "mais claramente" seu aniquilamento é estar "mais
profundamente" presente a seus contemporâneos, no coração de Cristo. Pois os que estão nesta
via "mais estreita" estimulam seus irmãos por seu exemplo, dão este testemunho brilhante de "que
o mundo não pode ser transfigurado e oferecido a Deus sem o espírito das bem-aventuranças".
(Parágrafo relacionado 775)
933 Seja este testemunho público, como no estado religioso, ou mais discreto, ou até
secreto, o advento de Cristo permanece para todos os consagrados a origem e a orientação de
sua vida: Como o povo de Deus não possui aqui na terra morada permanente, o estado religioso
manifesta já aqui neste mundo a todos os crentes a presença dos bens celestes, dá testemunho
da vida nova e eterna adquirida pela redenção de Cristo, prenuncia a, ressurreição futura e a
glória do Reino celeste. (Parágrafos relacionados 672,769)
RESUMINDO
934 "Por instituição divina, há entre os fiéis na Igreja ministros sagrados, que no direito
são também chamados clérigos; os outros fiéis são também denominados leigos." Há, finalmente,
fiéis que pertencem a uma ou outra das duas categorias e que, pela profissão dos conselhos
evangélicos, se consagraram a Deus e servem, assim, à missão da Igreja.
935 Para anunciar a fé e para implantar seu Reino, Cristo envia seus apóstolos e seus
sucessores. Dá-lhes participação em sua missão. De Cristo recebem o poder de agir em seu
nome.
936 O Senhor fez de São Pedro o fundamento visível de sua Igreja. Entregou-lhe suas
chaves. O Bispo da igreja de Roma, sucessor de São Pedro, é "a cabeça do colégio dos Bispos,
Vigário de Cristo e, aqui na terra, pastor da igreja ".
937 O Papa "tem, por instituição divina, poder supremo, pleno, imediato e universal na
cura das almas".
938 Os Bispos, estabelecidos pelo Espírito Santo, sucedem aos Apóstolos. São, "cada um
por sua parte, princípio visível e, fundamento da unidade em suas igrejas particulares.
939 Ajudados pelos presbíteros, seus cooperadores, e pelos diáconos, os Bispos têm o
oficio de ensinar autenticamente a fé, de celebrar o culto divino, sobretudo a Eucaristia, e de
dirigir suas Igrejas como verdadeiros pastores. A seu oficio pertence também a solicitude por
todas as Igrejas, com o Papa e sob a direção dele.
940 "Sendo a característica do estado leigo viver em meio ao mundo e aos negócios
seculares, são eles chamados por Deus a exercer seu apostolado no mundo à guisa de fermento,
graças ao vigor de seu espírito cristão."
941 Os leigos participam do sacerdócio de Cristo: cada vez mais unidos a ele,
desenvolvem a graça do Batismo e da Confirmação em todas as dimensões da vida pessoal,
familiar, social e eclesial e realizam, assim, o chamado à santidade, dirigido a todos os batizados.
942 Graças à sua missão profética, os leigos "são também chamados a serem
testemunhas de Cristo em tudo, no meio da comunidade humana"
943 Graças à sua missão régia, os leigos têm o poder de vencer o império do pecado
em si mesmos e no mundo, por sua abnegação e pela santidade de sua vida .
944 A vida consagrada a Deus caracteriza-se pela profissão pública dos conselhos
evangélicos de pobreza, de castidade e de obediência em um estado de vida permanente
reconhecido pela Igreja.
945 Entregue a Deus supremamente amado, aquele que pelo Batismo já havia sido
destinado a Ele encontra-se, no estado de vida consagrada, mais intimamente votado ao
serviço divino e dedicado ao bem de toda a Igreja.
ARTIGO 9 - PARÁGRAFO 5
A COMUNHÃO DOS SANTOS
946 Depois de ter confessado "a santa Igreja católica", o Símbolo dos Apóstolos
acrescenta "a comunhão dos santos". Este artigo é, de certo modo, uma explicitação do
anterior: "Que é a Igreja, se não a assembléia de todos os santos?" comunhão dos santos é
precisamente a Igreja. (Parágrafo relacionado 823)
947 "Uma vez que todos os crentes formam um só corpo, o bem de uns é comunicado
aos outros... Assim, é preciso crer que existe uma comunhão dos bens na Igreja. Mas o membro
mais importante é Cristo, por ser a Cabeça... Assim, o bem de Cristo é comunicado a todos os
membros, e essa comunicação se faz por meio dos sacramentos da Igreja." Como esta Igreja é
governada por um só e mesmo Espírito, todos os bem que ela recebeu se tornam
necessariamente um fundo comum. (Parágrafo relacionado 790)
948 O termo "comunhão dos santos" tem, pois, dois significados intimamente
interligados: "comunhão nas coisas santas (sancta)" e "comunhão entre as pessoas santas
(sancti)". (Parágrafo relacionado 1331)
"Sancta sanctis!" (o que é santo para os que são santos): assim proclama o
celebrante na maioria das liturgias orientais no momento da elevação dos santos dons, antes do
serviço da comunhão. Os fiéis (sancti) são alimentados pelo Corpo e pelo Sangue de Cristo
(sancta), a fim de crescerem na comunhão do Espírito Santo (Koinonia) comunicá-la ao mundo.
I. A COMUNHÃO DOS BENS ESPIRITUAIS
949 Na comunidade primitiva de Jerusalém, os discípulos "mostravam-se assíduos ao
ensinamento dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações" (At 2,42).
(Parágrafo relacionado 185)
A comunhão na fé. A fé dos fiéis é a fé da Igreja, recebida dos Apóstolos, tesouro
de Vida que se enriquece ao ser compartilhado.
950 A comunhão dos sacramentos. "O fruto de todos os sacramentos pertence a todos
os fiéis. Com efeito, os sacramentos, e sobretudo o Batismo, que é a porta pela qual se entra na
Igreja, são igualmente vínculos sagrados que os unem a todos e os incorporam a Jesus Cristo. A
comunhão dos santos é a comunhão operada pelos sacramentos... O nome comunhão pode
ser aplicado a cada sacramento, pois todos eles nos unem a Deus... Contudo, mais do que a
qualquer outro, este nome convém à Eucaristia, porque é principalmente ela que consuma esta
comunhão." (Parágrafos relacionados 1130,1331)
951 A comunhão dos carismas. Na comunhão da Igreja, o Espírito Santo" distribui
também entre os fiéis de todas as ordens as graças especiais" para a edificação da Igreja[a5] .
Ora, "cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos" (1Cor 12,7).
(Parágrafo relacionado 799)
952 "Punham tudo em comum" (At 4,32). "Tudo o que o verdadeiro cristão possui, deve
considerá-lo como um bem que lhe é comum com todos, e sempre deve estar pronto e disposto
a ir ao encontro do indigente e da miséria do próximo. O cristão é um administrador dos bens do
Senhor. (Parágrafo relacionado 2402)
953 A comunhão da caridade. Na "comunhão dos santos" "ninguém de nós vive e
ninguém morre para si mesmo" (Rm 14,7). "Se um membro sofre, todos os membros compartilham
seu sofrimento; se um membro é honrado, todos os membros compartilham sua alegria. Ora, vós
sois o Corpo de Cristo e sois seus membros, cada um por sua parte" (1Cor 6-27). "A caridade não
procura seu próprio interesse" (1 Cor 13,5) O menor dos nossos atos praticado na caridade irradia
em benefício de todos, nesta solidariedade com todos os homens, vivos ou mortos, que se funda
na comunhão dos santos. Todo pecado prejudica esta comunhão. (Parágrafos relacionados
1827,2011,845,1469)
II. A COMUNHÃO ENTRE A IGREJA DO CÉU E A DA TERRA
954 Os três estados da Igreja. "Até que o Senhor venha em Sua majestade e, com ele,
todos os anjos e, tendo sido destruída a morte, todas as coisas lhe forem sujeitas, alguns dentre os
seus discípulos peregrinam na terra; outros, terminada esta vida, são purificados; enquanto outros
são glorificados, vendo claramente o próprio Deus trino e uno, assim como é'. (Parágrafos
relacionados 771,1031,1023)
Todos, porém, em grau e modo diverso, participamos da mesma caridade de Deus
e do próximo e cantamos o mesmo hino de glória a nosso Deus. Pois todos quantos são de Cristo,
tendo o seu Espírito, congregam-se em uma só Igreja e nele estão unidos entre si".
955 A união dos que estão na terra com os irmãos que descansam na paz de Cristo de
maneira alguma se interrompe; pelo contrário, segundo a fé perene da Igreja, vê-se fortalecida
pela comunicação dos bens espirituais."
956 A intercessão dos santos. "Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais
intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não
deixam de interceder por nós ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo
único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por conseguinte, pela fraterna solicitude
deles, nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio": (Parágrafos relacionados 1370,2683)
Não choreis! Ser-vos-ei mais útil após a minha morte e ajudar-vos-ei mais
eficazmente do que durante a minha vida.
PASSAREI MEU CÉU FAZENDO BEM NA TERRA.
957 A comunhão com os santos. "Veneramos a memória dos habitantes do céu não
somente a título de exemplo; fazemo-lo ainda mais para corroborar a união de toda a Igreja no
Espírito, pelo exercício da caridade fraterna. Pois, assim como a comunhão entre os cristãos da
terra nos aproxima de Cristo, da mesma forma o consórcio com os santos nos une a Cristo, do
qual como de sua fonte e cabeça, promana toda a graça e a vida do próprio Povo de Deus".
(Parágrafo relacionado 1173)
Nós adoramos Cristo qual Filho de Deus. Quanto aos mártires, os amamos quais
discípulos e imitadores do Senhor e, o que é justo, por causa de sua incomparável devoção por
seu Rei e Mestre. Possamos também nós ser companheiros e condiscípulos seus." Nossa oração
por eles pode não somente ajudá-los, mas também tornar eficaz sua intercessão por nos.
(Parágrafos relacionados 1371,1032,1689)
959 ... na única família de Deus. "Todos os que somos filhos de Deus e constituímos uma
única família em Cristo, enquanto nos comunicamos uns com os outros em mútua caridade e
num mesmo louvor à Santíssima Trindade, realizamos a vocação própria da Igreja." (Parágrafo
relacionado 1027)
RESUMINDO
960 A Igreja é "comunhão dos santos": esta expressão designa primeiro as "coisas santas"
(sancta) e antes de tudo a Eucaristia, pela qual "é representada e realizada a unidade dos fiéis
que, em Cristo, formam um só corpo"
961 Este termo designa também a comunhão das "pessoas santas" (sancti) em Cristo,
que "morreu por todos", de sorte que aquilo que cada um faz ou sofre em Cristo e por ele produz
fruto para todos.
962 "Cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo, dos que são peregrinos na terra,
dos de juntos que estão terminando a sua purificação, dos bem-aventurados do céu, formando,
todos juntos, uma só Igreja, e cremos que nesta comunhão o amor misericordioso de Deus e de
seus santos está sempre à escuta de nossas orações."
PARÁGRAFO 6
MARIA - MÃE DE CRISTO, MÃE DA IGREJA
963 Depois de termos falado do papel da Virgem Maria no mistério de Cristo e do
Espírito, convém agora considerar lugar dela no mistério da Igreja. "Com efeito, a Virgem Maria
(...) é reconhecida e honrada como a verdadeira Mãe de Deus e do Redentor. (...). Ela é
também verdadeiramente 'Mãe dos membros [de Cristo] (...), porque cooperou pela caridade
para que na Igreja nascessem os fiéis que são os membros desta Cabeça'." (...) Maria, Mãe de
Cristo, Mãe da Igreja. (Parágrafos relacionados 484-507,721-726)
I. A MATERNIDADE DE MARIA COM RELAÇÃO À IGREJA
TOTALMENTE UNIDA A SEU FILHO...
964 O papel de Maria para com a Igreja é inseparável de sua união com Cristo,
decorrendo diretamente dela (dessa união), "Esta união de Maria com seu Filho na obra da
salvação manifesta-se desde a hora da concepção virginal de Cristo até sua morte." Ela é
particularmente manifestada na hora da paixão de Jesus: A bem-aventurada Virgem avançou
em sua peregrinação de fé, manteve fielmente sua união com o Filho até a cruz, onde esteve de
pé não sem desígnio divino, sofreu intensamente junto com seu unigênito. E com ânimo materno
se associou a seu sacrifício, consentindo com amor na imolação da vítima ela por gerada.
Finalmente, pelo próprio Jesus moribundo na cruz, foi dada como mãe ao discípulo com estas
palavras: "Mulher, eis aí teu filho" (Jo 19,26-27). (Parágrafos relacionados 534,618)
965 Após a ascensão de seu Filho, Maria "assistiu com suas orações a Igreja nascente”.
Reunida com os apóstolos e algumas mulheres, "vemos Maria pedindo, também ela, com suas
orações, o dom do Espírito, o qual, na Anunciação, a tinha coberto com sua sombra".
...TAMBÉM EM SUA ASSUNÇÃO...
966 "Finalmente, a Imaculada Virgem, preservada imune de toda mancha da culpa
original, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste. E para
que mais plenamente estivesse conforme a seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do
pecado e da morte, foi exaltada pelo Senhor como Rainha do universo." A Assunção da Virgem
Maria é uma participação singular na Ressurreição de seu Filho e uma antecipação da
ressurreição dos outros cristãos: (Parágrafo relacionado 491)
Em vosso parto, guardastes a virgindade; em vossa dormição, não deixastes o mundo, ó
mãe de Deus: fostes juntar-vos à fonte da vida, vós que concebestes o Deus vivo e, por vossas
orações, livrareis nossas almas da morte....
... ELA E NOSSA MÃE NA ORDEM DA GRAÇA
967 Por sua adesão total à vontade do Pai, à obra redentora de seu Filho, a cada moção
do Espírito Santo, a Virgem Maria é para a Igreja o modelo da fé e da caridade. Com isso, ela é
"membro supereminente e absolutamente único da Igreja", sendo até a "realização exemplar
(typus)" da Igreja. (Parágrafos relacionados 2679,507)
968 Mas seu papel em relação à Igreja e a toda a humanidade vai ainda mais longe. "De
modo inteiramente singular, pela obediência, fé, esperança e ardente caridade, ela cooperou
na obra do Salvador para a restauração da vida sobrenatural das almas. Por este motivo ela se
tornou para nós mãe na ordem da graça." (Parágrafo relacionado 494)
969 "Esta maternidade de Maria na economia da graça perdura ininterruptamente, a
partir do consentimento que ela fielmente prestou na anunciação, que sob a cruz resolutamente
manteve, até a perpétua consumação de todos os eleitos. Assunta aos céus, não abandonou
este múnus salvífico, mas, por sua múltipla intercessão, continua a alcançar-nos os dons da
salvação eterna. (...) Por isso, a bem-aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos
de advogada, auxiliadora. protetora, medianeira." (Parágrafos relacionados 501,149,1370)
970 "A missão materna de Maria em favor dos homens de modo algum obscurece nem
diminui a mediação única de Cristo; pelo contrário, até ostenta sua potência, pois todo o salutar
influxo da bem-aventurada Virgem (...) deriva dos superabundantes méritos de Cristo, estriba-se
em sua mediação, dela depende inteiramente e dela aufere toda a sua força." "Com efeito,
nenhuma criatura jamais pode ser equiparada ao Verbo encarnado e Redentor. Mas, da mesma
forma que o sacerdócio de Cristo é participado de vários modos, seja pelos ministros, seja pelo
povo fiel, e da mesma forma que a indivisa bondade de Deus é realmente difundida nas
criaturas de modos diversos, assim também a única mediação do Redentor não exclui, antes
suscita nas criaturas uma variegada cooperação que participa de uma única fonte." (Parágrafos
relacionados 2008,1545,308)
II- O CULTO DA SANTÍSSIMA VIRGEM
971 "Todas as gerações me chamarão bem-aventurada" (Lc 1,48): "A piedade da Igreja
para com a Santíssima Virgem é intrínseca ao culto cristão". A Santíssima Virgem "é legitimamente
honrada com um culto especial pela Igreja. Com efeito desde remotíssimos tempos, a bemaventurada
Virgem é venerada sob o título de 'Mãe de Deus', sob cuja proteção os fiéis se
refugiam suplicantes em todos os seus perigos e necessidades (...) Este culto (...) embora
inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração que se presta ao Verbo
encanado e igualmente ao Pai e ao Espírito Santo, mas o favorece poderosamente"; este culto
encontra sua expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus e na oração mariana, tal
como o Santo Rosário, "resumo de todo o Evangelho". (Parágrafos relacionados 1172,2678)
III. MARIA - ÍCONE ESCATOLÓGICO DA IGREJA
972 Depois de termos falado da Igreja, de sua origem, de sua missão e de seu destino, a
melhor maneira de concluir é voltar o olhar para Maria, a fim de contemplar nela (Maria) o que é
a Igreja em seu mistério, em sua "peregrinação da fé", e o que ela (Igreja) será na pátria ao
termo final de sua caminhada, onde a espera, "na glória da Santíssima e indivisível Trindade", "na
comunhão de todos os santos, aquela que a Igreja venera como a Mãe de seu Senhor e como
sua própria Mãe: (Parágrafos relacionados 773,829)
Assim como no céu, onde já está glorificada em corpo e alma, a Mãe de Deus
representa e inaugura a Igreja em sua consumação no século futuro, da mesma forma nesta
terra, enquanto aguardamos a vinda do Dia do Senhor, ela brilha como sinal da esperança
segura e consolação para o Povo de Deus em peregrinação. (Parágrafo relacionado 2853)
RESUMINDO
973 Ao pronunciar o 'fiat" (faça-se) da Anunciação e ao dar seu consentimento ao
Mistério da Encarnação, Maria já colabora para toda a obra que seu Filho deverá realizar. Ela é
Mãe onde Ele é Salvador e Cabeça do Corpo Místico.
974 Depois de encerrar o curso de sua vida terrestre, a Santíssima Virgem Maria foi
elevada em corpo e alma à glória do Céu, onde já participa da glória da ressurreição de seu
Filho, antecipando a ressurreição de todos os membros de seu corpo.
975 "Cremos que a Santíssima Mãe de Deus, nova Eva, Mãe da Igreja, continua no Céu
sua junção materna em relação aos membros de Cristo."
ARTIGO 10: "CREIO NO PERDÃO DOS PECADOS"
976 O Símbolo dos Apóstolos correlaciona a fé no perdão dos pecados com a fé no
Espírito Santo, mas também com a fé na Igreja e na comunhão dos santos. Foi dando o Espírito
Santo a seus apóstolos que Cristo ressuscitado lhes conferiu seu próprio poder divino de perdoar
os pecados: "Recebei o Espírito Santo Aqueles a quem perdoardes os pecados, lhes serão
perdoados; aqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos" (Jo 20,22-23).
(A Segunda Parte do Catecismo tratará explicitamente do perdão dos pecados pelo
Batismo, pelo sacramento da Penitência e pelos outros sacramentos, sobretudo a Eucaristia. Por
isso basta aqui evocar sucintamente alguns dados básicos.)
I. UM SÓ BATISMO PARA O PERDÃO DOS PECADOS (Parágrafo relacionado 1263)
977 Nosso Senhor ligou o perdão dos pecados à fé e ao Batismo: "Ide por todo o mundo
e proclamai o Evangelho a toda criatura. Aquele que crer e for batizado será salvo" (Mc
16,15.16). O Batismo é o primeiro e principal sacramento do perdão dos pecados, porque nos
une a Cristo morto por nossos pecados, ressuscitado para nossa justificação, para que "também
vivamos vida nova" (Rm 6,4).
978 "No momento em que fazemos nossa primeira profissão de fé, recebendo o santo
Batismo que nos purifica, o perdão que recebemos é tão pleno e tão completo que não nos
resta absolutamente nada a apagar, seja do pecado original, seja dos pecados cometidos por
nossa própria vontade, nem nenhuma pena a sofrer para expiá-los. (...) Contudo, a graça do
Batismo não livra ninguém de todas as fraquezas da natureza. Pelo contrário, ainda temos de
combater os movimentos da concupiscência, que não cessam de arrastar-nos para o mal ."
(Parágrafo relacionado 1264)
979 Neste combate contra a inclinação para o mal, quem seria suficientemente forte e
vigilante para evitar toda ferida do pecado? "Se, portanto, era necessário que a Igreja tivesse o
poder de perdoar os pecados, também era preciso que o Batismo não fosse para ela o único
meio de servir-se dessas chaves do Reino dos Céus, que havia recebido de Jesus Cristo; era
preciso que ela fosse capaz de perdoar as faltas a todos os penitentes, ainda que tivessem
pecado até o último instante de sua vida[a3] ." (Parágrafo relacionado 1446)
980 É pelo sacramento da Penitência que o batizado pode ser reconciliado com Deus e
com a Igreja: (Parágrafos relacionados 1422,1484)
Os Padres da Igreja com razão chamavam a Penitência de "um Batismo laborioso". O
sacramento da Penitência é necessário para a salvação daqueles que caíram depois do
Batismo, assim como o Batismo é necessário para os que ainda não foram regenerados.
II. O PODER DAS CHAVES
981 Depois de sua Ressurreição, Cristo enviou seus Apóstolos para "anunciar a todas as
nações o arrependimento em seu Nome, em vista da remissão dos pecados" (Lc 24,47). Este
"ministério da reconciliação" (2Cor 5,18) os Apóstolos e seus sucessores não o exercem somente
anunciando aos homens o perdão de Deus merecido para nós por Cristo e chamando-os à
conversão e à fé, mas também comunicando-lhes a remissão dos pecados pelo Batismo e
reconciliando-os com Deus e com a Igreja graças ao poder das chaves recebido de Cristo:
(Parágrafos relacionados 1444,553)
A Igreja recebeu as chaves do Reino dos Céus para que se opere nela a remissão dos
pecados pelo sangue de Cristo e pela ação do Espírito Santo É nesta Igreja que a alma revive,
ela que estava morta pelos pecados, a fim de viver com Cristo, cuja graça nos salvou.
982 Não há pecado algum, por mais grave que seja, que a Santa Igreja não possa
perdoar. "Não existe ninguém, por mau e culpado que seja, que não deva esperar com
segurança a seu perdão, desde que seu arrependimento seja sincero." Cristo que morreu por
todos os homens, quer que, em sua Igreja, as portas do perdão estejam sempre abertas a todo
aquele que recua do pecado. (Parágrafos relacionados 1463,605)
983 A catequese empenhar-se-á em despertar e alimentar nos fiéis a fé na grandeza
incomparável do dom que Cristo ressuscitado concedeu à sua Igreja: a missão e o poder de
perdoar verdadeiramente os pecados, pelo ministério dos apóstolos de seus sucessores:
(Parágrafo relacionado 1442)
O Senhor quer que seus discípulos tenham um poder imenso: quer que seus pobres
servidores realizem em seu nome tudo que havia feito quando estava na terra. Os presbíteros
receberam um poder que Deus não deu nem aos anjos nem aos arcanjos. Deus sanciona lá no
alto tudo o que os sacerdotes fazem aqui embaixo. (Parágrafo relacionado 1465)
Se na Igreja não existisse a remissão dos pecados, não existiria nenhuma esperança,
nenhuma perspectiva de uma vida eterna e de uma libertação eterna. Demos graças a Deus,
que deu à Igreja tal dom.
RESUMINDO
984 O Credo relaciona "o perdão dos pecados" com a profissão de fé no Espírito Santo
Com efeito, Cristo ressuscitado confiou aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados quando
lhes deu o Espírito Santo
985 O Batismo é o primeiro e o principal sacramento para o perdão dos pecados: une-nos
a Cristo morto e ressuscitado nos dá o Espírito Santo
986 Pela vontade de Cristo, a Igreja possui o poder de perdoar os pecados dos batizados
e o exerce por meio dos Bispos e dos presbíteros de maneira habitual no sacramento da
Penitência.
987 "Na remissão dos pecados, os presbíteros e os sacramentos são meros instrumentos
dos quais nosso Senhor Jesus Cristo, único autor e dispensador de nossa salvação, se apraz em se
servir para apagar nossas iniqüidades e dar-nos a graça da justificação.
"ARTIGO 11
"CREIO NA RESSURREIÇÃO DA CARNE"
988 O Credo cristão - profissão de nossa fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, e em sua
ação criadora, salvadora e santificadora - culmina na proclamação da ressurreição dos mortos,
no fim dos tempos e na vida eterna.
989 Cremos firmemente - e assim esperamos - que, da mesma forma que Cristo ressuscitou
verdadeiramente dos mortos, e vive para sempre, assim também, depois da morte, os justos
viverão para sempre com Cristo ressuscitado e que Ele os ressuscitará no último dia . Como a
ressurreição de Cristo, também a nossa será obra da Santíssima Trindade: (Parágrafos
relacionados 655,648)
Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que
ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dar vida também aos vossos corpos mortais, mediante o
seu Espírito que habita em vós (Rm 8,11).
990 O termo "carne" designa o homem em sua condição de fraqueza e de
mortalidade[a15] . A "ressurreição da carne" significa que após a morte não haverá somente a
vida da alma imortal, mas que mesmo os nossos "corpos mortais" (Rm 8,11) readquirirão vida.
(Parágrafo relacionado 364)
991 Crer na ressurreição dos mortos foi, desde os inícios, um elemento essencial da fé
cristã. "Fiducia christianorum resurrectio mortuorum; ilíam credentes, sumus - A confiança dos
cristãos é a ressurreição dos mortos; crendo nela, somos cristãos": (Parágrafo relacionado 638)
Como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há
ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, vazia é a
nossa pregação é vazia é também a vossa fé. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, primícias
dos que adormeceram (1Cor 15,12-14-.20).
I. A RESSURREIÇÃO DE CRISTO E A NOSSA REVELAÇÃO PROGRESSIVA DA RESSURREIÇÃO
992 A ressurreição dos mortos foi revelada progressivamente por Deus a seu povo. A
esperança na ressurreição c corporal dos mortos foi-se impondo corno uma conseqüência
intrínseca da fé em um Deus criador do homem inteiro, alma e corpo. O criador do céu e da
terra é também aquele que mantém fielmente sua aliança com Abraão e sua descendência. E
nesta dupla perspectiva que começará a exprimir-se a fé na reação. Nas provações, os mártires
Macabeus confessam: (Parágrafo relacionado 297)
O Rei do mundo nos fará ressurgir para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis
(2Mc 7,9). É desejável passar para a outra vida pelas mãos dos homens, tendo da parte de Deus
as esperanças de ser um dia ressuscitado por Ele (2Mc 7,14).
993 Os fariseus e muitos outros contemporâneos do Senhor esperavam a ressurreição. Jesus
a ensina com firmeza. Aos Saduceus que a negam, ele responde: "Não é por isto que errais,
desconhecendo tanto as Escrituras como o poder de Deus?" (Mc 12,24). A fé na ressurreição
baseia-se na fé em Deus, que “que não é um Deus dos mortos, mas dos vivos" (Mc 12, 27).
(Parágrafos relacionados 575,205)
994 Mais ainda: Jesus liga a fé na ressurreição à sua própria pessoa: "Eu sou a ressurreição
e a vida" (Jo 11,25). É Jesus mesmo quem, no último dia, há de ressuscitar os que nele tiveram
crido e que tiverem comido seu corpo e bebido seu sangue. Desde já, Ele fornece um sinal e um
penhor disto, restituindo a vida a certos mortos, anunciando com isso sua própria ressurreição,
que no entanto será de outra ordem. Deste acontecimento único Ele fala como do "sinal de
Jonas", do sinal do templo: anuncia sua ressurreição, que ocorrerá no terceiro dia depois de ser
entregue à morte. (Parágrafos relacionados 646,652)
995 Ser testemunha de Cristo é ser "testemunha de sua ressurreição" (At 1,22), "ter comido
e bebido com Ele após sua ressurreição dentre os mortos" (At 10,41). A esperança cristã na
ressurreição está toda marcada pelos encontros com Cristo ressuscitado. Ressuscitaremos como
Ele, com Ele, por Ele. (Parágrafos relacionados 860,655)
996 Desde o início, a fé cristã na ressurreição deparou com incompreensões e oposições.
"Em nenhum ponto a fé cristã depara com mais contradição do que em torno da ressurreição da
carne." Aceita-se muito comumente que depois da morte a vida da pessoa humana prossiga de
um modo espiritual. Mas como crer que este corpo tão manifestamente mortal possa ressuscitar
para a vida eterna? (Parágrafo relacionado 643)
DE QUE MANEIRA OS MORTOS RESSUSCITAM?
997 Que é "ressuscitar"? Na morte, que é separação da alma e do corpo, o corpo do
homem cai na corrupção, ao passo que sua alma vai ao encontro de Deus, ficando à espera de
ser novamente unida a seu corpo glorificado. Deus, em sua onipotência, restituirá
definitivamente a vida incorruptível a nossos corpos, unindo-os às nossas almas, pela virtude da
Ressurreição de Jesus. (Parágrafo relacionado 366)
998 Quem ressuscitará ? Todos os homens que morreram: "Os que tiverem feito o bem
(sairão) para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição
de julgamento" (Jo 5,29). (Parágrafo relacionado 1038)
999 De que maneira? Cristo ressuscitou com seu próprio corpo: "Vede as minhas mãos e
os meus pés: sou eu!" (Lc 24,39). Mas ele não voltou a uma vida terrestre. Da mesma forma, nele"
ressuscitarão com seu próprio corpo, que têm agora"; porém, este corpo será "transfigurado em
corpo de g1ória", em "corpo espiritual" (1Cor 15, 44): (Parágrafos relacionados 640,645)
Mas, dirá alguém, como ressuscitam os mortos? Com que corpo voltam? Insensato!
O que semeias não readquire vida a não ser que morra. E o que semeias não é o corpo da futura
planta que deve nascer, mas um simples grão de trigo ou de qualquer outra espécie (...)
Semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível (...) os mortos ressurgirão incorruptíveis. (...)
Com efeito, é necessário que este ser corruptível revista a incorruptibilidade e que
este ser mortal revista a imortalidade (1Cor 15,35-37.42.52-53).
1000 Este "corno" ultrapassa nossa imaginação e nosso entendimento, sendo acessível só
na fé. Nossa participação na Eucaristia, no entanto, já nos dá um antegozo da transfiguração
de nosso corpo por Cristo: (Parágrafo relacionado 647)
Assim como o pão que vem da terra, depois de ter recebido a invocação de Deus,
não é mais pão comum, mas Eucaristia, Constituída por duas realidades, uma terrestre e a outra
celeste, da mesma forma os nossos corpos que participam da Eucaristia não são mais
corruptíveis, pois têm a esperança da ressurreição. (Parágrafo relacionado 1405)
1001 Quando? Definitivamente "no último dia" (Jo 6,39-40.44-54); "no fim do mundo". Com
efeito, a ressurreição dos mortos está intimamente associada à Parusia de Cristo: (Parágrafos
relacionados 1038,673)
Quando o Senhor, ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina,
descer do céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro (1Ts 4,16).
RESSUSCITADOS EM CRISTO
1002 Se é verdade que Cristo nos ressuscitará “no último dia”, também que, de certo
modo, já ressuscitamos com Cristo. Pois, graças ao Espírito Santo, a vida cristã é, já agora na
terra, uma participação na morte e na ressurreição de Cristo: (Parágrafo relacionado 655)
Fostes sepultados com Ele no Batismo, também com Ele ressuscitastes, pela fé no
poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos. (...) Se, pois, ressuscitastes com Cristo, procurai as
coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus (Cl 2,12;3,1).
1003 Unidos a Cristo pelo Batismo, os crentes já participam realmente na vida celeste de
Cristo ressuscitado, mas esta vida permanece "escondida com Cristo em Deus" (Cl 3,3). "Com ele
nos ressuscitou e fez-nos sentar nos céus, em Cristo Jesus" (Ef 2,6). Nutridos com seu Corpo na
Eucaristia, já pertencemos ao Corpo de Cristo. Quando ressuscitarmos, no último dia, nós
também seremos "manifestados com Ele cheios de glória" (Cl 3,3). (Parágrafos relacionados
1227,2796)
1004 Enquanto aguardam esse dia, o corpo e a alma do crente participam desde já da
dignidade de ser "de Cristo"; daí a exigência do respeito para com seu próprio corpo, mas
também para com o de outrem, particularmente quando este sofre: (Parágrafos relacionados
364,1397)
O corpo é para o Senhor, e o Senhor é para o corpo. Ora, Deus, que ressuscitou o
Senhor, ressuscitará também a nós por seu poder. Não sabeis que vossos corpos são membros
de Cristo? (...) Não pertenceis a vós mesmos. (...) Glorificai, portanto, a Deus em vosso corpo
(1Cor 6,5.19-20).
II. MORRER EM CRISTO JESUS
1005 Para ressuscitar com Cristo é preciso morrer com Cristo, é preciso "deixar a mansão
deste corpo para ir morar junto do Senhor" (2 Cor 5,8). Nesta "partida" que é a morte, a alma é
separada do corpo. Ela será reunida a seu corpo no dia da ressurreição dos mortos. (Parágrafos
relacionados 624,650)
A MORTE
1006 "É diante da morte que o enigma da condição humana atinge seu ponto mais alto."
Em certo sentido, a morte corporal é natural; mas para a fé ela é na realidade "salário do
pecado" (Rm 6,23). E, para os que morrem na graça de Cristo, é uma participação na morte do
Senhor, a fim de poder participar também de sua Ressurreição. (Parágrafos relacionados
164,1500)
1007 A morte é o termo da vida terrestre. Nossas vidas são medidas pelo tempo, ao
longo do qual passamos por mudanças, envelhecemos e, como acontece com todos os seres
vivos da terra, a morte aparece como o fim normal da vida. Este aspecto da morte marca nossas
vidas com um caráter de urgência: a lembrança de nossa mortalidade serve também para
recordar-nos de que temos um tempo limitado para realizar nossa vida:
Lembra-te de teu Criador nos dias de tua mocidade (...) antes que o pó volte à
terra donde veio, e o sopro volte a Deus, que o concedeu (Ecl 12,1.7).
1008 A morte é conseqüência do pecado. Intérprete autêntico das afirmações da
Sagrada Escritura e da tradição, o magistério da Igreja ensina que a morte entrou no mundo por
causa do pecado do homem. Embora o homem tivesse uma natureza mortal, Deus o destinava
a não morrer. A morte foi, portanto, contrária aos desígnios de Deus criador e entrou no mundo
como conseqüência do pecado. "A morte corporal, à qual o homem teria sido subtraído se não
tivesse pecado", é assim "o último inimigo" do homem a ser vencido (1 Cor 15,26). (Parágrafos
relacionados 401,376)
1009 A morte é transformada por Cristo. Jesus, o Filho de Deus sofreu também Ele a
morte, própria da condição humana. Todavia, apesar de seu pavor diante dela, assumiu-a em
um ato de submissão total e livre à vontade de seu Pai. A obediência de Jesus transformou a
maldição da morte em bênção. (Parágrafo relacionado 612)
O SENTIDO DA MORTE CRISTÃ (Parágrafos relacionados 1681,1690)
1010 Graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. “Para mim, a vida é Cristo, e
morrer é lucro” (Fl 1,21). “Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos" (2Tm 1,11).
A novidade essencial da morte cristã está nisto: pelo Batismo, o cristão já está
sacramentalmente "morto com Cristo", para Viver de uma vida nova; e, se morrermos na graça
de Cristo, a morte física consuma este "morrer com Cristo" e completa, assim, nossa incorporação
a ele em seu ato redentor: (Parágrafo relacionado 1220)
É bom para mim morrer em ("eis") Cristo Jesus, melhor do que reinar até as
extremidades da terra. É a Ele que procuro, Ele que morreu por nós: é Ele que quero, Ele que
ressuscitou por nós. Meu nascimento aproxima-se. (...) Deixai-me receber a pura luz; quando tiver
chegado lá, serei homem.
1011 Na morte, Deus chama o homem a si. É por isso que o cristão pode sentir, em
relação à morte, um desejo semelhante ao de São Paulo: "O meu desejo é partir e ir estar com
Cristo" (Fl 1,23); e pode transformar sua própria morte em um ato de obediência e de amor ao
Pai, a exemplo de Cristo: (Parágrafos relacionados 1025)
Meu desejo terrestre foi crucificado; (...) há em mim uma água viva que murmura e que
diz dentro de mim: "Vem para o Pai".
Quero ver a Deus, e para vê-lo é preciso morrer.
Eu não morro, entro na vida.
1012 A visão cristã da morte é expressa de forma privilegiada na liturgia da Igreja:
Senhor, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito nosso
corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível.
1013 A morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo de graça e de
misericórdia que Deus lhe oferece para realizar sua vida terrestre segundo o projeto divino e para
decidir seu destino último. Quando tiver terminado "o único curso de nossa vida terrestre, não
voltaremos mais a outras vidas terrestres. "Os homens devem morrer uma só vez" (Hb 9,27). Não
existe "reencarnação" depois da morte.
1014 A Igreja nos encoraja à preparação da hora de nossa morte ("Livra-nos, Senhor, de
uma morte súbita e imprevista": antiga ladainha de todos os santos, a pedir à Mãe de Deus que
interceda por nós "na hora de nossa morte" (oração da "Ave-Maria") e a entregar-nos a São José,
padroeiro da boa morte: (Parágrafos relacionados 2676-2677)
Em todas as tuas ações, em todos os teus pensamentos deverias comportar-te
como se tivesses de morrer hoje. Se tua consciência estivesse tranqüila, não terias muito medo da
morte. Seria melhor evitar o pecado que fugir da morte. Se não estás preparado hoje, como o
estarás amanhã?
Louvado sejais, meu Senhor, por nossa irmã, a morte corporal, da qual homem
algum pode escapar. Ai dos que morrerem em pecado mortal, felizes aqueles que ela encontrar
conforme a vossa santíssima vontade, pois a segunda morte não lhes fará mal.
RESUMINDO
1015 "Caro salutis est cardo" (A carne é o eixo da salvação). Cremos em Deus, que é o
criador da carne; cremos no Verbo feito carne para redimir a carne; cremos na ressurreição da
carne, consumação da criação e da redenção da carne.
1016 Pela morte, a alma é separada do corpo, mas na ressurreição Deus restituirá a vida
incorruptível ao nosso corpo transformado, unindo-o novamente à nossa alma. Assim como Cristo
ressuscitou e vive para sempre, todos nós ressuscitaremos no último dia.
1017 "Cremos na verdadeira ressurreição desta carne que possuímos agora. " Contudo,
semeia-se no túmulo um corpo corruptível, ele ressuscita um corpo incorruptível, um corpo
espiritual" (1 Cor 15,44).
1018 Em conseqüência do pecado original, o homem deve sofrer "a morte corporal, à
qual teria sido subtraído se não tivesse pecado".
1019 Jesus, o Filho de Deus, sofreu livremente a morte por nós em uma submissão total e
livre à vontade de Deus, seu Pai. Por sua morte ele venceu a morte, abrindo, assim, a todos os
homens a possibilidade da salvação.
CAPITULO III
ARTIGO 12 : "CREIO NA VIDA ETERNA"
1020 O cristão, que une sua própria morte à de Jesus, vê a morte como um caminhar ao
seu encontro e uma entrada na Vida Eterna. Depois de a Igreja, pela última vez, pronunciar as
palavras de perdão da absolvição de Cristo sobre o cristão moribundo, selá-lo pela última vez
com uma unção fortificadora e dar-lhe o Cristo no viático como alimento para a Viagem, diz-lhe
com doce segurança estas palavras: (Parágrafos relacionados 1523-1525)
Deixa este mundo, alma cristã, em nome do Pai Todo-Poderoso que te criou, em
nome de Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo, que sofreu por ti, em nome do Espírito Santo que foi
derramado em ti. Toma teu lugar hoje na paz e fixa tua morada com Deus na santa Sião, com a
Virgem Maria, a Mãe de Deus, com São José, os anjos e todos os santos de Deus. (...) Volta para
junto de teu Criador, que te formou do pó da terra. Que na hora em que tua alma sair de teu
corpo se apressem a teu encontro Maria, os anjos e todos os santos. (...) Que possas ver teu
Redentor face a face (...). (Parágrafos relacionados 336,2677)
I. O JUÍZO PARTICULAR
1021 A morte põe fim à vida do homem como tempo aberto ao acolhimento ou à
recusa da graça divina manifestada em Cristo. O Novo Testamento fala do juízo principalmente
na perspectiva do encontro final com Cristo na segunda vinda deste, mas repetidas vezes afirma
também a retribuição, imediatamente depois da morte, de cada um em função de suas obras e
de sua fé. A parábola do pobre Lázaro e a palavra de Cristo na cruz ao bom ladrão assim como
outros textos do Novo Testamento, falam de um destino último da alma pode ser diferente para
uns e outros. (Parágrafos relacionados 1038,679)
1022 Cada homem recebe em sua alma imortal a retribuição eterna a partir do
momento da morte, num Juízo Particular que coloca sua vida em relação à vida de Cristo, seja
por meio de uma purificação, seja para entrar de imediato na felicidade do céu, seja para
condenar-se de imediato para sempre. (Parágrafo relacionado 393)
No entardecer de nossa vida, seremos julgados sobre o amor. (Parágrafo
relacionado 1470)
II. O CÉU
1023 Os que morrem na graça e na amizade de Deus, e que estão totalmente
purificados, vivem para sempre com Cristo. São para sempre semelhantes a Deus, porque o
vêem “ tal como ele é” (1Jo 3,2), face a face (1Cor 13,12): (Parágrafo relacionado 954)
Com nossa autoridade apostólica definimos que, segundo a disposição geral de
Deus, as almas de todos os santos mortos antes da Paixão de Cristo (...) e de todos os outros fiéis
mortos depois de receberem o santo Batismo de Cristo, nos quais não houve nada a purificar
quando morreram, (...) ou ainda, se houve ou há algo a purificar, quando, depois de sua morte,
tiverem acabado de fazê-lo, (...) antes mesmo da ressurreição em seus corpos e do juízo geral, e
isto desde a ascensão do Senhor e Salvador Jesus Cristo ao céu, estiveram, estão e estarão no
Céu, no Reino dos Céus e no paraíso celeste com Cristo, admitidos na sociedade dos santos
anjos. Desde a paixão e a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, viram e vêem a essência divina
com uma visão intuitiva e até face a face, sem a mediação de nenhuma criatura.
1024 Essa vida perfeita com a Santíssima Trindade, essa comunhão de vida e de amor
com ela, com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados, é denominada "o Céu". O
Céu é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de
felicidade suprema e definitiva. (Parágrafos relacionados 260,326,2734,1718)
1025 Viver no Céu é "viver com Cristo". Os eleitos vivem "nele", mas lá conservam - ou
melhor, lá encontram – sua verdadeira identidade, seu próprio nome. (Parágrafo relacionado
1011)
"Vita est enim esse cum Christo; ideo ubi Christus, ibi vita, ibi regnum - Vida é, de
fato, estar com Cristo; aí onde está Cristo, aí está a Vida, aí está o Reino".
1026 Por sua Morte e Ressurreição, Jesus Cristo nos "abriu" o Céu. A vida dos bemaventurados
consiste na posse em plenitude dos frutos da redenção operada por Cristo, que
associou à sua glorificação celeste os que creram nele e que ficaram fiéis à sua vontade. O céu
é a comunidade bem-aventurada de todos os que estão perfeitamente incorporados a Ele.
(Parágrafo relacionado 793)
1027 Este mistério de comunhão bem-aventurada com Deus e com todos os que estão
em Cristo supera toda compreensão e toda imaginação. A Escritura fala-nos dele em imagens:
vida, luz, paz, festim de casamento, vinho do Reino, casa do Pai, Jerusalém celeste, Paraíso. "O
que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, isso Deus
preparou para aqueles que o amam" (1Cor 2,9). (Parágrafos relacionados 959,1720)
1028 Em razão de sua transcendência, Deus só poder ser visto tal como é quando Ele
mesmo abrir seu mistério à contemplação direta do homem e o capacitar para tanto. Esta
contemplação de Deus em sua glória celeste é chamada pela Igreja de "visão beatifica".
(Parágrafos relacionados 1722,163)
Qual não ser tua glória e tua felicidade: ser admitido a ver a Deus, ter a honra de
participar das alegrias da salvação e da luz eterna na companhia de Cristo, o Senhor teu Deus
(...) desfrutar no Reino dos Céus, na companhia dos justos e dos amigos de Deus, as alegrias da
imortalidade adquirida.
1029 Na glória do Céu, os bem-aventurados continuam a cumprir com alegria a vontade
de Deus em relação aos outros homens e à criação inteira. Já reinam com Cristo; com Ele
“reinarão pelos séculos dos séculos" (Ap 22,5). (Parágrafos relacionados 956,668)
III. A PURIFICAÇÃO FINAL OU PURGATÓRIO
1030 Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente
purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma
purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu.
1031 A Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos eleitos, que é
completamente distinta do castigo dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé relativa
ao Purgatório sobretudo no Concílio de Florença e de Trento. Fazendo referência a certos textos
da Escritura, a tradição da Igreja fala de um fogo purificador: (Parágrafos relacionados 954,1472)
No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe antes do juízo um
fogo purificador, segundo o que afirma aquele que é a Verdade, dizendo, que, se alguém tiver
pronunciado uma blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoada nem presente século
nem no século futuro (Mt 12,32). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser
perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro[a21] .
1032 Este ensinamento apóia-se também na prática da oração pelos defuntos, da qual
já a Sagrada Escritura fala: "Eis por que ele [Judas Macabeu) mandou oferecer esse sacrifício
expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos de seu pecado" (2Mc
12,46). Desde os primeiros tempos a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios
em seu favor, em especial o sacrifício eucarístico, a fim de que, purificados, eles possam chegar
à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras
de penitência em favor dos defuntos: (Parágrafos relacionados 958,1372,1479)
Levemo-lhes socorro e celebremos sua memória. Se os filhos de Jó foram purificados
pelo sacrifício de seu pai [a23] que deveríamos duvidar de que nossas oferendas em favor dos
mortos lhes levem alguma consolação? Não hesitemos em socorrer os que partiram e em
oferecer nossas orações por eles.
IV. O INFERNO
1033 Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo.
Mas não podemos amar a Deus se pecamos gravemente contra Ele, contra nosso próximo ou
contra nós mesmos: "Aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia seu
irmão é homicida; e sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele" (1 Jo
3,14-15). Nosso Senhor adverte-nos de que seremos separados dele se deixarmos de ir ao
encontro das necessidades graves dos pobres e dos pequenos que são seus irmãos morrer em
pecado mortal sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus
significa ficar separado do Todo-Poderoso para sempre, por nossa própria opção livre. E é este
estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se
designa com a palavra "inferno". (Parágrafos relacionados 1861,393,633)
1034 Jesus fala muitas vezes da "Geena", do "fogo que não se apaga", reservado aos que
recusam até o fim de sua vida crer e converter-se, e no qual se pode perder ao mesmo tempo a
alma e o corpo[a27] . Jesus anuncia em termos graves que "enviar seus anjos, e eles erradicarão
de seu Reino todos os escândalos e os que praticam a iniqüidade, e os lançarão na fornalha
ardente" (Mt 13,41-42), e que pronunciar a condenação: "Afastai-vos de mim malditos, para o
fogo eterno!" (Mt 25,41).
1035 O ensinamento da Igreja afirma a existência e a eternidade do inferno. As almas dos
que morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente após a morte aos infernos,
onde sofrem as penas do Inferno, "o fogo eterno". A pena principal do Inferno consiste na
separação eterna de Deus, o Único em quem o homem pode ter a vida e a felicidade para as
quais foi criado e às quais aspira. (Parágrafo relacionado 393)
1036 As afirmações da Sagrada Escritura e os ensinamentos da Igreja acerca do Inferno
são um chamado à responsabilidade com a qual o homem deve usar de sua liberdade em vista
de seu destino eterno. Constituem também um apelo insistente à conversão: "Entrai pela porta
estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição. E muitos são os que
entram por ele. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à vida. E poucos
são os que o encontram" (Mt 7,13-14): (Parágrafos relacionados 1734,1428)
Como desconhecemos o dia e a hora, conforme a advertência do Senhor, vigiemos
constantemente para que, terminado o único curso de nossa vida terrestre, possamos entrar com
ele para as bodas e mereçamos ser contados entre os benditos, e não sejamos, como servos
maus e preguiçosos, obrigados a ir para o fogo eterno, para as trevas exteriores, onde haverá
choro e ranger de dentes.
1037 Deus não predestina ninguém para o Inferno; para isso é preciso uma aversão
voluntária a Deus (um pecado mortal) e persistir nela até o fim. Na Liturgia Eucarística e nas
orações cotidianas de seus fiéis, a Igreja implora a misericórdia de Deus, que quer "que ninguém
se perca, mas que todos venham a converter-se" (2Pd 3,9): (Parágrafos relacionados
162,1014,1821)
Recebei, ó Pai, com bondade, a oferenda de vossos servos e de toda a vossa família; dainos
sempre a vossa paz, livrai-nos da condenação e acolhei-nos entre os vossos eleitos.
V. O JUÍZO FINAL (Parágrafos relacionados 678,679)
1038 A ressurreição de todos os mortos, "dos justos e dos injustos" (At 24,15), antecederá o
Juízo Final. Este será "a hora em que todos os que repousam nos sepulcros ouvirão sua voz e
sairão: os que tiverem feito o bem, para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o
mal, para uma ressurreição de julgamento" (Jo 5,28-29). Então Cristo "virá em sua glória, e todos
os anjos com Ele. (...) E serão reunidas em sua presença todas as nações, e Ele há de separar os
homens uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, e por as ovelhas à sua
direita e os cabritos à sua esquerda. (...) E irão estes para o castigo eterno, e os justos irão para a
Vida Eterna" (Mt 25,31-33.46). (Parágrafos relacionados 998,1001)
1039 É diante de Cristo - que é a Verdade - que será definitivamente desvendada a
verdade sobre a relação de cada homem com Deus. O Juízo Final há de revelar até as últimas
conseqüências o que um tiver feito de bem ou deixado de fazer durante sua vida terrestre:
(Parágrafo relacionado 678)
Todo o mal que os maus praticam é registrado sem que o saibam. No dia em que "Deus
não se calará" (Sl 50,3), voltar-se-á para os maus: "Eu havia", dir-lhes-á, "colocado na terra meus
pobrezinhos para vós. Eu, seu Chefe, reinava no céu à direita do meu Pai, mas na terra os meus
membros passavam fome. Se tivésseis dado aos meus membros, vosso dom teria chegado até a
Cabeça. Quando coloquei meus pobrezinhos na terra, os constituí meus tesoureiros para recolher
vossas boas obras em meu tesouro; vós, porém, nada depositastes em suas mãos, razão por que
nada possuís junto a mim"
1040 O Juízo Final acontecerá por ocasião da volta gloriosa de Cristo. Só o Pai conhece
a hora e o dia desse Juízo, só Ele decide de seu advento. Por meio de seu Filho, Jesus Cristo, Ele
pronunciará então sua palavra definitiva sobre toda a história. Conheceremos então o sentido
último de toda a obra da criação e de toda a economia da salvação, e compreenderemos os
caminhos admiráveis pelos quais sua providência terá conduzido tudo para seu fim último. O
Juízo Final revelará que a justiça de Deus triunfa de todas as injustiças cometidas por suas
criaturas e que seu amor é mais forte que a morte[a34] . (Parágrafos relacionados 637,314)
1041 A mensagem do Juízo Final é apelo à conversão enquanto Deus ainda dá aos
homens "o tempo favorável, o tempo da salvação" (2Cor 6,2). O Juízo Final inspira o santo temor
de Deus. Compromete com a justiça do Reino de Deus. Anuncia a "bem-aventurada esperança"
(Tt 2,13) da volta do Senhor, que “virá para ser glorificado na pessoa de seus santos e para ser
admirado na pessoa de todos aqueles que creram (2Ts 1,10). (Parágrafos relacionados 1432,2854)
VI. A ESPERANÇA DOS CÉUS NOVOS E DA TERRA NOVA
1042 No fim dos tempos, o Reino de Deus chegar à sua plenitude. Depois do Juízo
Universal, os justos reinarão para sempre com Cristo, glorificados em corpo e alma, e o próprio
universo será renovado: (Parágrafos relacionados 769,670)
Então a Igreja será "consumada na glória celeste, quando chegar o tempo da
restauração de todas as coisas, e com o gênero humano também o mundo todo, que está
intimamente ligado ao homem e por meio dele atinge sua finalidade, encontrará sua
restauração definitiva em Cristo" (Parágrafos relacionados 310)
1043 Esta renovação misteriosa, que há de transformar a humanidade e o mundo, a
Sagrada Escritura a chama de "céus novos e terra nova" (2Pd [3,13). Ser a realização definitiva
do projeto de Deus de "reunir, sob um só chefe, Cristo, todas as coisas, as que estão no céu e as
que estão na terra" (Ef 1,10). (Parágrafos relacionados 671,280,518)
1044 Neste "universo novo", a Jerusalém celeste, Deus terá sua morada entre os homens.
"Enxugará toda lágrima de seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e
nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram!" (Ap 21,4).
1045 Para o homem, esta consumação será a realização última da unidade do gênero
humano, querida por Deus desde a criação e da qual a Igreja peregrinante era "como o
sacramento". Os que estiverem unidos a Cristo formarão a comunidade dos remidos, a cidade
santa de Deus (Ap 21,2), "a Esposa do Cordeiro" (Ap 21,9). Esta não será mais ferida pelo pecado,
pelas impurezas, pelo amor-próprio, que destroem ou ferem a comunidade terrestre dos homens.
A visão beatífica, na qual Deus se revelará de maneira inesgotável aos eleitos, será a fonte
inexaurível de felicidade, de paz e de comunhão mútua. (Parágrafos relacionados 775,1404)
1046 Quanto ao cosmos, a Revelação afirma a profunda comunidade de destino do
mundo material e do homem: Pois a criação em expectativa anseia pela revelação dos filhos de
Deus (...) na esperança de ela também ser libertada da escravidão da corrupção (...). Pois
sabemos que a criação inteira geme e sofre as dores de parto até o presente. E não somente
ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos interiormente, suspirando
pela redenção de nosso corpo (Rm 8,19-23). (Parágrafo relacionado 349)
1047 Também o universo visível está, portanto, destinado a ser transformado, "a fim de
que o próprio mundo, restaurado em seu primeiro estado, esteja, sem mais nenhum obstáculo, a
serviço dos justos", participando de sua glorificação em Cristo ressuscitado.
1048 "Ignoramos o tempo da consumação da terra e da humanidade e desconhecemos
a maneira de transformação do universo. Passa certamente a figura deste mundo deformada
pelo pecado, mas aprendemos que Deus prepara uma nova morada e nova terra. Nela reinará
a justiça, e sua felicidade irá satisfazer á e superar todos os desejos de paz que sobem aos
corações dos homens." (Parágrafo relacionado 673)
1049 "Contudo, a expectativa de uma terra nova, longe de atenuar, deve impulsionar em
vós a solicitude pelo aprimoramento desta terra. Nela cresce o corpo da nova família humana
que já pode apresentar algum esboço do novo século. Por isso, ainda que o progresso terrestre
se deva distinguir cuidadosamente do aumento do Reino de Cristo, ele é de grande interesse
para o Reino de Deus, na medida em que pode contribuir para melhor organizar a sociedade
humana. " (Parágrafo relacionado 2820)
1050 "Com efeito, depois que propagarmos na terra, no Espírito do Senhor e por ordem
sua, os valores da dignidade humana, da humanidade fraterna e da liberdade, todos estes bons
frutos da natureza e de nosso trabalho, nós os encontraremos novamente, limpos, contudo, de
toda impureza, iluminados e transfigurados, quando Cristo entregar ao Pai o reino eterno e
universal. Deus será, então, "tudo em todos" (1 Cor 15,28), na Vida Eterna: (Parágrafos
relacionados 1709,260)
A vida, em sua própria realidade e verdade, é o Pai que, pelo Filho e no Espírito Santo,
derrama sobre todos, sem exceção, dons celestes. Graças à sua misericórdia também nós, os
homens, recebemos a promessa indefectível da Vida Eterna.
RESUMINDO
1051 Cada homem, em sua alma imortal, recebe sua retribuição eterna a partir de sua
morte, em um Juízo Particular feito por Cristo, juiz dos vivos e dos mortos.
1052 "Cremos que as almas de todos os que morrem na graça de Cristo constituem o
povo de Deus para além da morte, a qual será definitivamente vencida no dia da ressurreição,
quando essas almas serão novamente unidas a seus corpos."
1053 "Cremos que a multidão daquelas que estão reunidas em torno de Jesus e de Maria
no paraíso forma a Igreja do Céu, onde na beatitude eterna vêem a Deus tal como Ele é, e onde
estão também, em graus diversos, associadas com os santos anjos ao governo divino exercido
pelo Cristo na glória, intercedendo por nós e ajudando nossa fraqueza por sua solicitude
fraterna."
1054 Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão totalmente
purificados, embora seguros de sua salvação eterna, passam depois de sua morte por uma
purificação, afim de obter a santidade necessária para entrar na alegria de Deus.
1055 Em virtude da "comunhão dos santos", a Igreja recomenda os defuntos à misericórdia
de Deus e oferece em favor deles sufrágios, particularmente o santo sacrifício eucarístico.
1056 Seguindo o exemplo de Cristo, a Igreja adverte os fiéis acerca da "triste e lamentável
realidade da morte eterna, denominada também de "inferno".
1057 A pena principal do inferno consiste na separação eterna de Deus, o único em
quem o homem pode ter a vida e a felicidade para as quais foi criado e às quais aspira.
1058 A Igreja ora para que ninguém se perca: "Senhor, não permitais que eu jamais seja
separado de vós" Se é verdade que ninguém pode salvar-se a si mesmo, também é verdade
que "Deus quer que todos sejam salvos" (1 Tm 2,4), e que para Ele "tudo é possível" (Mt 10,26).
1059 "A santíssima Igreja romana crê e confessa firmemente que no dia do juízo todos os
homens comparecerão com seu próprio corpo diante do tribunal de Cristo para dar contas de
seus próprios atos[a50] . "
1060 No fim dos tempos, o Reino de Deus chegar à sua plenitude. Então, os justos reinarão
com Cristo para sempre, glorificados em corpo e alma, e o próprio universo material será
transformado. Então Deus será "tudo em todos" (1 Cor 15,28), na Vida Eterna.
"AMÉM"
1061 O Credo, como também o último livro da Sagrada Escritura, termina com a palavra
hebraica amen. Ela encontra-se com freqüência no fim das orações do Novo Testamento.
Também a Igreja conclui suas orações com o "amém". (Parágrafo relacionado 2856)
1062 Em hebraico, a palavra "amém" está ligada à mesma raiz da palavra "crer". Esta
raiz exprime a solidez, a confiabilidade, a fidelidade. Assim, compreendemos por que o "amém"
pode ser dito da fidelidade de Deus para conosco e de nossa confiança nele. (Parágrafo
relacionado 214)
1063 No profeta Isaias encontramos a expressão "Deus de verdade", literalmente "Deus
do amém", isto é, o Deus fiel às suas promessas: "Todo aquele que quiser ser bendito na terra
quererá ser bendito pelo Deus do amém" (Is 65,16). Nosso Senhor emprega com freqüência o
termo "amém", por vezes em forma duplicada, para sublinhar a confiabilidade seu ensinamento,
sua autoridade fundada na verdade de Deus. (Parágrafos relacionados 215,156)
1064 O "amém" final do Credo retoma e confirma, portanto, suas duas primeiras palavras:
"eu creio". Crer é dizer "amém” às palavras, às promessas, aos mandamentos de Deus, ê confiar
totalmente naquele que é o "Amém" de infinito amor e de fidelidade perfeita. A vida cristã de
cada dia será, então, o "amém" ao "eu creio" da profissão de fé de nosso Batismo: (Parágrafos
relacionados 197,2101)
O teu Símbolo seja para ti como um espelho. Olha-te nele para veres se crês tudo o que
declaras crer e alegra-te cada dia por tua fé.
1065 O próprio Jesus Cristo é "o Amém" (Ap 3,14). Ele é o "Amém" definitivo do amor do
Pai por nós; assume e consuma nosso "Amém" ao Pai: "todas as promessas de Deus, com efeito,
têm nele (Cristo) seu sim; por isso, é por Ele que dizemos 'amém' a Deus para a glória de Deus"
(2Cor 1,20):
Por Cristo, com Cristo, em Cristo,
a vós, Deus Pai Todo-Poderoso,
na unidade do Espírito Santo,
toda honra e toda glória,
agora e para sempre.
AMÉM.

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